Quinta, 17 Agosto 2017 15:38

ESSÊNCIA E A APARÊNCIA NA POLÍTICA - Roberto de Barros Freire

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Dizem os livros que Cezar, ao chegar de uma campanha vitoriosa (e dos braços de Cleópatra), desfez seu casamento, devido ao boato que corria em Roma de vários encontros de sua esposa com um homem na sua ausência. Ainda que alegasse ser honesta, pois o homem em questão era um notório homossexual, que eram encontros entre amigos, Cezar não titubeou, e disse: “Para ser a mulher de Cezar, não basta ser honesta, é preciso parecer honesta!”, e o encontro dela gerava suspeitas e comentários, motivo mais do que suficiente para se desfazer um casamento, pelo menos para um Imperador.


Desse evento Maquiavel tirou a máxima, que para o político, não basta que ele seja honesto, é preciso, antes de ser, parecer honesto. A política vive no mundo das aparências, pois é julgada por todos, e são poucos os que estão atentos às ações políticas, e a grande maioria julga os eventos pelos resultados. Por estar o político exposto aos holofotes públicos suas ações estão sendo vistas e julgadas constantemente, e se perde a imagem de honesto, se há suspeitas a respeito de suas ações, ele é obrigado a abandonar seu posto e provar a sociedade civil sua honestidade, para, comprovada sua idoneidade, possa ser reconduzido ao seu cargo. Não há para ele o benefício da dúvida, que pertence a sociedade, que tendo milhões de cidadãos sem suspeitas, não precisa manter um sobre o qual recaia acusações graves.


Na parte do mundo onde a política é razoavelmente decente, qualquer político suspeito é imediatamente retirado do seu cargo. Na maior parte das vezes por iniciativa própria, senão o partido o expulsa, senão o congresso o cassa, eis porque prefere se retirar da vida pública antes que seja penalizado em outras instâncias. Já aqui as coisas são bem mais indecentes. Os políticos acreditam que enquanto não se prova a sua culpa eles são inocentes, que se podem ter suspeitos em cargos eletivos, que na dúvida não podem ser condenados pelos pares ou pela sociedade, o que significa, entre outras coisas, o mais completo desrespeito à opinião pública, uma zombaria da sociedade civil.


Ou seja, o político quer fugir das suas responsabilidades com a sociedade civil e abusar da imunidade parlamentar, que na verdade tem sido invariavelmente sinônimo de impunidade. O político não é um cidadão comum, ele não tem direitos civis apenas, como a grande maioria das pessoas, tem privilégios e regalias do cargo que o obrigam a ter uma conduta exemplar, pois não são apenas ocupantes de cargos públicos, mas exemplos a serem seguidos pela sociedade. Eis porque no mundo decente eles são retirados da vida pública quando recai alguma suspeita, não estão dando bons exemplos a serem seguidos. O benefício da dúvida pertence a sociedade; se a sociedade tem suspeitas sobre o político, na dúvida é melhor escolher outro representante entre tantos bons cidadãos que existem.


Mas, se a nossa sociedade civil quiser, pode fazer justiça com os nossos políticos, e nem é preciso grande esforço e sacrifício, basta não reeleger os políticos atuais, todos eles ocupados apenas em como manter seus postos e suas regalias. De Temer ao mais baixo deputado, estão todos ocupados apenas em sobreviver politicamente, usando e abusando de suas prerrogativas de fazerem leis, que só beneficiam eles próprios. Eis uma forma se fazer a justiça com as próprias mãos, sem violência e sem desrespeitar as leis.


 
Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Ler 5140 vezes Última modificação em Sexta, 18 Agosto 2017 15:32