Sexta, 03 Abril 2020 18:35

 

Diante da pandemia do novo coronavírus e de todo o caos que a situação está gerando, o governo federal e o Congresso Nacional agem lentamente no combate à Covid-19. Em meio às tentativas de criar soluções com fechamento do comércio, salvar empresários e decretar estado de calamidade pública para burlar o teto dos gastos, Rodrigo Maia, agora, lança a PEC 10/2020 chamada de "PEC da Guerra", com medidas de urgência para o combate à pandemia.

Ontem, durante a primeira votação da PEC 10/2020, foram realizadas inúmeras emendas, entre elas as emendas 4 e 5, propostas pelo Partido Novo que propõem a REDUÇÃO SALARIAL dos servidores públicos de todas as esferas: federal, estadual e municipal.

A PEC 10/2020 será novamente votada, hoje, no Congresso Nacional, submetida a dois turnos. Apesar do relator da PEC 10 ter rejeitado todas as emendas e de Rodrigo Maia e alguns líderes partidários terem afirmado que nenhuma emenda será votada, não podemos confiar nesse Congresso.

Por isso, é necessário fazer pressão nos parlamentares de cada estado. A grande maioria está votando online, de suas casas ou escritórios estaduais.  Precisamos mobilizar a categoria para encher a caixa de emails dos deputados com o texto abaixo:

Senhor(a) deputado(a),

Nós servidore(a)s publico(a)s somos responsáveis pela execução das políticas públicas nesse país.

 Nós é que estamos no SUS, no SUAS, na Segurança Pública,  na Educação, Ciência e Tecnologia, nas Políticas Habitacionais, na Justiça,  nos sistemas de gerenciamento de informações do país, na Cultura, na Proteção de Crianças e Adolescentes, no Sistema Prisional e em tantos outros serviços que atendem à população, em especial a mais pobre.

Não é cortando o salário de quem é pilar de sustentação das políticas públicas que será possível combater a pandemia. Não é perseguindo o(s)s servidore(a)s publico(a)s que resolveremos a situação da saúde. 

Não  à redução de salário do(a)s Servidore(a)s publico(a)s! 

Vote contra as emendas da "PEC da Guerra" que punem o(a)s servidore(a)s!

Nós professores e professoras somos contra a redução de salários!


Assinar com nome,  cidade e Universidade.

 

O ANDES-SN, junto com as demais entidades do Serviço Público, está buscando outras formas de combater mais essa tentativa de retirada de direitos.

Vote contra na pesquisa da Câmara dos Deputados clicando aqui. 

 

Fonte: ANDES-SN

Sexta, 03 Abril 2020 13:58

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Rosa Lúcia Rocha Ribeiro*

 

As homenagens aos profissionais da saúde em todo o mundo emocionam. É realmente um ato imenso de amor e solidariedade escolher uma profissão destinada a zelar pela vida de pessoas, especialmente em momentos como o que vivemos atualmente. 

 

O coronavírus (Covid-19) explicitou ao mundo a imprescindibilidade dos profissionais da saúde. Aliás, não só dos profissionais, mas do próprio acesso à saúde. O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma pedra rara e muito cara, da qual o Brasil jamais poderá abrir mão. O SUS é mais valioso do que qualquer economia, pois é capaz de assegurar muito mais do que a sobrevivência. O SUS é capaz de garantir a própria existência. 

 

Apesar de toda essa importância, a necessidade de cuidar de quem cuida não é novidade para nós. Com a pandemia, a discussão sobre as condições de trabalho na saúde pública tomam proporções inéditas, pois a falta de equipamentos de segurança coloca os profissionais diariamente num dilema de vida e morte. No entanto, há anos os trabalhadores denunciam que, devido à retirada de recursos do setor, à falta de equipamentos, materiais e insumos básicos, não raro expõem suas próprias vidas a risco. 

 

Mas por que o Estado diz que não tem recursos e, por isso, não pode comprar máscaras, luvas e todo o equipamento de segurança do trabalho? Porque, mesmo neste contexto de catástrofe, o governo prioriza o pagamento de juros de uma suposta dívida pública a bancos, em detrimento das vidas de milhares de pessoas.

 

Ano a ano, o Estado brasileiro gasta cerca de 50% dos recursos arrecadados por meio de impostos com juros bancários, enquanto pouco mais de 4% da outra parte arrecadada é destinada à saúde, e cerca de 3% a programas de assistência social - políticas que poderiam beneficiar trabalhadores de hospitais, postos de saúde, albergues e todos os serviços que também são importantes frente à pandemia. Concluímos, com isso, que a prioridade do governo brasileiro não tem sido a população, muito menos a vida daqueles que se arriscam para salvar outras vidas. Seu primeiro compromisso tem sido garantir lucros a banqueiros, uma postura genocida e criminosa contra o povo brasileiro.

 

E mais: quem são esses trabalhadores expostos a tantos riscos? São, sobretudo, mulheres! 

A força de trabalho da Saúde no Brasil é, em sua maioria, formada por mulheres, e tem aumentado ano a ano. Aproximadamente 70% de toda a força de trabalho em Saúde no Brasil é feminina1. Em alguns locais, como hospitais, há unidades em que a proporção de mulheres trabalhando ultrapassa 80%, 90%. 

 

E quem são elas? São Enfermeiras, técnicas de enfermagem, médicas, psicólogas, fisioterapeutas, atendentes, assistentes sociais, educadoras, copeiras, trabalhadoras da limpeza e serviços gerais, agentes comunitárias de saúde. Geralmente, quanto maior o risco pela proximidade de contato com o adoentado, menor o salário. Nestas profissões também estão, em sua maioria, pessoas negras, sobretudo mulheres negras, o que só reafirma a postura elitista, machista e racista de nossa sociedade e, também, de nossos representantes, visivelmente interessados em dizimar os que trabalham para preservar os lucros de quem não trabalha.

 

Em meio ao caos, imaginem o que acontecerá se essas profissionais adoecerem em massa? Como conseguiremos superar essa pandemia se o Estado brasileiro, de forma irresponsável, coloca em risco as vidas dessas mulheres trabalhadoras?

