Sexta, 16 Agosto 2024 14:02

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*

 

“Atualmente muitos possuem uma má noção da política, e não se pode ignorar que frequentemente, por trás deste fato, estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos. A isto vêm juntar-se as estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la por alguma ideologia”. O mundo não pode funcionar sem política, pois não se pode haver fraternidade universal sem uma boa política. Portanto, não se trata de demonizar a política, mas de promover uma “Política Melhor”, comprometida com o bem comum, capaz de transcender populismos e liberalismos simplistas e promover a caridade social. A política melhor propõe uma abordagem que valorize a geração de trabalho e renda, a inclusão social, a diversidade e a caridade social como elementos fundamentais na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e voltada para o bem de todos.” Papa Francisco, Encíclica Fratelli Tutti.

Estamos no início de mais uma Campanha Eleitoral, desta vez para a escolha de dezenas de milhares de prefeitos e vereadores pelo Brasil afora, que pelos próximos quatro anos irão administrar orçamentos bilionários ou apenas algumas migalhas que caem das tetas do Tesouro Nacional, Estaduais ou municipais. Em nosso país existem 5.570 Municípios e um total de 60.311 vereadores e vereadoras, esta é a base da “pirâmide” política brasileira, razão pela qual costuma-se dizer que o povo, a população vive, realmente, é nos municípios, daí a importância das eleições municipais.

A realidade dos municípios brasileiros é bem diversa, temos desde municípios com milhões de habitantes, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Belém, Manaus, Curitiba ou Recife, só para mencionar algumas dessas Capitais, ao redor das quais se agregam outros municípios e são formados os “aglomerados urbanos” e as Regiões Metropolitanas, em que os problemas são extremamente complexos e que já existem por décadas e também milhares de municípios com menos de 10, 5 ou até 2 mil habitantes, municípios esses que vivem de “pires nas mãos’, cujos orçamentos advém das transferências dos fundos de participação federal e estaduais ou de recursos de programas de transferência de renda, como “bolsa família” e vários outros de cunho assistencialistas.

Independentemente do tamanho territorial, da população ou do orçamento municipal, o que determina o futuro desses municípios, principalmente das cidades, onde vivem mais de 80% da população brasileira, é que quem coloca político no poder em uma DEMOCRACIA é o povo, através do sistema eleitoral que garante o exercício do voto direto e secreto, onde a URNA ELETRÔNICA, é um instrumento seguro e confiável, por mais que políticos negacionistas e fascistas continuem sendo eleitos por essas urnas e dizem que as mesmas sejam passíveis de manipulação, sem que isto jamais tenha sido comprovado!

Costuma-se, também, dizer que cabe aos eleitores e eleitoras o bom discernimento, para evitar que nos poderes Executivo e Legislativo, tenhamos pessoas incompetentes, corruptas, demagogas e que utilizem de seus mandatos para ocuparem as esferas de poder, para fins pessoais, familiares ou de grupos, esquecendo-se de que o Bem Comum e a construção de uma sociedade, um país e, também é claro, um município mais justo, mais solidário, mais SUSTENTÁVEL e menos desigual, como acontece no Brasil, deve ser o principal foco no exercício de um mandato eletivo.

Assim, cabe ao eleitor ou eleitora fazer a escolha correta, visando a melhor política, elegendo candidatos/candidatas que defendam a democracia, os direitos das pessoas (direitos humanos na concepção do que a ONU estabelece e não no desvirtuamento de alguns que imaginam que Direitos Humanos sejam apenas defender direito de bandidos); respeitem a diversidade de opinião e das necessidades que existem em todos os municípios e cidades.

Se os eleitores/eleitoras elegem "tranqueiras", gente desonesta e incompetente, candidatos oportunistas, demagogos e enganadores do povo, não adianta ficar reclamando durante quatro anos, afinal, em uma democracia o que deve prevalecer é a VONTADE SOBERANA da MAIORIA, assim, os eleitos/eleitas pode ser constituída dessas figuras que a gente bem conhece e que jamais deveriam estar ocupando cargos e funções públicas eletivas.

Vamos escutar e refletir sobre as propostas que candidatos e candidatas dizem que irão pautar seus mandatos, da mesma forma, nós também., como eleitores e eleitoras, enfim, CONTRIBUINTES, TEMOS O DIREITO de dizer aos candidatos e candidatas o que desejamos e "exigimos" que os mesmos realizem após saírem-se vitoriosos nas urnas.

Para tanto, cada eleitor e eleitora deve refletir sobre a realidade de sua comunidade, seu bairro, enfim, seu município, tanto o território rural quanto as cidades, evitando cairmos no “conto do vigário” dessas tranqueiras travestidos/travestidas de gestores públicos.

No caso de vereadores, vereadoras , prefeitos e prefeitas que estão no cargo, devemos refletir e examinar o que fizeram ou deixaram de fazer e, se não fizeram nada a não ver surrupiar recursos públicos e articularem seus esquemas corruptos, essas figuras não merecem ser reeleitas ou reeleitos.

A hora de dar um CARTÃO VERMELHO a esta máfia ou familiocracia do poder é quando o eleitor ou a eleitora está sozinho/sozinha, com sua consciência, diante da URNA ELETRÔNICA e fazer sua escolha pessoal, mediante o VOTO SECRETO, uma conquista da cidadania, fruto de muitas lutas, ao longo de décadas no mundo e no Brasil também.

Não devemos e nem podemos eleger políticos golpistas, fascistas  que pregam a ditadura, o arbítrio e defendem a opressão, a tortura, a violência política, a violência dos organismos do Estado, o racismo, o machismo, a xenofobia, a mentira (fake news) ou que sejam NEGACIONISTAS, principalmente em relação aos desafios ambientais e a crise/emergência climática.

Escolher bem agora é importante, para evitar que a dor, o sofrimento e o desencanto com os políticos e a choradeira estejam presentes pelos próximos quatro anos!

Precisamos, como sempre nos exorta o Papa Francisco, “realmar a economia e encantar a política” como únicos caminhos para um mundo melhor e uma sociedade mais justa!

Enfim, não podemos cair no CANTO DA SEREIA, ficarmos iludidos e iludidas com propostas mirabolantes ou favores materiais e muito menos com promessas de recompensa para nosso voto, pois "VOTO NÃO É MERCADORIA" que se vende e se compra nas eleições, voto é a ARMA DO POVO, que deve ser usado para escolher bons políticos, competentes e que pautam suas ações em prol da coletividade, principalmente da população pobre, excluída; marginalizada, mas trabalhadora e que também paga uma pesada carga tributária e evitar que MAUS POLÍTICOS sejam galgados `as estruturas do poder com o nosso voto.

Outra coisa importante, como no Brasil são realizadas eleições de dois anos, de forma intercalada, quando podemos e devemos escolher, como em 2024, prefeitos, prefeitas, vereadores e vereadoras e, em 2026, nas eleições gerais, quando elegeremos ou reelegeremos Presidente da República, Governadores/Governadoras de Estados, dois terços do Senado da República, Deputados Federais e Estaduais.

Diante disso, precisamos estar alertos e alertas com as raposas e os “eternos donos do poder”, os políticos carreiristas que só aparecem de quatro em quatro anos abraçando e prometendo, o que não consegue cumprir, “pedindo” nossos votos de novo.

O poder não pode ser usado para beneficiar os poderosos e penalizar os pobres, como atualmente acontece, precisamos mudar tudo isso e as eleições limpas e democráticas são este grande instrumento da cidadania.

Nós, como eleitores e eleitoras precisamos saber que “temos lado”, o nosso lado é a busca de um país decente, justo, que ofereça melhores condições de vida  para a grande maioria da população que continuam vivendo à margem da sociedade.

Este é, em suma, o sentido e o significado das eleições em uma democracia, um despertar da consciência popular, afinal, nossa Constituição estabelece que “todo o poder emana do povo” e não da vontade da chamada “classe política”, como as vezes acontece! A Hora das mudanças é agora, amanhã pode ser tarde demais!

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
 

 

Quarta, 10 Julho 2024 09:52

 

No último domingo (7), a França assistiu a uma importante derrota da extrema direita nas eleições legislativas. O partido de Marine Le Pen, Reunião Nacional (RN), que havia conquistado 33% dos votos no primeiro turno, não conseguiu um avanço significativo no segundo turno. Em uma surpreendente reviravolta, a Nova Frente Popular (NFP), uma coalizão que reúne forças políticas da centro-esquerda até forças de esquerda mais radicais, foi a mais votada no pleito de domingo, conquistando 182 cadeiras no parlamento. A aliança Juntos, coalizão governista de centro formada em torno do presidente Emmanuel Macron, garantiu 168 assentos, enquanto o RN de extrema direita obteve 143 lugares. Apesar da derrota, a extrema direita dobrou seu número de assentos em relação às últimas eleições.

