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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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A pedido do professor Geraldo Lúcio Diniz, do Departamento de Matemática da UFMT/Cuiabá, reproduzimos a Nota Oficial – EPICOVID 19: uma pesquisa para salvar vidas.
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Depto de Psicologia
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Talvez agora, ouso eu imaginar, não seja mais tão difícil de compreender quão sofrido é ficar limitado a um único espaço quando nos vemos obrigadas a ficar em casa e/ou limitar nossas saídas. Somada às nossas próprias experiências com o período necessário desta quarentena, outro fato que denuncia os prejuízos e sofrimento psíquico que o isolamento causa é o volume das chamadas "lives" sobre Saúde Mental e Quarentena, bem como, o aumento de oferta de acolhimento psicológico on-line. Então, devemos perguntar: Por que uma prática de isolamento social é defendida como tratamento para o sofrimento psíquico?
A respostas não é simples, mas, longe de querer ser simplista, o que podemos dizer, baseada numa análise histórica das ciências médicas, psiquiátricas e dos manicômios em nosso país é que a lógica angular dessa prática foi a Eugenia. Essa mesma palavra que andou circulando nas redes sociais, quando o médico Lichtenstein diretor técnico do Hospital das Clínicas denuncia essa mesma lógica por trás das ações anti-quarentena.
Grasso modo, de acordo com o dicionário da língua portuguesa: Eugenia se caracteriza por uma técnica que visa à seleção nas coletividade humanas baseada na genética. Na prática, foi essa técnica utilizada por Hitler para produzir a raça pura ariana e é com este espírito nazista que as ideias eugênicas entram no Brasil, com o objetivo de embranquecer a população, castrar doentes mentais, eliminar os "depravados" e produzir, assim, seres humanos que chegassem perto da ideia de raça pura e superior, essencialmente branca baseada na estética européia, em suma, no ethos burguês.
Portanto, a Luta Antimanicomial é e deve ser, uma luta anti-racista, num contexto como o do Estado de MT, por exemplo, onde a grande maioria da população dos hospitais psiquiátricos é negra. Não por pura coincidência histórica, o primeiro manicômio no Brasil data de 1852, quando começam a ganhar força os movimentos abolicionista. Sob a falácia do cuidado, os manicômios se tornariam, então e até hoje, mais uma forma de aprisionamento do povo preto.
Contudo, compreendo o processo saúde e doença como fruto de múltiplas determinações e diretamente influenciada pelas condições do meio, objetivas e materiais e por isso, também não se trata aqui de negar que a população negra está submetida, em sua maioria, a condições que serão marcadores determinantes no processo de sofrimento psíquico e devem dispor de condições dignas de atenção à sua saúde, consideradas suas particularidades.. São condições objetivas e materiais, por exemplo, quando no meio desse período de quarentena a população do Complexo do Alemão no RJ é surpreendida com uma chacina do BOPE, onde 13 pessoas foram assassinadas, moradores do complexo tiveram seus carros destruídos pelo "caveirão" e as suas casas marcadas de bala, violência e desespero. Onde, sob orientação de isolamento social, famílias vizinhas se viram obrigada a se aglomerarem juntas em único cômodo pra se protegerem das "balas perdidas".
A luta Antimanicomial, não tem a ver só a ver com o método de "tratamento" psiquiátrico, ela está relacionada com as entranhas de uma sociedade construída sobre opressões, ela é combate, enfrentamento dessas opressões. Quando a jornalista Daniela Arbex relata no livro "O Holocausto Brasileira" a realidade do manicômio de Barbacena-MG, ela conta histórias de mulheres que foram violentadas dentro e fora do manicômio. As que foram violentadas fora, estavam lá justamente pelas consequências da violência, adolescentes que ficaram grávidas em estupros, mulheres cujos maridos as internava mesmo sem laudo médico… As que foram violentadas dentro, das inúmeras violações que sofreram, a sexual e o roubo de seus bebês (frutos da violência sofrida) gerou um "comércio" de adoções. Por isso, a luta Antimanicomial deve ser uma luta contra o patriarcado e o machismo.
Machismo que historicamente tratou as psicopatologias como uma doença feminina, a doença que vem do útero - Histérica! Que se popularizou no vocabulário cotidiano como forma de deslegitimar e desqualificar o discurso de uma mulher, mas também como forma de desumanizar e desvincular do machismo estrutural de nossa sociedade o ato de violência sexual frequentemente cometida por homens.
No esteio dessa vulgarização do sofrimento psíquico, nas interpretações esotéricas e mágicas dos fenômenos psíquicos, nas romantizações da loucura ou nas soluções simplistas para cuidar da saúde mental instaura-se um jogo perverso onde o misto de vontade de ajudar ao próximo movido pela caridade cristã e a banalização do sofrimento sob a ditadura da felicidade individualizam e, culpabilizam apenas o sujeito por seu adoecimento seja por sua constituição genética seja por sua falta de fé e positividade. E mais, deslegitima-se o processo de acúmulo histórico de construção do conhecimento sobre este fenômenos, este fazer científico que desenvolve um conjunto técnico-operativo para tratar pessoa em sofrimento psíquico que prescinda do manicômio. Esta realidade já deixou, em algumas regiões do país, de ser uma utopia a ser alcançada, para se transformar em ações concretas que ao longo dos últimos 20 anos vêm demonstrando sua eficácia, e que são apoiadas em um referencial que é técnico, construído também a partir da prática de profissionais que lidam cotidianamente com pessoas em sofrimento psíquico. O modelo de atenção psicossocial emplementado no Brasil é hoje uma das principais referências mundiais. Esta prática em Saúde Mental se torna referência porque suas ações se demonstram efetivas na atenção às pessoas em sofrimento psíquico e seus familiares.
Desconsiderar todo esse acúmulo de experiências e conhecimento é, em última instância, acobertar o quão desumanizante é a forma de viver em uma sociedade onde eu, você, nossa força de trabalho, nossa saúde são só mais uma mercadoria. Onde se enxerga no adoecimento um mercado a ser explorado e extraído lucro. A psiquiatria é repleta de "cloroquinas" e, os anseios de uma pílula mágica que leve todo mal como que por um milagre ou decreto, já são nossos velhos e conhecidos fantasmas.
