A Diretoria da Adufmat-Ssind, no uso de suas atribuições regimentais, convoca todos os sindicalizados para Assembleia Geral Ordinária PRESENCIAL a ser realizada na sede do SINTUF-MT:
Data: 12 de agosto de 2025 (terça-feira)
Horário: 13h30 (Cuiabá) com a presença mínima de 10% dos sindicalizados e às 14h, em segunda chamada, com os presentes.
Pauta:
1. Informes;
2. Análise de conjuntura;
3. Composição do Conselho Fiscal 2025-2027;
4. Comissão para o Baile dos/as Professores/as 2025.
A Assembleia será presencial e ocorrerá simultaneamente no auditório da sede de Cuiabá e nos campi do Araguaia e SINOP.
IMPORTANTE: devido à reforma na sede da Adufmat-Ssind, em Cuiabá, a assembleia da categoria será realizada na sede do Sindicato dos Servidores Técnico-administrativos (Sintuf-MT), cujo acesso se dá pelo estacionamento localizado atrás da Biblioteca Central da UFMT.
COMO CHEGAR: Dentro da UFMT, entre pela avenida lateral do Teatro Universitário e siga reto até o acesso ao prédio da Agronomia/Zootecnia/Med. Veterinária; vire à esquerda e siga em frente, SUBINDO uma pequena rampa que dá acesso ao estacionamento localizado atrás do prédio da Biblioteca Central; dali já será possível visualizar a sede do Sintuf-MT, basta continuar seguindo em frente após subir a rampa (ACESSE AQUI A LOCALIZAÇÃO).
Cuiabá, 07 de agosto de 2025
Gestão Adufmat é pra lutar!
A Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) deste ano já começou e terá entre as principais atividades uma feira estadual para valorizar a produção camponesa e a agroecologia, além de fortalecer o vínculo entre universidade e sociedade. Ela será realizada em frente ao Restaurante Universitário (RU) entre os dias 14 e 16/08.
Os participantes encontrarão, entre os produtos comercializados, pratos típicos da culinária da terra, isto é, da baixada cuiabana, como ventrecha de pacu e Maria Isabel, além de muitas folhas - alface, rúcula, couve - e legumes - cará (inhame), mandioca -, entre outras variedades de cultivo, próprias da diversidade que a agricultura camponesa e familiar oferece.
Segundo a organização, durante a feira haverá também rodas de conversa, apresentações culturais e atividades de extensão. Isso porque a edição deste ano marcará a celebração dos 30 anos de existência e resistência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado.
O coordenador do movimento, Vanderly Scarabeli, reforçou o convite a todos. “Amigos e amigas do MST e da luta pela Reforma Agrária no estado de Mato Grosso, gostaria de convidá-los e convidá-las para participarem do evento de comemoração de 30 anos do MST neste estado, de 14 a 16 de agosto, com uma grande celebração e feira da Reforma Agrária. Nesses dias teremos mesas de debates sobre temas como a questão climática, ambiental, análise de conjuntura política, com destaque para a crise do capitalismo. Também haverá um grande ato, no dia 16, às 8h, para celebrarmos, de maneira oficial, a existência do MST em Mato Grosso. Durante todos esses dias, além dessas atividades, também teremos shows. Então, todas as noites, de 14 a 16 de agosto, teremos atividades importantíssimas para vocês participarem. Compareçam, tragam seus familiares, amigos e amigas, imprescindíveis para a construção desse movimento e da luta pela Reforma Agrária em Mato Grosso”.
As Jornadas Universitárias em Defesa da reforma Agrária são realizadas todos os anos em todo o país pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em parceria com as universidades locais.
Comida, saúde e conhecimento
Dentro da programação da JURA, entre 29 e 31/07, foram realizadas, ainda, palestras e oficinas voltadas para pesquisadores que trabalham o tema "Expansão do Agronegócio e Conflitos Socioambientais no Mato Grosso Contemporâneo". Participaram representantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) - articulados entre o Departamento de História e Instituto de Geografia, História e Documentação da UFMT com o Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFR -, além de convidados da University of Innsbruck (Áustria) e University of Miami (EUA).
A atividade integrou grupos de pesquisa como Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos (NERU), Grupo de Pesquisas em Geografia Agrária e Conservação da Biodiversidade (GECA), Núcleo de Pesquisa em História (NPH), Núcleo de Estudos Ambientais, Saúde, Trabalho e Educação (NEAST) e Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR).
Durante a programação, os presentes partilharam dados e resultados obtidos por meios dos trabalhos realizados.
“Partindo de um projeto de extensão protocolado junto ao SIEX/UFMT [Sistema de Extensão da universidade], este evento foi pensado e organizado a partir da necessidade de uma maior aproximação entre pesquisadores e pesquisadoras de grupos e núcleos de pesquisas que se dedicam a estudar e debater, no tempo presente, conflitos relacionados à expansão do agronegócio no estado de Mato Grosso. Desta forma, envolvendo o esforço de todas essas instituições e núcleos de pesquisa, o evento foi ampliado e passou a ser organizado pelo IGHD [Instituto de Geografia, História e Documentação], com grande contribuição da professora Dra. Giseli Dalla Nora, que fez a articulação com a JURA, reunindo pesquisadores que vão continuar compartilhando resultados de pesquisa e fomentando debates abertos à comunidade externa da UFMT”, destacou a professora do Departamento de História, Dra. Juliana Cristina da Rosa, também integrante do NERU e NPH, e coordenadora do projeto de extensão que resultou no evento.
