MEIO AMBIENTE E SAÚDE
JUACY DA SILVA*
No ultimo dia 08 deste mês de junho foi comemorado em todos os países o DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE, instituído pela ONU durante a primeira conferência do meio ambiente realizada em Estocolmo na Suécia, em 1972. Portanto, lá se vão 43 anos desde que o mundo acordou para este desafio que é cuidar melhor do meio ambiente e preservar a vida no planeta.
O tema deste ano para comemorar o DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE é: “ Sete bilhões de sonhos, um planeta: consuma com cuidado”. Este tema chama a atenção para os limites de crescimento, de um lado o aumento populacional mundial, hoje somos sete bilhões e dentro em breve seremos nove bilhões de pessoas e de outro os riscos da degradação ambiental. O problema não está apenas em relação `a pressão que a população exerce sobre os ecossistemas em termos de produção de alimentos, de energia, de matérias primas, de água e do solo, mas principalmente o que isto significa para o futuro da humanidade.
Para efeito de reflexão e das ações que devem ser realizadas pelos governos de todos os países e em todos os níveis de poder em cada país e também pela população, mas também na questão do desperdício que o consumismo esta estimulando. O tema é desdobrado em quatro dimensões: água, energia, uso do solo e o consumo acelerado de bens e serviços que acabam representando uma pressão muito grande sobre o meio ambiente. Para alimentar uma população de bilhões de pessoas os sistemas econômicos gastam água, solo e energia, que são fatores escassos e acabam também sendo degradados com a erosão, o assoreamento dos rios e lagos, o desmatamento continua acelerado em vários países e essa dinâmica econômica, em busca de um lucro a qualquer preço deixa um rastro de destruição ou o que é modernamente chamado de passivo ambiental.
Pior em tudo isto é perceber de um lado o consumismo que leva a um desperdício de alimentos, cujo custo mundial é superior a 750 bilhões de dólares por ano. . Mas o desperdício de alimentos também representa o desperdício de água, de solo e de energia que foram usados para a sua produção.
Estamos em pleno período da realização das conferências municipais de saúde, quando a população de todos os municípios do Brasil está discutindo a situação e os rumos da saúde pública em nosso país. Qual o tamanho do CAOS em que se encontra a saúde e quais os rumos que devem ser tomados para que este direito constitucional possa deixar de ser letra morta em nossa Carta Magna para se transformar em uma realidade concreta do dia-a-dia das pessoas?
Boa parte das doenças que a população enfrenta têm suas origens na degradação ambiental. As queimadas urbanas e rurais, os sistemas de produção agrícola assentado sobre o uso exagerado de agrotóxicos, onde o Brasil é o segundo maior consumidor mundial, a falta de saneamento básico, os lixões, os esgotos escorrendo a céu aberto, tudo isso afeta a saúde da população, principalmente das camadas mais empobrecidas do país.
O SUS gasta anualmente mais de 400 milhões de reais para tratrar pessoas que são internadas em decorrência de diarreias, além de muitos outros milhões com doenças respiratórias e outras mais decorrentes da falta de cuidado com o meio ambiente. Costuma-se dizer que para cada real investido em saneamento e cuidados ambientais poderiam ser economizados quatro reais no tratamento de doenças. Saneamento, neste sentido, também é saúde.
Mais de 61% da população brasileira, ou seja, 124 milhões de habitantes não tem tratamento de esgoto. Na região norte esta é a realidade de 83,4% da população; no Nordeste 76%; no Sudeste 61,; na região Sul 68%e no Centro Oeste 55,1%. Ou seja, milhões de brasileiros convivem com valões, córregos, rios e oceanos estão morrendo devido `a falta de saneamento. Na verdade são grandes esgotos a céu aberto, onde animais, lixo e toda sorte de dejetos produzem mal cheiro e riscos para a saúde da população.
Em nosso maior aglomerado urbano de Mato Grosso, por exemplo, Cuiabá tem apenas 39,9% de esgotos tratados e Várzea Grande 21% e a média no restante do Estado é de menos de 20%. Neste aglomerado que tem pouco mais de 820 mil habitantes 66% da população não é servida por tratamento de esgoto, são aproximadamente 540 mil habitantes, convivendo com uma das formas de degradação ambiental.
A pergunta que se faz, isto é correto, é digno? Qual a qualidade de vida dessas pessoas? Qual a saúde que tem? Qual o futuro que nos espera? Com a palavra nossos representantes eleitos, nossos gestores públicos, enfim, nossos governantes que continuam insensíveis a este drama que afeta dezenas de milhões de brasileiros/as.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta.
E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
Novo hospital
Notícia ruim é o que não falta quando o assunto é saúde pública.