A virada ocorreu devido à significativa participação dos franceses nas seções de votação — o maior comparecimento em mais de 40 anos, apesar do voto não ser obrigatório na França. A Assembleia Nacional possui 577 assentos, sendo necessárias 289 cadeiras para formar maioria e definir o primeiro-ministro. Nenhum grupo obteve maioria absoluta no segundo turno das eleições.

Dissolução

No início de junho, o presidente Emmanuel Macron dissolveu o parlamento francês e convocou novas eleições na França, antecipando o pleito que estava originalmente marcado para 2027, coincidindo com o fim de seu mandato.

A decisão foi motivada pelo resultado das eleições do Parlamento Europeu, realizadas no dia 9 de junho, que apontaram a vitória da direita e o avanço da extrema direita, além do crescimento das e dos candidatos do partido de extrema direita RN, liderado por Marine Le Pen. Leia mais sobre esse processo no InformANDES de junho (AQUI).

Com isso, um bloco composto por partidos de esquerda como a França Insubmissa (LFI), partidos Socialista e Verde, juntamente com outras forças, uniram-se para formar a Frente (NFP) para combater a extrema direita.

A NFP se comprometeu a revogar as reformas na Previdência e na imigração implementadas pelo atual governo, além de criar uma agência de apoio para imigrantes sem documentos e facilitar pedidos de visto. Pretende também impor limites a reajustes de bens básicos para combater a crise do custo de vida e defende o aumento do salário mínimo.

Reino Unido

Após 14 anos, o Partido Conservador vai deixar o poder no Reino Unido. O Partido Trabalhista venceu as eleições gerais britânicas, no último dia 5 de julho, com uma maioria no Parlamento com 412 assentos, enquanto as conservadoras e os conservadores somaram apenas 121.

O Partido Nacional Escocês deve ter seu número de deputadas e deputados reduzido de 47 a 9, e o Reform UK, de direita radical, que antes não tinha assento no Parlamento, obteve quatro. O Partido Verde, que só tinha uma cadeira, vai contar agora com quatro deputados, mesmo número de representantes do Partido do País de Gales, que dobrou seu número de assentos.

O Reino Unido é composto por quatro países: a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e a Irlanda do Norte.

Fonte: Andes-SN (com informações de Agência Brasil e BBC)

Segunda, 08 Julho 2024 10:55

 

 

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Juacy da Silva*

 

Diante do desempenho considerado insatisfatório ou quase pífio de Biden no primeiro debate presidencial ocorrido no último dia 27 de Maio, quando o atual presidente dos EUA enfrentou seu arquirrival, ex-presidente Donald Trump, em que, segundo os analistas e organismos de comunicação foi “derrotado”, tem crescido a pressão de vários setores do Partido Democrata, para que Biden retire sua postulação à corrida presidencial, principalmente por parte dos grandes doadores de fundos para a Campanha dos democratas.


Diante disso, as pesquisas indicam que quem melhor se posiciona na corrida à Casa Branca são duas mulheres, ambas negras, a ex-primeira dama Michelle Obama, esposa do primeiro Presidente Negro dos EUA, Barack Obama e a atual vice-presidente, a primeira afro-americana de ascendência indiana a ser eleita para este cargo, Kamala Harris. Entre as duas Michelle Obama tem maiores chances de derrotar Donaldo Trump, mas a mesma desconversa sobre este assunto, tendo em vista a amizade que une as famílias Obama e Biden ao longo de algumas décadas, inclusive dos quatro anos em que Biden foi vice-presidente de Obama.


Enquanto as pesquisas indicam que Biden está “tecnicamente” empatado com Trump nas pesquisas eleitorais e em algumas sai derrotado, tanto Michelle Obama quanto Kamala Harris tem a seu favor números expressivos e seriam as únicas candidatas para garantirem que os Democratas continuem na Casa Branca por mais quatro anos.

Para entender melhor esta dinâmica política e eleitoral, é importante, fundamental, voltar os olhos e a reflexão sobre as últimas eleições americanas em que Biden derrotou o então Presidente Donald Trump e toda a celeuma em torno dos resultados eleitorais e a invasão do Congresso Americana por uma turba ensandecida, coisa jamais vista na política americana ao longo de séculos.


Depois da retumbante vitória do Partido Trabalhista, de centro esquerda no Reino Unido, pondo fim a 14 anos de governo conservador, impondo a maior derrota que a direita (conservadora britânica) já teve em quase 200 anos, agora a “bola” da vez passa a ser a escolha do candidato ou candidato do Partido Democrata, nos EUA.


A vitória de Biden em 2020, pondo fim a quatro anos de governo Trump, de extrema direita, negacionista climático e em relação `a covid 19, por apenas uma pequena margem de votos populares, 51,3% para Biden (81,3 milhões de votos), contra 46,8% (74,2 milhões de votos para Donald Trump).


No Colégio eleitoral, onde, de fato as eleições americanas são decididas Biden obteve uma vitória mais expressiva, 306 votos contra apenas 232 votos para Trump, apesar de que, em número de estados, Biden venceu em 27 e Trump em 26. Todavia, cabe uma observação em relação aos resultados nos Estados, geralmente, os Democratas conseguem vencer na maioria dos estados com maiores colégios eleitorais, enquanto os republicanos representam a maioria dos eleitores de estados menores e mais conservadores.


Apesar da vitória de Biden, o presidente Trump, que estava no cargo, questionou judicialmente os resultados das eleições em diversos estados, colocando em dúvida o processo eleitoral, à semelhança do que dois anos depois, em 2022, também o Presidente Bolsonaro, no cargo e adepto da ideologia de extrema direita sempre tenha contestado os resultados eleitorais e a segurança das urnas eletrônicas no Brasil, coisa que jamais tenha sido comprovada.


Desde a proclamação da Independência nos EUA, em 1.776, jamais houve um golpe de estado ou intervenção militar para depor um governo escolhido eleitoralmente, pelo voto popular e pelo Colégio Eleitoral.


No entanto, na esteira das dúvidas levantadas por Trump, dizendo que as eleições teriam sido fraudadas e que ele (Trump) seria, na verdade o eleito, sem que isto tenha sido acatado por todas as instâncias judiciais do sistema americano, foi sendo formado um clima de conflito e de “Fake news”, que chegou às vias de uma verdadeira insurreição (popular), e uma turba ensandecida, inspirada pelos discursos de ódio de Trump, viesse invadir o Congresso Americano, gerando prejuízos materiais e, inclusive, algumas mortes, rebelião esta que tentava impedir (na marra) o reconhecimento dos resultados eleitorais pelo Congresso e, consequentemente, impedir a posse de Biden, como legítimo Presidente eleito.


Esta rebelião ocorreu em 06 de Janeiro de 2021, algo semelhante ao que viria a ocorrer em Brasília, em 08 de Janeiro de 2023, uma semana após a posse de Lula, na tentativa de criar condições para um golpe de estado e a derrubada de um governo legitimamente eleito e empossado.


Ambas as insurreições e tentativas de golpe e rompimento do processo democrático foram perpetrados por adeptos da ideologia da extrema direita tanto nos EUA quanto no Brasil.


Mesmo tendo sido eleito democraticamente, Biden, da mesma forma que Lula, não conseguiram a maioria no Congresso, principalmente na chamada “Câmara Baixa” ou Câmara dos Deputados, demonstrando que teriam que enfrentar uma feroz oposição parlamentar, na tentativa de desestabilizar seus governos.


Diferente do Brasil, onde existem diversos partidos que acabam “apoiando” o Governo e facilitando a formação de uma maioria parlamentar, nos EUA, a dinâmica política é determinada, de fato, por um bipartidarismo ferrenho, poucas ou quase nunca parlamentares trocam de lado para apoiarem os presidentes de outro partido, o que dificulta muito a gestão do Presidente eleito, que necessita de apoio parlamentar para inúmeras medidas tanto de política interna quanto de política externa.


Mesmo assim, Biden tem conseguido resultados considerados pela sociedade e pelo famigerado “mercado” como satisfatórios e isto, apesar de sua idade avançada, sempre questionada publicamente, tem dado condições para que Biden tente a reeleição, em uma nova disputada exatamente contra Trump, que sagrou-se vencedor nas primárias republicanas de forma ampla e inconteste.


Antecedendo as convenções que homologam as candidaturas que saíram vencedoras nas prévias partidárias (a Republicana será em Milwaukee, estado do Wisconsin entre 15 – 18 de julho de 2024) e a do Partido Democrata em Chicago, estado do Illinois, entre 19 -22 de Agosto de 2024), quando, finalmente, a Campanha eleitoral tem sua largada oficial, onde os comícios e, principalmente, os debates entre os candidatos a Presidente e também entre os candidatos a Vice Presidentes tem uma importância crucial, principalmente nos “Estados Pêndulos” (swing states).