 

Cabe a nós exigir que todas as condições para enfrentar essa pandemia, com segurança, sejam dadas imediatamente a todos os profissionais da saúde. Por ora, pelas suas vidas e de todos nós, chamamos a sociedade a abraçar fortemente a campanha “Cuidar de quem cuida”, junto a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind) e demais entidades que atuam em defesa dos trabalhadores.  

 

É preciso ter consciência do que os profissionais da saúde e o próprio SUS representam e defendê-los com todas as forças. Essa retribuição ainda será inferior ao que fazem por nós, arriscando suas vidas todos os dias.

 

Ao final dessa tormenta, a sociedade deverá mais do que palmas e homenagens. Nossa dívida será a defesa intransigente da saúde pública, dos serviços públicos, dos profissionais da saúde. Estaremos devendo a defesa de seus empregos, de salários dignos e das garantias de todas as condições de trabalho para o melhor atendimento à população. Teremos o compromisso irrevogável de exigir cada vez mais investimento no SUS e nos seus profissionais, agora e sempre.

 

Cuidar de quem cuida: é pela vida delas, pelas nossas vidas e de toda a sociedade.

 

*Rosa Lúcia Rocha Ribeiro é enfermeira e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

 

Sexta, 03 Abril 2020 13:55

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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               Em que pese o tom mais ponderado na fala de Bolsonaro, ontem (31/03), o que vimos no domingo (29) foi um presidente – isolado até por aliados – fazendo um “tour” por locais de Brasília e cidades satélites: audácia ou irresponsabilidade?

               A dúvida tem sentido por diversos motivos. Deles, destaco que, no dia anterior (28), o ministro da Saúde, Luiz H. Mandetta, pedira à população que respeitasse o isolamento, dada a periculosidade do COVID-19; que, quando saísse, que fosse por motivos indispensáveis, e com os cuidados devidos. Pediu ainda que acreditássemos na ciência; subjetivamente, que duvidássemos de seu chefe.

               Pois bem. Logo após, medindo forças com Mandetta, Bolsonaro foi às ruas: caminhou e conversou com trabalhadores, muitos informais, dos quais, inocentemente, vieram pedidos semelhantes aos dos pequenos e médios empresários, promotores de recentes carreatas realizadas alhures.

               Detalhe: nas carreatas, os “ativistas engravatados”, que pediam aos trabalhadores o retorno às empresas, permaneceram dentro de seus carros, muitos deles blindados, inclusive contra a pobreza e a miséria dos empregados, cinicamente tratados como “colaboradores”. 

               Sobre esse panorama, numa conclusão da Folhapress (29/03), depois de uma tentativa de produzir discursos menos divisionistas, aquela “postura (desrespeitosa e isolada) de Bolsonaro diante do COVID-19 foi gerada pelo receio de perder apoio do setor empresarial e de trabalhadores autônomos, pilares de sustentação de seu mandato”.

               O receio apontado teria sido inflado por seus filhos. “Para convencer o presidente, foram mostradas a ele previsões do desemprego nos EUA diante da pandemia”.

               Isso posto, começo chamando atenção para o fato de Bolsonaro ter dito que fez o teste para COVID-19, e que o resultado fora negativo.

               Ótimo, mas alguém viu isso?

               Por ser Bolsonaro o presidente, ele não poderia ter apresentado o resultado à nação?

               Garantido o meu direito de duvidar, se não for verdade sua, no domingo passado, o presidente pode ter distribuído mais vírus do que afagos àquelas pessoas.

               A despeito de qualquer intensão, o “tour”, em si, afrontou o ministro Mandetta, que, na condição de médico, poderia ser mais enfático contra as “receitas” dadas pelo presidente Bolsonaro que, mesmo nesta condição, não tem autoridade para desrespeitar profissões, tampouco a Medicina. 

               Mas a propósito, até quando as próprias elites engolirão um presidente tão limitado? 

               Pergunto isso porque a elite empresarial já entendeu que articulações da equipe econômica do governo, liderada por Guedes, são para lhes favorecer, antes de tudo e de todos. As medidas que já estão sendo aprovadas pelo Congresso comprovam isso.

               De qualquer forma, aos incrédulos, serei didático: peço que prestem atenção em anúncios recentes de transnacionais e de megaempresas nacionais. Dentre os que já vi, cito o comercial em que OI, VIVO, CLARO e TIM se uniram em torno do discurso cada vez mais internacionalista, aliás enunciado até por Trump: ‘Stay at home and save lives’.

               Bondade empresarial?

               Não. As empresas só passaram a expor esse comportamento humanista após anúncios das medidas governamentais que, antes de outras vidas quaisquer, salvarão – com incalculáveis recursos públicos – as vidas das próprias empresas, mantendo intactos seus exorbitantes lucros; e isso em diversos países!

               Sendo assim, se Bolsonaro entendeu essa jogada, precisamos reflexionar mais sobre os porquês daquele seu rolezinho no meio do proletariado. 

Quinta, 02 Abril 2020 22:06

 

Nos últimos dias, os brasileiros assistiram empresários realizarem buzinaços em várias capitais do país, implorando aos governos que determinem o retorno imediato dos trabalhadores aos seus postos de trabalho. Alegando prejuízos à economia do país, reproduziram frases de efeito do tipo “o Brasil não pode parar”, “a economia vale mais do que cinco ou sete mil mortes”, “se não morrerem atacados pelo vírus, morrerão de fome”.

 

Os desfiles quilométricos de carros, sob a orientação expressa de que ninguém deveria descer do veículo para evitar contaminações, não demonstrou outra coisa se não o fato de que os patrões estão desesperados sem seus empregados. Sim, eles também estão com medo do coronavírus, mas o mais importante da carreata foi a evidencia de que são os trabalhadores que produzem a riqueza dos patrões - e toda e qualquer riqueza que possa existir no mundo.

 

Além do presidente, alguns governadores e prefeitos reconhecem a demanda dos empresários, mas aparentemente a maior parte da sociedade não foi tocada pela manifestação. Os trabalhadores não estão convencidos de que suas vidas valem menos do que o lucro que garantem mensalmente aos patrões, e os sindicatos de trabalhadores também questionam a ideia de que a quarentena prejudicaria a economia.     