Muitos me dizem louca por ousar sonhar, imaginar, pesquisar e agir para construir uma sociedade sem manicômios e uma outra forma de sociabilidade, mas irracionalista, pq não vou chamar de loucura, é quem me diz que é normal e naturaliza a sociedade do fetiche da mercadoria.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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O título deste artigo dialoga com a expressão “terrivelmente evangélico/cristão”, enunciada por Bolsonaro por conta de indicação que fará, em novembro, de um juiz ao Supremo Tribunal Federal.
Quando o presidente verbalizou a expressão acima, várias análises surgiram, como a de Reinaldo Azevedo que, em seu site (10/07/2019), registrou que “Bolsonaro tinha muitos advérbios para modificar o adjetivo "evangélico"; e citou “alguns que integram o paradigma ligado à força e à convicção: ‘profundamente’, ‘convictamente’, ‘serenamente’, ‘inquestionavelmente’ e, até, sob certo sentido, ‘generosamente’...”
Na semântica, “terrivelmente” liga-se a: “aterrorizante, amedrontador, angustiante, apavorante, arrepiante, assombroso, assustador, atemorizador, aterrorizador, atroz, espantoso, hediondo, horrível, intimidador, medonho, pavoroso, temeroso, temível, terrificante, terrífico, torvo...”; ou seja, a tudo que um evangélico/cristão não deveria ser, pelo menos não, na perspectiva do Novo Testamento (NT).
Em que pese “terrivelmente” ligar-se a circunstâncias nada agradáveis, ou justamente por isso, Bolsonaro mantém coerência com sua forma de ser-e-estar. Quando ele utiliza esse advérbio, o faz imerso ao mar de sangue que escorre de incontáveis páginas do Velho Testamento. Estas, se espremidas, para o delírio de mentes belicosas, sangram mais do que as de jornais sensacionalistas; tudo porque, naquelas páginas, predomina a máxima do “dente por dente, olho por olho”, bem o oposto do que a Cristo é imputado nas páginas dos evangelistas do NT.
Mas por que falar disso?
De saída, pelo escárnio do pastor Waldemiro Santigo, que está vendendo “feijões que curam coronavírus”. Se isso não fosse trágico, seria digno de riso. Santiago pede às TVs que realizem reportagens sobre o “milagre do feijão”.
Contra essa aberração, o Ministério Público Federal pediu investigação, pois o referido pastor sugere R$ 1 mil dos fiéis pelas sementes. Nisso, o órgão vê indícios de estelionato cometido por Santiago, que “praticamente debocha (aliás, há décadas) da boa-fé de seus seguidores” ao vender a falsa cura e ainda estampar nos feijões o slogan da Igreja Mundial do Poder de Deus:
“Não se pode, a título de liberdade religiosa, permitir que indivíduos inescrupulosos ludibriem vítimas vulneráveis e firam a fé pública... valendo-se da crendice alheia, mediante sofisticados esquemas publicitários, psicológicos e tecnológicos”, diz um procurador do MPF.
Outro motivo para falar disso é complexo e surge por conta das considerações acima; ele recai no dilema de procurarmos saber quem somos como brasileiros: cordiais, como idealizou Sérgio Buarque? Solidários? Felizes? Macunaímicos, à lá Mário de Andrade, ou seja, sem nenhum caráter? Ou simplesmente “...batuqueiro, bragulheiro, baderneiro, bandoleiro...”, como cantou Gonzaguinha?
Somos um pouco disso tudo e muito mais, mas com nítida perversidade arraigada em muitos de nós, principalmente nos que seguem determinados mitos, religiosos e/ou políticos.
Com respeito às divergências, e deixando de lado o empresariado da fé, que nada de braçada na onda da ignorância vigente, mas um ser humano não perceber manifestações odiosas, preconceituosas, perversas vindas do “mito” político da extrema direita brasileira é ser um seu igual: é questão de espelho. Pior: conforme pesquisas, há cerca de 30% desse tipo.
Portanto, o brasileiro, na proporção da belicosa cristandade de muitos, é também “terrivelmente” cruel.
E tudo em “nome do Pai”. Ai se não fosse...
“O reitor concordou com a proposta e se comprometeu a chamar um CONSUNI [Conselho Universitário] para o dia 20/05, para discutir e operacionalizar o plano”, comemorou o diretor geral da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind), Aldi Nestor de Souza. A afirmação se referia ao resultado da reunião virtual realizada entre os representantes da comunidade acadêmica e o reitor, Evandro Soares, na quarta-feira, 13/05, na qual Adufmat-Ssind, Sindicato dos Técnico-administrativos (Sintuf-MT) e Diretório Central dos Estudantes (DCE) apresentaram um plano de atuação para a universidade durante a pandemia.
As propostas apresentadas no documento intitulado “Por uma Universidade Pública, Gratuita e a Serviço do Brasil”, protocolado via ofício no dia 30/04/20, são acompanhadas por uma breve análise de conjuntura, e se concentram em quatro pontos: manutenção da suspensão das aulas; construção de um plano estratégico de enfrentamento à Covid-19 por meio da Pesquisa e da Extensão; adesão voluntária de pesquisadores, professores, técnicos administrativos e estudantes ao plano estratégico; e criação de uma comissão para coordenar as ações do plano estratégico.
As entidades já haviam apresentado publicamente o plano (leia aqui), e reivindicado uma reunião com a Reitoria para antes do dia 06/05, quando o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) debateria o funcionamento da universidade durante a pandemia. “A ideia era se antecipar a proposta institucional de discutir Ensino à Distância (EaD) nas unidades e, em vez disso, discutir a construção do plano estratégico”, explicou Souza.
Apesar da demora para atender as entidades, a sinalização da Reitoria na reunião de quarta-feira é vista com bons olhos pela comunidade acadêmica, que espera seguir os passos de outras instituições de ensino superior que já atuam fortemente no combate à pandemia e auxílio efetivo à população.
Confira abaixo a íntegra do documento entregue à Reitoria com as propostas da Adufmat-Ssind, Sintuf-MT e DCE:
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
O novo coronavírus representa uma ameaça grave para as comunidades indígenas, que há mais de 500 anos sofrem com invasões em suas terras, pandemias e dizimação de seus povos.
De acordo com dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), mais de 300 indígenas estão infectados pela Covid-19. Os mesmos dados apontam para 77 mortes em mais de 34 etnias do Brasil. Porém, há denúncias de que o órgão não estaria contabilizando indígenas que habitam áreas urbanas, o que aprofunda a subnotificação dos casos de Covid-19 nessa parcela da população.