É importante que situemos as eleições americanas em um contexto geopolítico internacional e como as superpotências agem interna e externamente neste jogo do poder mundial, em que tanto essas potências (EUA, CHINA, Rússia, União Europeia, índia) e outros países que fazem parte dos diversos blocos formados em torno dos interesses dessas potências e super potências, considerados os “peões” em um jogo de xadrez.


Assim, é bom observar de forma mais atenta o que pode ocorrer no processo das escolhas dos Candidatos a Presidente dos EUA, nesses próximos 30 ou 60 dias, muita coisa pode ser alterada nesta dinâmica, influenciando significativamente os resultados das eleições que devem ocorrer no início de novembro neste Gigante do Norte, que ainda é a super potência com maior poderio econômico, militar e estratégico e tecnológico mundial.


Uma vitória de Trump pode significar não apenas o retorno do Partido Republicado, dos conservadores à Casa Branca, mas, também um estímulo ao avanço da direita e da extrema direita ao redor do mundo, inclusive no Brasil.


Por isso, os resultados das eleições americanas podem influenciar e geralmente influenciam, significativamente, as relações internacionais e também as questões da guerra, da paz, do comércio internacional e, também, da crise climática, além de tantos outros aspectos, razões mais do que suficientes para estarmos atentamente observando-as.


*Juacy da Silva, Professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da pastoral da ecologia Integral, ex-integrante da Escola Superior de Guerra e do Inter-American Defense College, em Washington, DC, EUA. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

 

Quarta, 03 Julho 2024 17:11

 

 

Na última semana, os membros da Comissão de Multicampia, formada durante a greve docente deste ano, organizou uma audiência com políticos mato-grossenses que podem ter influência sobre os trâmites de projetos de lei que disponham sobre o processo de emancipação dos campi da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).    

 

A audiência, que durou cerca de meia hora, foi realizada na sexta-feira, 28/06, e contou a presença do deputado estadual Valdir Barranco e algumas pessoas de sua comitiva, embora outros representantes que têm projetos acerca do tema, como a deputada federal Rosa Neide, também tenham sido convidados, já que estavam em atividade política na região.    

 

O professor Edson Spenthof, membro da comissão multicampia, explicou o que foi discutido. “Nossa intenção foi pedir tempo, apoio para a comitiva de políticos que estavam aqui. Infelizmente não se confirmou a presença do ministro Fávaro, que é um dos autores do projeto de lei que cria a universidade do Araguaia e de Sinop, e também da deputada Rosa Neide que é autora do projeto daqui e de Rondonópolis, mas veio o deputado Barranco e uma comitiva. A audiência marcada para pedir tempo para que os projetos de lei não tramitem tão rapidamente como tramitou o do senador Wellington Fagundes (PL) no Senado. Nos pegou de surpresa durante a greve a provação do Projeto no Senado [PL 2.223/2021], e já desceu para a Câmara dos Deputados. Lá ainda não tem relator, até sexta-feira não tinha, quando eu fiz a última pesquisa. Mas a comunidade acadêmica precisa de tempo para amadurecer essas questões dentro da universidade”, afirmou.  

 

 

Segundo Spenthof, o grupo também foi autorizado a falar em nome dos colegas de Sinop, que também compõem a comissão e também se preocupam em fazer uma boa discussão e preparo, para definir se a comunidade quer uma UFMT multicampi, forte, com igualdade de condições como propõe a Reitoria que assumirá em alguns meses, ou se o caminho será a construção de universidades independentes.

 

“De toda forma, relatamos a eles o resultado da comissão formada pelo próprio Consua (Conselho de Campus do Araguaia), que concluiu que precisamos de mais tempo para amadurecimento e, ao mesmo tempo, já identificou alguns gargalos”, aponta o professor, elencando, ainda, outras atividades, como um seminário realizado no ano passado pela Adufmat-Ssind, que registrou, em sua maioria, manifestação contrárias à emancipação do campus. O que essas atividades demonstram é que tudo o que há, nesse sentido, são dúvidas.

 

Alguns dos gargalos apontas no relatório do Consua são a evasão e baixo ingresso, situação que atinge todas as universidades, inclusive privadas. No entanto, as universidades do interior do estado recebem muitos estudantes de fora e podem sofrer mais nesse sentido. Além disso, as instituições ainda vivem os efeitos da pandemia e continuam tendo problemas com a evasão. Além disso, há um número insuficiente de docentes e técnicos, problemas de estrutura, e dificuldades para atender aos critérios de internacionalização.

 

“O relatório conclui que neste momento nós não estamos atingindo nem mesmo o que se exige de uma instituição privada para alcançar o status de universidade. “Em qual situação estaríamos melhor, como UFMT ou como universidade autônoma? Não sabemos. Por isso estamos aqui na posição “nem nem”, nem favoráveis nem contrários. Nós estamos querendo tomar posição após discutir profundamente. Não estamos contra a UFMT, reconhecemos a legitimidade da sociedade para dizer o que quer, mas também a legitimidade da nossa participação, considerando a nossa presença aqui dentro, inclusive desenvolvendo estudos sobre esta questão”, defendeu Spenthof durante o debate.  

 

 

 

Para o professor Magno Silvestri, a preocupação é a construção de um projeto de universidade não só pautado nas demandas de setores econômicos, mas também sociais. “Nós estamos acompanhando essa fração do movimento docente, via sindicato, portanto, parte da sociedade civil organizada, que reivindica um aprofundamento no debate, tanto dos projetos e desmembramento quanto das possibilidades que já estão circulando acerca da expansão do campus do Araguaia. Por que digo isso? Nós queremos aprofundar o processo que viabiliza a construção de um projeto de universidade, e não fazer isso às cegas ou de forma que atenda interesses mais específicos. Nós nos embasamos aqui pela importância que tem a UFMT e o campus do Araguaia tem nesta região geográfica de Barra do Garças”, pontuou.

 

As premissas do projeto, segundo o docente, seriam trazer, junto ao aparato estrutural e orçamentário, visões que contemplem a sociodiversidade da região. “Esse é um debate caro a esta comitiva e está no centro do debate público atual: somos favoráveis ao curso de medicina, cursos e pesquisas do setor empresarial, do agronegócio, mas também é preciso ter atenção, maior sensibilidade, com propostas concretas, que dialoguem com a diversidade local. A nossa região tem mais de 40 territórios indígenas de diferentes povos, do Xingu ao Araguaia, mais de 100 assentamentos da Reforma Agrária. Então é estratégico para essas políticas preverem também avanços no campo social, aprofundar os investimentos no campo da Educação. Existem reivindicações históricas na nossa região dos povos do campo, indígenas, assentados, pequenos agricultores, agricultores familiares, comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e pescadores de toda a região para que a UFMT encampe um espaço, uma política concreta. Nós temos exemplos de sucesso em toda a Amazônia Legal, mas a UFMT ainda não caminhou nesse sentido. Não é à toa que o movimento docente organizado, e aqui presente, tem uma aliança com esses povos: nós recebemos essas reivindicações. Educação do campo, outro setor importante que pode trazer elementos para a gente aprofundar, com responsabilidade, a questão ambiental e o efetivo enfrentamento às mudanças climáticas, com políticas institucionais, com essa responsabilidade que a gente necessita hoje”, concluiu.      

 

Ao final de todas as intervenções, o deputador Valdir Barranco reconheceu a demanda e solicitou que os docentes formalizem a reivindicação. “Na democracia, é natural que possamos dialogar, que nada seja feito sem que haja consenso, que seja dialogado com a sociedade. Vocês deixaram bem claro que não são contrários, mas que é preciso ter certeza sobre o que é melhor para a universidade. Eu saio daqui com esse desafio, vou levar os encaminhamentos, aguardar a formalização do que vocês estão propondo, para que possa trabalhar junto com à professora Rosa Neide, ministro Fávaro, Emanuelzinho e outros, como a Gleisi e o ministro Camilo, que têm proximidade com a pauta. Está acolhida a sugestão, vamos trabalhar para que nada seja aprovado a fórceps, sem que haja uma discussão, porque se democraticamente houver esse convencimento, será melhor para todos. Inclusive com relação às questões orçamentárias e financeiras, que podem ser discutidas e realocadas para garantir o sucesso daquilo que for decidido. Fica aqui o meu comprometimento”, disse.   

 

Em nome da Adufmat-Ssind, a diretora Ana Paula Sacco intermediou a audiência.