Foi inaugurado em nossa capital o prédio reformado do velho Hospital Neurológico Egas Muniz, no bairro do Quilombo.
A hotelaria ficou chique, digno de hotel cinco estrelas.
O ruim é que logo após a sua inauguração o nosocômio foi fechado, para reabrir somente quando o governo federal decidir repassar recursos permanentes para o seu custeio.
Sabemos que essa liberação poderá demorar meses, e a garantia de um apoio permanente é uma aposta.
O único hospital público federal e de ensino aqui existente está sucateado, exatamente por falta de investimentos financeiros.
Em inauguração de hospital a má notícia é que não existe ainda formado, treinado e contratado o corpo clínico e administrativo.
A referência do hospital são seus profissionais, e não, a hotelaria.
A dificuldade do governo é tão grande para captar bons profissionais, que a única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) inaugurada há dois anos até hoje não funcionou na sua plenitude.
Não é atrativo, profissionalmente, trabalhar em prédio ‘novo’ e bonito, mas sem as mínimas condições de trabalho, e honorários sempre abaixo do mercado de trabalho.
O paciente quando procura um serviço de saúde prioriza a qualificação dos seus profissionais.
A hotelaria de luxo é dispensável. Torna-se obsoleta em curto prazo de tempo, e necessita de permanente manutenção e reposição dos equipamentos.
Não é isso que acontece nos órgãos públicos.
Sem robustos financiamentos públicos para a alta complexidade, o ‘jeitinho’ são as liminares judiciais.
Mesmo hospitais internacionalmente reconhecidos cientificamente pela excelência do seu atendimento, como o Sírio Libanês e Albert Einstein em São Paulo, para citar os preferidos pelos políticos, precisam de incentivos oficiais (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e de particulares para sobreviverem com qualidade.
Vamos torcer para que o nosso São Benedito consiga transpor essa barreira de incompreensão do poder público com a saúde para oferecer serviços médicos de ‘gente rica para uma população pobre’.
Gabriel Novis Neves
24-05-2015
Olá, Pessoal!
Bom dia. Segue, em anexo, para todos refletirem, um bom artigo sobre a greve nas universidades públicas, de autoria do Prof. Marcelo Badaró (UFF/História). Acrescento que na última longa greve das IFES, por aqui, na UFRJ, a pós-graduação também parou. Sou testemunha do fato por estar cursando doutorado no IPPUR/UFRJ.Os alunos da graduação e da pós-graduação também se mantiveram em greve. Houve alteração do calendário no período duas vezes, porque logo depois os técnico-administrativos iniciaram uma nova greve. Os prejuízos aconteceram, mas também o aprendizado que levou a modificações nas relações com a CAPES que, com a conivência de vários coordenadores de cursos, insiste em desrespeitar a autonomia constitucional das IFES.É bom lembrar que em 2005 a CAPES era presidida pelo atual Ministro da Educação que, segundo relatos da época que chegaram ao então Comando Nacional de Greve/Andes-SN, teria procurado apoio, inclusive entre seus alunos, para que a greve fosse minada.
Boa reflexão para todos, independentemente das posições que defendam, afinal, monocultura não ajuda nada.
Abraços.
Prof. José Domingues de Godoi Filho
Clique aqui para baixar documento na íntegra ...
