JUACY DA SILVA*
Depois de quase nove meses de muita discussão, muitas manobras de ambos os lados, tanto os que queriam o afastamento/deposição de Dilma da Presidência da República, quanto seus defensores, que acabaram ficando isolados praticamente nos Deputados Federais e Senadores, do PT, PDT e PCdoB e uns gatos pingados de outros partidos, finalmente no último dia de Agosto Dilma foi afastada definitivamente do poder, pondo fim ao que muitos chegam a denominar de projeto criminoso de poder, pois estava baseado no aparelhamento do Estado, da administração pública direta e indireta e nas estatais e na corrupção.
O chamado presidencialismo de coalização, “modernizado” com a chegada de Lula ao poder e em continuidade com sua criatura a ex-presidente Dilma, as chamadas forças de esquerda, mesmo tendo uma linguagem populista e vociferando slogans marxistas, socialistas, sindicalistas acabaram se aliando `as forças mais conservadoras, retrógradas e corruptas que o pais jamais imaginava pudessem exercer o mando na politica nacional.
Lula e Dilma, esqueceram dos trabalhadores e aliaram-se ao capital, ao mundo dos negócios, esqueceram da reforma agrária e aliaram-se a latifundiários, barões do agronegócio, esqueceram os interesses do povo e aliaram-se aos banqueiros, agiotas nacionais e internacionais, esqueceram da ética na politica e aliaram-se a políticos, gestores e empresários corruptos e cada vez mais o povo foi sendo alijado do processo politico. Aos poucos o desencanto substitui a esperança no governo capitaneado pelo PT e seus aliados ideológicos.
Mais dia, menos dias todo mundo sabia que esta aliança entre galinha e raposa, entre vampiro e doadores de sangue não daria certo e este pacto diabólico para chegar e permanecer no poder seria rompido e o projeto de longo prazo do lulo-petismo seria destrocado pelos seus aliados conservadores, o que acabou nesta data fatídica para o governo Dilma que chegou ao fim.
"Coitada" da Dilma, dançou miúdo! Deve estar muito triste ter que deixar o poder, as mordomias e as bajulações. Pior em tudo isso, e ver que diversos senadores que foram ministros nos governos Lula e Dilma, depois de mamarem bastante em seus cargos e também indicarem seus asseclas para outros cargos, deram uma enorme rasteira nela.
Assim é a politica brasileira, os políticos estão sempre com quem tem ou está no poder, quando percebem que quem tem poder esta caindo em desgraça, pulam do barco como ratos ao perceberem que o navio está indo a pique.
Com certeza Temer também vai ter que barganhar cargos e outras benesses para atender o apetite do fisiologismo instalado na politica brasileira, vai ter que instalar o balcão de negócios, trocar cargos e favores por votos no Congresso.
Quando não puder mais fazer isso, aí começa seu calvário e seus dias também serão tensos. Políticos de vários partidos e não apenas do PT acusados de corrupção apoiaram Lula e Dilma e agora, com exceção dos integrantes do PT, PCdoB e PDT, estão todos com Temer, incluindo a turma de parlamentares que constam da famosa LISTA DO JANOT e gozam de imunidade/foro especial, que faz parte da LAVA JATO que está sob a responsabilidade direta da Procuradoria Geral da República e do STF, mas continua "andando" a passos de tartaruga, em um ritmo muito mais lento do que a parte da LAVA JATO a cargo do Juiz Sérgio Moro em Curitiba.
Enfim, engana-se quem imagina que a perda do cargo/mandato de Presidente da Republica de Dilma, aprovado no último dia de agosto, mês fatídico para a política brasileira, todos os problemas do Brasil serão resolvidos.
Os problemas econômicos, fiscais, tributários, de gestão pública, a corrupção, o caos na saúde, na educação, na segurança pública, na infraestrutura, no meio ambiente, saneamento básico, o desemprego de doze milhões de trabalhadores, o analfabetismo que voltou a crescer, o analfabetismo funcional, a queda da arrecadação, o endividamento público da União, dos Estados e municípios e o déficit orçamentário que estrangulam as finanças públicas, deste ano e o previsto para 2017, a recessão ou recuperação muito lenta da economia, não serão resolvidos em curto prazo.
Em meio a tudo isso, a insatisfação popular vai aumentar e novos protestos e conflitos surgirão, greves vão pipocar em todos os setores, tanto na administração pública quanto na iniciativa privada.
É neste contexto ou cenário que Michel Temer irá governar pelos próximos dois anos e quatro meses. Pior ainda, a largada para a sucessão presidencial começou com sua posse e ai será questão de tempo para que também sua base politica e parlamentar comece a erodir e a crise volte a ter as dimensões que chegou com o afastamento de Dilma! Dias sombrios ainda pairam sobre nosso país!
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista do Jornal A Gazeta, há mais de 23 anos. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blogwww.professorjuacy.blogspot.com