 

  

 

Vale ressaltar que, devido a relevância do tema, a comissão de multicampia virou Grupo de Trabalho na última assembleia geral, realizada no dia 01/07, e continuará debatendo e acompanhando esta questão. Interessados em participar podem manifestar a disponibilidade à Adufmat-Ssind por meio do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

 

Quarta, 21 Fevereiro 2024 09:42

 

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Juacy da Silva*

Amigas e amigos, o carnaval acabou, agora é hora de “cairmos” na real, como se diz e, entre tantas noticias que atraem a atenção da opinião pública brasileira, como a fuga de dois detentos de uma prisão de segurança máxima em Mossoró, RN; o indiciamento do filho 04 de Bolsonaro por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica etc; o avanço das investigações sobre a tentativa de golpe de estado e atos contra o estado democrático de direito pelo governo anterior, que, mesmo tendo perdido as eleições, continuava tramando para não entregar o cargo a Lula, eleito democraticamente, temos um outro evento que está “mexendo” com as expectativas políticas e institucionais do Brasil, um ato político convocado pelo ex Presidente Bolsonaro, para “explicar” a sua versão e defender-se, bem como defender a democracia, a liberdade, a família e a Pátria.

Coisa estranha, se o mesmo e seu círculo imediato, dentre os quais diversos civis e militares e até um padre da Igreja Católica estão sendo investigados e alguns presos e até condenados, como partícipes de um possível golpe, que, se tivesse dado certo, iria inaugurar mais  um período de autoritarismo em nosso país.

Pois bem, em meio a tudo isso, ainda temos outros assuntos/temas importantes a refletir neste finalzinho de fevereiro e no  decorrer de março, quando em 31 do próximo mês ou 01 de Abril, estaremos nos lembrando do golpe militar de 1964, há 60 anos, que derrubou o Presidente João Goulart e durou nada menos do que 21 anos, com tudo o que a história nos “brinda” em termos de autoritarismo, violência política, tortura e coisas do ramo.

Lembro-me muito bem daqueles anos extremamente tumultuados entre a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de Agosto de 1961, a tentativa de um golpe militar para impedir a posse do Vice João Goulart, a imposição do parlamentarismo como “solução” negociada, a volta ao Presidencialismo, via plebiscito, as marchas da direita pela “ pátria, família, propriedade, liberdade”, contra a ameaça do comunismo. Parece até que a história se repete, como se diz “seja como farsa ou tragédia”. Eu estava nos últimos anos do ensino médio e o início do curso de sociologia e política, em São Paulo.

Voltando ao nosso calendário, em 20 de Fevereiro, próxima terça feira, temos dois assuntos para ocupar nossas reflexões: Dia Mundial da Justiça Social, comemorado pela ONU e suas diversas agências quando em todos os países diversas celebrações estarão ocorrendo, visando a construção de um mundo melhor, tendo como fundamento a Justiça Social, a equidade, uma melhor distribuição de renda, ações mais efetivas para acabar com a fome, com a pobreza, com o subemprego, com o desemprego, com a discriminação, a violência e a exclusão social.

Na mesma ocasião, também devemos voltar nossas atenções e reflexões para outro tema importante, pois também em 20 de fevereiro é o Dia Nacional de Combate `as drogas ilícitas e também uma outra droga “lícita” , esta útlima, que provoca o Alcoolismo, responsável por mais de 3,3 milhões de mortes anualmente no mundo, inclusive no Brasil, onde o alcoolismo e suas consequencias para a saúde e para a sociedade aumentam todos os anos.
Em 23 de Fevereiro, é o Dia Nacional do Movimento Municipalista Brasileiro e, tendo em vista que neste ano deveremos ter eleições municipais, este seria uma ótima oportunidade para voltarmos um pouco mais nossas atenções para refletirmos sobre a gestão pública de nossos municípios, avaliando se os atuais prefeitos , que podem ser reeleitos merecem nosso voto ou se os candidatos que aspiram ser prefeitos de nossas cidades tem competência técnica, liderança e, acima de tudo, ética no trato da “coisa pública”, da mesma forma refletirmos sobre o papel e a importância dos vereadores, que os mesmos sejam legisladores e fiscalizadores do poder executivo e não candidatos para usufruírem apenas das benesses que se originam das estruturas do poder.

Precisamos ter municípios fortes econômica e financeiramente, com gestão pública eficiente, transparente, eficaz e ética, sem roubalheira, sem corrupção, mas também municípios que busquem, através do planejamento e políticas públicas, principalmente socioambientais que promovam o bem estar e elevação do nível de vida da população e não apenas privilégios e mutretas para os donos do poder e seus apoiadores.

Em 01 de Março é dedicado ao Dia Mundial de Zero Discriminação, por isso, devemos retomar as discussões e reflexões sobre esta mancha que macula nossa imagem perante o mundo que ainda persiste em nosso país, seja discriminação de gênero, de cor, de condição de vida, de nível socioeconômico, de credo religioso ou quaisquer outras características.

Em 03 de Março é o Dia Mundial da vida selvagem, tema umbilicalmente vinculado a defesa da biodiversidade, `a ecologia integral, um marco significativo para o movimento ecológico/ambientalista mundial e brasileiro.

No dia seguinte, 04 de Março é o Dia Mundial da Obesidade, uma doença grave e não apenas uma questão estética, que avança ano após ano e coloca em risco a saúde e ceifa a vida de aproximadamente 5 milhões de pessoas anualmente no Mundo e no Brasil, segundo dados oficiais, 168 mil pessoas morrem a cada ano por causas associadas `a obesidade. Cabendo o destaque em relação ao crescimento dos índices e números de crianças e adolescentes que são diagnosticadas com obesidade infantil.

Diante desses números, constata-se que a obesidade é responsável por mais do que o dobro das mortes por homicídios e acidentes automobilísticos no Brasil todavia, a opinião pública fica muito mais alarmada diante das mortes violentas (acidentes de trânsito e assassinatos, incluindo feminicídios), do que por obesidade e suas consequências.

As próximas celebrações no início de março são: 05 – Dia Mundical da eficiência energética, que nos obriga a refletir sobre o aquecimento global, o uso dos combustiveis fósseis e a urgente necessidade de avançarmos de maneira mais rápida quanto ao uso de fontes alternativas e limpas como energia solar e energia eólica, o fim dos subsídios a essas fontes sujas de energia e, claro, um combate ao desperdício neste setor, impondo-se seu uso mais eficiente, racional, com mais parcimônia.

E, o grande marco celebrativo que é o DIA INTERNACIONAL DA MULHER, a ser celebrado no dia 08 de Março, quando devemos refletir sobre a importância das questões de gênero, prevenção e combate a todas as formas de violência, discriminação e tratamento desigual que as mulheres ainda desfrutam em nosso país, em todos os setores e cantos deste Brasil, incluide o grande desafio que é o combate e a prevenção da violência doméstica.
A partir do Dia Internacional da Mulher, temos diversos outros momentos para refletirmos e celebrarmos diversos temas de grande importância  e relevância para que possamos ter um país com justiça, equidade e solidariedade, consoante o Lema da Campanha da Fraterninade deste ano que nos exorta, como enfatiza o Papa Francisco, referindo-se a uma passagem do Evangelho em que Cristo disse “Vós sois todos, irmãos e irmãs”. Ai surge a grande indagação: Será?

Vamos refletir um pouco mais de forma crítica e profunda sobre a nossa realidade, nesses momentos e poderemos responder a esta grande indagação.


*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

Quinta, 08 Fevereiro 2024 11:19

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

A opinião pública já está saturada com tantos discursos, a grande maioria extremamente demagógicos, tanto por parte de governantes nos três Poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário) e nos três níveis de entes federativos (União, Estados e Municípios) e respectivas Empresas estatais, autarquias etc. Todos defendendo a democracia, o estado democrático de direito, o sistema republicano, a transparência pública, a ética na política, mas parece que esta ênfase é muito mais “da boca pra fora” do que uma defesa genuína da democracia como regime e sistema de governo derivado da vontade soberana do povo, longe das manipulações do “marketing” político e do caciquismo que ainda dominam a nossa vida política e partidária, enfim, nossas Instituições.

De forma semelhante também esses mesmos discursos fazem parte do dia-a-dia do mundo empresarial, que, de forma direta ou indireta, integram a chamada elite do/no poder ou o que também, as vezes, é dito “marajás da República”. Basta observarmos a composição dos respectivos poderes Legislativos e Executivo, compostos em sua grande maioria por homens brancos, empresários, deixando de fora as mulheres, negros, indígenas, pobres e trabalhadores, que representam a grande, imensa maioria do povo brasileiro. Tudo isso diante de um preceito constitucional (Constituição “cidadã”, de 1988) que “diz” “todo poder emana do povo....”.