 

“A defesa da vida dos trabalhadores, além de ser uma questão ética, é também uma questão econômica. Por exemplo, o que é mais caro, uma caneta ou um carro? Um sapato ou uma casa? Um animal morto na rua tem algum valor econômico? Não, mas se você retirar o couro desse animal e fizer um sapato, ele vai ter valor econômico. É o trabalho humano que gera valor. Por isso o carro é muito mais caro do que a caneta, porque nele há muito mais trabalho agregado. Do mesmo jeito, a casa é mais cara do que um sapato, porque nela há muito mais tempo de trabalho. Trabalho é dinheiro, trabalho é valor”, explica a diretora da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind), Lélica Lacerda, que é assistente social.   

 

Se, de fato, os trabalhadores produzem a riqueza do mundo, suas vidas são muito mais valiosas. No entanto, seguindo a lógica de acumulação capitalista, produzir não é o mesmo que desfrutar. Nem mesmo nos momentos em que a vida está em risco, como agora.

 

Nesse sentido, a Adufmat-Ssind defende a posição de que a quarentena significa o direito à vida, e não é esse direito que pode quebrar o país. “Eu diria que quem vai quebrar o país são os bancos, pois o Brasil destina entre 40 e 50% de toda a sua arrecadação anual à dívida pública, ou seja, aos bancos”, afirma Lacerda.

 

“Segundo a Oxfam, em 2017, 1% da população mais rica acumulava 82% da riqueza mundial, e os 5% mais ricos já concentravam 95%. Ou seja, 5% da população mundial desfruta de 95% da riqueza, enquanto, ao contrário, os outros 95% mais pobres dividem apenas 5%”, enfatizou a docente.   

 

O mesmo Estado que é cobrado a atender a população continua, no entanto, editando medidas que garantem a concentração de renda do setor empresarial. Uma semana depois de ver fracassar a tentativa de permitir a suspensão de contratos com trabalhadores do setor privado por quatro meses (MP 927/20), o governo Federal lança mão de mais uma proposta para aliviar o capital: reduzir os salários de trabalhadores dos setores públicos (PEC 10/20) e privados (MP 936/20), além da alteração da jornada de trabalho e, mais uma vez, a possibilidade de suspensão de contratos.

 

Assim, o capital segue lucrando com ou sem crise. Discute-se sobre a vida e o trabalho, mas ninguém questiona o pagamento da dívida pública, os incentivos (isenções) fiscais. Ao contrário, além dos benefícios habituais, o Estado ainda cobre parte dos salários para “evitar” demissões, e injeta recursos no mercado para fazer girar a economia.      

 

“Se a gente naturalizar essas relações, então realmente não tem dinheiro. Mas a nossa posição é classista, a gente entende que esse é o momento de reduzir os lucros do capital para poder garantir a vida dos trabalhadores. Então, não é a quarentena do coronavírus que coloca a economia capitalista em xeque, é essa necessidade de auto expansão ampliada que não tem mais condição de ser realizada. Logo, o vírus da economia não é o coronavírus, é o capital”, conclui a professora.

 

Clique aqui para ver a análise completa da professora Lélica Lacerda. Acompanhe a Adufmat-Ssind também no Facebook, e Instagram @adufmatssind. 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Quinta, 02 Abril 2020 16:53

 

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Por Aldi Nestor de Souza*
 
 

E mesmo depois de termos inventado o pau de selfie, as tomadas de três pinos, as músicas de Maiara e Maraísa, os espremedores de alho, descoberto um caminhozinho pra ir à lua, a velocidade da luz e uma forma de bisbilhotar o mundo quântico, estamos diante de um problema invisível, bem na palma de nossas mãos e que nos impõe alguns dilemas. Por exemplo: fazer ou não fazer a barba? O vírus vai mesmo mudar o mundo e estabelecer uma nova consciência, uma nova organização da sociedade? Como a Michele faz pra aguentar?

Por enquanto, mesmo com todo esse arsenal de sofisticadas e inacreditáveis tecnologias, não há remédio, não há chá, não há vacina, não há prazo. Lavar-se com água e sabão e ficar em casa, dizem os médicos, é a coisa mais indicada e avançada a se fazer. E isso vale tanto pro grande empresário quanto para os pés de alface. 

Ninguém faz ideia de como será o amanhã. Nem a cigana.

No que diz respeito as barbas, ainda não existem comprovações científicas e especialistas do mundo inteiro encontram-se divididos. Tirar ou não tirar. Há quem defenda que essa touceira de cabelo sirva de mais um abrigo pro vírus, além de ser um motivo pra pessoa ficar passando as mãos, alisando nas proximidades da boca e do nariz. Por outro lado, há os que dizem que apenas médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, por comodidade de encaixe das máscaras, precisam se preocupar com a barba. A OMS ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto.

Enquanto dura a indefinição científica, empresários aproveitaram a oportunidade, eles sempre aproveitam, e lançaram um higienizador de barba. É um spray com álcool em gel que você borrifa entre os pelos e garante, pelo menos em parte, a limpeza dos fios. Mas só o ventilar das pesquisas científicas é que poderá encerrar o assunto.

O vírus sucumbe os mercados, ameaça a lógica do sistema de produção vigente, joga por terra as verdades das grandes corporações, do neoliberalismo, do mercado do peixe, do Caldo de Cana da Noca, da barbearia do Antenor. O vírus joga luz sobre os serviços públicos, sobre a ciência, sobre a pesquisa, eleva o SUS à categoria de exemplo pro mundo, mostra o fracasso e o flagelo da saúde mercadoria.

Há quem garanta que o mundo, como o conhecíamos há três semanas atrás, não seja mais possível. As formas de trabalho, de estudo, as relações pessoais e sociais, tudo está em aberto. É possível, como disse o poeta, que cada vez mais, “ nossa casa seja o nosso mundo”.

É possível que muitas profissões modernas caiam na mais absoluta obsolescência. É possível que não tenhamos a quem mostrar nossas proezas, nosso curriculum lates repleto de títulos, artigos e farofa; é possível que não tenhamos a quem mostrar nossa barriga trincada, nosso muque e nossa felicidade; É possível que uma disputa por alimentos e água nos leve às mais primitivas e últimas consequências; É possível que os trabalhadores se organizem, reflitam sobre sua condição, adotem a solidariedade como valor inestimável  e tomem a direção de suas vidas. É possível que por uns bons anos sejam proibidas grande aglomerações. É possível que a vida nas cidades se torne impraticável, que o campo seja a boa nova, que a terra seja obrigada a ser dividida, que os trabalhadores imponham a reforma agrária.

