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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
Alguma coisa deve estar errada com pessoas que se tornam fanáticas. Algo de errado está acontecendo e afetando o cérebro dessas pessoas. O fanatismo é uma doença mental e psicossocial que pode afetar profundamente, primeiro o cérebro de quem assim passa a pensar, sentir e agir, cometendo, inclusive crimes de ódio, como acontecia e ainda acontece com os nazistas, neonazistas, comunistas e, segundo, desvirtua as relações politicas, religiosas, culturais e econômicas.
A lógica das pessoas fanáticas é reducionista, totalitária, obscurantista, desvirtuada, se preciso for, até os princípios científicos devem ser ignorados e combatidos, além do menosprezo pelas pessoas que pensam de forma diferente e que devem ser combatidas diuturnamente e, em alguns casos, até eliminadas fisicamente.
O pensamento e as ações das pessoas fanáticas não tem amparo na racionalidade dos argumentos e no embasamento científico, a única coisa que conta e que vale são suas verdades, tudo o mais é desprezado, afinal, as pessoas fanáticas, em algum momento da caminhada, imaginam-se semideuses, ungidos ou enviados por alguma divindade para salvar um país ou até mesmo a humanidade como um todo. Por isso, colocam-se, sempre, acima do bem e do mal e se transformam em ditadores e agentes do totalitarismo.
Além do fanatismo politico e ideológico, o que continua, praticamente explodindo nos dias atuais, inclusive no Brasil, é o fanatismo religioso, onde a intransigência dos falsos messianismos voltou a praticar o “crê ou morre”, que ao longo de séculos surgiu na expansão do cristianismo e, modernamente, com grupos extremados que, em nome do islamismo, do budismo e de setores de diversos cultos ditos adeptos do cristianismo, onde o desvirtuamento dos princípios cristãos, imaginam que apenas esta ou aquela religião ou corrente de pensamento religioso seja a única expressão da verdade. Esses grupos de fanáticos querem se apropriar das figuras divinas, o seu deus é o único, os deuses das demais religiões são falsos e errados.
Quando essas pessoas aliam fanatismo religioso com fanatismo politico, uma grande ameaça paira sobre cada pessoa, cada cidadão e pior, sobre a sociedade como um todo, essas pessoas desejam uma coletividade que deve seguir passivamente seus líderes, seus gurus e isto alimenta as práticas totalitárias e corruptas na sociedade.
As pessoas fanáticas buscam sempre um salvador da pátria, um messias que conduzam os fiéis para a terra prometida e, no caso da politica, para um país maravilhoso, pouco importa a realidade com milhões de desempregados, uma violência cruel que ceifa vidas inocentes e uma corrupção endêmica, mesmo que isto imponha mais e maiores sacrifícios aos excluídos, aos despossuídos, aos marginalizados, `as minorias, os e as quais devem ser tratados como cordeiros rumo ao abatedouro.
Quanto mais obedientes, submissas e alienadas forem as pessoas e as instituições, maior é o regozijo de quem adota o fanatismo politico e religioso como padrão de comportamento.
Todos os tipos de fanatismo carregam consigo a intolerância, a falta do respeito à diversidade de pensamento, de crença e servem de base para práticas como o racismo, as diversas fobias, o preconceito, como os que alimentam os grupos supremacistas brancos nos EUA e seus similares em diversos outros países, inclusive no Brasil.
Na cabeça da pessoa fanática, a única verdade que pode existir é a sua, o que ela pensa, todas as demais pessoas estão erradas em todos os campos do pensamento e das relações sociais; apenas a sua religião ou ideologia são verdadeiras, todas as demais são falsas e envoltas em heresias e práticas errôneas.
Podemos perceber fanatismo nas torcidas esportivas, nas correntes/seitas religiosas, nas militâncias politicas, no obscurantismo teológico e ambiental; na construção de tipologias que exaltam os mitos, os salvadores da pátria, na crença do super homem, que pode ser um politico, um líder religioso ou um guru ideológico.
A consequência do fanatismo é provocar o acirramento das relações politicas, culturais, religiosas e sociais, gerando e aprofundando os conflitos, suprimindo o diálogo e, por extensão, destruindo os princípios democráticos, facilitando o surgimento de líderes políticos e religiosos totalitários, autoritários e que acabam suprimindo as liberdades sociais, civis e individuais e perseguindo implacavelmente seus opositores que, para as pessoas fanáticas, passam a ser inimigos internos ou internacionais, como aconteceu por muitas décadas quando vigorava o espirito da guerra fria, que alguns fanáticos da atualidade tentam ressuscitar no Brasil e em diversos outros países.
Em nome do fanatismo, politico, religioso e ideológico, milhões de pessoas morreram e continuam morrendo mundo afora em tantas guerras e conflitos armados, em atentados terroristas. Milhões de pessoas tem sido obrigadas a fugir da violência desses conflitos irracionais, alimentados pelo fanatismo, que só servem para estimular a indústria da morte que é representada pelo complexo industrial-militar e pelos fabricantes de armas que jamais trazem a tão sonhada segurança individual e coletiva, mas tão somente o lucro para quem as fabricam e comercializam.
É bom a gente começar a colocar “a barba de molho”, pois está em curso no Brasil o desabrochar de um fanatismo muito perverso que está aliando teocracia com autoritarismo, religião e politica, da caça `as bruxas, com a demonização de quem pensa diferente do figurino oficial, mesmo que este figurino esteja envolto em pensamentos e práticas irracionais, antiéticas, que cultuam a violência, principalmente a simbólica, como tanto faz o Presidente da República e seus seguidores que, com frequência além de exprimirem desapreço pela oposição, por quem pensa diferente, ainda se deixa fotografar, até em eventos religiosos e com criancas impunhando uma arma (de brinquedo) engatilhada, prestes a ferir de morte seus opositores, quase sempre considerados inimigos.
Só existe uma forma de se combater o fanatismo e a violência e esta forma é promovermos a CULTURA DA PAZ, do diálogo, do entendimento, da participação popular e democrática, jamais com o acirramento dos conflitos, sejam eles reais ou apenas simbólicos. Um país só está seguro quando propicia condições para que todos/todas sintam-se participes na construção de um projeto nacional que conduza a um futuro comum onde todos/todas participam da justa repartição dos bens e serviços produzidos social e economicamente, toda e qualquer forma de imposição representa fanatismo e violência.
A paz não é sinônimo apenas da ausência da violência, mas sim, da promoção do bem estar, da solidariedade, da equidade, da justiça social, da sustentabilidade e, como diz o Papa Francisco, com tanta ênfase, da promoção da ECOLOGIA INTEGRAL, na construção da civilização do amor e da sociedade do bem viver.
Vamos refletir mais profundamente sobre esses aspectos da realidade brasileira, isto pode apontar para outros caminhos que não sejam apenas os expressos na vontade, na intolerância e fanatismo dos governantes de plantão, para a construção de uma sociedade realmente humana, solidária, justa e sustentável!
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Twitter@profjuacy Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com