Governantes eleitos, gestores públicos do alto escalão governamental, designados (nomeados) para funções importantes nas estruturas governamentais, por serem apoiadores ou seguidores dos integrantes da chamada classe política, acabam “misturando-se” com o mundo empresarial  e defendem, quase sempre, as mesmas pautas que atendem muito mais aos interesses corporativos da classe dominante (donos do capital), `as custas dos recursos carreados para os cofres públicos pelos contribuintes, consumidores, inclusive integrantes das classes média e dos trabalhadores das cidades e do campo, enquanto os subsídios, os “incentivos fiscais”, a sonegação consentida e apropriação indébita beneficiam os donos do poder e seus asseclas.

Todos sabemos que a definição das políticas públicas passa por um processo interativo entre os poderes e, em tese, deveriam atender aos interesses, as aspirações e `as necessidades das diversas camadas e setores da população, principalmente das grandes massas excluídas e que vivem ou sobrevivem na miséria, bem como também os chamados interesses e objetivos nacionais, que estão, teoricamente, pelo menos, acima dos interesses imediatos dos governantes de plantão.

Vivemos em um sistema republicano de governo e, também, teoricamente, em um “Estado Democrático, de Direito”, onde todos/todas as pessoas “deveriam ser iguais”, perante a Lei e também perante as políticas públicas, as estratégias, planos, programas e ações de governo.

Só que a realidade não é bem assim. Alguns setores e pessoas são “mais iguais” do que outros e outras, se assim não fosse, com certeza não teríamos grandes massas passando fome, vivendo na miséria, sendo discriminadas, excluídas, sendo vítimas de racismo estrutural, de diversas formas de preconceitos, vivendo e sobrevivendo em meio a uma violência generalizada, enquanto o PIB, a concentração de renda, de riqueza e de propriedade aumentam em ritmo muito maior do que o crescimento da população, mas com uma particularidade, os frutos desse crescimento econômico tem aumentado a concentração em “poucas mãos”.

É neste contexto que ocorrem as eleições, de dois em dois anos, alternando entre eleições municipais, como as que devem ocorrer em outubro deste ano de 2024 para prefeitos/prefeitas, vereadores/vereadoras, com as eleições gerais que foram realizadas em 2022 e novamente serão realizadas em 2026, quando são eleitos os “manda chuvas” da política nacional e estadual, onde quem manda realmente são os caciques políticos, verdadeiros donos dos partidos políticos, que mudam de lado ao bel prazer e segundo os interesses desses caciques, pouco importando as contradições ideológicas e alinhamentos anteriores e posteriores.

Um dos mais interessantes livros sobre a dinâmica política brasileira foi escrito por Victor Nunes Leal, intitulado “Coronelismo, Enxada e Voto – O município e o Regime Representativo no Brasil”, que, em primeira edição, foi publicado em Janeiro de 1949, retrata fielmente, com riqueza de dados e documentos históricos como “era” a dinâmica política e eleitoral, principalmente as eleições municipais e, também, as eleições gerais eram realizadas. Este livro pode ser “baixado” na internet gratuitamente, vale a pena ser lido para buscar alguns fios da meada da vida política e partidária atual.

O mandonismo dos latifundiários estava presente quando os mesmos, como chefões, chefes ou chefetes políticos, determinavam em quais candidatos seus empregados e moradores em suas terras deveriam votar, quando muitos analfabetos, semialfabetizados e atém mesmo “letrados”  ou até mesmo “eleitores” que já tinham morrido, deveriam obedecer `as ordens de seus patrões e senhores, como se o sistema escravocrata ainda não tivesse sido abolido há seis décadas, quando da publicação daquele livro.

Naquela época não existiam as urnas eletrônicas, tão criticadas pelo bolsonarismo, apenas cédulas ou o que eram chamados de “votos de papel”, mas com muita frequência havia roubo de urnas ou o “mapismo”, que acabavam mudando a “vontade” dos eleitores encabrestados pelos latifundiários, que também exerciam influência sobre a população urbana, principalmente nas pequenas e médias cidades, que eram as verdadeiras bases populacionais do Brasil de então.

Lá se vão 75 anos da publicação do Livro “Coronelismo, Enxada e Votos”, o Brasil mudou, com certeza, deixou de ser um país com imensa maioria da população analfabeta, rural e ou morando em pequenas vilas, cidades abandonadas, “perdidas” na imensidão deste país continental, que parece continuar um gigante “deitado eternamente em berço esplêndido”, aguardando sempre um futuro de bonança para todos que nunca chega.
Apenas para ilustrar em termos comparativos, em 1950 a população total do Brasil era de apenas 51,9 milhões e em 2022 chegou a 203,1 milhões, indicando um crescimento de 291,3%. A população rural em 1950 era de 33,2 milhões de habitantes ou 63,8% da população total e em 2022 era de apenas 12,0 milhões de pessoas ou 5,9% da população total. Isto demonstra que nesses 75 anos o Brasil deixou definitivamente de ser um país rural para se transformar em urbano, concentrando-se cada vez mais nas capitais e nas grandes regiões metropolitanas, teoricamente com mais liberdade para as pessoas, inclusive liberdade de escolhas políticas, mas isto nem sempre ocorre, como veremos logo mais.

Em 1950 o PIB brasileiro, que era medido em cruzeiros , mesmo tendo sido trocada a moeda inúmeras vezes, atualizado pelo nosso real, era de apenas 179,6 bilhões e em 2022 atingiu 10,1 trilhões, um crescimento de 56 vezes ou 5.600%.

O PIB per capita anual em 1950 era de (em termos de reais atualizados) 3.457,00 reais e em 2022 atingiu RS$53.365,00, indicando um crescimento de 15,4 vezes ou 1.540%, bem menos do que o crescimento do PIB, indicando que o Brasil mudou, mas a concentração de renda, riqueza e propriedade aumentou muito mais.

Esta realidade é indicada por alguns números recentes (2022/2023). O Brasil apesar de ser a 9ª Economia do Planeta, podendo chegar a 7ª dentro de mais alguns anos, em termos de renda per capita ocupamos 79ª posição; o atual Índice de Gini, que indica o nível de concentração de renda é de 52,9 e em 1950 era em torno de 60,0. Atualmente o Brasil tem  a maior concentração de renda entre as 10 maiores economias do planeta.

Em 1950, o analfabetismo era uma grande chaga social; na população de 15 anos e mais apenas 14,9 milhões de pessoas eram alfabetizadas e 15,4 milhões analfabetos, ou seja, o índice de analfabetismo era de 50,8% da população, tornando esta situação mais grave pelo fato de que as  crianças e adolescentes com menos de 15 anos, a grande maioria, principalmente na área rural, nas vilas e pequenas cidades não tinham acesso sequer `a chamada “escola primária”, alfabetização até as quatro primeiras séries.

Neste aspecto, combate ao analfabetismo avançamos bastante, mas o percentual de analfabetos na população brasileira com 15 anos e mais ainda é muito grande, quando comparados com os países do G-20, por exemplo. Segundo dados do IBGE do censo de 2022 o índice de analfabetismo ainda é de 5,6%. Todavia a diferença entre as Regiões Nordeste e Sul ainda é gritante, na primeira este índice é de 11,7% e na última apenas 2,9%.

Todavia continuamos a ostentar 33% de analfabetismo funcional e quase 100% de analfabetismo político, o que é um grande desafio nacional, inclusive para o fortalecimento da democracia (de verdade e não apenas conceitualmente).

Esses dados são importantes para compreendermos a dinâmica política-eleitoral, a configuração do poder, a definição das políticas públicas e como as elites dominantes, classe política irmanada com o empresariado, se instalam, apoderam-se das estruturas do poder para as utilizarem em proveito próprio, em detrimento dos interesses do povo.

Através da propaganda, do “marketing” político, dos conchavos, dos acertos nas cúpulas partidárias,  essas elites se apropriam também dos partidos políticos, que são as portas de entrada para a tomada do poder e suas estruturas, a  partir de onde o mandonismo local, estadual e nacional, o coronelismo moderno, tecnológico, o caciquismo continua sendo exercido.

As convenções partidárias cumprem apenas funções protocolares, para efeito das exigências da Legislação eleitoral e os requisitos do TSE, TRE, dos Juizados eleitorais locais, pois sobejamente sabemos que quem define candidatos para cargos majoritários são os “caciques políticos” ou as vezes apenas um “cacique”, seja o Presidente da República, geralmente o “cacique mór”,  um governador, um senador, um deputado estadual ou federal, um prefeito/prefeita, cabendo aos filiados quando das convenções apenas dizerem “amem”, “sim senhor”.

Diante disto a conclusão a que chegamos é que se não existe democracia partidária, mas sim um grande simulacro, como podemos esperar que a vida política e institucional do país tenha como primado a DEMOCRACIA?