Porque, convenhamos, mesmo antes do vírus, e com as mais modernas tecnologias desfilando por aí, a vida, pra imensa maioria da humanidade, não ia lá essa coca cola toda, as economias e o mundo do trabalho já caminhavam cambaleando e pareciam prestes a ruir. Os trabalhadores não iam mesmo aguentar por muito tempo, como disse outro poeta, “o privilégio da servidão”, uma vida miserável, de trabalho precário, sem nenhum direito, com jornadas de 14 horas por um salário incerto e de fome. Essa receita da economia neoliberal, mais dia menos dia, ia mesmo pros quintos das cucuias. E isso quem garante é o  motor da história que diz: cada ação provoca uma ação em sentido contrário.

Por último, e não menos importante, como a Michele aguenta? Porque à distância, em vídeo, e só por uns minutinhos, dá a repulsa que dá, a gente fica pra morrer, imagine morar junto. Imagine dormir junto. Imagine ficar nu junto.  Como será que ela faz pra dormir? E acordar? Será que ele ronca, fala dormindo, é sonâmbulo? Como será ter que suportar um pum dele no meio da noite, rodeada de paredes de palácio?  Como será que eles brigam? Como será olhar pras cuecas dele, aquelas com freadas de bicicleta no fundo?


*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática-UFMT-Cuiabá
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Quarta, 01 Abril 2020 14:44

 

Neste ano, alcançado o 31 de março, no marco dos 56 anos do golpe empresarial-miliar que varreu liberdades democráticas, torturou e matou dissidentes políticos e quis sufocar o pensamento crítico, os significados são claramente diferentes daqueles que vimos em outros anos.

Não que antes não tivéssemos lidado com o revisionismo histórico, disputando o passado com aqueles que empreendem esforços ou para ocultar nele violências ou para justificá-las, buscando para o presente legitimidades para as permanências desse tétrico período histórico, dentre as quais o aparato repressor que não chegou a ser desmobilizado, não por mero anacronismo ou como “entulho histórico”, mas porque o estado policial de repressão permanente é uma demanda do neoliberalismo, seja na ditadura militar, seja no dito estado democrático de direito.

Restabelecer a alta cúpula das Forças Armadas no poder implica em proceder a revisão do passado e, como nunca, apagar nele a memória de todos/as que lutaram e das formas mais horrendas tombaram.

Dado que a memória insiste em gritar a voz dos tantos/as silenciados/as, no tempo presente intensificam-se as elaborações que justificam o sangue que não se pôde limpar, dizendo ter sido travada uma guerra em defesa da democracia e na qual as liberdades democráticas deveriam ser sacrificadas. Luta que se trava pela atribuição de sentidos ao passado, mas com os pés encravados no tempo presente a fim de dizer dos mesmos perigos, como espectros, espreitando a todos.

Podemos mencionar, por exemplo, a educação pública, tão atacada pela iniciativa privada e por inúmeros governos, agora também atacada em sua autonomia pedagógica. Por isso, aqueles/as a quem faltam escrúpulos comemoram 56 anos do golpe como um marco de retomada de um tipo específico de autoritarismo político, na institucionalidade do Estado e na vida política do Brasil. Isso para dizer que 1964 jamais passou, que a anistia aos torturadores e a abertura política estão distantes de terem representado a vitória ou a redenção da classe trabalhadora!

Sob a veste do Estado democrático de direito as torturas seguiram sendo praticadas pelo braço armado do Estado (não mais para artistas, mas certamente para a classe trabalhadora!), os esquadrões da morte seguiram chacinando, a militância política continua sendo criminalizada e a juventude pobre e, sobretudo, preta, segue sendo massacrada. Não como “entulho histórico”, repetimos, mas como demandas neoliberais pelo desmonte de direitos afiançado por aparatos de repressão, nesta nova fase, sob os auspícios das polícias nos Estados.

Por isso os ecos de 1964 estão tão presentes nos discursos, ainda que vulgares e repletos de imprecisões e inverdades, do presidente Jair Bolsonaro, ao lado de quem jazem fantasmas de muitos algozes, como o torturador Brilhante Ustra, tantas vezes exaltado.

O aviltamento não é apenas à democracia, mas o caráter miliciano com que se desdobra a apologia militar, como apologia da tortura, impõe o manto da vergonha sobretudo aos militares, hoje, ensinados a laurear assassinos e a dividir o poder com milicianos.

Poucos dias antes de ter início a quarentena contra a disseminação da Covid-19, que afastou as pessoas das ruas, o Clube Militar distribuiu convites para um almoço em homenagem ao que dizem ter sido uma “Revolução Democrática”. Várias postagens, espalhadas pelas redes sociais, convocavam atos em portas de quartéis, como sempre apócrifas, porém chanceladas e mesmo distribuídas pelo presidente e seus filhos.

Isso porque, como aqui dissemos, o passado não passa! Como no “Angelus Novus” de Paul Klee, o “Anjo da História” é arremessado adiante por uma força absolutamente descomunal: o progresso!

Não se trata, portanto, de repetir o passado, mas de reivindicá-lo para si, o que se mostra muito mais perigoso diante da ascensão de uma nova ultradireita desde realidades centrais no sistema-mundo capitalista. A instabilidade econômico-social, agravada pela pandemia mundial, deu à luz novas estratégias para assentamento dessas forças no poder, com caracteres muito mais autoritários, como na Hungria de Victor Orban, que governa agora sem o controle do Legislativo e do Judiciário. O mundo mudou, mas pouco aprendeu com o passado que muitas vezes sangrou!

Se a pandemia causada pelo novo coronavírus promete ser um divisor de águas na era contemporânea (e já é!), que o futuro dela decorrente seja o despertar de um mundo mais justo, solidário e inclusivo, o que depende do soterramento dessas carcomidas e autoritárias estruturas de poder, na marcha dialética da história em que se desenvolve a luta de classes!

O mundo que queremos é exatamente o contrário da realidade construída pelo golpe empresarial militar de 1964, que a cada dia devemos derrotar, como um cadáver sempre ressurgente, fétido e putrefato!

