JUACY DA SILVA*
O Brasil está em crise profunda há várias décadas. Podemos fazer alguns recortes destacando o período que antecede à intervenção militar em 1964, quando o ápice da crise foi a derrubada do Governo João Goulart, onde a inflação estava em um crescendo, a confronto entre movimentos populares, alguns com marcas de anarcosindicalistas e movimentos conservadores, de direita e, como hoje, muita corrupção, para os “padrões” da época, bem menos do que agora.
Decorridos 21 anos de governos militares, com os generais presidentes e as instituições nacionais, principalmente as políticas muito tuteladas, a repressão aos opositores do regime, considerados pelos militares como inimigos internos. Neste período o país experimentou índices de crescimento econômicos e mudanças na estrutura e forma de governo muito profundas, mas tinha como contra ponto a questão da repressão, inclusive um combate feroz `as tentativas de luta armada como estratégia para derrubar o regime considerado ditatorial.
Com um pouco de abertura conseguido de um lado pelo afrouxamento da repressão e de outro a organização e ação mais destemida dos movimentos populares, com destaque para a campanha das diretas já, a onda de greves dos trabalhadores do setor industrial e a fundação do PT, o fim do regime militar desembocou na Constituinte e na eleição indireta, por um Congresso ainda bastante castrado pela pressão do regime em vigor (militares), acabou elegendo a dupla Tancredo Neves e como vice, o então presidente do PDS, partido que sucedeu a ARENA e durante todo o regime apoiou tudo o que os militares queriam. Este personagem, que acabou sendo presidente da República, por vias indiretas, que de apoiador da ditadura se transformou em um dos maiores “democratas” da Nova República se chama José Sarney, espécie de vice rei do Maranhão, onde sua família manda e desmanda há mais de cinquenta anos.
Com a constituinte e depois a Constituição Cidadã, o povo, em sua santa alienação e, em certo sentido, passividade e crença de que um messias um dia poderá resolver todos os nossos problemas, aos poucos vai perdendo as esperanças de que o Brasil um dia possa ser um país com justiça, sem corrupção, com igualdade de oportunidades para todos e com governantes íntegros e com elevada capacidade de gestão e desenvolvido.
A cada momento as elites dominantes ou grupos dominantes, como mencionados neste artigo, criam verdadeiros bodes expiatórios para dissimular as verdadeiras causas de uma crise estrutural que nos dilacera profundamente. O epílogo da recente crise,, quando ao governo Dilma/Lula e o PT eram imputadas todas as mazelas da República, deixando de lado parceiros e participes do mesmo governo acusado de corrupção, assalto `a Petrobrás, desequilíbrio das contas públicas, recessão econômica, desemprego, caos nos serviços públicos, crise nos estados e outros aspectos tão bem conhecidos.
Além do PT, também foram participes no desastrado governo do PT, outros partidos como PMDB, PP, PR, PTB, PSB e outros considerados de esquerda como PDT, PSOL, PCdoB. O impeachment de Dilma e a derrota fragorosa do PT nas últimas eleições municipais, estão longe de desatar os diversos “nós” que estão amarrando o país a problemas e desafios que jamais serão equacionados pelo governo Temer e seus apoiadores, pois esses, incluindo a alta administração dos três poderes, e também governos estaduais, organismos de controle, enfim, grupos que representam verdadeiros marajás, com super salários, mordomias, privilégios e mutretas continuaram a usar as estruturas do poder para se locupletarem, enquanto o povo terá seu sofrimento aumentado e irá, como sempre, pagar a conta da incompetência, da corrupção e da incúria dos governantes, que tem como aliados grupos empresariais que se enriquecem e acumulam mais capital, muitos dos quais através de uma parceria corrupta com os poderes públicos.
Por isso é que o povo a cada dia acredita menos em seus governantes, na classe política, nas instituições nacionais e nos poderes da República e também nos organismos de controle e ainda nutrem uma esperança da vinda de um messias, que a cada momento tem uma representação midiática, como durante o MENSALÃO foi o ex-ministro Joaquim Barbosa e agora em tempos de LAVA JATO é o Juiz Federal Sérgio Moro.
Todavia, enquanto os partidos políticos continuarem a ser propriedade de caciques que se eternizam nas estruturas partidárias, a governabilidade ser feita através da barganha de cargos e o fisiologismo for a a marca registrada da gestão pública, será muito difícil acreditar em um futuro melhor para o Brasil, que continuará sendo “administrado’ por uma elite apodrecida e falida!
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e articulista de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com