Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Quebrando a sequência de artigos nos quais tratei da Base Nacional Comum Curricular, outra aberração que poderá ser imposta pelo governo federal a nossa educação, hoje, falarei do lançamento dos livros “Desovas em Trovas” do poeta Avoante do Cariri – também conhecido como professor e padre Pimentel – e “Abrangências dos voos poéticos do Avoante do Cariri”, de minha autoria. Esses livros foram lançados no Foyer do Teatro da Universidade Federal de Mato Grosso, em 03/02/2016.
Mas por que me pus a falar desse poeta ainda tão desconhecido?
Antes de tudo, porque sua obra tem consistência. Além disso, dois dias antes de sua morte – que, conforme o laudo do IML, teria ocorrido aparentando “forma natural”, mas causada por conta de “traumatismo cranoencefálico, produzido por instrumento contundente” –, recebi dele próprio o conjunto completo de sua obra.
Diante da honrosa escolha de meu nome para deixar sua herança poética, comecei a trabalhar com seus textos. Como a parte mais significativa de sua obra – “Desovas em Trovas” – fora publicada, ao longo do tempo, em dez volumes, e sempre com tiragem limitada, fiz uma seleção de seus poemas, publicando-os em volume único.
Após essa organização, escrevi minhas considerações críticas acerca da seleção feita. Isso está em “Abrangência dos voos poéticos do Avoante do Cariri”, assim como o outro livro, também editado pela EdUFMT, a Editora da UFMT.
Mas tão importante quanto o lançamento desses livros foi a homenagem que a UFMT prestou ao Avoante, bem como a Leônidas Querubim e a Benedito Figueiredo, outros dois grandes mestres que a Instituição teve. Juntos, eles formaram uma tríade inigualável de professores. Eram verdadeiros intelectuais. Quiçá, por isso, eram tão simples e tão brincalhões.
Em um final de tarde emocionante, conseguimos reunir dois ex-reitores da UFMT, a atual reitora, vários colegas da “jovem guarda” de idos tempos, dentre os quais destaco a historiadora Therezinha Arruda, docentes da ativa, antigos e atuais acadêmicos de Letras, escritores, jornalistas e demais amigos. O momento foi histórico.
Como não haveria tempo para que todos falassem, alguns, representando os demais, prestaram suas homenagens. como os ex-reitores Pedro Dorileo e Fernando Nogueira, a reitora Maria Lúcia Cavalli, a presidente da Academia Mato-grossense de Letras, Marília Beatriz, que se fez presente por meio de um honroso texto lido pelo professor Elias Alves de Andrade, o professor/artista Abel dos Anjos, que nos brindou com um canto gregoriano, a ex-acadêmica e atriz Claudete Jaudy, que interpretou o poema “Velhos Tachos”, de seu antigo mestre, além do professor Germano Aleixo, que leu músicas populares traduzidas, por Avoante, para o Latim. Depois de lidas, todos cantamos algumas das músicas.
Das lembranças expostas, destaco as de Pedro Dorileo, que caminhou por onde possivelmente caminharia o discurso do primeiro ex-reitor, professor Gabriel Novis, que não pode comparecer. Dorileo relembrou passagens riquíssimas da vida de Avoante, dando ênfase ao olhar solidário do poeta com as pessoas mais pobres de nossa sociedade.
Como foi bom ouvir colegas que ajudaram a edificar a Instituição! Bom, mas também preocupante, pois ficou nítido que aquele modelo de universidade, que agregava sem esforços cada um dos que compunham a “comunidade”, parece, por conta de um produtivismo, estar escorrendo pelos dedos de nossas mãos.
Salvemos esse modelo humano de universidade!
Que a obra poética de Avoante nos ajude nessa tarefa.