Confira abaixo o material de divulgação da Feira Estadual da Reforma Agrária:
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
O ANDES-SN participou, na manhã desta terça-feira (5), de um seminário na Câmara de Deputados para debater a instituição do Sistema Nacional de Educação (SNE). O projeto que estabelece o SNE (PLP 235/2019) foi aprovado no Senado em 2022, e agora tramita, em regime de urgência, na Câmara.

Representando o Sindicato Nacional, Francisco Jacob Paiva, 3º secretário da entidade, iniciou sua fala citando Florestan Fernandes. “A gente tem definido as diretrizes, mas não as bases”, alertou. O docente resgatou a luta de várias entidades do setor da Educação, incluindo o ANDES-SN, na construção da Constituição de 1988 e, posteriormente, da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), em 1996.
Segundo o coordenador do Grupo de Trabalho de Política Educacional, tanto o resultado da Constituinte quanto da LDB foram os consensos possíveis, mas não contemplaram as reais necessidades da imensa maioria da população brasileira em relação a uma educação pública efetivamente de qualidade, em todos os níveis e modalidades.
Jacob recordou também a atuação do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública e a formulação do Plano Nacional de Educação da Sociedade Brasileira. “Em 1997, já falávamos da necessidade em termos a aplicação de 10% do PIB na educação pública, para reverter o quadro que herdamos da ditadura empresarial-militar, com uma enorme expressão de analfabetos, altas taxas de evasão e repetência”, observou. “Até hoje, passados vários PNEs, de diferentes governos, não conseguimos atingir esse patamar”, acrescentou.
O diretor do Sindicato Nacional disse ser necessário recuperar e atualizar o diagnóstico das necessidades do país, passando pelo debate da efetivação de profissionais de educação, que atuem de forma qualificada, com carreira valorizada e salários decentes em todos os níveis e modalidades da Educação pública. Acrescentou ainda a urgência em ampliar o acesso ao Ensino Superior Público, dominado atualmente pelo setor privado, garantindo acesso e permanência a estudantes, além de condições de trabalho e salário a docentes das Instituições Federais, Estaduais, Municipais e Distrital, especialmente aqueles e aquelas em instituições multicampi e/ou afastadas dos grandes centros.
“Entendemos que educação é direito de todos e dever do Estado, em todos os níveis e modalidades”, concluiu, convocando as entidades da sociedade civil do setor da Educação a se unirem na luta para colocar o debate do orçamento e dos 10% do PIB para a educação pública como centrais na disputa do novo PNE.
Também participaram do Seminário integrantes da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes); Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif); Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (Abruem); Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE); União Nacional dos Estudantes (UNE); União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes); bem como representantes do setor privado da Educação.
Clique aqui e assista ao Seminário na íntegra.
Fonte: Andes-SN
O governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, anunciou a aplicação de uma sobretaxa de 40% sobre os produtos brasileiros exportados ao país, que já estavam sujeitos a uma tarifa de 10%. Com isso, o total da tarifa chega a 50% e entrará em vigor a partir de quarta-feira (6). Embora o governo estadunidense tenha recuado parcialmente em relação ao anúncio feito em junho — retirando 694 itens da lista, como petróleo, suco de laranja, minérios e aeronaves —, a medida é vista como parte de uma ofensiva mais ampla, de caráter imperialista, contra o Brasil e sua soberania.
A sobretaxa foi acompanhada por uma série de ações e declarações que colocam em xeque o respeito dos Estados Unidos (EUA) à democracia e ao Estado de Direito no Brasil. Entre elas, estão acusações infundadas de ataques à liberdade de expressão, utilizadas como pretexto para proteger os interesses das big techs* norte-americanas, interferências no processo judicial contra Jair Bolsonaro pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e suspeitas de um ataque especulativo ao Real, que teria gerado lucros bilionários a grupos com acesso privilegiado a informações.
Segundo comunicado da Casa Branca, a medida seria uma resposta a ações do governo brasileiro que, na avaliação dos EUA, representam uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional, à política externa e à economia norte-americana.
Diante desse cenário, manifestações contra o tarifaço e a ofensiva imperialista vêm sendo organizadas em várias partes do país. Na última sexta-feira (1º), ocorreram atos em locais públicos e em frente a representações diplomáticas dos Estados Unidos.
Para analisar esse contexto e refletir sobre os caminhos da luta sindical e popular diante dessa conjuntura, Marcos Soares, 1º vice-presidente da Regional São Paulo e encarregado de Relações Sindicais do ANDES-SN, deu uma entrevista ao site do Sindicato Nacional.
ANDES-SN: Quais os impactos econômicos e sociais da sobretaxa para os trabalhadores e as trabalhadoras brasileiras, especialmente nos setores mais afetados pela exportação?
Marcos Soares: Agora que o tarifaço, ou a sobretaxa, foi anunciada, alguns itens e setores foram mais afetados, outros menos, mas, de forma geral, não houve muita mudança em relação ao que havia sido anunciado previamente. Se observarmos as áreas econômicas do Brasil mais impactadas, destacam-se o café, o açúcar (com toda a cadeia da cana-de-açúcar), as carnes e os calçados — setores com forte presença nas exportações brasileiras para os Estados Unidos.
Os representantes e empresários desses setores têm defendido que o governo brasileiro continue tentando negociar com os EUA, buscando reduzir o percentual da sobretaxa ou até conseguir isenções, como ocorreu com outros setores. Além da via diplomática e política, alguns também têm cobrado que o governo adote uma política de apoio financeiro, nos moldes do que foi implementado, ainda que parcialmente, durante a pandemia.
Essa estratégia, no entanto, tem impacto direto na economia brasileira, pois implica a entrada do Estado com recursos, financiamento e apoio aos setores produtivos, em especial ao setor privado. É uma discussão importante, já que envolve grandes segmentos da economia nacional. O impacto imediato, no entanto, recai sobre os trabalhadores. O setor de calçados, por exemplo, já anunciou que, se a sobretaxa for mantida, até 8 mil postos de trabalho poderão ser eliminados.