Em 2012, quando fui cursar 1 ano da graduação em Serviço Social na Universidad de Deusto, em Bilbao, Espanha. Tive o privilégio de cursar a disciplina de " Sociologia da Marginalização e da Exclusão Social " com o professor Alain Touraine. Inúmeras vezes o professor Touraine elucidou em suas aulas que o socialismo estava morto, havia sido superado pela sociedade pós - industrial, que já havia se tornado sociedade globalizada. O professor argumentava e defendia a tese de que hoje as lutas dos movimentos sociais já não se centra mais nas lutas de classes, tanto, que há desentendimento no interior dos movimentos sociais. O professor Alain Touraine é um sociólogo francês conhecido por sua obra dedicada à sociologia do trabalho e dos movimentos sociais. Tornou-se conhecido por ter sido o pai da expressão "sociedade pós-industrial". Seu trabalho é baseado na "sociologia de acção" e seu principal ponto de interesse tem sido o estudo dos movimentos sociais. Touraine acredita que a sociedade molda o seu futuro através de mecanismos estruturais e das suas próprias lutas sociais. Tem estudado e escrito acerca dos movimentos de trabalhadores em todo o mundo, particularmente na América Latina. Em seus escritos, Touraine aponta para as transformações pelas quais a sociedade moderna e industrial vem passando. Trava diálogos com os autores clássicos da sociologia como Durkheim e Marx - com este último, sobre as novas formas de conflitos sociais. Touraine faz parte de uma linha teórica denominada pós-moderna, ainda que critique a mesma em alguns pontos e de fato não assuma todas as teses dessa vertente, como algumas asserções a respeito do fim da história, fim dos conflitos e principalmente da inviabilidade da compreensão racional dos mecanismo sociais. Para Touraine, a sociedade pós-industrial, longe de acabar com os Em “A sociedade pós-industrial", afirma que a sociologia não é fruto da revolução industrial, mas somente se consolidou a partir da segunda metade do século XIX, quando a sociedade passa a ter um maior controle dos mecanismos econômicos surgidos com as revoluções industriais, os quais, no momento de seu surgimento, levaram às construções teóricas do início do século XIX que identificavam um desenvolvimento econômico intervindo na organização social. Com a retomada do controle social das mudanças econômicas é que, portanto, a sociologia pode se constituir numa ciência que não mais fetichizava o social, tal como o indivíduo da filosofia. Passa-se da identificação de uma natureza social para o reconhecimento da historicidade, ou seja, da ação social e da capacidade desta em direcionar o desenvolvimento do conjunto da sociedade. conflitos, generaliza-os. É sob estas premissas que Touraine fala da sociologia de uma sociedade pós-industrial. Com os primórdios do desenvolvimento industrial, a empresa capitalista e o proletariado eram de fato os elementos centrais na transformação social e política. Porém na sociedade pós-industrial, segundo o autor, esta centralidade da indústria - e, portanto, do fator econômico produtivo - se perde. Nesta nova sociedade, o conhecimento e a informação passam a constituir elementos chaves na produção. Os conflitos sociais, da mesma maneira, não se concentram mais no elemento econômico. Apesar dos conflitos de classe não desaparecerem (a indústria não desaparece), a relação trabalhador-patronato não detém mais a proeminência de outrora. Isto, principalmente, pelo fato destes conflitos de classes terem, de uma forma geral, se institucionalizado, abrindo espaço para outras reivindicações sociais, agora não mais econômicas, mas destacadamente culturais: surgem os movimentos feministas, de homossexuais, estudantil, etc. Os laços que unem estes novos movimentos são mais comunitários e localizados, apesar de uma abrangência socialmente ampla. Se permanecerem reivindicações localizadas e restritas não se constituem, segundo Touraine, em movimentos sociais propriamente ditos. Para tanto devem adquirir um destaque mais amplo e nacional. A direção para a qual devem caminhar tais movimentos são as instituições e, portanto, o âmbito das decisões políticas. A sociedade, segundo Touraine, deve lutar para democratizar o acesso aos mecanismos decisórios da política. Daí a importância que este autor dá ao tema da alienação - esta, pautada pela participação dependente, ou seja, a integração dos indivíduos no jogo dos aparelhos dominantes que visam impor um modelo de desenvolvimento econômico sob um aspecto impessoal, de forma a aparecer como única alternativa possível e no interesse de toda a sociedade. Os termos de que Touraine se utiliza para descrever esta alienação são a integração, a manipulação e a sedução.
Dirceu Grasel
Memórias: transformar presente e futuro.
“Cai a tarde feito um viaduto/E um bêbado travando luto/Me lembrou Carlitos/A lua tal qual a dona do bordel/Pedia a cada estrela fria/Um brilho de aluguel/E nuvens, lá no mata borrão do céu/Chupava manchas torturadas, que sufoco/Louco, o bêbado com chapéu coco/Fazia reverencias mil/Pra noite do Brasil, meu Brasil/Que sonha com a volta do irmão do Henfil/Com tanta gente que partiu/Num rabo de foguete/Chora nossa pátria mãe gentil/Choram Marias e Clarices/Num solo do Brasil/Mas sei que uma dor assim pungente/ não há de ser inutilmente a esperança/ Dança na corda bamba de sombrinha/Em cada passo dessa linha/pode se machucar/Azar, a esperança equilibrista/Sabe que o show de todo artista/Tem que continuar.”.
Este poema de João Bosco e Aldir Blanc, “O Bêbado e o Equilibrista” remarca a fimbria de brasilidade, resistência, indignação, nas condições mais desfavoráveis. O grito de esperança, e uma melodia que expressa a vontade de mudança verdadeira.