 

Fonte: ANDES-SN

Quarta, 01 Abril 2020 14:36

 

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Por Fernando Nogueira de Lima*

 

Estou cada vez menos, interessado em ficar diante da TV para presenciar de um lado, a estratégia de manter - a qualquer custo, a audiência e veicular, entre uma e outra mesmice, os comerciais com o propósito de manter a saúde financeira desse meio de comunicação e, de outro lado, a busca incansável de se manter em evidência com vistas aos próximos pleitos eleitorais, como tática - por vezes insana, de se manter no poder assegurando mais um mandato eletivo à custa da ignorância política, dos mesmos eleitores.

Estou cada vez menos, atento ao falso dilema posto de optar entre salvar vidas ou empregos e ao antagonismo vigente nas redes sociais, estéreis na perspectiva de mudanças sociais e comportamentais para que, emprestando as palavras esperançosas de Belchior, possamos dizer: o presente, o corpo, a mente é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais. Em vez disso, ao que parece, preferimos não atentar para as palavras cheias de críticas do Cazuza e continuamos, sabe-se lá até quando, presenciando o futuro repetir o passado.

Estou cada vez mais, interessado em refletir sobre os porquês de existir entre a canalhice e a charlatanice, tanta imbecilidade, tanta impunidade, tanta incompetência, tanta insensatez, tanta incoerência e tanta ingenuidade, assegurando que parcela significativa da população continue sendo massa de manobra não só das lideranças de ocasião e de políticos de carreira, mas também de formadores de opinião e de quem deve aniquilar a iniqüidade.

Estou cada vez mais, ciente de que independentemente do meu querer ou poder e de preces - sejam elas de padres, de pastores, do papa ou de quem quer que seja, fato é que muitos óbitos de acometidos por este vírus que não poupa região, nacionalidade, raça ou faixa etária, ainda irão ocorrer. Nesta conjuntura, certo é que morrerão bem mais idosos do que jovens e, por sua vez, bem menos crianças do que adultos. Por isso mesmo estou imune aos anteparos usados pelas mídias para mostrar seletivamente esta triste e inegável realidade.

Estou cada vez mais, apagando compulsivamente postagens que tratam desta pandemia e de assuntos políticos envolvendo os mesmos nomes e assuntos que já se tornaram irrelevantes, para mim. Além disso, nestes dias de isolamento social tenho priorizado o lúdico e tudo que for belo aos meus olhos: contos para crianças para adaptá-los e contá-los aos meus netos; a criatividade e o talento na forma de música, pintura, textos em geral e belas imagens, para fortalecer minha mente, alimentar meu espírito e viajar ao longe sem sair daqui.

Estou a ouvir e sentir, o silêncio ser interrompido pelo talento de mãos ao piano, ora do músico Diego Caetano, ora do músico Pedro Calhão. Antes disso, pela bela apresentação da soprano Marianna Lima, artista do coro do TMRJ, interpretando a obra "O Mio Babbino Caro" de Giacomo Puccini, o que me fez ouvir novamente a clássica e conhecida interpretação desta obra pela soprano grega Maria Callas e pela comovente e ignorada interpretação de Bidu Sayão, brasileira e uma das maiores cantoras líricas do mundo.

Estou como de costume, ouvindo músicas e buscando artistas até então desconhecidos, para mim. Nessa estrada me deparei com Brother Dege e parei para ouvir “Too old to die young” e “Bastard's blues”.  Mais adiante encontrei com Ed Bruce cantando solo “Mamas don’t let your babies grow up to be cowboys” e com Hank Williams interpretando a canção “Long gone lonesome blues”, e outras. No entardecer pude ouvir “I'll play the blues for you” com Daniel Castro e “My one and only love” com Art Tatum & Bem Webster.

Estou em quarentena, a buscar bons textos disponíveis no mundo digital e nesse propósito aprendo e me divirto com as crônicas, requentados ou inéditos, do José Teles que abordam, com pitadas de bom humor e ironia, o cotidiano da vida, a música, canções e intérpretes. Nesse meu procurar, encontrei o soneto “Não vás embora” de Edir Pina de Barros. Não bastasse, recebi o poema “Casa de Oração Índio Tupinanmbá-Cointá” de Kathleen O’Meara (1839 a1888), que curiosamente tem muito a ver com a situação que estamos a vivenciar.

Estou sem histerias, apreensivo com o que pode ocorrer particularmente com tantos quantos fazem parte do meu círculo de amizades e com todos os meus familiares que constituem minha principal razão de viver e bem viver. No mais, resta-me esperar que estes tempos sombrios passem logo e que sirvam para frear outra pandemia, caracterizada pelo triunfar da idiotice crescente que permeia a sociedade, cuja imunização só se dará quando a educação for um sentimento nacional e o ser útil ao próximo tornar-se prática inegociável.

 

*Fernando Nogueira de Lima é engenheiro eletricista e foi reitor da UFMT.

 

Terça, 31 Março 2020 20:09

 

“Sou um provável paciente assintomático para o coronavírus! Desabafo real de um profissional da saúde sobre a pandemia que estamos vivendo e como ela pode atingir a todos nós e àqueles que conhecemos”. Estas são as primeiras palavras de uma longa postagem na rede social de Felipe Cazeiro, publicada na tarde do último domingo, 29/03. O psicólogo, que se formou pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e atualmente trabalha no Recife, relata em seguida como ele e alguns colegas podem ter sido expostos, dentro do ambiente de trabalho, ao vírus que paralisa o mundo.

 

O desabafo de Cazeiro trouxe mais do que um drama ou inquietação pessoal. Introduziu, na verdade, um debate que deve ganhar mais força nos próximos dias. O Brasil ainda está na segunda semana de combate efetivo ao coronavírus; o presidente nem conseguiu processar a gravidade do problema, mas um novo desafio já aponta no horizonte: hospitais em diversas regiões do país começam a afastar funcionários possivelmente infectados. Só nessa terça-feira, 31/03, as notícias informaram cerca de 600 afastamentos em São Paulo e mais de 600 no Rio Grande do Sul. O relato de Cazeiro, que já está afastado, como outros colegas, demonstra que não são os únicos.  