ANDES-SN: Quais medidas o governo brasileiro deveria adotar diante desta sanção comercial dessa magnitude, imposta unilateralmente pelos EUA?
MS: O governo Lula procurou os empresários para discutir e negociar, demonstrando, assim, um caráter de forte conciliação com esse setor. Ainda que, em essência, esses setores também sejam vítimas de um processo absolutamente arbitrário, por um governo de um país muito rico e poderoso do ponto de vista econômico. No entanto, até o momento, Lula não chamou os trabalhadores para essa discussão, o que considero um problema.
É claro que o governo brasileiro está sob grande pressão, sobretudo porque essas medidas do Trump têm um caráter conspiratório, intervencionista e de aliança com a extrema direita brasileira. Por isso, a discussão no Brasil não é tranquila. Estamos assistindo, por exemplo, ao próprio filho do ex-presidente Bolsonaro, nos Estados Unidos, conspirando contra o Brasil e contra setores que, em tese, até poderiam apoiá-lo politicamente, como o agronegócio. Portanto, esse diálogo interno não é fácil de ser feito no Brasil, mas, seguramente, ele fica mais difícil se não houver um diálogo com as centrais sindicais, os movimentos sociais, enfim, com a classe trabalhadora.
Acredito que uma das medidas que o governo deveria tomar, além das econômicas, que visem mitigar os impactos da sobretaxa e das tarifas, seria abrir um canal de diálogo com o movimento sindical, os trabalhadores e as trabalhadoras e os movimentos sociais em geral. A possibilidade de demissão é latente, porque é a resposta imediata que o capital faz para tentar diminuir o impacto do aumento do custo de produção e impostos. Então, o governo brasileiro precisaria chamar os trabalhadores para discutir essa situação.
ANDES-SN: Antes do anúncio oficial do tarifaço, os EUA vincularam as tarifas a uma suposta “censura” no Brasil e saíram em defesa de Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe. De que forma essa postura ameaça a soberania do Judiciário brasileiro e enfraquece nossas instituições democráticas?
MS: O Trump lidera hoje um projeto global da extrema direita, com articulações em países da Europa, Israel, alguns contatos no Oriente Médio e a Argentina, na América Latina — onde se alinha diretamente a figuras como Bolsonaro e sua equipe. O tarifaço anunciado pelos EUA não mira apenas o Brasil, mas aqui teve um tratamento particular: não houve negociação oficial, e a medida veio acompanhada de pressões políticas, como a defesa pública de Bolsonaro e críticas infundadas ao sistema judiciário brasileiro. Trata-se de uma ofensiva em duas frentes — econômica e política — para proteger aliados e interferir em processos internos, como não culpabilizar Bolsonaro por tentativa de golpe. Recentemente, um general chegou a admitir que cogitou o assassinato de Lula, do vice Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, o que revela a gravidade da ameaça à democracia brasileira.
Não haverá um apoio substancial da União Europeia, ou de outros países, muito menos da Rússia ou da China, à ideia de que há uma “caça às bruxas” no Brasil ou de que a Justiça esteja perseguindo Jair Bolsonaro. Até porque, pela lógica da política internacional e da diplomacia, os países costumam evitar interferências diretas nos assuntos internos de outras nações. Isso é, em certa medida, uma regra da diplomacia internacional. Na verdade, o que temos visto é o contrário. No dia 25 de julho, o ANDES-SN esteve presente na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na Universidade de São Paulo (USP), durante o lançamento da campanha Soberania Nacional. Foram mais de 300 entidades, a maioria ligada aos movimentos sociais, à luta por democracia, por direitos humanos, mas, no evento, havia também representantes do empresariado, discutindo que a soberania de um país não se negocia.
Nós, trabalhadoras e trabalhadores organizados, sabemos que o Judiciário no Brasil é muito seletivo. No entanto, na discussão específica que envolve a acusação contra Jair Bolsonaro e sua equipe numa trama golpista, a Justiça está seguindo os ritos legais e as provas estão aí para todos e todas verem. Há uma ameaça à soberania nacional. Por isso, é fundamental que os movimento sociais e os sindicatos estejam atentos e atuem para impedir qualquer manifestação no sentido de dar a um país estrangeiro a outorga de se inserir e fazer algum tipo de ingerência na soberania do nosso país, do ponto de vista das suas instituições, da luta geral e do próprio governo. Soberania não se negocia.
ANDES-SN: A AGU tem apurado possíveis operações no mercado financeiro brasileiro com base em informações privilegiadas, envolvendo lucros com câmbio antes e depois dos anúncios de taxação feitos por Donald Trump. O que essa possível operação especulativa revela sobre os mecanismos de dominação financeira internacional e seus impactos sobre a economia brasileira?
MS: Demonstrou como o sistema financeiro internacional, embora pareça ter regras e uma estrutura formal, é uma grande farsa. No campo da discussão que nos traz István Mészáros, com a incontrolabilidade do capital, mostra que o capital é incontrolável. O Brasil foi o país, até aqui, com a taxação mais alta, de 50%, o que envolve muito dinheiro.
Há uma farsa em termos de controle sobre a lógica do capitalismo em nível mundial e expõe os mecanismos de dominação financeira. Grupos que se beneficiam com informações privilegiadas, com movimentos especulativos que afetam a economia, porque isso significa essa volatilidade de capital, que entra e sai do país a partir dessas informações, desse circuito informativo que acontece entre pessoas que dominam o capital, ligadas a governos, ou diretamente ao capital especulativo, Bolsa de Valores etc.