Hoje fazem 51 anos do golpe civil-militar de 1964. Exílio, cassações, torturas, assassinatos, perseguição de todos que enfrentassem e lutassem pela redemocratização do país. Estou em Porto Alegre, como membro da Comissão da Verdade dos docentes das Universidades (ANDES-SN) e da Comissão Nacional da Verdade da Reforma Sanitária. Muitas representações densas e significativas, agora já com a rede da Comissão da Verdade das Universidades. Aqui, terra de João Goulart, derrubado e cassado como o foram Leonel Brizola, Celso Furtado, Miguel Arraes, Luis Carlos Prestes, Jânio Quadros e tantos outros. A junta militar assume, em 15 de abril, Castelo Branco formaliza a trajetória da institucionalização da violência. Tanques, baionetas, militarização do enfrentamento a tudo que se movia contra a ditadura. Aqui, correm longos depoimentos impressionantes e candentes, por instituições da maior integridade e relevância social. Saúdam a todos que lutaram contra o estado de exceção. É muito pesado e amplo o legado da ditadura em nosso país. Exemplo, o ovo da serpente no conduio das empreiteiras, o financiamento privado com recursos público, muitas são as mesmas hoje, em promiscuidade do setor público com o privado e uma imensidão de condições desviantes, como a concentração da mídia no Brasil. O legado da violência policial vem de lá. A violência ambiental e genocídio de populações indígenas, autóctones e de periferias. Segundo o ex-presidente Médici, tido como o mais sanguinário ditador do regime civil-militar, “índios são soldados natos, e a aldeia é um quartel”. Deste lá, tratados como população transitória, que deve acabar. É incrível a semelhança e coincidências com hoje. De lá vem as bases da corrupção, impunidade e violência urbana e rural. Os estrategistas da ditadura não tinham certeza que os governos de 2002 até agora surgissem para tocar seus projetos. Hoje, a corrupção está naturalizada. Médici, dizia que “o homem não foi feito para a democracia”. – quando proibiu falar sobre racismo, índios, esquadrão da morte e temas proibidos para o regime. Tenho vergonha da estátua do Médici na saída de Cuiabá para São Paulo, e no colégio na beira da Avenida MT. Temos que lutar pela punição dos que cometeram crimes durante a ditadura civil-militar. O caminho da verdade é muito longo. É preciso rever a lei de anistia. Passar rigorosamente a limpo o passado é promessa de presente e futuro.
Waldir Bertúlio
Professor aposentado da UFMT
Urbe Violentada
Em minhas reminiscências sobre Cuiabá, alegrias de infância e adolescência em uma cidade acolhedora, tranquila e conectada visceralmente com a natureza. Quando retornava de férias estudando “fora”, primeira coisa no reencontro fora de casa era ir curtir o belo centro velho mergulhar nas águas do Cuiabá, Ribeirão e Coxipó. Sempre foi fascinante palmilhar com os pés e perscrutar com os olhos aquela arquitetura bela nas estreitas ruas de paralelepípedos. Ali, porões soturnos, como a bafejar o grito de dor e indignação de escravos e índios, brutalizados pela insaciável violência da ocupação armada e sanha pela fortuna fácil do ouro abundante. As Lavras do Sutil foram vertentes de dor e lágrimas das vítimas, negros e índios, estes últimos que até então aqui viviam neste território, felizes e livres. É alto o preço deste progresso, distante de um marco civilizatório. No processo histórico desta cidade, idas e vindas, contenda que desagua por uma cidade saudável, frente a cidade imaginada que a gente quer de melhor para viver. Nestes tempos, mais do que antes, é preciso superar o ufanismo e cair na realidade que temos a nossa frente. Fica para trás tudo o que não lutamos que poderia ter sido feito para que tivéssemos uma cidade melhor. Afinal, qual cidade queremos? – Qual progresso? Certamente não é este, que vem se apresentando no empobrecimento da paisagem e do cotidiano urbano. Em uma cultura política que acumulou a prática da gestão pública como sinônimo de burocracia perversa e corrupta. Aí está recente o tal legado das obras da copa, acompanhado por legados malditos em profusão. Que nos joga para baixo, rumo a imobilidade urbana. Em uma cidade onde os aparelhos públicos coletivos foram historicamente menosprezados. Ruas poeirentas, esburacadas, esgotos a céu aberto, asfaltos esburacados, consertos com remendos passageiros, sinalizações péssimas, pedestres, ciclistas e transporte coletivo em planos inferiores. Calçadas irregulares, verdadeiras armadilhas. Transportes frágeis, ônibus capengas. Quase nada é cumprido, desde a qualidade dos veículos até os horários e que linhas passam por ali, e outros como a falta de refrigeração nos ônibus. Legislativos e órgãos de fiscalização e controle ao largo da possibilidade de intervenções para o bem coletivo. Sistema de esgotos