 

No momento em que os profissionais da saúde são praticamente a única segurança da população, a perversidade dos governos neoliberais mostra mais uma vez a sua cara. “O coronavírus é bastante virulento e tem uma grande capacidade de transmissão. Quando gestores, governadores, secretários, o país em si perceberem de fato isso pode ser muito tarde! Fico revoltado por termos que defender o óbvio!”, seguiu Cazeiro. O óbvio é que uma saúde pública de qualidade deveria ser prioridade, incluindo a segurança dos seus profissionais e pacientes. Mas a saúde no Brasil nunca foi tratada com a devida responsabilidade.

 

Há anos os movimentos sociais de trabalhadores denunciam que a saúde não pode ser tratada como mercadoria; que é preciso investir mais e não retirar recursos de direitos sociais; que os cortes nos repasses representam, no cotidiano, a falta de equipamentos, de insumos, de material para atender a população e não expor a saúde dos próprios atendentes. Só em meio a uma verdadeira tragédia mundial a situação parece escancarada.     

 

Em resposta contrária aos apelos dos movimentos sociais, os governos federal, estaduais e municipais atenderam ao capital, e trataram de rifar a saúde pública. Não só aprofundaram os cortes como, com a Emenda Constitucional 95/16, congelaram os recursos por 20 anos. Só em 2019, a EC 95/16 representou uma perda de R$ 20 bilhões para o SUS.

 

Mas não se trata de ouvir ou não os movimentos sociais, ou mesmo de ter recursos para investir. Os representantes do Estado brasileiro fizeram – e continuam fazendo – a opção política de beneficiar os setores empresariais em detrimento da população.

 

Os exemplos são inúmeros. A precarização do SUS, por si só, favorece o mercado de planos de saúde privada. Os governos introduziram empresas para administrarem hospitais (chamadas Organizações Sociais – OSS), o que já demonstrou, em Mato Grosso e outros estados, uma perda imensa de recursos com corrupção, compra de materiais desnecessários, precarização das condições de trabalho, entre outros. As decisões judiciais que reconhecem o direito à saúde de pessoas que aguardam nas filas favorecem o setor privado, pois se a Justiça determina, o Estado tem de pagar muito mais caro para que um hospital particular atenda um paciente. Tudo isso já foi amplamente demonstrado.  

 

Há dezenas de outros elementos que podem ilustrar que as vidas dos pacientes e dos trabalhadores da saúde nunca estiveram no centro das ações dos governos neoliberais. Mas as reflexões provocadas pelo advento do coronavírus em todo o mundo trazem a possibilidade de mudar essa realidade, a partir da constatação de que, socialmente, é mais interessante que os interesses coletivos prevaleçam aos individuais, e que as vidas importam mais do que os lucros.

 

“Imaginem o que acontecerá se os profissionais adoecerem em massa? Como conseguiremos superar essa pandemia se o Estado brasileiro, de forma irresponsável, coloca em risco as vidas desses trabalhadores? Esse é um problema coletivo. Cabe a nós exigir que as instituições ofereçam imediatamente todas as condições para que os profissionais da saúde tenham condições de enfrentar essa pandemia em segurança. Por ora, pelas suas vidas e de todos nós, chamamos a sociedade a abraçar a campanha ‘Cuidar de quem cuida’, junto a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso [Adufmat-Ssind] e outras entidades que atuam em defesa dos trabalhadores”, afirma a diretora da Adufmat-Ssind, Lélica Lacerda.

 

A docente destaca que militantes de Mato Grosso continuam debatendo em exaustão a situação dos trabalhadores do SUS e, solidariamente, tentam encontrar alternativas para ajudar. As reuniões online abordam formas de produzir material de proteção individual, agilizar a chegada de álcool gel e outros insumos, além de pressionar instituições e governos para que cumpram suas funções e garantam as condições ideais.

 

O sindicato destaca, ainda, a preocupação de que a maioria dos profissionais da saúde são mulheres e, entre elas, mulheres negras, cujos salários diminuem conforme o grau de proximidade dos doentes. Isto é, além da exposição no ambiente de trabalho, também se trata de um segmento exposto economicamente.

 

“O Estado brasileiro prefere garantir que cerca de 50% dos recursos arrecadados com impostos sejam destinados a banqueiros, enquanto pouco mais de 4% da outra parte arrecadada é destinada à saúde, e cerca de 3% a programas de assistência social - políticas que poderiam beneficiar trabalhadores de hospitais, postos de saúde, albergues e todos os serviços que também são importantes frente à pandemia. Ou seja, a prioridade dos governos brasileiros não tem sido a população, muito menos a vida daqueles que se arriscam para salvar outras vidas. Isso está errado, é uma postura genocida e criminosa contra o povo brasileiro, e tem que mudar”, declarou Lacerda.

 

Interessados em contribuir com as ações das entidades podem entrar no grupo do Whatsapp por meio do link https://chat.whatsapp.com/EAoIGOmpx5FDACTD6NdW1G.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Terça, 31 Março 2020 17:29

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

Diante da onda de liberalismo e de neoliberalismo que estava varrendo o mundo, tendo como matrizes os EUA, principalmente após a eleição de Trump, um negacionista, que nega a ciência quando se trata de mudanças climáticas, ou nega as evidências científicas e da comunidade médica, incluindo as recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde, facilitando a disseminação do coronavírus nos EUA e a mesma toada seguida por Boris Johnson no Reino Unido e em vários outros países com predomínio da extrema direita nos governos, inclusive no Brasil, a palavra de ordem por anos a fio foi “menos estado”, em certo sentido aquém do que se convencionou a ser denominado por esses liberais, como o “estado mínimo”.

Para esses tresloucados é fundamental desregular tudo, entregar tudo, de preferência de mão beijada, ao “Deus mercado”, que tem mais agilidade, menos burocracia, custa menos e, por outro lado, ajuda a aumentar os lucros, a acumulação de capital, o enriquecimento de uns poucos, da camada dos 1% do top da pirâmide social e econômica, mas sem reduzir a carga tributária que continua recaindo sobre os ombros e o lombo do povo, via um Sistema tributário regressivo e injusto, que poupa os mais ricos e penaliza os mais pobres.

Com certeza esses liberais querem acabar com o Estado que apoia e assiste os mais pobres e manter o estado que subsidia o capital e abre mão de tributos através da renuncia fiscal que favorece também aos grandes grupos econômicos.

No Brasil, com a eleição de Bolsonaro, que pegou carona na onda da rejeição do PT, no combate à violência e à corrupção, a economia foi entregue a um dos chamados “Chicago's boy”, que, ele próprio fez parte do grupo de alguns economistas que ajudaram o ditador Pinochet a privatizar tudo e a entregar o patrimônio público daquele país, também de mão beijada, aos barões da economia chilena e seus aliados internacionais. Os resultados já estão surgindo no Chile, aumento de pobreza, miséria e revoltas populares.

Resultado, tanto no Chile quanto já em pouco tempo esta fazendo sentir na sociedade brasileira, aumento da pobreza, da informalidade, no subtrabalho que aos poucos se aproxima do trabalho escravo e no sucateamento de todos os serviços públicos, principalmente nas áreas de saúde, educação, meio ambiente, habitação e saneamento básico, enfim, aumento da exclusão social que afeta dezenas de milhões de brasileiros.

Justiça seja feita, parte deste desmonte do Estado foi incrementado no governo de Temer, eleito como vice presidente, graças à aliança do então PMDB, hoje MDB  não apenas com o PT, mas vários outros partidos de esquerda.

O mundo esta assistindo uma pandemia que esta levando o pânico, a ansiedade e desespero à população; aos profissionais de saúde e também à arrogância, o autoritarismo, a prepotência, à falta de rumo e desespero de governantes como Bolsonaro e seus ministros que estão em um eterno “bate cabeças”, por faltar-lhes competência para enfrentar alguma crise profunda, como esta que está em andamento.

Enquanto o Ministro da saúde diz que segue as orientações técnicas da OMS, da ciência e da comunidade médica que recomenda o isolamento social amplo e se inspira em formas de enfrentar o coronavírus em alguns países que conseguiram êxito em tempo recorde como a China e a Coréia do Sul, orientando e encarecendo que a população tome medidas de higienização e isolamento social e quarentena, com suspensão das atividades econômicas, com exceção das estratégicas , essenciais e necessárias, o Presidente Bolsonaro, `a semelhança de um super homem, chamando a atenção da população de que “não está nem ai para esta gripezinha, este resfriadinho”, o número de infectados, inclusive mais de 23 integrantes de sua comitiva que viajou recentemente aos EUA , só cresce e dentro de poucas semanas esta realidade cruel, como já acontece nos EUA, na Itália, na Espanha e no Reino Unidos, poderá estar batendo com todo o seu poder devastador `as nossas portas.

Como todas as crises, sejam econômicas, financeiras, ambientais, sanitárias ou decorrentes de guerras generalizadas, a pandemia do coronavírus está deixando um rastro de destruição na área da economia, com diversos estudiosos afirmando taxativamente que, ao final da mesma, haverá uma grande recessão mundial, atingindo todas as economias, tanto de países pobres, emergentes e também ricos e super  desenvolvidos, tanto os países do G7, do G20, da União Europeia e outras regiões.

Todavia, como varias pessoas tem afirmado, a economia, mesmo sendo destruída pode ser recuperado, como diversos exemplos tem acontecido ao longo da história, mas dezenas, centenas de milhares ou milhões de mortes ninguém conseguirá recuperar essas vidas ceifadas. Esta é a diferença entre quem só pensa na recuperação da economia e coloca em um segundo lugar o esforço para salvar vidas.

Aqui é que entra a questão do “Deus mercado”, se na concepção desses liberais, ultra liberais ou neoliberais que desejam acabar com o Estado, até o Estado mínimo, para entregar tudo para a iniciativa privada, deixando ao mercado a incumbência de tudo regular, tudo resolver, porque estão agora tomando medidas que vão de encontro, contrárias às suas doutrinas?

Vejam, em todos os países, inclusive no Brasil, nos EUA , na Europa, no Japão, diante da crise, os governantes liberais, hipócritas, estão ampliando os gastos públicos, botando a “maquininha” para rodar e imprimir moeda, aumentando o endividamento público, alterando Leis que regulam o equilíbrio fiscal como acontece no Brasil com as alterações nas Leis de Reponsabilidade Fiscal e das Diretrizes orçamentárias, até mesmo a intervenção direta no sistema produtivo.

Enquanto Bolsonaro vai na contramão até das medidas tomadas pelo seu guru e ídolo Trump, que não titubeou em enviar  ao Congresso americano e conseguir um pacote trilionário (em dólares), e também medidas de transferência de renda e apoio tanto a grandes empresários quanto desempregados e pequenos/microempresários que estão ema puros, aqui no Brasil “o bate cabeças” não é apenas entre Bolsonaro e seu ministro da saúde, mas também não devera ser entre o Capitão e seu guru, todo poderoso ministro da economia, que disse que a população deve ficar em casa enquanto seu chefe passeia livremente, em tempos de coronavírus, tanto no meio de manifestantes que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, quanto moradores humildes da periferia de Brasília.

Ah, neste domingo Trump, mudando radicalmente de posição, informou que vai prorrogar o prazo de isolamento social que findaria em 07 de Abril, para o dia 30 do mesmo mês. Na Europa todos os governos estão ampliando o período de quarentena e isolamento social, única estratégia que de fato tem se mestrado eficiente na redução da proliferação do coronavírus, totalmente diferente da proposta de Bolsonaro que deseja a liberação geral e imediata.

No Brasil também praticamente todos os governadores, com raras exceções como o de Mato Grosso, propugnam pelo isolamento social e a restrição das atividades econômicas, educacionais, religiosas, esportivas, culturais, como forma de evitar aglomerações e aumentar a disseminação do coronavírus.

Se o Governo Federal, os governos estaduais e governos municipais, tivessem o mínimo de planejamento integrado, ações articuladas, politicas, estratégias e ações de enfrentamento desta ou de qualquer outra crise de magnitude, com certeza, não seria necessário o Presidente Bolsonaro tomar decisões intempestivas, contraditórias, as vezes quase que tresloucadas e incitando a população a não respeitar decisões de outras instâncias governamentais, inclusive do poder judiciário.

Talvez seja por esta razão que já existem diversas pessoas, inclusive parlamentares e juristas defendendo que o Presidente Bolsonaro seja submetido a testes de sanidade mental.

Cabe aqui um destaque que várias de suas decisões já foram barradas seja no Congresso Nacional ou no Poder Judiciário, por serem ilegais e ou inconstitucionais, mas mesmo assim ele não se emenda e neste final de semana disse de público que “cogita em baixar um decreto para determinar que todos os setores possam voltar ao trabalho e suas atividades”, mantendo o isolamento social e a quarentena apenas para idosos e população de risco. Medida esta que será um desastre no aspecto sanitário, pois vai acelerar a expansão do coronavírus no país, como aconteceu em vários países onde seus governantes não tiveram o discernimento, a lucidez e nem avaliaram as consequências humanas, dessas decisões intempestivas, como aconteceu com o prefeito de Milão que bem no inicio do coronavírus na Itália, lançou uma campanha, agora copiada pela turma do Bolsonaro, lá o slogan era de que “Milão não pode parar” e insistia que a população  continuasse trabalhando e nada de quarentena ou isolamento social como estava sendo proposto pelo Governo Central da Itália.

Hoje a Itália, exatamente na região onde fica Milão conta todos os dias centenas de mortes, e o prefeito de Milão, de forma cínica, foi `a Televisão e redes sociais e demais meios de comunicação pedir desculpas `a população e lamentar sua decisão errada que levou milhares de pessoas à morte.

Esta é aposta que Bolsonaro está fazendo, levando confusão à cabeça das pessoas, flertando com a morte e ao mesmo tempo de forma direta ou indireta cultuando o “Deus mercado”, contrariando a área econômica de seu governo, além do ministro da saúde que desejam que o Estado atue de forma efetiva assistindo a população, tanto na questão da saúde pública quanto na parte econômica, através da transferência direta de renda, aumentando o volume de crédito, flexibilizando o regime fiscal e tributário, o que não deixa de ser uma abominação para os liberais.

Bolsonaro, segue firme cultuando o “Deus mercado”, ao dizer recentemente que ele não é o “paizão” dos brasileiros, inclusive dos idosos e que cabe às famílias cuidar de seus dependentes e ontem, fazendo pouco caso de quem esta morrendo ou venha a morrer por coronavírus , ou que já morrem pela falta de estrutura e sucateamento da saúde publica (SUS) nas filas de hospitais e unidades de saúde, dizendo simplesmente “todo mundo vai morrer um dia, inclusive eu” ou então, duas outras frases que devem ficar como ontológicas de sua forma distorcida de pensar: “pessoas vão morrer, mas é preciso enfrentar o desemprego” e “vamos enfrentar esta doença como homem e não como moleque”. Finalizando parte de seu discursos contra o isolamento social, sem apontar dados estatísticos que comprovem sua assertiva, disse  que devido ao fato de ficarem em casa “mulheres estão apanhando”.

Esta é a diferença entre os cultuadores do “Deus mercado” e as pessoas que defendem, como o Papa Francisco, uma economia humana, solidária, justa e baseada na ECOLOGIA INTEGRAL.

A crise do coronavírus, com certeza, vai promover profundas alterações não apenas nas teorias econômicas, mas também na “arte de governar”, pondo fim, com certeza insensibilidade, irresponsabilidade e egoísmo que fundamentam o liberalismo e neoliberalismo.

Resumindo: “O Deus mercado” está morto e com ele também seus seguidores e adoradores, como aconteceu com o povo hebreu quando resolveram adorar o bezerro de ouro, enquanto Moisés subia a montanha para falar com Deus e receber a Tábua da Lei, com os doze mandamentos.

Uma nova forma de sociedade, um novo mundo e novos padrões de relacionamento  deverão emergir após esta pandemia do coronavírus ser superada, este é o fundamento para quem tem esperança em uma civilização do amor e de uma sociedade do bem viver. Se isto não acontecer, estaremos condenados a outros desastres de maiores proporções, como os decorrentes das mudanças climáticas e do aquecimento global, fruto de uma economia que transgride todos os parâmetros humanos, éticos, científicos e ecológicos.

*JUACY DA SILVA, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

Segunda, 30 Março 2020 19:10

 

Na madrugada da última sexta-feira, 27 de março, a juíza Laura Bastos Carvalho da justica federal no RJ proferiu decisão proibindo o governo Bolsonaro de veicular a propaganda "O Brasil não pode parar” sob pena de multa de 100 mil reais por infração.

A decisão foi proferida na ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal, com pedido de tutela de urgência para impedir que o governo federal divulgasse peças publicitárias . A ação judicial assinada por mais de 10 procuradores federais de diferentes estados brasileiros alegou que a referida campanha estimularia os brasileiros a voltarem a suas atividades normais, sem que a campanha estivesse embasada em documentos técnicos que comprovássem que tal medida asseguraria o direito à saúde dos brasileiros no estágio atual da pandemiado Covid-19 no país.

Ainda na sexta-feira, 27 de março, o ANDES-SN buscou o Conselho Federal da OAB, a Procuradoria Geral da República e outras entidades para que ingressássem com medidas judiciais e administrativas contra a veiculação da referida propaganda. A decisão concedida no plantão judiciário pela justiça federal do Rio de Janeiro ainda pode ser revista e o ANDES-SN seguirá acompanhando os desdobramentos da ação política e juridicamente.

A experiência internacional já demonstrou que o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador da COVID-19, deve passar pelo necessário distanciamento social e pela manutenção dos trabalhadores e trabalhadoras dos países atingidos em suas residências. Entretanto, o presidente Jair Bolsonaro caminha na contramão das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e prega que a população deve retomar as atividades econômicas e sociais por meio da propaganda "O Brasil não pode parar". O governo de Bolsonaro utilizou cerca de R$ 4,8 milhões de reais dos cofres públicos com a campanha, dinheiro que poderia ser usado para compra de equipamentos de proteção e de higienização, na defesa do combate real à pandemia do novo coronavírus.

Essa utilização indevida de dinheiro público pelo governo Bolsonaro fez com que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) denunciasse o governo federal ao tribunal de Contas da União (TCU), anteontem, dia 27 de março.

 

Fonte: ANDES-SN