ANDES-SN: De que forma a política externa dos EUA, marcada pelo unilateralismo e por ações imperialistas, impacta países do Sul Global como o Brasil?
MS: É importante dizer que, desde o final do século XIX, quando os Estados Unidos começam a se consolidar e, principalmente, pós-Segunda Guerra, como a principal potência imperialista do planeta. É importante dizer que a relação com os demais países sempre foi uma relação de dominação, seja ela econômica ou militar. Podemos pegar o exemplo das políticas econômicas lideradas pelo FMI [Fundo Monetário Internacional] para os países da periferia do capital, ou as intervenções militares, como no Iraque, no Afeganistão e em outros países.
O unilateralismo é uma marca deste atual momento dos Estados Unidos, ou seja, um país que vai se dirigindo aos demais de forma quase que individual, não por blocos. Um ponto interessante é que, mesmo em relação aos seus grandes parceiros europeus, já há divergências públicas. Essas divergências já existiam, mas eram tratadas de forma mais velada. Agora, são abertamente expostas, inclusive no que diz respeito aos gastos militares.
Me parece que o unilateralismo é uma resposta a essa conjuntura marcada por um tipo de governo de extrema direita, com traços até protofascistas. No campo econômico, essa postura se expressa por meio de pressões feitas a países de forma isolada, o que, na prática, aumenta ainda mais essa pressão. Uma coisa é pressionar um bloco como o Mercosul, outra é pressionar individualmente países como Argentina, Brasil, Venezuela e México. A saída, do ponto de vista da soberania dos países, seria buscar a unificação dessas economias.
Nós temos os Brics**, que ampliaram sua participação com a entrada de novos países como membros e parceiros. Alguns analistas dizem que essa ação dos Estados Unidos tem a ver, inclusive, com a expansão dos Brics. Ou seja, seria uma forma protecionista de se proteger economicamente.
O grande problema da América Latina é que não há uma certa unidade, mesmo nos governos ditos progressistas. Atualmente, temos governos assim no Chile, na Colômbia e no Brasil, mas já houve outro momento na América Latina em que mais países tinham governos chamados progressistas e, ainda assim, não buscaram uma linha política e econômica que lhes garantisse alguma segurança frente às políticas expansionistas do imperialismo estadunidense, como ocorre agora.
Ao mesmo tempo, outros analistas apontam que esse impacto pode abrir outros caminhos para exportações que antes eram minoritárias, voltadas a outros países. O Brasil, por exemplo, anunciou que muitos empresários estão procurando mercados, como o mexicano, para comercializar seus produtos.
ANDES-SN: Como as trabalhadoras, os trabalhadores, os movimentos sociais e entidades como o Sindicato Nacional podem se posicionar diante dessas ofensivas econômicas e políticas? E por que é fundamental que entidades sindicais e populares se manifestem contra as medidas que ferem a soberania nacional e favorecem o capital internacional?
MS: Do ponto de vista político, trata-se de defender a soberania nacional. Estamos assistindo uma aliança da extrema direita dos Estados Unidos, com Donald Trump como liderança global desse campo, em conluio com a extrema direita brasileira. É essa mesma extrema direita brasileira que colocou o boné da campanha do Trump “Fazer a América grande novamente”. América, aqui, entendida como Estados Unidos. E agora, parte dessa direita, como os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, tem se posicionado a favor de Trump, se colocando, inclusive, em situações delicadas, como no caso de São Paulo, onde o agronegócio pode ser impactado em grande medida pelos tarifaços. Isso gerou questionamentos ao governador [Tarcísio de Freitas (Republicanos)], eleito com o apoio desse setor, a respeito de qual lado ele está.
Temos ainda um parlamentar em licença, nos Estados Unidos, o filho de Jair Bolsonaro [Eduardo], que atua como um embaixador da extrema direita brasileira e que, junto a Donald Trump, ataca a soberania brasileira.
É uma prova cabal de que a pecha de “patriotas” não cabe a essas pessoas, porque estão defendendo interesses de um país estrangeiro em detrimento dos do Brasil. É um conluio entre a extrema direita brasileira e estadunidense. Então, do ponto de vista político, os movimentos sociais devem denunciar essa aliança e defender a soberania nacional.
Do ponto de vista da classe, nós, trabalhadores e trabalhadoras, temos que nos posicionar em defesa dos empregos e da economia nacional. Ou seja, se o tarifaço gerar desemprego, é preciso pressionar empresas e governos a criarem novos postos de trabalho, que substituam aqueles eventualmente perdidos em função dessas políticas, responsabilizando o governo dos Estados Unidos, Donald Trump e os seus aliados no Brasil. Além da soberania nacional, a campanha deve focar na defesa do emprego para todos e todas.
ANDES-SN: O pretexto de “ataque à liberdade de expressão” tem sido utilizado para justificar a resistência das big techs norte-americanas à regulação de suas atividades no Brasil. Como esse discurso vem sendo manipulado por grandes corporações para evitar o cumprimento das leis brasileiras e a atuação do Estado?
MS: Liberdade de expressão é um termo que, no capitalismo, é um conceito polissêmico, porque envolve certos limites daquilo que se fala e daquilo que se faz. No caso das big techs, mas sem entrar muito nessa discussão, trata-se de um tema relativamente novo, tanto no Brasil quanto no mundo, e ainda é difícil consolidar uma compreensão clara na opinião pública. De modo geral, penso que a população tende a acreditar que tudo se enquadra como liberdade de expressão. E isso atrapalha o debate sobre a regulação das big techs.