precaríssimos, coleta e disposição final de lixo insuficiente, poluição de córregos e rios, mau cheiro por todo lado. Quase toda sujeira da cidade no difícil escoamento de águas vão para córregos já mortos, caindo nos rios Cuiabá e Coxipó. Ou ficando nos ajuntamentos de lixo por toda periferia da cidade. O mercado imobiliário faz o que quer, com poucas intervenções e se restringem ao Ministério Público. Criam-se condomínios e núcleos urbanos sem a infraestrutura necessária e adequada, desde o sistema de dejetos e transporte urbano. O problema do lixo urbano é um assunto sério a ser resolvido na dimensão que hoje se apresenta. Reservas ambientais urbanas, raríssimas e ameaçadas. Nenhum incentivo para criação de novas reservas e parques, aliás seria fácil incentivar reservas particulares urbanas. Territórios como o centro velho e outras referências históricas de Cuiabá, esvaziados pela primazia dos “chopins”, bandeira do mercado elitista. A modernidade é componente da necessária diversidade, é preciso sustentar os marcos culturais da cidade, com sua verdadeira revitalização. Revitalizar seria recompor o conteúdo, a estética da cidade para uma vivencia agradável nos variados territórios que demarcam o pertencimento e orgulho do lugar. A poluição visual e sonora campeiam pela cidade. A falta de uso da inteligência e a morosidade na reorganização da cidade é gritante. Parece que é uma série de “puxadinhos”, gambiarras e um grotesco e anômalo progresso sem imaginário e memória social. Apesar de ocorrerem algumas melhorias na cidade, é de boa noticia a recriação de um órgão de Planejamento Urbano. Sem um órgão desta natureza, politicamente forte e com recursos para sua operacionalização, não chegaremos a nenhum avanço qualitativo. Quais os cenários para o presente e futuro da nossa cidade? Qual a participação decisória real da sociedade? Até os 300 anos é possível demonstrar por onde e como caminhar rumo a cidade que queremos. É preciso superar as gambiarras urbanas da nossa Urbe Querida.
Waldir Bertulio
Professor aposentado da UFMT
AGENDA VERDE E DESENVOLVIMENTO
JUACY DA SILVA*
Desde os escritos de Malthus, principalmente com a publicação intitulada “Ensaios sobre o crescimento populacional” em 1.798, existe um debate entre a capacidade de produção de alimentos e matérias primas no planeta e o crescimento demográfico.
Observando o crescimento populacional, a produção de alimentos e a melhoria dos níveis de bem estar nos quatro séculos que antecederam suas pesquisas, Malthus resumiu sua teoria afirmando que enquanto a capacidade de produção de alimentos e matérias primas crescia em uma progressão aritmética, o crescimento populacional seguia um projeção geométrica. Se nada fosse feito, com certeza a fome e a mortalidade acabariam se encarregando de restaurar um equilíbrio entre estes dois vetores.
Em 1800, dois anos após a publicação da obra de Malthus, a população mundial era de aproximadamente UM BILHÃO de habitantes. Cinco décadas depois, em 1.850, a população mundial havia atingido o patamar de 1.265 bilhões, ou seja, foram necessários 50 anos para que o mundo tivesse este aumento populacional.
Em 2000 a população mundial atingiu 6.090 bilhões de pessoas e no dia 01 de julho próximo (2015) seremos 7.325 bilhões de habitantes no planeta terra. Em apenas 15 anos a população mundial cresceu em 1.163 bilhões de habitantes, ou seja, 4,4 vezes o crescimento de cinco décadas no período após a publicação dos estudos de Malthus.
As previsões de Malthus não se concretizaram de forma tão catastróficas como ele imaginava, principalmente pelo avanço da ciência e da tecnologia que permitiram uma verdadeira revolução na produção agrícola, pecuária e de diversas matérias primas animais, vegetais e minerais. A fome, mesmo muito presente em diversas partes do mundo, que afeta mais de dois bilhões de pessoas, ocorre muito mais pelos desníveis socioeconômicos e exclusão dessas pessoas do que propriamente pela falta de produção.
Todavia, desde a publicação da obra “Os limites do crescimento” pelo Clube de Roma em 1972, além da primeira conferência do meio ambiente realizada pela ONU em junho de 1972, em Estocolmo na Dinamarca até a próxima conferência sobre mudanças climáticas, a ser realizada entre 30 de novembro e 11 de dezembro deste ano (2015), tanto a ONU quanto diversos organismos internacionais , universidades e instituições de pesquisas governamentais e não governamentais tem batido na tecla dos limites e hiato entre um crescimento acelerado da população e como consequência imediata o aumento rápido do consumo, seja decorrente do aumento demográfico em si, seja pelo aumento do poder aquisitivo de grandes massas até então alijadas do Mercado e também pelo enorme desperdício que ocorre em todos os países.