A pergunta que sempre vem `a mente de quem consegue esmiuçar a dinâmica política brasileira é: Democracia, estado democrático de direito, regime republicando para quem? Para o povo, para as classes trabalhadores e média, os excluídos, os pobres? Ou para as elites dominantes de sempre, que em vários estados e municípios estão se tornando “familiocracias” em que esposas, esposos, filhos, filhos, parentes de integrantes da chamada classe política deixam como herança, além de muitos bens materiais também a garantia de que tais grupos continuarão abocanhando as estruturas do poder, pouco importa o número de partidos, seus programas ou suas ideologias?

Para finalizar gostaria de mencionar alguns fatos bem atuais que comprovam que quem manda nos partidos não são os filiados, mas sim seus donos, seus caciques. Coube ao Presidente Lula informar que estava “trazendo” de volta para o PT Marta Suplicy, a ex-senadora e ex-ministra de Dilma, para ser vice de Boulos (PSOL) na eleição da capital paulista, o maior colégio eleitoral do país, caberá `as convenções dos dois partidos apenas homologarem a chapa.

Em Cuiabá, podemos observar também este mandonismo em relação `a definição de candidatos a prefeito. O governador do Estado que já foi filiado ao antigo PPS (sucedâneo do partido comunista brasileiro), depois passou para o PSB (partido SOCIALISTA brasileiro) e atualmente é o “cacique mor” do União Brasil, sucedâneo do antigo ARENA/PDS/PFL, que teve suas origens no regime dos generais presidentes, pois bem caberá ao governador determinar quem será o candidato a prefeito de Cuiabá, “cozinhando” o atual presidente da Assembleia Legislativa e alguns outros deputados que o apoiam por um longo tempo.

Nesta mesma toada, segundo o Deputado Júlio Campos que ao lado de seu irmão Senador Jaime Campos, ambos ex-governadores e ex-prefeitos de Várzea Grande, caberá a eles definirem quem será o candidato a prefeito naquela cidade.

Outro exemplo do mandonismo da cúpula partidária está acontecendo no PT de Cuiabá, que, através de uma consulta “`as bases”,  definiu que o seu pré-candidato deveria ser o Deputado Estadual Lúdio Cabral, que trava uma luta interna ferrenha com a ex-deputada Rosa Neide.

Pois bem, segundo o Deputado Estadual Valdir Barranco, presidente estadual do PT, as tais prévias municipais que mobilizaram centenas de filiados não tem valor, são nulas e caberá à cúpula nacional do partido (PT) definir critérios e formas de escolha, o que, com certeza favorecerá a ex-deputada federal.

Esta forma de decidir quem será candidato a prefeito, a governador e a Presidente da República é uma realidade sempre atual que, ao invés de abrir espaços para a participação efetiva dos filiados e fortalecer a democracia interna dos partidos, apenas fortalece o caciquismo e o mandonismo, maculando profundamente tanto o conceito quanto `a prática da DEMOCRACIA.

Fala-se tanto em reformas, mas o que precisamos mesmo é de uma profunda reforma política e eleitoral para acabar com o caciquismo, com o oportunismo, com o personalismo, com a corrupção, com o abuso do poder econômico e com essas estruturas carcomidas que apenas facilitam a vida da cúpula partidária que sem nenhum pejo continua mamando nos fundos partidário e eleitoral, utilizando vários bilhões de reais em cada eleição, facilitando, inclusive o compadresco e a corrupção política e eleitoral.

Uma reforma desta natureza é apenas uma quimera , é como implorar que o vampiro cuide bem do banco de sangue ou que a raposa proteja o galinheiro!

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da PEI – Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Segunda, 08 Janeiro 2024 18:42

 

 

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Juacy da Silva*
 

Teoricamente vivemos em um país democrático ou como os donos do poder e os marajás da República tanto gostam de enfatizar, sob um “estado democrático de direito e republicano”, mas na realidade é vivemos em um país onde a Justiça social, a Justiça Ambiental e a Justiça intergeracional e a equidade estão muito distantes de serem realidades palpáveis na vida da grande maioria da população, onde 1% ou no máximo 5% das camadas mais abastadas abocanham mais de 50% da renda, da riqueza e das propriedades e mais de 50% da população vivem na miséria, enfrentando a fome, a insegurança alimentar, a violência, sem acesso a serviços públicos de qualidade, principalmente a saúde pública e a educação.

Para mim, isto não é democracia e nem pode continuar sendo defendida, precisamos de transformações mais profundas que incluam e não excluam as grandes massas na partilha da riqueza e do PIB brasileiro.

Hoje está fazendo um ano que uma turba ensandecida, objeto de manipulação ideológica, que para alguns analistas ao longo de quatro anos de Governo Bolsonaro, passou por uma verdadeira lavagem cerebral, destilando ódio e criticas mordazes, quase sempre através de ameaças e palavras chulas, ao Poder Judiciário, principalmente o STF e o TSE, bem como contra todos os partidos de esquerda, a quem, indistintamente eram considerados e vilipendiados como comunistas, inimigos do Brasil e do cristianismo, repetindo, faz um ano que aquela multidão avançou pela Praça dos Três Poderes em Brasília e promoveu uma grande baderna, destruindo o Patrimônio Público na sede do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF.

Se o clima em que ocorreu as eleições gerais, principalmente para Presidente da República, foi de um confronto não apenas eleitoral, mas fundamentalmente ideológico, místico-religioso, o mesmo, passado mais de um ano do segundo turno das eleições em que sagrou Lula como novo Presidente, ainda hoje este radicalismo está presente, com efeitos bastante nefastos na vida nacional.

Na semana passada Lula completou um ano, deste seu terceiro mandato e já está ensaiando a reeleição para a conquista de um quarto mandato nas eleições gerais de 2026, o que, se reeleito, lhe dará o título de mandatário mais longevo e também com mais mandatos conseguidos através de pleitos eleitorais democráticos e não pela via de Golpe de Estado como aconteceu com Getúlio Vargas e com os generais presidentes, cujo governo ditatorial durou mais de 20 anos.

Por iniciativa de Lula e com a anuência da cúpula do STF e de forma tênue por parte da Direção do Congresso Nacional, hoje haverá uma Sessão solene, um ATO PÚBLICO em Brasília e em diversos Estados, para celebrar a vitória da democracia ante a tentativa de golpe para destituir Lula da Presidência e praticamente dissolver o STF e também o TSE, alvos prediletos dos ataques diuturnos por Bolsonaro e seus fanáticos seguidores, muitos dos quais o consideravam e ainda o consideram um MITO, alguém enviado por Deus para salvar o Brasil das garras do comunismo, do satanismo e de tantas outras maluquices e besteiras que assacavam.

O ATO EM DEFESA DA DEMOCRACIA, parece que não vai contar com o apoio de boa parte dos governadores e parlamentares que, mesmo formalmente convidados pelo Presidente da República não irão a Brasília, alguns por serem ainda hoje fiéis seguidores de Bolsonaro e alinharem-se na extrema direita brasileira, e alguns outros que, mesmo pertencentes a vários partidos que integram a “base” do Governo Lula no Congresso, que tem milhares de cargos no primeiro, segundo e terceiro escalões do governo, estão temerosos de que suas presenças venham a contribuir para “engrossar” o caldo da narrativa da esquerda e influenciar nas eleições municipais deste ano, e, indiretamente, nas eleições gerais de 2026.

Esses governadores e outros políticos, como ou sem mandato, pertencem ao grupo dos “CAMALEÕES” da politica, agem de forma oportunista, ficam em cima do muro e estão sempre tirando proveito das polarizações, quando vendem seu apoio a preço de ouro.

Esses partidos estiveram ou estão no poder há praticamente 30 anos, direta ou indiretamente, e apoiaram os Governos FHC I e II; Lula I e Lula II; Dilma I e Dilma II, até que conseguiram derruba-la e continuaram aboletados na alta cúpula do país com o Governo Temer, depois com Bolsonaro e hoje estão novamente com Lula, sem o menor pejo ou vergonha de terem “servido” governos de esquerda, de centro ou de extrema direita.

Da mesma forma que a Baderna ou a Tentativa de Golpe de 08 de Janeiro de 2023 representam um desrespeito `a democracia, enfraquecendo-a, também este oportunismo político, que tem em sua base, as famosas emendas parlamentares, o Orçamento Secreto, a transformação da política em um enorme balcão de negócios, a falta  de transparência, a corrupção institucionalizada também destroem a democracia brasileira perante o povo e também perante os demais países.

As celebrações de hoje, 08 de Janeiro de 2024, demonstram que o Brasil continua tão divido quanto há um ano, quando da “tentativa de golpe” e a tendência é assim continuar a polarização ideológica que impossibilita a viabilidade de uma “terceira via”, beneficiando os extremos da política, do “nós contra eles”, tão nefastos a qualquer democracia, regime político ou forma de governo.
Neste contexto vale perguntarmos “qual a democracia que estamos defendendo”?