Em meio a tudo isso, está a Medida Provisória (MP) 910, que tem a finalidade de regularizar terras ocupadas de forma irregular em todo país, beneficiando grileiros, entre outros. A medida estava na pauta de votação da Câmara dos Deputados nessa quarta-feira (13), mas em acordo entre parlamentares foi retirada de pauta e deve voltar ao Congresso Nacional na forma de projeto de lei nas próximas semanas. A MP 910 perde validade em 19 de maio.
Para entender como a Covid-19 está presente nas aldeias indígenas e o que deve ser feito para evitar a devastação do território, o ANDES-SN conversou com Gilderlan Rodrigues, que há mais de dois anos é coordenador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) do Maranhão.
ANDES-SN: Diversos casos de contaminação pelo novo coronavírus entre indígenas já foram detectados. Como o isolamento pode ser feito, visto que nas aldeias, as malocas não têm divisórias e são compartilhadas por várias famílias?
Gilderlan Rodrigues: Por se tratarem de espaços comunitários e coletivos, é bem difícil colocar em prática o distanciamento social nas comunidades. As relações entre famílias e comunidades são frequentes e fortes, mas não é aí que está o problema. O que deve ser feito, nesse sentido, é aumentar a proteção dos territórios indígenas. Seja para conter a chegada do vírus ou para conter a presença de madeireiros ou caçadores que podem levar o vírus para as aldeias. Então, em poucas palavras, mais do que nunca os territórios indígenas deveriam estar preservados e isolados. Somente dessa forma seríamos capazes de mantê-los seguros e salvos.
ANDES-SN: Caso a pandemia se dissemine entre os indígenas, como o poder público deveria se comportar em relação ao acesso e isolamento dessas comunidades, em especial as que estão em locais de difícil contato e em situação de vulnerabilidade social, econômica e de saúde?
GR: Se isso acontecer, as autoridades devem assegurar meios de transporte que possibilitem a chegada de profissionais da saúde dentro desses lugares. Esses profissionais também devem se direcionar aos territórios com a máxima proteção individual possível e testes rápidos para Covid-19 devem ser feitos. Dessa forma, será possível permitir que indígenas suspeitos de contaminação ou infectados possam permanecer em quarentena durante o período necessário ou que sejam encaminhados a centros hospitalares de regiões próximas, caso necessário. Além disso, o governo deve garantir o mínimo de sustento, uma vez que essas famílias, estando em quarentena, não vão conseguir ir às roças, ir à cidade ou mesmo vender seus artesanatos. É preciso que exista um acolhimento por parte dos órgãos responsáveis para que os demais membros das famílias não sejam afetados. Outro ponto de atenção é a realização de estudos sobre as distâncias dos territórios, meio de transporte para locomoção dos profissionais da saúde e indígenas, entre outros. No Maranhão, por exemplo, existe a aldeia Juriti e o acesso até lá é extremamente difícil. Sem estradas, a única forma de chegar ao local é através de barcos. Se alguém for infectado, testá-lo e direcioná-lo para a quarentena com agilidade poderá diminuir o risco de contaminação dos outros da aldeia. Sabemos que o pico desse vírus está muito na sociedade não indígena e é por este motivo que precisamos estar preparados para que as comunidades se mantenham isoladas.
ANDES-SN: Quais ações emergenciais, de prevenção, que órgãos e entes públicos precisariam fazer para evitar a disseminação da doença entre os povos indígenas?
GR: Acredito que um plano de proteção dos territórios de atuação por parte da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) deva ser idealizado. Esse plano ajudaria a viabilizar materiais básicos como álcool gel, sabão e até alimentação para evitar que os indígenas se dirijam para as cidades que estão contaminadas. Por outro lado, a Funai deve agir em cooperação para proteção de todos os territórios. Os madeireiros continuam entrando, praticando ações ilegais e se não houver proteção dos territórios pelo órgão responsável, corremos riscos. Os profissionais de saúde, que atuam nos territórios, também devem estar preparados para despertar os indígenas para o momento que estamos vivendo. Somente assim iremos evitar um contágio em massa nos povos indígenas.
ANDES-SN: Os povos indígenas há mais de 500 anos sofrem com as invasões de suas terras, pandemias e dizimação da população. Além disso, desde 2015 viram a paralisação nos processos de demarcação de suas terras e são ameaçados pelo atual governo, que impõe uma política de perseguição. Como você analisa mais esse ataque e qual cenário poderá se desenhar durante e após a pandemia?
GR: No Brasil, os povos indígenas são vítimas da retirada de território há mais de 500 anos. Muitos tiveram que sair por ações violentas de fazendeiros e garimpeiros e outros foram dizimados por vários tipos de doenças disseminadas em seus territórios. Isso levou à extinção de muitos povos. Os que continuaram vivos, mesmo sofrendo essas violências, retomaram a demarcação de seus territórios antes usurpados. Há uma luta de recuperação dos territórios sagrados em todo o país e é isso que possibilita que o povo indígena ainda resista. Infelizmente, os ataques contra a demarcação das terras se acentuaram no atual governo, como, por exemplo, com a Medida Provisória 910, que beneficia ruralistas, mineradores, caçadores com espaços do povo indígena. Esse contexto de ataques continua mesmo no processo de pandemia e tem como finalidade a exploração e entrega [de territórios indígenas] para os latifúndios. Os povos continuam lutando e também denunciando invasões embora saibamos que o atual governo não tem dado a devida importância para os territórios indígenas. O atual governo mantém a política de exploração da Amazônia e aí está um risco muito grande para todos os povos brasileiros.
Fonte: ANDES-SN
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Por Roberto de Barros Freire*
Bolsonaro não se cansa de afirmar que o povo está com ele. Será? Estatisticamente isso não é verdadeiro. Seus seguidores são no máximo 30% da população, e com tendência crescente de baixa. Cada vez mais as pessoas estão percebendo o despreparo do governo. Se teve mais eleitores, esses hoje estão arrependidos, e abandonando o presidente.
70% não concordam com ele, nem confiam, nem acreditam, nem o querem. Há meia dúzia de gatos pingados, financiados sabe-se lá por quem, que vão adulá-lo nos seus passeios pela capital, atrapalhando a vida do cidadão, ameaçando a todos, a imprensa, ao STF, ao Congresso, e ele acha que essa parcela insignificante é o povo; é parte, e a parte ruim da população, que é uma pequeníssima parte.
Golpistas, terroristas, pessoas que agem contra a lei, e que representam uma ameaça às instituições republicanas e ao cidadão comum. Clamam por um golpe de estado, por uma quartelada, pela morte da esquerda, dos juízes, dos deputados e senadores. Esse é o povo do Bolsonaro. A maior parte da população está em casa, distante dessas atividades antidemocráticas, antirrepublicanas, atrasadas, contra a ciência e o bom senso.
Esses maus cidadãos sequestraram a bandeira e as cores nacionais, como Collor em idos passado também o fez. Como os militares também fizeram na ditadura. Na verdade, envergonham a nação perante o mundo civilizado, como Collor e os militares fizeram no passado, utilizando um símbolo para aparentarem algum tipo de patriotismo que desconhecem o verdadeiro sentido. Patriotismo não é carregar bandeiras ou vestir verde e amarelo, isso é coisa de torcedor da seleção. Patriotismo é atuar para a melhoria das instituições nacionais, não contra elas. Esses supostos patriotas levam também bandeiras de Israel e dos EUA, contra a vontade de ambos, que se sentem ofendidos de serem associados com essas manifestações antidemocráticas, atrasadas. Os israelenses não se cansam de reclamar de Bolsonaro e do Ernesto Araújo de menosprezarem o nazismo, de falarem mentiras sobre ele, associando-o a atividades presentes. De um lado, querem ampliar a maldade de setores sociais atuais, falsamente, e por outro lado desconhecem a especificidade do nazismo, cuja maldade é algo sui generis na história humana, movimento só visto uma vez na história, e esperamos que pela última vez, ainda que tenha tolos seguidores até hoje, principalmente entre bolsonaristas. Lembram do antigo secretário de cultura plagiando nazistas?
Enfim, nada sabem sobre patriotismo, nazismo, nem mesmo sobre comunismo ou esquerda, ou mesmo sobre valores morais e éticos. São assassinos em potenciais, basta ver o exercício bárbaro de ficar atirando objetos contra figuras nacionais em faixas: se pudessem fariam com os próprios. Se pudessem matariam a todos que consideram inimigos das suas crenças impróprias para a vida civilizada, que significa respeito a diversidade, e a defesa da pluralidade, não sua eliminação.
Seremos obrigados a fazer o mesmo que se fez com Collor, começarmos a sair de preto, para mostrar nossa insatisfação com essa patifaria de patriotismo chulo, tacanho, retrógado.
Quero a bandeira de volta, que ela não sirva para vestir péssimos brasileiros, que nem apreciam as instituições nacionais e não respeitam a maioria da população que não é golpista, nem aprecia quartelada.
É preciso com urgência que tanto o Congresso como o STF atuem para limitar a sanha golpista de Bolsonaro, que estimula e patrocina essas atividades antipolíticas e antirrepublicanas dos seus seguidores. Já deveriam ter agido contra esses movimentos e repreendido Bolsonaro. Não é possível termos que ficar aturando essas pessoas agindo contra a república e a nação, mas principalmente contra o povo, realizando atos nitidamente contra as instituições e a favor de golpes violentos contra os seus inimigos políticos, que são bem mais do que 80% da população. É preciso investigar de onde vem o dinheiro para financiar esse movimento dos apoiadores de Bolsonaro, com carro de som, bandeiras, faixas, bonecos; tudo isso custa muito dinheiro: quem está financiando esses maus patriotas?
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Prezados docentes, discentes e técnicos administrativos
Em reunião do CONSEPE a ser realizada no dia 06 de maio de 2020, está pautada solicitação da PROEG de flexibilização de oferta de componentes curriculares da graduação presencial durante Pandemia Covid-19. A Pró-Reitora alega ter sido provocada por cursos, docentes e estudantes para encaminhar tal proposição, anexando ao processo os documentos enviados. A seguir, resumimos justificativas e condicionantes para implementação apresentados pelos proponentes, fazemos avaliação quanto à pertinência e apontamos algumas contradições, finalizando com de proposta alternativa de agenda para a universidade em tempos de isolamento social durante a pandemia da Covid-19.
Sobre as justificativas presentadas
1. Problemas estruturais: O Instituto de Computação, Campus Cuiabá, afirma insuficiência de computadores -que necessitam constantemente de manutenção devido ao uso frequente- para atender à demanda de estudantes matriculados em duas disciplinas que dependem desses equipamentos para sua realização.
2. Compensação da suspensão das aulas presenciais durante o isolamento social: a maioria das solicitações apresentaram como justificativa de tal excepcionalidade o fato de estarmos com o calendário acadêmico suspenso, sendo necessário “flexibilização na oferta dos processos de aprendizagem presencial para a modalidade não presencial, em caráter excepcional e temporária”, enquanto durar a recomendação de isolamento social devido à pandemia de COVID-19. O colegiado do curso de Zootecnia, Campus Cuiabá, sinaliza preocupação com o vínculo dos estudantes e o risco de evasão/trancamento de matrícula, apresentando a oferta de disciplinas do semestre 2020/1 por meio virtual. A Gerente de Graduação do Campus Sinop (CUS), sem prévia consulta às respectivas unidades acadêmicas, sugere “adotar atividades pedagógicas não presenciais a serem desenvolvidas com os estudantes enquanto persistirem restrições sanitárias, podendo essas atividades serem mediadas ou não por tecnologias digitais de informação e comunicação”, alegando preocupações quanto à “reorganização coordenada e viável dos calendários acadêmicos”. O Instituto de Computação também manifesta preocupação com a suspensão do calendário acadêmico motivada pelo isolamento social e por isso solicita avaliação da possibilidade “flexibilização na oferta dos processos de aprendizagem presencial para a modalidade não presencial, em caráter excepcional e temporária durante esse período”. Representantes discentes do Internato HUJM-UFMT, ao solicitar seguimento das atividades de graduação de medicina no HUJM-UFMT, mesmo diante de possível manutenção de suspensão do calendário letivo pelo CONSEPE, assim como aulas teóricas na modalidade EAD, e justificam seu pedido afirmando a necessidade de reestabelecimento das atividades assistenciais e acadêmicas realizadas pelos Internos e prejuízos resultantes do atraso na colação de grau.
A Pró-Reitora, por sua vez, apresenta que atividades não presenciais têm sido alternativa para o ensino médio, profissional e superior, apesar de não apresentar avaliação se tais atividades foram ou não acessíveis a todos e todas. Ademais, anexa ao processo uma série de normativas do Ministério da Educação e do Conselho Nacional de Educação, parecendo fundamentar-se numa leitura meramente legalista. Já seria problemático analisar apenas por esse prisma, mas o timbre no qual estão impressas as portarias do MEC mostra os interesses não mais ocultos em aproveitar a pandemia para impor sua agenda privatista à Educação: Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior. Resta a dúvida se é essa entidade que passa a emitir portarias do MEC e se é a ela que a UFMT deve se reportar.
Sobre os condicionantes
Alguns proponentes apresentaram condicionantes para implementação de suas propostas: O Instituto de Computação assume compromisso de oferecer agendamento de horários com monitores e/ou professores nos laboratórios para estudantes que não tenham acesso a equipamentos e/ou internet; recomenda também:
“i) dar suporte adequado aos professores para trabalhar de forma remota; ii) buscar mecanismos para apoiar os alunos mais vulneráveis financeiramente relacionados à equipamentos e conexão com a Internet; iii) considerar aspectos relacionados às aulas práticas e a forma de avaliação; iv) contar com a aprovação e condução do planejamento das atividades pelos respectivos Colegiados dos Cursos.
A Gerente de Graduação do Campus Sinop sugere “formação em massa” dos docentes em relação ao ensino de graduação mediado por tecnologias da comunicação, oferta gradual de componentes em modalidade a distância, começando pelas disciplinas teóricas e normativas específicas para regulamentar sua proposta de EAD. Os representantes discentes do Internato condicionam a observadas todas as normas de segurança e prevenção de infecção pelo SARS-Cov-2 e que suas atividades devem ser adaptadas para que continuem a contribuir com a sociedade neste momento de crise.
Essa breve sumarização de exposição de motivos e condicionantes para a implementação da flexibilização do ensino presencial em prol de ensino remoto durante o isolamento social mostra as contradições inerentes a tal proposta. Se levada adiante, ao invés de garantir a continuidade do ensino, imporá sua negação a muitos estudantes da UFMT, dadas as profundas desigualdades socioeconômicas que impedem o acesso à internet e computadores em seus lares.
Salientamos que a UFMT tem mais de 50 cursos de graduação e que apenas quatro deles formalizaram os pedidos que a Pró-reitora alega. Além do mais, alguns encaminhamentos estão repletos de problemas nos argumentos apresentados e acatar tais pedidos seria uma irresponsabilidade que a universidade cometeria com a comunidade acadêmica como um todo, com o sentido de democracia que ela defende e com o compromisso social que ela deve ter diante dos problemas graves como esse da COVID -19.
Segundo o documento “Série destaca importância da UFMT para a comunidade”, publicado na página da UFMT em 30/08/2019, 69% dos estudantes dessa universidade são oriundos de famílias que ganham até um salário mínimo e meio, cerca de 1500,00 reais mensais. Com isso dá pra se ter uma ideia da situação catastrófica que uma proposta de ensino remoto pode causar na imensa maioria dos estudantes.
Causa muita estranheza, e reforça os argumentos contrários apresentados por nós, a forma como algumas unidades encaminharam suas decisões.
Por exemplo, o colegiado de curso da FAAZ fez uma reunião, encaminhou uma votação e selou uma decisão nos seguintes termos: “Após discussões acerca do assunto e preocupações em como as mesmas seriam ofertadas, acesso à internet pelos alunos e aproveitamento do ensino nesta modalidade o assunto foi colocado em votação e aprovado por unanimidade de votos."
Note que a votação ocorreu mesmo com os membros do colegiado de curso sendo conhecedores dos problemas básicos que os estudantes serão submetidos e, portanto, é uma decisão consciente de tal prejuízo. É uma temeridade, portanto, consideramos que a universidade venha a seguir por esse caminho.
Um outro exemplo é o pedido vindo do Instituto de Computação que alega que, corriqueiramente, existem mais alunos do que os computadores que ele tem pra disciplina de Introdução à computação, na modalidade presencial.
“Para viabilizar o desenvolvimento das disciplinas, nos comprometemos a disponibilizar um laboratório de informática em horário a combinar, com técnico de laboratório presente e monitor da disciplina para atender os alunos que não possuírem computador próprio e para realizar atividades da disciplina presencialmente com auxílio do monitor e/ou professor.”
Não está claro no documento da Coordenação do referido curso se a oferta de atendimento em laboratório aos estudantes que não possam acessar ambiente virtual em casa considera que isso seja feito durante ou depois do isolamento social. Se ocorrer durante o isolamento, acarretará em sua quebra e, portanto, exporá os estudantes mais carentes aos riscos de terem de sair de casa, pegar ônibus irem até a universidade pra poder acessarem um computador e cumprirem as atividades.
Sobre o pedido dos estudantes de medicina, salientamos que a única coisa possível, indicada pelo MEC, foi a antecipação de colação de grau para estudantes que já cumpriram todas as etapas do curso. Portanto, e particularmente na medicina, a ida de estudantes ao HUJM, sem serem ainda profissionais habilitados e apenas pra cumprirem atividades de formação, é uma forma de a universidade proporcionar aglomeração, posto que tais atividades são obrigatoriamente presenciais. E é contra portanto ao que estabelece a OMS nesse momento.
Mesmo que não existissem as barreiras estruturais no acesso a computador, internet com qualidade e de ambientes propício ao estudos (condições essas que devem ser oferecidas pelo Estado na EAD), há o principal motivador de todo esse debate: uma pandemia em ritmo crescente de casos e mortes, que pode afetar qualquer um de nós, nos colocando numa condição de fragilidade psicológica que se torna incompatível com as exigências do engajamento no processo formativo, seja de docentes seja de estudantes. Assim, a proposta de atividades de ensino não presenciais durante o período de isolamento social podem ter o efeito contrário do desejado em relação à prevenção de evasão e preservação do vínculo com o estudante, pelos motivos expostos acima. Se nas condições anteriores já tínhamos índices preocupantes de adoecimento psicológico e suicídio entre nossos estudantes, receamos que essa forma de ensino não presencial em isolamento social não seja favorecedora de sua saúde mental, ao menos para grande parte deles. E devemos encarar isso com seriedade. Não basta que as máquinas funcionem: para haver processo de ensino-aprendizagem, é necessário levar em consideração nossa fragilidade diante dos inúmeros estressores impostos pela pandemia e pelo necessário isolamento social.
Encaminhamentos e proposta de uma agenda para a UFMT em tempos de Pandemia da COVID-19
Finalizamos reforçando o que defendemos ser o melhor a fazer nesse momento: Suspensão do calendário acadêmico 2020/1, por tempo indeterminado, até que a situação se normalize e a comunidade possa voltar com segurança às aulas. E que a universidade use sua estrutura, profissionais, laboratórios e extensão apenas para atividades voltadas a ajudar a população no enfrentamento à COVID -19.
Esses encaminhamentos se encontram com uma série de ações já sumarizadas na manifestação inicial da Pró-reitora, reforçando que essa é a melhor forma de a universidade cumprir sua missão em tempos excepcionais.
Sabendo que o momento é também propositivo, segue anexa uma carta que elaboramos em conjunto com SINTUF e DCE com alternativas coerentes com uma universidade pública, gratuita, de efetiva qualidade, socialmente referenciada e a serviço da sociedade brasileira, sobretudo dos cidadãos mais necessitados.
Cuiabá, 14 de maio de 2020
A Diretoria
O movimento estudantil assim como a comunidade acadêmica estão com uma forte campanha pelo adiamento do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). A hashtag #AdiaEnem ganhou força desde a semana passada com o anúncio do MEC (Ministério da Educação) pelo não cancelamento da prova, diante da pandemia da Covid-19.
O MEC passou por cima dessas reivindicações e segue com o calendário para a execução do exame, que teve as inscrições iniciadas nesta segunda-feira (11) e vão até o dia 22 maio.
Estudantes pobres e negros reclamam que serão os mais prejudicados caso o exame não seja cancelado até que a pandemia esteja sob controle. Em diversas regiões do país, alunos enfrentam dificuldades de acesso à internet e tecnologia para o ensino fornecido à distância (EAD). Outra parcela, ainda está com aulas suspensas. A realização da prova prejudicaria esses jovens, alunos de escolas públicas, cujo exame é uma das principais portas de acesso à universidade.
Ignorando as desigualdades existentes no país, o ministro da Educação Abraham Weintraub declarou em uma reunião virtual com senadores, no dia 5 de maio, que o Enem não existe para combater injustiças.
Com a mesma irresponsabilidade, o INEP (Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas), ligado ao MEC, e responsável pela aplicação da prova, já deu declarações de que não existe um plano de contingência para a realização do exame, previsto para ocorrer em novembro.
Não há previsão para o término da pandemia no país, neste sentido, sem normas mais explicitadas de como seria a aplicação do exame, existe a preocupação da exposição ao risco de contaminação de milhares de estudantes.
O Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), filiado à CSP-Conlutas, em nota divulgada em seu site, repudiou o não cancelamento da prova, o que contraria medidas tomadas em diversas partes do mundo.
“A insistência do governo Jair Bolsonaro em manter as datas do Enem, apesar da pandemia do novo coronavírus e, consequentemente, com o fechamento de escolas, vai na contramão do restante do mundo. Em 20 países, exames do mesmo tipo foram adiados, cancelados ou substituídos por outra forma de avaliação. Os quase 170 mil casos confirmados da Covid-19 e as mais de 11,5 mil mortes causadas pela doença não foram suficientes para que o país adiasse a aplicação do exame”, alertou a entidade.
Uma campanha virtual está sendo convocada pelo sindicato pedindo a suspensão da prova. “O ANDES Sindicato Nacional convoca a categoria para que, virtualmente, todos possam repudiar a decisão do Ministério da Educação. Para tal, basta assinar a petição eletrônica que pede o adiamento do ENEM, clicando aqui. Você também pode publicar fotos em suas redes sociais com cartazes escrito: #AdiaENEM e participar desse movimento”.
Outras movimentações também estão sendo feitas por entidades do movimento estudantil, além de parlamentares que entraram com ações na justiça pelo adiamento da prova. Também tramita na Câmara dos Deputados projetos com o mesmo objetivo.
#AdiaEnem
Como parte das ações pelo adiamento do Enem, o movimento estudantil Rebeldia, filiado à CSP-Conlutas, está desde o início de maio participando da campanha #AdiaEnem. Nesta sexta-feira (15), também está impulsionando um dia de luta.
A integrante do Rebeldia Mandi Coelho destacou a necessidade de barrar a realização da prova diante das desigualdades existentes no país. “Hoje, se debate muito o acesso à tecnologia, à internet, no entanto, quanto mais próximo das periferias mais difícil é para que esses recursos cheguem aos jovens mais pobres”.
Mandi alerta que este é um ano de incertezas e muitos alunos estão com dificuldades de aprendizado. “As aulas que estão acontecendo são em outro formato, o chamado EAD. Os governos têm debatido a tecnologia como solução para os problemas educacionais, no entanto, o uso não está sendo para ampliar o acesso à Educação, e sim para precarizar ou limitar que todos tenham direito ao ensino”, alertou.
A estudante reforça a importância da unidade entre os estudantes e os setores da Educação para debater propostas alternativas ao EAD e de organização do calendário escolar e acadêmico diante da pandemia. “É preciso debater um projeto diferente de Educação e que seja por fora do capitalismo”, frisou.
Fonte: CSP-Conlutas
A escravidão teve seu fim, do ponto de vista formal e legal, há 132 anos com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Essa medida não foi fruto da bondade da Monarquia brasileira, mas da resistência do povo negro. No entanto, na dimensão social, econômica e política está inacabada até hoje. Por isso, há décadas, os movimentos negros caracterizam o 13 de maio como o dia da abolição inconclusa.
A lei que libertou negras e negros da escravidão, não trouxe reparações históricas e não criou condições de inserção social, deixando milhares de libertos abandonados, sendo, mais tarde, marginalizados de qualquer processo de desenvolvimento.
Essa exclusão histórica fica ainda mais evidente nesse momento de pandemia do novo coronavírus. Alguns dos poucos levantamentos já realizados sobre o impacto da doença na população negra mostram que essa parcela da sociedade está entre os que mais morrem de covid-19.
Dados do boletim epidemiológico da Prefeitura de São Paulo divulgados em 30 de abril mostram que o risco de morte de negros por covid-19 é 62% maior em relação aos brancos. No caso de pardos, esse risco é 23% maior. Questões socioeconômicas, como ausência de saneamento básico, insegurança alimentar e dificuldade de acesso à assistência médica, aumentam o risco de adoecimento e morte de negros e negras, que compõem grande parte da população pobre no Brasil.
Reparação histórica
Maria Raimunda Soares, professora de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF/Rio das Ostras), explica que o 13 de maio não se constitui como uma data comemorativa para os movimentos negros, pois não se configura de fato como uma referência de libertação dos negros.
“Como bem registrou Clovis Moura, o trabalho escravo modelou a sociedade brasileira durante esse período, atribuiu-lhe seu etos dominante, estabeleceu as relações fundamentais de produção na sociedade e também direcionou o tipo de desenvolvimento subsequente das instituições, de grupos e de classes no pós-abolição. É o que a gente chama de racismo estrutural. O racismo estrutura as relações sociais contemporâneas, portanto ele através a questão social em suas diversas expressões. Logo, é difícil falar de uma ruptura com o modelo escravocrata”, acrescenta.
Segundo ela, é esse etos sociocultural que vai direcionar a constituição das nossas instituições no pós-abolição e das classes e relações sociais no país, o que faz do Brasil estruturalmente racista e vigorar de forma tão acentuada no Brasil o racismo institucional também.
Para a docente, que coordena o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (NEAB/UFF) em Rio das Ostras (RJ), quaisquer medidas de reparação e inclusão precisam ser pensadas com a participação dos sujeitos envolvidos, através dos movimentos sociais e populares que os representam. “Já há uma série de propostas que emergem desses movimentos e todas elas convergem para a ideia de que qualquer reparação, por mais tardia que seja, pois já se passaram 132 anos, têm que se dar através de políticas públicas”, explica.
Maria Raimunda ressalta que a população negra no Brasil é a que está sujeita aos maiores índices de violência, é a que ocupa os trabalhos menos remunerados, é a que se encontra fora da educação formal, fora das universidades, é a que mais sofre homicídios no país e é a que está encarcerada.
“Quaisquer medidas de reparação têm que incidir nessa realidade. E, para isso, têm que ser estruturais, têm que mudar ou tocar, concretamente, a estrutura da sociedade brasileira. Essas políticas devem considerar que a população negra no Brasil se encontra naqueles setores que têm sido mais oprimidos e explorados pelo Capital e que têm, de fato, pagado com a vida e com seu sangue as crises do Capital’, salienta.
Impactos da Pandemia
A ausência de políticas públicas estruturadas voltadas para as populações pobre e negra aprofunda drasticamente os impactos da covid-19, tanto nas condições de saúde e sobrevivência econômica de milhões de brasileiros.
A professora da UFF ressalta que apesar das subnotificações, os dados já mostram que a população negra já vem sendo a mais atingida pela pandemia. “Obviamente que a gente sabe que os dados demonstram não correspondem à realidade, ela é muito mais cruel. E, obviamente que, quando se trata de subnotificação quem não vai ser contabilizado, quem não vai aparecer nas estatísticas são os corpos negros e periféricos”, reforça.
Dados levantados pela Agência Pública de Jornalismo apontam que em duas semanas, a quantidade de pessoas negras que morreram por contaminação pelo novo coronavírus no Brasil quintuplicou. De 11 a 26 de abril, mortes de pacientes negros confirmadas pelo governo federal foram de pouco mais de 180 para mais de 930. Além disso, a quantidade de brasileiros negros hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por coronavírus aumentou para 5,5 vezes.
Já o aumento de mortes de pacientes brancos foi bem menor: nas mesmas duas semanas, o número chegou a pouco mais que o triplo. E o número de brasileiros brancos hospitalizados aumentou em proporção parecida.
De acordo com A Pública, a explosão de casos de negros que são hospitalizados ou morrem por Covid-19 tem escancarado as desigualdades raciais no Brasil: entre negros, há uma morte a cada três hospitalizados por SRAG causada pelo coronavírus; já entre brancos, há uma morte a cada 4,4 hospitalizações.
“Esses são dados que reforçam o que muitos pesquisadores e movimentos já indicavam e já sabiam, que as condições estruturais de reprodução e as condições sociais econômicas tornam o índice de mortalidade da covid muito maior entre os negros do que entre brancos. É muito emblemático que a primeira morte no Rio de Janeiro pela covid tenha sido de uma empregada doméstica negra, moradora de uma comunidade e que trabalhava na zona sul do Rio. Isso desmente uma ideia que foi difundida no início da pandemia de que o vírus seria democrático, de que atingiria indistintamente brancos e negros, pobres e ricos, trabalhadores e não trabalhadores. Vemos que isso não é verdade”, acrescenta.
Ela aponta ainda que pesquisas mostram que o índice de mortes por covid aumenta nos bairros onde o número de negros, quais sejam os bairros pobres, favelas e conjuntos habitacionais. “Essa desigualdade de contaminação e de mortes também leva tanto o governo quanto a classe dominante a pedir pelo fim do distanciamento e isolamento social, porque sabem que os mais atingidos serão pessoas da população negra e das periferia. Há uma indiferença com a morte de pobres e negros, e isso expressa a necropolítica desse governo e o racismo estrutural e institucional que vigora no país”, afirma a docente da UFF.
Universidade e sociedade
Para marcar os 130 anos da abolição inacabada, o ANDES-SN lançou em 2018 uma edição especial da Revista Universidade e Sociedade. O volume especial 62 aborda a resistência do povo negro e a luta por reparação. Leia aqui.
Fonte: ANDES-SN
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Gustavo Canale*
Se você acha que o problema está nos morcegos, ainda não entendeu o que está acontecendo. Se acha que está nas florestas, entendeu menos ainda. O problema mais grave não está na pandemia causada por um dos vários coronavírus existentes, mas na falta de perspectiva histórica e no imediatismo míope, os quais impedem as autoridades de entenderem que esta é apenas uma de uma série de epidemias e pandemias a serem enfrentadas. Não sabemos quando, mas sabemos que outras virão. O novo coronavírus (SARS-COV2) está nos dando a chance de preparar estratégias para o enfrentamento de outras várias epidemias com potencial pandêmico, que estão latentes em nosso ambiente.
O próximo vírus a afetar o Brasil não virá do Kansas (como o vírus da gripe “espanhola”) ou de Wuhan, ele poderá ser brasileiro. Os vírus já estão por aqui muito antes de seres humanos ocuparem o continente americano. Para citar apenas um exemplo temos o hantavírus, muitas vezes mais letal do que o novo coronavírus seu principal foco de surtos esporádicos está nas regiões de avanço das monoculturas de grãos e pastagens sobre a vegetação nativa de Cerrado e Amazônia de Mato Grosso. As hantaviroses levam anualmente dezenas de trabalhadores à morte na zona rural do Estado.
E por que temos tantos vírus no Brasil? Isto ocorre por vivemos em um país tropical, abençoado por (escolha o/a(s) de sua preferência), bonito por natureza, e repleto de uma biodiversidade esplendida, rica e pouco conhecida. Este cenário fascinante abriga a maior diversidade de primatas do planeta, a segunda maior diversidade de morcegos e a maior diversidade de roedores silvestres do mundo, mais de 200 milhões de habitantes, cerca de 180 línguas faladas, mais de 200 povos originários com culturas distintas, e muitos vírus.
Entretanto, a miopia está evidente nas projeções de reabertura do comércio, no afrouxamento do isolamento social, mas, principalmente, no erro de não perceber que estamos tendo a chance de estruturar medidas socioeconômicas e sanitárias para uma próxima pandemia. Pensando de forma simplista e dicotômica, como tem sido o costume nos grupos de aplicativos e nos churrascos de domingo, qualquer cidadão, de bem, poderia pensar que: “se o coronavírus vem do morcego (sic) basta exterminar todas as populações de morcego e resolveremos nosso problema”. Aqui percebemos que nosso inimigo não é o morcego. Explico. Imaginemos que o cidadão, sempre bem-intencionado, consiga recursos suficientes para começar um processo de “desmorcegação”. Permito-me o neologismo seguindo o precedente aberto pelos ratos. Neste processo, muitos morcegos morreriam, mas alguns ficariam apenas debilitados. É um fato científico que animais debilitados aumentam sua capacidade de replicação e disseminação de vírus no ambiente. Mesmo que o cidadão, aquele do “zap”, consiga a façanha de matar todos os milhões de morcegos que sobrevoam florestas, plantações e cidades do Brasil, de um único golpe e sem deixar testemunhas, a chance de um vírus encontrar outro hospedeiro, tais como animais domésticos, de criação, ou seres humanos, é gigantesca. Tão possível quanto a chance de uma pandemia parar o planeta de mais de 7 bilhões de humanos no século XXI. Vale ressaltar que este cenário, ou epidemias em escalas regionais, deverá voltar a ocorrer com outros vírus já presentes em ambientes urbanos e silvestres. Tenha em mente o hantavírus.
Chegamos então à segunda agonia que assola o cidadão, sempre aflito em acertar: se vivemos em um planeta repleto de florestas, animais e vírus, como evitar ou amenizar as epidemias? Atualmente os pesquisadores têm algumas sugestões a partir de estudos realizados em ambientes naturais. A conversão de ambientes naturais em ambientes urbanos, ou em áreas de pasto e agricultura, diminuem os recursos alimentares para os animais silvestres e interrompem suas rotas de movimentação e migração. Isto gera fome nas populações destes animais, diminui a eficiência de seu sistema imune, potencializa a replicação do vírus nos organismos debilitados, e aumenta a chance de animais silvestres disseminarem vírus para as populações de humanos. Torna-se óbvio que a manutenção de florestas com alta qualidade ambiental e disponibilidade de alimento para a fauna é uma das melhores soluções para diminuirmos os riscos de disseminação de viroses.
Hoje, Mato Grosso é proporcionalmente um dos estados da Amazônia Legal com a menor extensão de áreas de proteção integral para a biodiversidade (sensu Sistema Nacional de Unidades de Conservação). Por consequência, as terras indígenas complementam vigorosamente a proteção da vegetação nativa mato-grossense. E são justamente os povos indígenas que estão sendo colocados em situação de maior vulnerabilidade pelo afrouxamento do isolamento social proposto pelas autoridades. Isto se deve ao fato de muitos povos terem sido deslocados de seus territórios originários, forçados a adotar novas práticas de produção de alimento e, por consequência, necessitarem de remédios e alimentos vindos de fora das terras indígenas. Este trânsito de pessoas e produtos pode levar agentes contagiosos para dentro das aldeias, como o coronavírus que já está presente em municípios de referência para as populações indígenas, como Sinop, Querência, e Canarana em Mato Grosso. Urge a necessidade de protegermos as florestas para a nossa própria sobrevivência, e o conhecimento dos povos originários, os grandes engenheiros de ecossistemas, é fundamental.
Neste momento, boa parte da população ainda não entendeu a importância de ficar em casa, outra enorme porção da sociedade brasileira não tem condições de ficar em casa sem trabalho. Os auxílios do governo federal não chegam ao bolso do trabalhador com a mesma rapidez da fome e das dívidas a pagar. Por sua vez, muitos prefeitos e alguns governadores recomendam que a população siga sua rotina normal, compre sua máscara ou será multado, use álcool em gel, se achar e tiver condições de comprar, e siga trabalhando por um salário de fome. Para o bom funcionamento de uma estratégia planejada de isolamento social, é necessário um conjunto enorme de ações de solidariedade coletiva e de autoridades com verdadeiro espírito público. As autoridades eleitas pelo povo seguem flexibilizando o isolamento social, e lavando as mãos.
O isolamento social é a forma mais eficaz para conter esta pandemia em curto prazo, em função da alta capacidade de transmissão do novo coronavírus entre as pessoas. Máscaras, álcool em gel e outros equipamentos de segurança são importantes, mas nada substitui o isolamento social neste momento de pico de disseminação da doença. Porém, devemos pensar em medidas que evitem ou diminuam os efeitos de epidemias tropicais em cenários que evolvam estratégias de longo prazo. Dentre as estratégias, certamente está a proteção da biodiversidade, com a criação e implementação de novas áreas legalmente protegidas, tais como os Parques Nacionais e Estaduais e as Reservas Biológicas. Como também, será fundamental a proteção de habitats e corredores ecológicos para a fauna em Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais e Terras Indígenas. Em um futuro pós-pandêmico, toda gestão territorial deverá ser planejada considerando que qualquer área de desmatamento é potencialmente um local de surgimento de novas epidemias.
*Gustavo R. Canale é biólogo, PhD em Ecologia e Conservação pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), tem experiência nas áreas de Zoologia de Vertebrados e Ecologia com ênfase em Biologia da Conservação. Atualmente é professor da Universidade Federal de Mato Grosso, representante da subseção da Adufmat-Ssind – campus Sinop, e presidente da Sociedade Brasileira de Primatologia.