A ampliação da produção e oferta de alimentos e matérias primas de forma rápida tem ocorrido em total desrespeito ao meio ambiente, razão pela qual a ONU tem enfatizado ao longo dos últimos 43 anos a importância de serem incluídas a ideia e as práticas de sustentabilidade, ou seja, o crescimento econômico tem um prêco ambiental. Não é justo e nem ético que as atuais gerações deixem esta fatura para as próximas gerações. A maior parte dos recursos naturais são finitos e a sua exploração sem critérios de sustentabilidade e respeito ambiental vai aumentar os problemas em todos os países. Recursos como água, solo, subsolo, fontes energéticas e mesmo o ar, devem ser tratados com parcimônia e respeito pelas gerações atuais, principalmente o setor produtivo e os consumidores.
Entre 1972 e os dias atuais vários alertas já foram dados na forma de estudos, conclusões e recomendações de inúmeros eventos, principalmente sob os auspícios da ONU, valendo destacar: A Eco-92, conferência sobre meio ambiente realizada em nosso país; o Simpósio sobre desenvolvimento sustentável realizado em Johanesburgo, África do Sul em dezembro de 2002; o Protocolo de Kyoto, sobre o Clima, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas realizada em dezembro de 2009, em Copenhagen, Dinamarca; a Rio + 20, sobre desenvolvimento sustentável, realizada novamente no Brasil em 2012 e no ano de 2014, os simpósios e pré-conferência sobre as mudanças climáticas em New York e Lima, como preparação do que poderá ser a grande conferência de Parias no final deste ano.
Percebe-se que o desenvolvimento mundial e de cada país, cada estado/província e municípios tem que estar articulado com uma grande agenda verde, onde as questões ambientais diretas ou indiretas precisam estar no âmago das diversas políticas públicas, sob pena dos problemas que enfrentamos hoje tornarem-se mais graves e de difícil solução.
A pergunta que não quer se calar: Será que nossos governantes, empresários, universidades, ONGs, enfim , a população em geral, tem consciência das catástrofes que poderão afetar bilhões de pessoas, o nosso futuro planetário e também nosso futuro imediato como pessoas?
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
De Gambiarras ao Planejamento Urbano I
Precisamos de um Planejamento Urbano para nossas cidades, tendo clareza de que o mesmo não pode se constituir em uma panaceia. Não há varinha mágica para resolver os estrangulamentos, os enormes problemas e desafios para estabelecer os rumos pertinentes para chegarmos a ser uma cidade saudável. O Planejamento Urbano é um instrumento para conhecer e estabelecer ordenamento nas formas adequadas e compatíveis com as demandas e necessidades de uma ou mais cidades. Tem enorme contribuição e validade para estabelecer parâmetros e critérios para a ocupação urbana em busca da melhor qualidade de vida da população. Se Cuiabá já tem desafios difíceis de transpor, pelo legado extenso de verdadeiras gambiarras urbanas, imaginem em Várzea Grande. Cidade há longo tempo abandonada a sua própria sorte. Ou azar, se considerarmos as chances que teve para ter uma boa infraestrutura e aparelhamentos socioculturais. Simplesmente, teve dois governadores, mandatos de deputado estadual, federal e senadores. A cidade nunca foi pensada com mínima seriedade em sua organização espacial, senão como mercado de expansão mercadológica, imobiliária e de interesses financeiros, que raramente retornaram para construir o conforto urbano nesta cidade. Teve tanto tempo como segundo orçamento municipal em Mato Grosso, e proporcionalmente deficitária nos investimentos estruturais e sociais para a cidade. Posou por tempos como uma “cidade industrial” sem que se pudesse ver o retorno de investimentos em benefício da cidade. Onde ficou o interesse e a visibilidade de gestores e políticos para que se tornasse de fato uma cidade confortável para viver? Impostos não serviram para melhoria da cidade? Governanças, via de regra, atabalhoadas e de interesses deslocados dos investimentos necessários na malha urbana. Voltados para interesses de pequenos grupos e chefes políticos locupletando-se do poder e da coisa pública. A gambiarra política e de gestão é sempre fazer de conta que fazem, iludindo a população em práticas absolutamente clientelistas e patrimonialistas. Enredados no conservadorismos e atraso, sob os auspícios e legado do regime de exceção. Devemos esperar que com a modificação da composição populacional, esta estrutura de poder político pode perder sua hegemonia (como já vem acontecendo). Para tal, é necessário uma verdadeira varredura nas lideranças antigas e