O discurso mais fácil, quando se fala em regulação, é o da censura. Mas há diferença entre regular e censurar. Eu penso que a regulação seja necessária. Se pegarmos, por exemplo, o processo eleitoral, essas grandes empresas tiveram um papel preponderante no pleito que elegeu Jair Bolsonaro, divulgando informações falsas, muitas delas mentirosas.
De qualquer jeito, a legislação brasileira e o próprio debate público vêm sendo alvo de tentativa de desmoralização por parte da extrema direita, que tenta deslegitimar instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF), como se o Judiciário fosse um poder autoritário, que quer controlar o país e se sobrepor aos demais poderes.
A ideia, amplamente veiculada na mídia, de que essas plataformas apenas permitem a comunicação entre pessoas e não têm controle sobre o que se fala ou escreve, não corresponde à realidade. Quem produz um instrumento de comunicação controla esse instrumento, seja diretamente ou por meio de algoritmos. Essas plataformas muitas vezes direcionam os usuários a determinados conteúdos ou opiniões, moldando percepções e comportamentos. Portanto, é necessário conquistar a opinião pública para entender que a chamada liberdade de expressão precisa, hoje, ter limites. Liberdade de expressão é uma coisa. Preconceito, mentira e fake news são outra.
É fundamental construir um debate nacional sobre a regulação dessas grandes empresas de tecnologia e pensar uma legislação brasileira que o faça sem cair na censura. Porque nosso país viveu uma ditadura de 21 anos, e os legisladores se acostumaram a censurar. Mas, no caso das fakes news , regular não seria censura.
Apostar todas as fichas apenas na via judicial, entretanto, me parece temerário. Os movimentos sociais e sindicais precisam assumir esse debate, com suas bases, sobre a necessidade de se estabelecer critérios para a atuação dessas empresas. É fundamental construir coletivamente uma compreensão sólida sobre o que é regulação e o que é censura. E, sobretudo, saber diferenciar uma coisa da outra.
*Big techs, ou gigantes de tecnologia, são as grandes empresas que exercem domínio no mercado de tecnologia e inovação, como Apple, Google, Amazon, Microsoft e Meta.
**Composto por onze países - Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã -, o Brics atua como um fórum de articulação político-diplomática entre nações do Sul Global, promovendo a cooperação em diversas áreas.
Fonte: Andes-SN
A partir deste sábado (2), Brasília (DF) será novamente palco de um dos mais importantes encontros de mulheres indígenas do país. A IV Marcha das Mulheres Indígenas acontecerá no Eixo Cultural Ibero-Americano, antiga Funarte, com o tema “Nosso corpo, nosso território: somos as guardiãs do planeta”.

A mobilização, que ocorrerá de 2 a 8 de agosto, reunirá lideranças de povos originários de diversas regiões do país. A marcha está marcada para o dia 7 de agosto, com concentração às 7h no acampamento. De lá, as participantes seguirão em caminhada até a Praça dos Três Poderes, onde entregarão, ao Congresso Nacional, a "Carta dos Corpos-Territórios em Defesa da Vida".
O protesto ocorre em um momento decisivo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem até o dia 8 de agosto, um dia após a Marcha, para sancionar, vetar ou vetar parcialmente o PL 2.159/21, aprovado em julho pela Câmara dos Deputados. Conhecido como “PL da Devastação”, o projeto enfraquece as regras de licenciamento ambiental e representa mais um retrocesso ambiental validado por um parlamento que, em 2023, já aprovou a inconstitucional lei do Marco Temporal.
Neste ano, a União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab), em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), levará à marcha a Tenda da Amazônia, com o tema: "Pelo Clima e Pela Amazônia: A Resposta Somos Nós". O espaço será voltado a debates sobre ações em defesa dos territórios, da floresta e do equilíbrio climático, protagonizadas por mulheres indígenas da região.
A programação da Marcha inclui atos públicos, plenárias e rodas de diálogo, reafirmando a resistência coletiva das mulheres indígenas frente às ameaças aos seus direitos, territórios e modos de vida.

Conferência Nacional
A IV Marcha será realizada de forma articulada com a 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, que ocorrerá entre os dias 4 e 6 de agosto, também em Brasília. Com o tema “Mulheres Guardiãs do Planeta pela Cura da Terra”, a expectativa é reunir cerca de 5 mil mulheres indígenas de todo o país. A atividade é coordenada pelos Ministérios dos Povos Indígenas (MPI) e das Mulheres (MMulheres), com apoio da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga).
Participação do ANDES-SN
Na última edição do evento, realizada em setembro de 2023, mais de 6 mil mulheres indígenas participaram da III Marcha, que tomou as ruas da capital federal com reivindicações em defesa do meio ambiente, da cultura dos povos originários, do fim da violência contra as mulheres indígenas e pela garantia de direitos. O ANDES-SN esteve presente na mobilização, assim como em edições passadas, e reafirmou seu compromisso com as lutas dos povos indígenas, especialmente na resistência ao marco temporal e aos ataques ao meio ambiente.
Fonte: Andes-SN (com informações de Brasil de Fato)
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Juacy da Silva*
Há poucos dias, o noticiário da imprensa nacional e internacional deu destaque a um fato inédito, que foi a divulgação do relatório da ONU informando que o Brasil acabou de sair do mapa da fome no mundo, graças ao desenvolvimento da agricultura familiar e também ao avanço da participação da produção agroecológica.
Um dos grandes desafios que o mundo todo e, particularmente, o Brasil enfrentam é o uso excessivo e abusivo de agrotóxicos (o Brasil é o campeão mundial em uso de agrotóxicos, tanto por área cultivada quanto per capita; e Mato Grosso é o campeão brasileiro nesta triste estatística), que degradam tanto a natureza (meio ambiente), poluindo os solos, as águas e o ar, quanto afetam profundamente a produção de alimentos e a saúde humana.