No caso brasileiro, uma democracia que facilita e perpetua a exclusão das grandes massas? A perpetuação da fome, do racismo estrutural, do desrespeito `as culturas tradicionais, o machismo, da violência em geral e todas as formas de violência e marginalização contra grupos específicos como os afrodescendentes, as mulheres, as pessoas deficientes, as crianças, adolescentes e idosos; um pais em que os Marajás da República, os donos do poder e seus apoiadores gozam de privilégios, mutretas, benesses e regalias, enquanto os trabalhadores recebem um salario mínimo de fome, e milhões vivem de migalhas distribuídas por políticas assistencialistas que apenas perpetuam a pobreza, a fome e a miséria e serem fundamentalmente como mecanismo de manipulação política e eleitoral?

Será que o povo, o povão entende o que é defesa da democracia? ou melhor, o que é democracia e qual ou quis as razões que deveriam defende-la?

Não podemos transformar a Defesa da Democracia em mero slogan, que se apaga diante da realidade que exclui milhões de pessoas, a grande maioria da população brasileira e deixar essas massas sendo manipuladas para a perpetuação das mesmas mazelas que há décadas, séculos tanto nos envergonham.

Defender a democracia para mim é definir e implementar políticas públicas que promovam transformações profundas nas estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais do Brasil, reduzir as desigualdades sociais, as desigualdades regionais, as desigualdades setoriais, promover reparação histórica `as populações que ao longo de séculos, como os afrodescendentes, os povos indígenas e outros grupos que sempre foram e continuam marginalizados.

Defender a democracia é acabar com os privilégios e benesses que favorecem uma parcela pequena dos integrantes da cúpula dos três poderes, tanto a nível nacional quanto nos Estados e Municípios e não apenas com discursos pomposos em gabinetes luxuosos, enquanto milhões de trabalhadores não tem renda e nem salário dignos, nem previdência, nem proteção social, enquanto os grandes grupos econômicos recebem bilhões e trilhões de dólares ou reais a título de renúncia fiscal, incentivos fiscais, sonegação consentida, facilitando cada vez mais a acumulação do capital em poucas mãos, em detrimento dos trabalhadores e das grandes massas despossuídas.

Defender a democracia é promover uma política ambiental/ecológica que garante de verdade a sustentabilidade e acabem com o desmatamento, a destruição da biodiversidade e a degradação dos rios e dos biomas brasileiros.

Enfim, creio que precisamos fazer uma reflexão mais profunda, mais crítica sobre que DEMOCRACIA TEMOS e qual a VERDADEIRA DEMOCRACIA QUE QUEREMOS, slogans não transformam a realidade, não revolucionam as estruturas e apenas atendem interesses momentâneos.

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral., Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Sexta, 24 Novembro 2023 11:27

 

 

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Juacy da Silva*

Análise/reflexão das últimas eleições na Argentina que indicou uma guinada do país para a extrema direita!

“Nunca é demais insistir que tudo está interligado. O tempo e o espaço não são independentes entre si; nem os próprios átomos ou as partículas subatômicas se podem considerar separadamente. Isto impede-nos de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida. Estamos incluídos nela, somos parte dela”.  Papa Francisco, Laudato Si 138 - 139

“Tudo está interligado como se fôssemos um, Tudo está interligado, nesta Casa Comum”. Letra da música com o mesmo nome, Cirneu Khum, inspirado nas palavras do Papa Francisco na Encíclica Laudato Si.

O Papa Francisco enfatiza, na perspectiva da Ecologia Integral, que existe uma interconexão entre todos os tipos de ecologia e, portanto, o que para o filósofo canadense Herbert Marshall Mcluhan foi conceituado como a Aldeia Global, para o Sumo Pontífice passou  a denominar-se de Casa Comum, que é o Planeta Terra, Gaia, Mãe natureza.

O conceito de Aldeia Global foi utilizado e desenvolvido por McLuhan em suas diversas obras como A Galáxia de Guttenberg (1962); Os meios de comunicação como extensão do Homem (1964) e Revolução na comunicação (1968). Vale a pena destacar que McLuhan foi o primeiro cientista social/filósofo a tratar sobre as influências da revolução tecnológicas com o surgimento dos computadores e das telecomunicações nas transformações sociais, econômicas, políticas, culturais, religiosas a nível dos países e também no contexto mundial, que conduziriam ao que ele passou a denominar de Aldeia Global nas relações mundiais, entre pessoas, empresas e governos e outras entidades. Não resta dúvida que foi um visionário.

A ideia de que realmente todas as dimensões da vida humana e da natureza fazem parte de um todo uno, indivisível não é recente e está presente, por exemplo, na concepção do teólogo católico, jesuíta, francês Pierre Theilhard de Chardin quando ele afirma que “convivemos com um mundo ou esfera constituída pela cultura e pelos conhecimentos”

Interessante é que em 1962, a Congregação para a Doutrina da Fé condenou vários dos escritos de Theilhard de Chardin, por considerá-las ambíguas e contendo erros em relação `a doutrina católica. Todavia, tanto o Papa Bento XVI um dos expoentes do conservadorismo católico quanto o Papa Francisco, considerado “progressista”, em seus pronunciamentos ou escritos direta ou indiretamente fazem comentários ou até emprestam parte de suas ideias Theilhard de Chardin e também de McLuhan, como esta da unidade no contexto de que “tudo está interligado nesta Casa Comum”.

Esta ideia não se restringe, como alguns imaginam apenas `a dimensão da ecologia integral, mas também nos aspectos geopolíticos, incluindo as dimensões econômica, política, social, militar, cultural, religiosa e nas comunicações, colocando em cheque até mesmo os conceitos de soberania nacional e de nacionalismo.

Afinal se tudo está interligado e participamos de uma Aldeia Global ou Casa Comum, não tem sentido as barreiras e fronteiras terrestres e marítimas. Essas são as bases para a configuração da Globalização, tanto enfatizado pela economia política neoliberal, inclusive com a mundialização dos aspectos monetários e financeiros, do surgimento da União Europeia com passaporte continental e moeda única (Euro), por exemplo.

Todavia, ao mesmo tempo em que o sistema econômico e financeiro prega e pratica a livre circulação de produtos (bens), serviços e capital; coloca barreiras intransponíveis para a livre circulação de pessoas e do fator trabalho. Vide exemplos dos muros, cercas eletrificadas que impedem a entrada de pessoas oriundas da miséria, pobreza e violência política que existem na América do Sul e Central, principalmente, impedindo essas massas migratórias entrarem nos EUA. Ou o sistema de “gueto” , verdadeiro campo de concentração, da mesma forma com cercas de arame farpado, muros e sistema de vigilância com câmeras, eletrificado e policiais armadas em que Israel aprisiona quase tres milhões de Palestinos e tantos outros exemplos de fronteiras entre paises que impedem os migrantes vindos da África fustigada pelas crises climática e pela violência dos conflitos e guerras internas tentem entrar na Europa.

Da mesma forma que o desmatamento e queimadas na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado brasileiro ou o uso de combustível pela frota de veículos nas grandes cidades brasileiras interferem no aquecimento global e na crise climática, também esses fenômenos globais, juntamente com a poluição urbana e industrial em decorrência do uso de combustíveis fósseis na Europa, na China, na Rússia, nos países árabes, na Índia, no Japão, nos EUA e outros países afetam o clima no Brasil e na América Latina em geral.

O mesmo também acontece com as várias guerras, como esta agressão absurda da Rússia contra a Ucrânia; de Israel contra os palestinos ou de várias guerras no Oriente Médio e na África afetam o comércio internacional e tem reflexos nos países produtores de “commodities”, gerando instabilidade e novos focos de conflitos.

É neste contexto de relações biunívocas (conceito matemático, mas que se aplica também `as relações políticas internas e geopolíticas internacionais) que precisamos entender o resultado das recentes eleições na Argentina em que o Peronismo foi derrotado e em seu lugar surgiu uma nova força conservadora de extrema direita ancorada na figura do economista radical libertário ultra liberal Javier Milei.

Suas principais propostas, dentre várias que apresentou de maneira formal ou informal desde 2020, quando, juntamente com a agora sua Vice Presidente Victória Villaruel  foram eleitos para o Parlamento Argentino são: fechamento do Banco Central, dolarizar a economia; reduzir radicalmente os gastos públicos, reformar a legislação trabalhista e previdenciária (retirando direitos dos trabalhadores e servidores públicos), privatizar tudo (Estatais) o que está nas “mãos do Estado” e pode ser conduzido de maneira mais produtiva e mais eficiente pela iniciativa privada; romper com o Mercosul; redução drástica dos gastos públicos, reforma do aparelho do Estado, acabando com 10 dos 18 ministérios existentes, controlar de forma drástica o processo inflacionário, para que em dois anos a Argentina esteja em níveis da média da inflação internacional (reduzir os atuais índices de mais de 140% ao ano para a média de 4,9% ao ano a partir de 2024).

Em que pese a vitória significativa do presidente eleito, ele não terá base parlamentar suficiente para promover a quase totalidade das mudanças a que se propõe. Sua base no Parlamento Argentino será extremamente frágil. Seu partido, A Liberdade Avança terá apenas 38 deputados (14,8%)  em uma Câmara Federal com 257 membros e 8 Senadores (11,1%) em um total de 72 daquela Casa Legislativa.

Mesmo que conte com o apoio, negociado, já que a candidata que ficou em terceiro lugar e o apoiou no segundo turno, durante a campanha foi uma severa crítica de Milei, cujas ideias chegou a classificar de impraticáveis e estapafúrdias.

O Partido Juntos pela Mudança de Patrícia, candidata de direita e que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 23,8% dos votos, conseguiu eleger uma expressiva bancada de 94 deputados (36,6%) e 24 (33,3%) senadores, mesmo assim não terá maioria confortável nas votações que exigirem um quórum maior.

Ou seja, somados os parlamentares que foram eleitos pelos dois partidos que apoiaram Milei no segundo turno, a configuração indica que a base do novo Presidente no Congresso nacional será de 51,4% na Câmara e 44,4% no Senado; como o apoio parlamentar do “Juntos pela mudança” não será jamais automática, tendo em vista as pretensões futuras de Patrícia Bulrich, com certeza o novo governo enfrentará muita oposição no Congresso em relação `a efetivação de suas propostas.

Além desses problemas políticos, econômicos e sociais, principalmente com os elevados índices de pobreza, de desemprego, de fome, de insatisfação social são muito grandes, o alinhamento ideológico de Milei com a extrema direita internacional, principalmente as existentes nos EUA, Israel e outros países governados por partidos de extrema direita na Europa e suas criticas ferozes contra a China, por ser um país comunista, e contra o Brasil, principalmente contra o Governo Lula, que são, respectivamente o terceiro e o maior  parceiro comercial da Argentina, além das críticas e promessa de abandonar o Mercosul, no momento em que as negociações do bloco estão bem avançadas com a União Europeia, poderão trazer sérias consquências para a economia do país vizinho, inviabilizando o Governo Milei, ante a euforia da extrema direita mundial, inclusive a brasileira com sua chegada ao poder na terceira maior economia da América Latina, atrás apenas do Brasil e do México.

Parece que Milei ainda não entendeu que nós e todos os países fazem parte da Casa Comum ou da Aldeia Global, a política interna de um país precisa e deve estar em consonância com a política externa e considerar quais os parâmetros e forças que fazem parte do jogo do poder no contexto geopolítico mundial.

Muitos estudiosos da ciência política e das relações internacionais costumam dizer que em matéria geopolítica internacional não pode haver alinhamento ideológico automático, como ocorria nos tempos da guerra fria, afinal, os países, independentes das ideologias de seus governos não são amigos ou apenas inimigos, mas fundamentalmente, cada país procura conquistar e manter seus interesses e objetivos nacionais na arena internacional e projetar poder.

Criar problemas nas relações internacionais em decorrência de alinhamento ideológico automático não garante que a definição de políticas internas com um viés extremamente ideológico possam ter a garantia de êxito.

Mesmo assim, os adeptos das ideias nazifacistas, de extrema direita em diversos países, inclusive no Brasil e em diversos outros países ficaram eufóricos com a vitória de Milei e já imaginam que isto possa também acontecer em breve nos EUA, no Brasil e diversos outros países.

Se suas ideias e propostas terão aplicabilidade ou conseguirão ser aprovadas pelo Parlamento e pela população Argentina, só os próximos quatro anos vão nos oferecer a resposta! É esperar e pagar pra ver, como se diz!

*Juacy da Silva, professor titular, aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Terça, 21 Novembro 2023 10:42

Por Vicente M. Ávila*

 

I. O BOLSONARISTA

Pior que bolsonarista, só Bolsonaro. Em 1881, começou o voto direto no Brasil (Lei Saraiva). Em 2022 (mais de um século depois), grande parte da juventude foi induzida pelo celerado Bolsonaro a recusar a aceitação do resultado das urnas. No dia 08/01/2023, ocorreu uma vergonhosa tentativa de golpe, foram invadidos os Palácios do Governo, do Legislativo e do Judiciário. Houveram práticas de vandalismo, quebra-quebra e roubo.

II. O QUE FAZER?

Estou propondo a criação de uma educação paralela que além de ensinar a ler e escrever, ensine também a viver.

III. CHOQUES DE ALEGRIA E ESPERANÇA

A juventude brasileira está sem uma referência existencial segura. Em consequência, fica exposta a pregadores deletérios e políticos sem escrúpulo.

IV. FERRAMENTAS

As ferramentas para uma revolução educacional/cultural e política já existem, no teatro, no humanismo e em bons programas, tais como SIMININA de Cuiabá, o qual leva alimentos, diversões e esclarecimentos para centenas de crianças. Programas similares que levem alegria e significado às crianças, tirando-as do ZERO À ESQUERDA devem ser implantados em todos os municípios brasileiros.

V. COMBATE À VIOLÊNCIA (NAS ORIGENS E NAS PONTAS)

Bolsonaro, através dos CAC’s, armou grande parte da população. Apesar dos esforços do governo Lula (e do Ministro da Justiça) a segurança pública do Brasil ainda está fora de controle. Se a gente ainda quiser ver notícias de crimes ainda mais hediondos, basta mudar de canal. O combate à violência deve ser feito antes e depois (na origem e nas pontas). Especialistas devem visitar países onde a violência esteja relativamente controlada e trazerem propostas de paz.

VI. DE BEM COM A VIDA

A revolução aqui proposta deve levar à construção de uma sociedade onde o jovem goste de si mesmo e da vida. A segurança é maravilhosa, deve ser conquistada com a união e reconstrução.

 

 

Abraço!

*Vicente M. Ávila, professor de Economia Política da UFMT (aposentado)

Cuiabá, 15/11/2023

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Agradecimento: Agradeço ao meu neto André pela digitação

Sexta, 10 Novembro 2023 16:09

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Texto enviado pelo Prof. Vicente Machado de Avila*
 

 

I - LULA/BRASIL/MUNDO

 Lula é presidente do Brasil, do MERCOSUL, do G20, foi presidente do Conselho de Segurança da ONU (*) [1]. E conseguiu nomear Dilma presidenta do BRICS. São fatos concretos e não caixinha de segredos. Mas os Bolsonaristas só descobriram que ele tem 9 (nove)Dedos.

  1. AS REVOLUÇÕES DE 1989

Foi quebrado o protagonismo Direita-Esquerda e extinta a URSS; de lá para cá surgiram novas forças protagonistas: O Neoliberalismo e os governos populares- Democráticos e inclusivos. Dois países se destacam nessa nova realidade o Brasil e a China.
No segundo mandato de Lula 36(trinta e seis) milhão da miséria adicionou um número significativo à classe média, popularizou as universidades e criou o FOME ZERO.
A china criou uma democracia (interna) tirou 800 (oitocentos) milhões da miséria, tornou-se o segundo PIB do planeta.
III - ADEUS FORÇAS DO PASSADO!
TRUMP nos EUA e Bolsonaro no Brasil tentam ressuscitar as forças do passado. Ambos foram derrotados e invadiram os palácios governamentais. Com Certeza são forças vencidas pelas revoluções de 1989. “FORA TRUMP E BOLSONARO”! Serão as palavras de ordem do presente e do futuro próximo. Trump está sendo processado por diversos crimes políticos e comuns; Bolsonaro e outros 60 (sessenta) criminosos estão respondendo processos.   
IV- IDEIAS CENTRAIS
O  Neoliberalismo tem como principal idéia a quebra das fronteiras nacionais e a livre circulação do Capital.
Restrições das forças de trabalho, por exemplo, a recusa de acolher navios oriundos de países periféricos (principalmente africanos); patrulhamento/ da fronteira México- EUA. O campo popular inclusivo defende ideais humanitários como o FOME ZERO e o cessar fogo em guerras a exemplo do conflito Israel Gaza.
O acolhimento de Haitianos e Venezuelanos entre outros a sociedade Brasileira.

 

Aquele Abraço!
*Professor Vicente Machado Ávila
Aposentado em Economia Política da UFMT
Agradecimento: Agradeço à Rhaissa Lobo

 


[1] * Lula deixou o cargo de presidente do Conselho de Segurança da ONU tendo em vista que as decisões desse não estão sendo respeitadas.