até recentes, que insistem nos descaminhos que trouxeram Várzea Grande a um patamar de ser das piores cidades em conforto para se viver em Mato Grosso. Se trabalharmos indicadores em políticas sociais como saúde, educação, infraestrutura, comparando com sua renda histórica, seu desempenho cai a níveis bastante inferiores a cidades muito menos desenvolvidas. Nem se fala em reurbanização, em planos diretores elaborados com o rigor e diagnostico necessário. Raríssimas praças, áreas de lazer, sem ruas e calçadas arejadas, sem centros culturais e de lazer, pouco para esportes. Sem ciclovias, nem mesmo na própria Avenida da FEB. Sistemas de dejetos líquidos e sólidos praticamente ausentes, ainda se falando hoje no superado e proibido “lixão”. Poluição hídrica, sonora, visual e aniquilamento da perspectiva e necessidade de amplos aparelhos sociais. Transporte coletivo uma lastima. A cidade segue ao “léu”, como se fosse realmente uma cidade dormitório, distanciando abissalmente da sua memória social. A imobilidade e o atraso são impostos por maioria de gestões públicas e Legislativos distantes de honrar a representação concedida pelos eleitores (as). Como nestas condições falar em atrair projetos de renda e emprego? Várzea Grande ainda pode ser salva, se pelo menos acompanhar os ventos de mudança contra o patrimonialismo operados até agora pelo novo governo instalado no Palácio Paiaguás, operando uma ética de gestão na contramão de maior parte da cultura institucional desviante e intransparente acumulada em MT. É necessário drástica mudança política. Vamos esperar até quando?
Waldir Bertulio
Professor aposentado da UFMT
Hospital psiquiátrico
Em 1957 foi inaugurada em Cuiabá uma ala do futuro hospital psiquiátrico - único no Estado não dividido, no distrito do Coxipó da Ponte, com o nome de Hospital Colônia de Alienados.
Houve parcos recursos federais para o início da obra, ficando o custeio e a gestão por conta do pobre Estado de mais de um milhão de quilômetros quadrados.
Em 1966 o hospital era um imenso depósito de doentes mentais, muitos acorrentados, isolados em celas fortes, vivendo como todos os demais internos em condições sub-humanas.
Faltava tudo para o funcionamento do manicômio: equipe especializada de saúde, medicamentos, leitos, alimentação e segurança.
A promiscuidade entre homens, mulheres e crianças, maltratava a sensibilidade dos médicos, especialmente os mais jovens, e afastava a sociedade daquele hospital mal assombrado pelo terror.
Com o apoio decisivo e incondicional do jovem governador da época, Pedro Pedrossian, e do seu Secretário de Saúde Clóvis Pitaluga de Moura, recursos e autonomia foram ofertados para a recuperação da chamada vergonha mato-grossense.
Naquela ocasião Pedrossian sancionou uma lei estadual dando o nome de Hospital Adauto Botelho à casa desumanizada.
O velho depósito de pacientes irá fechar por força de lei federal e seus infelizes pacientes jogados nas ruas, já que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) não funcionam na prática.
Falar que esses pacientes irão para hospitais da rede pública é uma falácia, pois não há hospital público para atender a demanda atual, e novos estabelecimentos ainda estão nas pranchetas de municípios sem recursos.
A própria coordenadora de saúde mental do município, reconhece que “não foi feito nenhum planejamento na época do fechamento do Pronto Atendimento do Adauto junto ao Estado para lidar com a questão”.
Hoje a gestão é do falido município, mas, o Estado e o governo federal têm responsabilidades no funcionamento desse importante setor especializado, tão carente de equipe multidisciplinar para suas atividades.
A situação do doente mental em nosso estado é gravíssima!
Seria possível o surgimento de um contemporâneo Pinel por estas bandas?
Gabriel Novis Neves
09-04-2015
PETROBRÁS, A VERGONHA NACIONAL
JUACY DA SILVA*
Durante décadas a Petrobrás foi um símbolo da soberania e sonho do povo brasileiro, um verdadeiro orgulho nacional. Desde a memorável campanha de O PETRÓLEO É NOSSO, nos anos cinquenta, ate o descobrimento do pré-sal, a história da estatal tinha sido de glória e eficiência.
Todavia, este círculo virtuoso de crescimento, eficiência e posicionamento entre as 10 maiores companhias petrolíferas no mundo, foi quebrado de forma vergonhosa com a chegada do PT ao poder e o aparelhamento das estatais, fundos de pensão e administração direta, que passou a fazer parte de seu projeto de poder. Para tanto, o Presidente Lula nomeou alguns diretores corruptos, que acabaram formando verdadeiras quadrilhas que assaltaram e dilapidaram bilhões de dólares da Petrobrás.