A resposta a tal desafio tem vindo da produção de alimentos orgânicos, embasada na agroecologia, que, dia após dia, não sem dificuldades, tem ampliado sua participação e importância na produção de alimentos, principalmente tendo como base a agricultura familiar e, neste contexto, oriundos da agricultura urbana e periurbana, principalmente no sistema de economia solidária.
Diversas organizações ambientalistas, não governamentais e também a Pastoral da Ecologia Integral têm atuado com afinco para enfrentar este desafio, incentivando a organização de hortas domésticas, hortas escolares e hortas comunitárias, dando uma destinação mais nobre às diversas áreas — no caso das cidades, verdadeiros latifúndios urbanos — mantidas como estoque de terra para fins meramente especulativos. Além da produção de alimentos, cabe ressaltar também o estímulo para a produção de plantas medicinais, que inclusive contribuem neste enfrentamento à pobreza.
É comum defrontarmo-nos com enormes áreas mal cuidadas, que acabam sendo transformadas em depósitos de lixo, matagal, propriedades inadimplentes com suas obrigações fiscais (IPTU), sem calçadas, sem muros, enfim, áreas que apenas serão utilizadas para o lucro imobiliário futuro, afastando-se do princípio constitucional de que a propriedade, para ser garantida, precisa atender também à sua função social, o que nunca tem acontecido com esses latifúndios urbanos.
A função social da propriedade remete tanto à propriedade rural quanto urbana e, com o advento do Estatuto das Cidades, foi instituído o IPTU progressivo, impondo ao proprietário o pleno uso tanto da propriedade territorial quanto predial, sob pena de ser desapropriado por interesse social.
Assim, a função social da propriedade, um dos pilares da Constituição Federal de 1988 e de outras leis e normas legais, estabelece que o direito de propriedade deve servir não apenas aos interesses do proprietário, mas também às necessidades e interesses da coletividade, visando assegurar uma vida digna e justa a todos os cidadãos que estejam vivendo em um determinado território urbano ou periurbano.
Nos mais diversos estados brasileiros e no Distrito Federal, em centenas ou quase milhares de cidades, têm-se propiciado exemplos de como tais áreas podem ser transformadas em espaços para produção orgânica e contribuído também para a segurança alimentar das populações que vivem não apenas nas periferias territoriais das cidades, mas também nas periferias sociais e econômicas, enfrentando tanto a pobreza, a miséria, a fome quanto a exclusão socioambiental.
É importante que tais iniciativas recebam não apenas a adesão e participação da população local, mas também o apoio técnico de organismos públicos, como das secretarias de Agricultura, do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano dos Estados e Municípios e, claro, das universidades, tanto públicas quanto particulares, que tenham cursos como Agronomia, Veterinária (importantes para a criação de animais, granjas etc.), Economia, Nutrição e que, através de seus programas de extensão universitária, possam oferecer apoio e as orientações técnicas necessárias para que a população local, através da modalidade da economia solidária e do cooperativismo, possa desenvolver tais projetos.
Esses projetos, além de contribuírem para o aumento da produção orgânica de alimentos saudáveis, contribuem também para o uso mais racional dos espaços e do solo urbano e periurbano, contribuindo, assim, para um melhor cuidado com o meio ambiente e para o combate da crise climática, que a cada dia tem acarretado mais problemas para as cidades e seus habitantes.
Como vemos, existe um amplo espaço e grandes oportunidades para a dinamização das ações sociais de base comunitária e da economia solidária, como, por exemplo, a Economia de Francisco e Clara, tão enfatizada como a economia da vida, em substituição à Economia da Morte, como tanto nos exortou o Papa Francisco em seus 13 anos de Magistério.
Este é um dos desafios que a Pastoral da Ecologia Integral e o movimento comunitário devem conjugar esforços para um amplo programa de agricultura orgânica, agricultura urbana nas mais diversas cidades por este Brasil afora e mudar a realidade de exclusão, fome e miséria que existe em nosso país.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ; Instagram @profjuacy
O ANDES-SN participou, na tarde de terça-feira (29), de uma reunião presencial com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) para tratar de pautas urgentes relacionadas à defesa dos direitos de docentes nas universidades federais, estaduais, municipais, distrital, institutos federais e cefets. O encontro foi solicitado pelo Sindicato Nacional, diante da escalada de perseguições políticas e ideológicas no ambiente acadêmico.

Representaram o ANDES-SN, a 2ª vice-presidenta da entidade, Letícia Carolina Nascimento, e a 2ª vice-presidenta da Regional Planalto, Muna Muhammad Odeh. A reunião foi conduzida por Wilma Coelho, chefe da Assessoria Especial de Educação e Cultura em Direitos Humanos, Meio Ambiente e Empresas do MDHC.
Durante o diálogo, as diretoras do ANDES-SN apresentaram um panorama de denúncias de criminalização e assédio institucional contra docentes, com destaque para os casos ocorridos na Universidade de Brasília (UnB), onde professoras e professores têm sido alvo de perseguições em razão de suas áreas de atuação, especialmente em temas ligados aos direitos humanos, gênero, raça e relações internacionais. Elas alertaram ainda para a influência de grupos de extrema direita nos ataques e para a omissão de Reitorias e instâncias institucionais frente às denúncias.
Também foram relatadas situações emblemáticas de criminalização de docentes e dirigentes sindicais que se posicionam em defesa da democracia e da liberdade acadêmica, como as de Márcio Silva (UFPB) e Jacyara Paiva (Ufes), ambos alvos de processos administrativos (PAD) que, mesmo arquivados, evidenciam o uso político e ideológico dessas ferramentas. Casos recentes envolvendo docentes das universidades federais do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Fluminense (UFF), e Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), alvos de processos abertos por suas participações na greve federal da educação em 2024, também foram denunciados.
Os episódios acima, entre tantos outros, inspiraram a criação da campanha “Lutar não é crime”, lançada no ano passado pelo Sindicato Nacional, em defesa do direito de greve e da livre organização docente. A ação foi intensificada pelo ANDES-SN em 2025 e segue em pauta, uma vez que as perseguições à categoria continuam crescendo.
Outro ponto central da reunião foi o posicionamento do ANDES-SN pela suspensão imediata das relações diplomáticas entre o Brasil e Israel, em resposta às graves violações de direitos humanos e práticas genocidas cometidas pelo Estado sionista contra o povo palestino. Muna Odeh destacou que essas relações impactam negativamente a comunidade acadêmica brasileira, em especial docentes, pesquisadoras e pesquisadores palestinos, além de quem atua em estudos críticos sobre o conflito.
O Sindicato também apresentou o “Protocolo de Combate, Prevenção, Enfrentamento e Apuração de Assédio Moral e Sexual, Racismo, LGBTfobia e qualquer discriminação e violência”, construído a partir das demandas da base. O documento propõe diretrizes para o acolhimento, apuração e responsabilização em casos de violência nos espaços acadêmicos, considerando o agravamento da violência política e ideológica nas universidades.
A defesa das cotas raciais no acesso à docência no ensino superior também esteve entre os temas centrais levados ao Ministério. O ANDES-SN reafirmou seu compromisso com as ações afirmativas como instrumentos de reparação histórica e denunciou práticas institucionais e judiciais que tentam deslegitimar docentes negras e negros que ingressaram por meio dessas políticas. Foram citados casos de docentes nas universidades federais do Vale do São Francisco (Univasf) e da Bahia (Ufba), cujos vínculos e legitimidade vêm sendo atacados de forma racista e institucionalmente violenta.
Além disso, o Sindicato Nacional reforçou sua rejeição ao uso do sorteio como critério de seleção nas políticas afirmativas, defendendo que o acesso por cotas deve ser baseado em critérios classificatórios que reconheçam as trajetórias, qualificações e o mérito de sujeitos historicamente excluídos.
“Aproveitamos para reforçar duas pautas centrais que demandam um posicionamento firme do Ministério. A primeira é o fim imediato dos sorteios nas políticas de cotas, uma prática que, na verdade, rifa os direitos da população negra e desvirtua completamente o sentido político das ações afirmativas. A segunda é o rompimento definitivo de todas as relações com Israel, incluindo quaisquer acordos de cooperação, especialmente com nossas universidades e centros de pesquisa aqui no Brasil. Para nós, manter essas parcerias é, infelizmente, compactuar com o genocídio”, disse Letícia Nascimento, 2ª vice-presidenta do ANDES-SN.
De acordo com a 2ª vice-presidenta, a reunião foi avaliada positivamente pelas representantes do ANDES-SN, que destacaram a importância do diálogo institucional com o MDHC para o fortalecimento das lutas em defesa dos direitos humanos, da liberdade acadêmica e da justiça social nas instituições públicas de ensino. “A luta contra as opressões é uma pauta essencial, que move a nossa atuação. Nesse sentido, nosso recente encontro com o MDHC foi crucial. Já no início da conversa pudemos denunciar a perseguição sistemática que atinge nossos e nossas docentes, em especial quem atua com temas vitais como direitos humanos, gênero e raça. Vemos com preocupação como a extrema direita tem usado PADs, gravações e outros artifícios para cercear a liberdade de cátedra em nossas instituições”, concluiu a diretora.
Fonte: Andes-SN
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Por Danilo de Souza*
Depois de desenvolver o controle primitivo do fogo, e em meio à domesticação da fotossíntese pela construção da agricultura, os Sapiens deram mais um passo decisivo na longa caminhada civilizatória: aprenderam a converter a energia dos animais domesticados em trabalho útil. Essa capacidade aparentemente simples de utilizar bois, cavalos, burros, camelos e outros animais para puxar cargas, arar a terra ou movimentar moinhos representa uma profunda transformação na história energética da humanidade. Trata-se de uma das grandes revoluções energéticas externas, a domesticação da força animal, a conversão da energia biológica em tração e movimento.
Segundo o Prof. Vaclav Smil, essa foi a principal forma de aumentar o rendimento energético do trabalho antes da Revolução Industrial. A força de tração animal permitiu multiplicar a capacidade humana de produzir, transportar e transformar o mundo físico sem recorrer à força de trabalho escravizada ou à energia do próprio corpo. O boi arando o campo ou o cavalo puxando uma carroça é a expressão direta desse salto civilizatório.
Energeticamente, o processo é claro. Animais herbívoros ingerem vegetais, acumulam energia química em forma de biomassa e convertem parte dela em movimento. Ao serem domesticados, os Sapiens passaram a controlar essa conversão, colocando-a a serviço da agricultura, do transporte e da guerra. Diferentemente do fogo, que quebra as ligações químicas da madeira, liberando energia na forma de calor e de luz, ou da fotossíntese, que transforma luz solar em calorias alimentares, a tração animal representa uma das primeiras formas de converter energia biológica em energia mecânica, sendo externas ao corpo dos Sapiens.
Um homem adulto saudável é capaz de produzir entre 75 e 100 watts de potência contínua em atividades físicas moderadas. Já um boi ou um cavalo pode fornecer entre 500 e 800 watts de forma sustentada, o equivalente a seis a 10 homens.
Portanto, o boi, o cavalo, o dromedário e o búfalo, cada um com diferentes potências e resistências, passaram a ser motores vivos integrados ao cotidiano das sociedades humanas. Mazoyer e Roudart (2009), em sua obra sobre a história da agricultura, destacam que a tração animal foi essencial para superar os limites biofísicos do corpo humano. O uso de animais aumentou drasticamente a produtividade agrícola por unidade de trabalho humano. Com um arado puxado por bois, um lavrador podia cultivar superfícies muito maiores do que com ferramentas manuais.
A domesticação do boi para tração ocorreu por volta de seis mil anos antes de Cristo, no Crescente Fértil, e depois se espalhou para a Índia, a África e a Europa. Já o cavalo, domesticado nas estepes da Eurásia por volta de três mil anos antes de Cristo, revolucionaria a agricultura, e consequentemente o transporte e a guerra. A biga puxada por cavalos alteraria o curso de batalhas. O camelo permitiu a travessia de desertos. O búfalo asiático foi essencial nos arrozais da China. A energia dos animais moldou geografias inteiras.
Uma das representações visuais mais antigas desse processo encontra-se na tumba de Sennedjem, artesão egípcio que viveu durante os reinados de Séti I e Ramsés II, por volta de 1200 a.C. Na pintura, vemos um camponês conduzindo um arado puxado por bois, simbolizando uma técnica agrícola, que utilizava energia externa ao corpo humano para produzir movimento.
Fernand Braudel (1979), em Civilização Material, Economia e Capitalismo, observa que as sociedades pré-industriais dependiam enormemente da energia animal. Tudo que andava, arava, puxava ou girava era movido por músculos, humanos ou animais. Os próprios moinhos, símbolos da revolução dos fluxos, muitas vezes só se tornaram viáveis com a tração inicial dos animais. Antes da energia fóssil, havia a força dos cascos.
A força animal tornou possível o surgimento de excedentes agrícolas, a expansão de territórios, o transporte de mercadorias em longas distâncias e até mesmo a construção de grandes obras.
Jared Diamond (1997), em Armas, Germes e Aço, destaca que apenas algumas regiões do planeta dispunham de grandes mamíferos domesticáveis, o que teve impactos profundos na trajetória das civilizações. Das 14 espécies domesticadas em larga escala, 13 eram originárias da Eurásia (Europa e Ásia) como bois, cavalos, porcos e camelos. Na América do Sul, apenas a lhama foi domesticada, e mesmo ela tinha limitações importantes: não servia para arar, não produzia leite e não era montável. Esse acesso desigual a animais de tração e carga gerou uma profunda assimetria histórica. Em regiões com essas espécies, foi possível ampliar drasticamente a produção agrícola, a mobilidade e até a eficácia militar.
Apesar de seus ganhos, a tração animal também tem limites. A conversão de vegetais em trabalho via animal é ineficiente do ponto de vista puramente termodinâmico, pois mais de 90% da energia é perdida no metabolismo do animal antes de se transformar em força útil. Mas essa energia era “gratuita”, captada via pasto ou forragem, o que tornava sua ineficiência aceitável.
E se olharmos atentos, podemos observar uma ambivalência simbólica. Os animais de tração aparecem nas mitologias e ritos. O Centauro, meio homem meio cavalo, expressa a fusão entre intelecto e força. O Minotauro, meio homem meio touro, representa a dominação e o poder da força animal. Em ambas as figuras, há um reconhecimento da força bruta como parte constitutiva da humanidade civilizada, seja para trabalhar a terra ou guerrear.
A própria linguagem reflete essa herança. Dizemos força bruta, animal de carga, potência de tração. Até mesmo a unidade cavalo-vapor (CV ou Horsepower - HP), utilizada até hoje em muitos países para especificação de motores (elétricos ou de combustão), sobreviveu como medida simbólica da potência, uma lembrança da época em que o cavalo era, de fato, o motor mais eficiente disponível.
Importante destacar que essa revolução energética é externa ao corpo humano, mas não necessariamente libertadora. Em muitas sociedades, a força animal se somava, e não substituía, à força de trabalho humano, seja ele servil, assalariado ou escravizado. A relação entre força animal e exploração humana é profunda e estrutural.
No entanto, do ponto de vista técnico e energético, o uso de tração animal marca uma passagem fundamental. Os Sapiens tornaram-se controladores de uma força externa, capaz de armazenar energia em biomassa, converter em movimento e aplicar com finalidade produtiva. Essa lógica, conversão, controle e uso de energia externa, esteve presente em todas as revoluções energéticas seguintes: das turbinas às usinas nucleares.
A domesticação da força animal constituiu uma revolução lenta, difusa e heterogênea. Não teve um marco preciso, uma data inaugural ou um nome consagrado, ligeiramente diferente das demais etapas abordadas, e seguindo a nossa trajetória de reflexão, em que a dimensão biofísica se sobressai ao recorte puramente social. Ainda assim, esta revolução energética moldou profundamente a organização do trabalho, o traçado das cidades, a estrutura das economias e a iconografia das civilizações.
Antes do vapor, dos combustíveis fósseis e da eletricidade, havia o boi, o burro, o cavalo, animais vivos, que respiravam, se alimentavam, e que funcionavam como motores orgânicos. Dessa forma, a energia animal acelerou o progresso técnico, ampliou a construção das estruturas sociais e políticas, o que explica, em parte, por que algumas sociedades que tiveram esta disponibilidade avançaram mais rapidamente do que outras.
Coluna publicada mensalmente na revista - "O Setor Elétrico".
*Danilo de Souza é professor na FAET/UFMT e pesquisador no NIEPE/FE/UFMT e no Instituto de Energia e Ambiente IEE/USP.