Dilma que participou com ministra das Minas e Energia e posteriormente como Ministra-Chefe da Casa Civil, e, nesta condição, Presidente do Conselho de Administração da maior companhia brasileira, e ultimamente como Presidente da República , mesmo tendo ao seu dispor uma série de organismos de controle interno e externo, da mesma forma que Lula, nunca soube de nada, nunca viu nada, nunca ouviu nada. A corrupção correu solto durante doze anos e envolvia gente importante do Governo e empresários de peso, que também tinham livre acesso aos gabinetes ministeriais e ao Palácio do Planalto e participavam dos banquetes do poder, vários dos quais deixaram seus gabinetes de luxo e mordomias e hoje estão no xilindró em Curitiba, graças as decisões do juiz federal Moro.
Coube a este Juiz que até o momento tem conseguido manter sua espinha vertebral ereta e não tem se curvado às ameaças e encantos do poder, com a colaboração do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, bem como dados e informações levantados e trazidos a público pelos meios de comunicação de massa, TCU e uma vaga contribuição do Congresso Nacional, que na maioria das investigações através de CPIS tem se comportado como um anexo ou puxadinho do Palácio do Planalto, graças a uma maioria parlamentar composta pelos partidos da base de apoio ao Governo, extremamente subserviente aos interesses dos donos do poder, desvendar o que até agora tem sido considerado o maior escândalo de corrupção do Brasil e do mundo, talvez em breve possa ser ultrapassado pelo que uma próxima CPI do BNDES.
Nesta última quarta feira, 22 de Abril, deve passar para história brasileira como a data da vergonha nacional, quando a PETROBRÁS, depois de muitas relutâncias divulgou seu balanço anual de 2014 e, de forma clara e cristalina informou que teve um prejuízo de R$ 21,6 bilhões de reais, dos quais nada menos do que R$6,2 bilhões de reais, ou seja, 3% do faturamento bruto da estatal , foi devido a corrupção. Todavia, todos sabem que a corrupção em alguns casos chega até a 10% dos contratos, e se for aplicado o percentual de 5%, ao invés de 3%, o rombo provocado pela corrupção chega a R$10,3 bilhões e as “perdas” totais podem chegar a R$25,7 bilhões em 2014.
Como a roubalheira das quadrilhas comandadas pelos diretores que até o momento já foram identificados, agia abertamente há doze anos e não apenas em 2014, quando o escândalo ganhou os meios de comunicação de massa, o montante das perdas da PETROBRÁS pode chegar a mais de R$150 bilhões de reais. Estudos do Grupo de economia e soluções ambientais da Fundação Getúlio Vargas avaliou que as perdas da PETROBÁS chegaria a R$87 bilhões de reais, e que o patrimônio da empresa perdeu 80% de seu valor em doze anos, além de que seu endividamento poderá chegar a R$300 bilhões no final de 2015.
Os impactos da queda de investimentos, o mais baixo nível em 20 anos, em 2014 representou 20% a menos do que a média histórica, ou seja, a Estatal por problemas da corrupção, falta de caixa e rompimento de contratos, reduziu seus investimentos em R$ 27,5 bilhões de reais. No momento existe uma pressão muito grande para que a estatal corte custos, inclusive os decorrentes da ineficiência e da corrupção, caso isto não ocorra a mesma terá que se desfazer de parte de seu patrimônio e com baixa capacidade de investimentos, agravada pela queda do preço internacional do petróleo, existe uma grande probabilidade de que o pré-sal tenha que revisar suas metas e calendário.
Por ultimo, a divulgação do balanço da PETROBRÁS e a confissão pública da existência da corrupção e o montante da roubalheira, ganharam as manchetes dos principais jornais de vários países europeus, Estados Unidos, Canadá e América Latina e do Brasil. Além disso, o maior fundo de pensão Suécia que é um investidor da PETROBRÁS está entrando na Justiça internacional, da mesma forma que nos EUA, devem representar mais uma pedra no sapato da estatal e uma mancha indelével na imagem da empresa, do país e , principalmente, do governo petista, já considerado um dos governos mais corruptos na história brasileira.
A novela corrupção na PETROBRÁS , no governo Dilma e o envolvimento de partidos e políticos da base aliada, tendem a se agravar nos próximos meses à medida que os políticos constantes da Lista do Procurador Geral do MPF, Janot comecem a ser investigados e denunciados vai ser mais gasolina na fogueira e uma pressão muito grande para o impeachment ou renúncia de Dilma. Os gritos FORA DILMA, FORA PT, FORA CORRUPTOS vão ecoar com mais vigor nas próximas manifestações populares.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy