Expansão sem recursos? Docentes questionam futuro e movimentações externas voltadas aos campi da UFMT no interior
Campus da UFMT Várzea Grande é apenas um sonho há 11 anos
O campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Várzea Grande existe há 11 anos, utilizando a estrutura do campus de Cuiabá. Suas salas, laboratórios e espaços de convivência nunca foram mais do que ideias. Em abril deste ano, após um dia de chuva, a Reitoria da instituição lançou o programa “amigos da UFMT”, como uma forma de pedir ajuda à comunidade acadêmica e à população em geral para que, com as próprias mãos, salvem a universidade - literalmente - da ruína. Os campi de Sinop e Araguaia também precisam de ajuda com o básico: estrutura. Assim como outras instituições, a UFMT tem sofrido com os cortes de orçamento dos últimos 10 anos, que reduziram pela metade o que as instituições de ensino superior recebiam em 2013 e, muito embora o atual governo se diga “amigo da educação”, a recomposição do orçamento está longe de ser uma realidade; até a semana passada, havia, inclusive, previsão de contingenciamento do recurso já insuficiente.
Essa é a estrada por onde percorrem a criação do novo campus da UFMT em Lucas do Rio Verde (com início das aulas previsto para março de 2026), a proposta do campus em Primavera do Leste, cujo Projeto de Lei (de número 5968) tramita desde 2005, além das iniciativas para emancipação dos campi do Araguaia e Sinop. Acrescentado o percentual elevado de evasão escolar, causado pela redução das condições oferecidas para manter os estudantes em sala a partir dos cortes de recursos, e agravado pelas políticas de precarização da vida (como reformas Trabalhista e da Previdência), o cenário não é bonito. O horizonte não convida para um belo passeio.
Por isso, as movimentações externas para criação e emancipação de campi na UFMT, tem assustado a comunidade. A pergunta que ronda a comunidade acadêmica, muitas vezes surpreendida pelas notícias nesse sentido, tem sido “por quê?”, muito embora haja, mesmo que informalmente, ciência - e medo - de parte da resposta: os interesses econômicos do estado chamado celeiro do Brasil, e alguns outros nichos empresariais. As últimas pesquisas voltadas à educação superior demonstram que, embora a UFMT, assim como as outras universidades públicas do país, venham perdendo recursos – o que pode comprometer a qualidade do ensino -, os cursos voltados para o Agronegócio têm melhorado o desempenho. De acordo com o Ranking Universitário da Folha (RUF), o curso de Agronomia da UFMT ganhou cinco posições de 2023 para 2024, passando de 17º para 12º mais bem avaliado entre universidades públicas e particulares. Isso pode ter relação com a captação de recursos próprios em cada área, porque, sim, o Agronegócio tem muito interesse em investir numa ciência que proporcione retorno econômico. Mas e os outros cursos?
Daí surgem as propostas privatistas de cobranças de mensalidade, ou as brigas por recursos de emendas parlamentares e Programas - como o de Aceleração de Crescimento que tem gerado muito desgaste, especialmente com a comunidade acadêmica de Sinop, devido a confusão com as licitações necessárias para receber o investimento. Todas essas questões afastam a atenção para o fato de que é dever do Governo Federal destinar recursos suficientes para as universidades públicas. É evidente que a questão orçamentária não é a única, mas é central neste debate, já que ela pesa, inclusive, sobre o caráter do ensino.
Em 2024, docentes, técnicos e estudantes da UFMT se depararam com uma dessas surpresas. O PL 2.223, de autoria do senador Wellington Fagundes (PL), autoriza o Poder Executivo a criar a Universidade Federal do Araguaia. A proposta é de 2021, no entanto, só foi conhecida pela comunidade acadêmica em 2024 quando, no Senado, a Comissão emitiu parecer favorável ao PL, no dia 21/05. Apenas duas semanas depois, no dia 04/06, o texto foi aprovado pelo pleno e no dia 10/06, enviado à Câmara Federal, onde ainda não teve movimentação. Mas o trânsito acelerado do projeto trouxe tensão aos docentes, discentes e técnicos da UFMT e motivou a criação do Grupo de Trabalho Multicampia e Fronteiras (GT Multicampia e Fronteiras). Diante do susto, o grupo chegou a entregar um documento a parlamentares e autoridades locais, além da própria Reitoria, solicitando mais tempo para pensar sobre a proposta (leia a íntegra).
Além da emancipação do campus do Araguaia, o senador Wellington Fagundes é também o autor das proposições legislativas que autorizam a criação dos campi da UFMT em Primavera do Leste (protocolada em 2005), Lucas do Rio Verde (protocolada em 2011), e foi o parlamentar que ficou responsável pelo desmembramento do campus de Rondonópolis, efetivado há sete anos. Existem projetos de outros parlamentares, que ainda não tiveram tramitação, como o do deputado federal Juarez Costa (MDB), que autoriza a criação da Universidade Federal do Nortão de Mato Grosso (UFNMT) por meio do desmembramento do campus de Sinop (PL 1.699/21).
Vale destacar, no entanto, que o desmembramento do campus de Rondonópolis da UFMT, que se transformou na Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) em 2018, foi um processo bem diferente do que está ocorrendo com os demais, porque foi iniciado pela própria comunidade acadêmica e finalizado mais de dez anos depois das primeiras iniciativas. É o que explica a professora Ivanete Rodrigues dos Santos, que acompanhou o processo de transformação da instituição a qual se dedica há 25 anos. Lotada no Instituto de Ciências Humanas e Sociais e atuando em alguns dos cursos mais antigos das duas fases - Pedagogia, Psicologia e, já para o desmembramento, a Pós-graduação em Educação -, além da atuação no sindicato, ela participou diretamente de todos os estágios. “O processo de emancipação da UFR, quem desencadeou foi a Seção Sindical dos Docentes de Rondonópolis. O professor Tati - Antônio Gonçalves Vicente -, então presidente da Seção Sindical daqui, junto com a diretoria do sindicato, iniciou o movimento para emancipação do campus, no começo dos anos 2000. Por que desse movimento? O campus de Rondonópolis, por muitos e muitos anos, ficou sem nenhum avanço, tanto em termos de infraestrutura quanto em relação a criação de novos cursos, e também em relação à questão administrativa e financeira. Tudo aqui era feito, sempre, por Cuiabá. Se precisasse comprar uma lâmpada tinha que ser, tudo, via Cuiabá” relata a docente.
Foi essa, também, a situação do campus Catalão, da Universidade Federal de Goiás (UFG), que se transformou em universidade federal no mesmo ano que a UFR. “Embora a emancipação tenha ocorrido em 2018, o desejo de autonomia de nossa comunidade é antigo. O campus Catalão foi criado em 1986, portanto, a UFCAT ‘nasceu’ com 32 anos de experiência. A relação com a sede, em Goiânia, sempre foi conflituosa, e quando o Governo Federal iniciou o programa de expansão das Universidades Federais, em 2006, e os primeiros concursos específicos para professores dos cursos oferecidos em Catalão começaram a ser realizados, o desejo de conduzir os rumos da instituição ficaram mais fortes. Em 2010 foi constituída uma comissão que elaborou um projeto de desmembramento do Campus Catalão da UFG para criação da Universidade Federal do Cerrado (UFCerr), aproveitando da política de expansão praticada pelo Ministério da Educação na época, que criava instituições ‘temáticas’. A proposta foi apresentada ao MEC em 2011, mas não prosperou, pois o Ministério alegou que o momento era de consolidação das instituições criadas até aquele momento e fortalecimento do sistema multicampi, o que levou a UFG a modificar seu Estatuto e mudar a nomenclatura do Campus Catalão para Regional Catalão, ampliando o quadro de servidores administrativos. Em 2013, no Governo Dilma, a proposta foi reapresentada, mas novamente não foi contemplada e o foco da comunidade acadêmica passou para a ampliação da autonomia das decisões administrativas e o projeto da UFCerr foi abandonado, a comunidade acadêmica se conformou e o desejo de uma universidade autônoma foi arrefecendo, até que em 2015, no auge das discussões do impeachment da presidente Dilma, surgiu, a partir do governador de Goiás, a proposta de criação de duas universidades federais no estado: a Universidade Federal do Sudeste Goiano e a Universidade Federal do Sudoeste Goiano, a partir do desmembramento das Regionais da UFG de Catalão e Jataí, respectivamente. A partir desse momento, o ímpeto de autonomia da comunidade acadêmica voltou e a proposta passou a ser debatida internamente, culminando com a decisão de mudar o nome da Universidade a ser criada de ‘do Sudeste Goiano’ para ‘de Catalão’, reforçando a identidade da instituição com a cidade e região em que está inserida”, conta o servidor Roberto Tavares, que atua desde 2006 na, atualmente, Universidade Federal de Catalão e atualmente chefe de Gabinete da Reitoria da UFCAT.
As dificuldades da administração multicampi, relatadas pelos representantes da UFR e UFCAT são, atualmente, as mesmas apresentadas dos campi do interior da UFMT. Nas palavras do professor Jorge Arlan de Oliveira Pereira, vinculado ao Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFMT campus Araguaia, a questão orçamentária é central. “A principal questão que nós vemos é não ter orçamento próprio, em que a universidade possa organizar seus cursos, fazer o planejamento e prever sua expansão, uma vez que a UFMT campus Araguaia atinge uma ampla região, se tomar os níveis do Araguaia, que são três, é muito amplo. E ainda temos as cidades do estado de Goiás, que até vem diretamente, com ônibus, têm cidades que fazem isso, e ainda muitos estudantes que são matriculados na UFMT campus Araguaia através do Sisu, que chegam de outras regiões do Brasil, principalmente São Paulo. Então, nós não temos um orçamento que corresponda a essa necessidade, para dar conta disso”, afirma.
O docente, que também é membro do GT Multicampia e Fronteiras e coordenador do projeto de pesquisa CNPQ “Jornalismo, Comunicação e Democracia: o espaço público no tempo de convergência democrática e na perspectiva do estado de direito”, elenca ainda outras questões que dificultam o trabalho no local, como o número reduzido de estudantes - que está ainda menor depois da pandemia de Covid-19, e o número também pequeno de cursos de pós-graduação e servidores técnicos e docentes. “Nós temos muitas dificuldades, no curso de Jornalismo, ao qual sou vinculado, em desenvolvermos atividades nos laboratórios de rádio, televisão, redação. Nós temos apenas dois técnicos, isso é totalmente insuficiente para as necessidades, considerando que o curso de Jornalismo teria um espaço de expansão muito grande na produção laboratorial, que é uma das principais características previstas nas diretrizes curriculares dos nossos cursos. É fundamental. É uma reivindicação nossa, de muito tempo, que tenhamos mais técnicos e mais produção laboratorial. Além de um número baixo de técnicos, nós temos poucos professores. Como tem que ter carga horária correspondente às disciplinas, nós estaríamos, teoricamente, adequados, mas se considerarmos a necessidade de produção laboratorial, nós estamos muito abaixo. Nós reivindicamos incessantemente que possamos ter professores cujas horas laboratoriais sejam válidas como horas de ensino, aí nós teríamos, na verdade, falta de servidores, uma vez que produção laboratorial não é algo acessório, meramente complementar, ela é fundamental na formação do jornalista. Isso falando da minha área, mas o problema é amplo nos laboratórios, de falta de técnicos por todos os cursos e todos os institutos aqui do campus do Araguaia, assim como o número de professores. Isso provoca um acúmulo de atividades aos professores, principalmente em espaços administrativos, o que nos tira das atividades fins da universidade”, acrescenta.
A grande preocupação dos professores da UFMT, entretanto, é a forma como essas movimentações estão ocorrendo, tendo a comunidade acadêmica completamente alheia ao processo. “A gente espera que esse processo seja mais democrático. Não houve, de fato, um processo democrático até aqui, porque foram iniciativas de parlamentares, o projeto que andou foi do senador Wellington Fagundes, que de modo muito estranho teve uma tramitação super rápida ultimamente. Ele está tramitando desde 2021, mas de repente, o ano passado começou a andar rapidamente e foi aprovado de forma terminativa no Senado, mas ainda não foi examinado na Câmara dos Deputados. Então é essa a preocupação, o que a gente espera do processo, que seja mais democrático, que se dê mais tempo para se fazer estudos e se pensar, e com ampla participação de todos os segmentos, seja interno, através dos professores, técnicos e estudantes, seja das autoridades regionais, e também das comunidades, da sociedade regional. Me parece que a comunidade interna tem muito a dizer por não ler de maneira otimista demais, inocente demais. Por não conhecer essa realidade, por dentro das estruturas, as pessoas sonham com a nova universidade, com outro nome, que seria mais interessante, no entanto isso pode ser uma ilusão. Na verdade, a UFMT, com a sua tradição, seria mais interessante para nós, com uma multicampia mais verdadeira, mais bem estruturada, corresponderia mais com as nossas necessidades. Isso só se dá diante de estudos, de um processo de conhecimento, o que nós queremos ter tempo para fazer”, destaca Pereira.
Sete anos após a emancipação construída pela comunidade acadêmica de Rondonópolis, algumas questões caminharam, mas ainda não estão resolvidas. De acordo com a professora da UFR, a luta ainda é diária e a tentativa de instrumentalização da universidade por aqueles que se dispõem a ajudar com recursos também é uma realidade. “A primeira grande vantagem foi que a gente começou a ter autonomia financeira e administrativa. Isso foi fundamental. Depois disso a gente começou a avançar em termos de infraestrutura, com a construção de novos prédios, laboratórios, salas de aula, ampliação de biblioteca, do restaurante universitário, coisas que a gente, há muito, não tinha. Outro ponto foi a criação de novos cursos. Dentro do projeto de criação da UFR tinha a oferta de mais de 20 novos cursos, a gente já conseguiu avançar nesse sentido, foram criados quatro novos cursos e a tendência é que aumente. Com isso a gente conseguiu aumentar o número de estudantes, pensar em novas formas de acesso à universidade além do que já existe, então vieram novos alunos, mais professores, agora tivemos concurso para técnicos-administrativos. Essas foram grandes conquistas. E estamos, ainda, na luta pela consolidação dessa universidade, porque ela é muito nova, a gente ainda teve que elaborar toda a documentação, toda a legislação, todas as normativas que uma universidade requer. Agora, nós temos enfrentado constantemente vários desafios, inclusive o de instrumentalização da universidade por parte de certos políticos da região. Alguns ajudam, sim, a universidade com apoio a partir de emendas parlamentares, mas ao mesmo tempo eles querem algo em troca que é dizer o que a universidade tem que fazer. Esse é um grande desafio que a gente enfrenta aqui, porque a universidade tem que ter autonomia para tomar suas decisões. É uma universidade pública, que tem uma função social a cumprir, e ela não pode deixar que grupos políticos venham dizer o que ela tem que fazer ou não. Esse é um grande problema”, pontua o professor.
A autonomia universitária é questão central e defesa histórica da categoria docente, que entende como as relações que envolvem a universidade estão marcadas por disputas econômicas e políticas (leia aqui o Caderno 2 do Andes-Sindicato Nacional, que trata do projeto de universidade defendido pela categoria). “É preciso um projeto de universidade que seja bastante diverso, bastante plural, e não sob influência de algum modelo de desenvolvimento, particularmente o Agronegócio, quando há outras características que precisam ser respeitadas. São debates que nós temos desenvolvido aqui, uma grande preocupação da nossa parte. Nós verificamos uma completa ausência de projeto de universidade, o que nos preocupa muito, de modo geral, na UFMT. Por isso não se sabe direito que rumos dar aos campi. Vai ser uma expansão, um investimento dentro dos próprios campi existentes na estrutura atual ou vamos nos lançar a organizar novas estruturas, com independência, uma nova universidade?”, questiona, ainda, Pereira.
As dúvidas e os anseios demonstram a grande diferença entre os campi que desejaram e organizaram a própria emancipação. Ainda há desafios, problemas estruturais, falta de recursos e evasão dos estudantes. No entanto, a certeza de que a universidade cumpre sua função social está clara nos depoimentos dos trabalhadores da UFR e UFCAT, porque eles construíram seus projetos. “Mesmo criada em um contexto político altamente desfavorável, fora de um programa específico como outras instituições criadas anteriormente, a UFCAT contribui para a democratização do acesso ao ensino superior público e para o desenvolvimento regional em diversos sentidos, pois atende as demandas e se prova importante agente de desenvolvimento econômico e redução das desigualdades sociais. O processo é trabalhoso, mas vale a pena, pois é gratificante construir uma instituição voltada para as necessidades específicas de nosso povo, ter autonomia de fato para a tomada de decisões e fazer a diferença na vida das pessoas e da comunidade em que estamos inseridos”, comenta o servidor da UFCAT. Para a mesma pergunta, a docente da UFR acrescenta: “A luta pela construção de uma universidade pública é muito árdua. A gente não se arrepende de ter lutado para criar a UFR. Nós avançamos muito. Esperamos avançar ainda mais no atendimento aos estudantes e a toda população aqui da região e do estado de Mato Grosso com uma educação de qualidade, com uma universidade que cumpra com a sua função social, de formar pessoas que tenham uma leitura crítica do mundo, profissionais que sejam competentes e possam contribuir para o desenvolvimento do nosso estado, da nossa região sudeste do estado e também do país. É isso que a gente espera”.
Para o professor do curso de Engenharia Florestal do campus da UFMT Sinop, também membro do GT Multicampia e Fronteiras, Juliano Santos, é isso que falta: a universidade precisa tomar posição e não se deixar levar pelas forças externas. “O GT Multicampia e Fronteiras espera da gestão da UFMT uma discussão de um projeto de universidade no qual a multicampia não seja apenas uma palavra, mas um exercício prático, diário. No qual as múltiplas realidades que compõem a UFMT, nos seus diversos campi, sejam pensadas. Os campi do interior se sentem alheios, à parte, na maioria dos processos de gestão. Eles se sentem desamparados, inclusive com relação à existência e prestação de diversos serviços que a UFMT realiza, mas que não chegam nos campi. Aí essas questões de emancipação acabam aparecendo num diálogo conduzido pela comunidade parlamentar, a classe econômica, os poderes relacionados ao capital nos municípios. É o que acontece aqui em Sinop, realidade que eu conheço um pouco melhor. Mas essa ideia não está sendo discutida com a universidade. Em determinado momento as gestões, tanto as passadas quanto a atual, justamente pela falta de um posicionamento, passam uma ideia de que não têm opinião em relação à emancipação, e reafirmam um discurso de multicampia, mas essa universidade multicampi não é discutida e praticada no dia-a-dia da UFMT. Esse GT espera a efetivação da multicampia. Que a ausência da UFMT na gestão dos campi não seja uma desculpa para essa emancipação. Hoje, esse é um argumento muito utilizado, de que a ausência da UFMT, das políticas que não chegam nos campi, seriam resolvidos com a emancipação, como se isso fosse resolver os problemas. Mas a universidade precisa, antes, efetivar a multicampia”, aponta o docente.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Aufmat-Ssind
CONSULTAS INFORMAIS: O EXERCÍCIO DIÁRIO PARA ASSEGURAR A DEMOCRACIA NA UNIVERSIDADE
Foto: Primeira consulta informal para escolha da Reitoria da UFMT, realizada em 1982. Arquivo Adufmat-Ssind
Em 2020, a UFMT sofreu um golpe. Um golpe que não será esquecido pela comunidade interna e, assim como outros casos de imposição autoritária do mesmo período em instituições de ensino superior, tornou-se um exemplo a ser combatido nacionalmente.
Até aquele momento, 38 anos de resistência a ditaduras e o exercício democrático efetivo se impunham a cada quatro anos: as consultas, embora informais, eram organizadas e realizadas pelas entidades representativas, respeitando, sempre, a paridade de votos entre as três categorias e estimulando a presencialidade da participação.
Essa reivindicação não se deu por acaso. É de conhecimento de todos que a ditadura militar brasileira perseguiu, torturou e matou centenas de pessoas durante 21 anos. Muitas dessas pessoas eram estudantes, técnicos-administrativos e professores do ensino superior. Assim, para resguardar as universidades das nomeações de agentes autoritários, alinhados politicamente com os ditadores, as entidades reivindicaram a realização dos pleitos, e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) se orgulha por ter sido umas das primeiras a adotar essa dinâmica.
Fotos: Primeiro Debate para escolha da Reitoria da UFMT, em 1982 – Teatro da Universidade, em Cuiabá/ Arquivo Adufmat-Ssind
Público assiste ao primeiro debate entre candidatos à Reitoria da UFMT em 1982. Processos democráticos exigem o envolvimento do maior número possível de pessoas/ Arquivo Adufmat-Ssind.
Público assiste ao primeiro debate entre candidatos à Reitoria da UFMT em 1982. Processos democráticos exigem o envolvimento do maior número possível de pessoas/ Arquivo Adufmat-Ssind.
“As formações dos conselhos da universidade variam conforme o poder instalado no Estado - ora mais democrático, ora mais autoritário -, enquanto as entidades representam a própria luta dos trabalhadores; elas lhes dão vida e aí está a garantia da democracia. Cada passo da consulta é referendado por assembleias gerais das entidades, é isso que garante o controle popular e o processo democrático”, avalia a diretora geral adjunta da Adufmat-Ssind, Lélica Lacerda.
Isso significa que, para garantir a realização de um pleito realmente democrático, a paridade é fundamental, mas a condução dos trabalhos também é, porque a metodologia utilizada pode ser passível de eventuais manipulações, disfarçadas de democráticas.
O processo de consulta para a Pró-reitoria do campus da UFMT Várzea Grande, por exemplo, realizado em 2024, sem a condução das entidades, foi denunciado formalmente ao Ministério Público Federal, à plataforma Fala BR e à Ouvidoria da instituição, por indícios de irregularidades diversas, algumas delas envolvendo relações pessoais entre candidatos e membros da comissão (assista aqui o relato do Sintuf-MT).
Além disso, a realização dos processos pelas entidades é uma ferramenta de fortalecimento das mesmas, já que, historicamente, elas conquistaram direitos e lutam diariamente para mantê-los, como explica a professora Patrícia Félix da Silva, do departamento de Sociologia e Ciência Política da UFMT. Assista ao vídeo abaixo:
“A democracia dentro da universidade é essencial para garantir que os diversos atores e atrizes que fazem parte da instituição tenham iguais oportunidades de estarem em espaços de decisão, espaços de poder. Isso para que o conhecimento produzido pela instituição não fique restrito a ela, e para que a universidade não seja somente pública, mas, de fato, popular. Para que os três segmentos que compõem a universidade – docentes, discentes e técnicos - estejam nos espaços de maneira paritária. Então, para além da paridade, é fundamental que os próprios trabalhadores, de maneira organizada, também participem dos processos de eleição, de organização desses espaços, de maneira geral. É fundamental que essas dinâmicas sejam organizadas pelas entidades que representam os trabalhadores, porque a partir dessas instituições nós temos direitos garantidos, elas representam as lutas dessas categorias e, portanto, precisam ser fortalecidas, principalmente quando estamos num contexto de afronta aos direitos dos trabalhadores, sobretudo dos trabalhadores da educação”, afirma a docente.
Por que tanta resistência às entidades?
Em 2020, apesar de a Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind) e do Sindicato dos Servidores Sintuf-MT alertarem que havia evidências de que a votação online, via sistema, era passível de diversas falhas, o pleito, legal, porém ilegítimo, foi realizado (leia aqui); apesar de até mesmo as eleições municipais, que envolvem um número muito infinitamente de participantes e fatores de dependência terem sido adiadas por causa da pandemia, a da UFMT foi mantida; apesar de as críticas da comunidade acadêmica terem sido censuradas sem nenhum pudor, a consulta foi realizada, sem as entidades, sem paridade e sem presencialidade (relembre aqui).
Para a Adufmat-Ssind, essas ações, insufladas sempre por um ou outro agente, supostamente não organizado em nenhum grupo político, requerem, no mínimo, alguma reflexão por parte de uma comunidade educada justamente para pensar. Seriam tentativas de manipulação por parte de algum interessado em concorrer ao pleito? Aqueles que têm medo de que as entidades estejam a frente da consulta têm medo, na verdade, de não terem seus nomes referendados pela comunidade acadêmica? Teriam eles medo de perder o controle sobre o processo e, com isso, não serem eleitos?
Na semana passada o campus da UFMT em Sinop deu um passo importante neste sentido, a partir da unidade entre as entidades para a organização do pleito para escolha da Pró-reitoria local. No campus da UFMT Araguaia, o mesmo processo deve se dar nos próximos dias.
A mesma história de luta e conquista de direitos demonstra que, a democracia, mesmo esta, burguesa, com suas contradições e limitações, precisa, primeiro, ser conquistada, mas também precisa ser mantida, já que as disputas estão sempre em curso. Nas palavras de Angela Davis, “a liberdade é uma luta constante”. Por isso, as comunidades acadêmicas, da UFMT e todas as outras, toda a sociedade, precisa estar, sempre, muito atenta.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Expansão ou desmonte? Conheça o GT Multicampia e Fronteiras, que debate a realidade dos campi da UFMT dentro da Adufmat-Ssind
Dando continuidade à série sobre a organização interna da Adufmat-Seção Sindical do Andes Sindicato Nacional, falaremos sobre um dos mais novos Grupos de Trabalho: o GT Multicampia e Fronteiras. Este GT foi fundado no 42º Congresso do Andes-SN, realizado no início deste ano em Fortaleza – CE, a partir de uma demanda objetiva, material, da categoria, que tem visto seus ambientes de trabalho sendo “expandidos”, na maioria das vezes, sem as condições necessárias para isso.
Neste momento, mais um novo comportamento preocupa os servidores das universidades federais. Além da expansão, políticos locais se movimentam para desmembrar novos campi, que já enfrentam condições difíceis, transformando-os em universidades autônomas. Assim como as “expansões”, empurradas de cima para baixo e alardeadas como grandes negócios, as propostas de desmembramento estão sendo feitas sem qualquer consulta às comunidades acadêmicas.
É neste contexto que o GT Multiacampia e Fronteiras nasce e passa a contribuir com a organização interna do Andes-Sindicato Nacional (maior sindicato docente da América Latina) e com suas cerca de 121 seções sindicais, entre elas, a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind).
Multicampia e Fronteiras na Adufmat-Ssind
Na Adufmat-Ssind, o GT Multicampia e Fronteiras é formado por docentes de Sinop, Araguaia e Cuiabá, e tem sido um dos mais atuantes. Surgiu, primeiro, como comissão, mas logo foi transformado em GT por decisão de assembleia, realizada no decorrer da última greve, que durou 41 dias. Ainda não há nenhum representante do campus UFMT Várzea Grande, que seria de grande importância, considerando que o campus não tem sequer sede própria, funcionando já há dez anos dentro do campus de Cuiabá.
Campus UFMT Várzea Grande deveria estar pronto há pelo menos 10 anos.
Em meados de abril, a categoria soube que o PL 2.223/2021, de autoria do senador Wellington Fagundes (PL) e que autorizava o Poder Executivo a criar Universidade Federal do Araguaia, seria apreciado pela Comissão de Educação e Cultura do Senado. Este foi o principal fato motivador da formação do GT naquele momento. No Senado, a Comissão emitiu parecer favorável ao PL em 21/05 e apenas duas semanas depois, no dia 04/06, o texto foi aprovado pelo pleno. No dia 10/06, foi enviado à Câmara Federal, onde ainda não teve movimentação interna. Mas o trânsito acelerado do projeto trouxe tensão aos docentes, discentes e técnicos da UFMT.
Após a formação do GT, as reuniões foram muitas e intensas, mas a primeira grande ação ocorreu ainda durante a greve, no dia 28/06, quando os membros do GT lotados no Araguaia conseguiram se reunir com uma comitiva de políticos que estava na cidade para outra agenda política. “O encaixe na agenda foi facilitado pelo fato de o coordenador da mobilização de políticos e presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) municipal ser o professor Kiko, da UFMT, sensível ao tema”, explica o coordenador do GT, professor Edson Spenthof.
Nessa reunião, os docentes apresentaram uma única reivindicação: apoio de todos para que a tramitação do Projeto de Lei do senador Wellington Fagundes, e outros, de outros autores, sejam pausadas até que haja tempo de a comunidade interna da UFMT realizar - ou concluir, em algumas instâncias, o debate interno. “Deixamos claro que não defendíamos nem uma posição no mérito, favoráveis ou contrários ao desmembramento. Ao contrário, expusemos a divisão de sentimentos que ocorre internamente. Um cenário de mais dúvidas do que de certezas. E de que precisaríamos tempo para que a universidade realizasse amplo debate com todos os seus membros, como está aprovado, por exemplo, pelo Conselho Administrativo e Acadêmico do Câmpus Araguaia (Consua)”, pontua o docente (clique aqui para saber mais).
Além de Fagundes, a deputada federal Rosa Neide, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e o deputado federal Juarez Costa são autores de projetos no mesmo sentido, respectivamente direcionados à Rondonópolis (efetivado em 2018), Araguaia e Sinop.
De acordo com o Spenthof, não há a intenção de rivalizar com a universidade a esse respeito, apenas demonstrar que o debate ainda não chegou de forma ampla a todos os segmentos, e precisa chegar. Para isso, é fundamental apurar alguns dados para subsidiar o debate, como o levantamento de dados e relatos de experiências das universidades classificadas pelo MEC como novas, novíssimas e supernovas, entre elas a UFR – Universidade Federal de Rondonópolis (MT). Esta é a maior preocupação do grupo neste momento, porque o PL tramitou muito rápido pelo Senado, e pode ocorrer o mesmo na Câmara de Deputados.
O docente destaca, ainda, que este foi o processo que deu origem às universidades federais de Jataí (UFJ), Catalão (UFCat), do Norte do Tocantins (UFNT) e de Araguaína, que constaram em matérias jornalísticas recentes que indicaram uma série de dificuldades pelas quais estão passando.
Assim, dúvidas e a tensões pairam sobre as instâncias da universidade, desde as representações políticas da comunidade acadêmica até os conselhos universitários, tanto de Sinop quanto do Araguaia. As duas têm diferentes níveis de debates, mas nenhuma indicou posição. Também há o fato de que a universidade passa por transição da administração, a partir da indicação da nova Reitoria, que deve iniciar seu trabalho em outubro.
Outro ponto de destaque do GT e central para toda a sociedade é: uma universidade deve ser construída em cima de um projeto, que ainda não existe, ainda mais numa terra de intensas disputas, como Mato Grosso. Por isso, o GT pontua, inclusive formalmente. Que este projeto precisa ser construído, passando “não só por um determinado conceito de desenvolvimento, voltado para os grandes negócios, mas para um desenvolvimento e uma expansão que contemple a diversidade social, com curso de medicina (o Araguaia já tem um projeto tramitando), cursos de pedagogia, cursos da área de humanas ligadas ao pensamento crítico (filosófico, cultural e social), cursos voltados para a comunidade indígena (como a licenciatura intercultural indígena), cursos voltados para a população carente em geral, especialmente as comunidades negras, quilombolas, de trabalhadores da agricultura familiar, de trabalhadores sem-terra, entre outros”, pontua o coordenador.
Campus da UFMT em Sinop
Próximas ações
Impedir a tramitação dos projetos de lei que desmembram a UFMT sem o devido debate dentro da comunidade acadêmica tem sido o foco do GTMulticampia e Fronteiras da Adufmat-Ssind. Esse trabalho tem sido direcionado aos representantes políticos, senadores, deputados, além da nova administração da universidade. No entanto, há outras ações no horizonte. Debates públicos, contatos com universidades que passaram recentemente pelo mesmo processo, produção de dados e materiais informativos, seminários com estudiosos do tema, e a própria construção de um documento histórico sobre este processo já aparecem entre as alternativas.
Essa semana foi apresentado em assembleia geral e publicado no site da Adufmat-Ssind o primeiro documento de avaliação do GT sobre o tema, com o título “Gargalos não solucionados e ausência de projeto de universidade podem colocar em risco instituições propostas a partir do desmembramento de atuais câmpus da UFMT” (leia aqui). O documento, mais robusto, é anexo do ofício formal enviado aos representantes políticos do estado.
Para que todas essas ideias se tornem realidade, o engajamento dos docentes precisa persistir em trabalho coletivo e contínuo. “Temos quatro representantes de Sinop, dois de Cuiabá e cinco do Araguaia. Essa representatividade multicampus é essencial. Nos reunimos quinzenalmente, por videoconferência. Temos um coordenador, que propõe a pauta das reuniões e coordena a implementação das ações aprovadas”, revela Spenthof.
E apesar de o GT ser novo, há, ainda, uma demanda junto ao GTMulticampia e Fronteira nacional, como a participação em reunião agendada para os dias 28 e 29/09, em Brasília, e no Seminário programado para março de 2025, no qual os membros do GTMulticampia e Fronteiras da Adufmat-Ssind pretendem apresentar candidatura para sediar o encontro em 2026. A ideia é que o evento nacional seja realizado em Sinop ou no Araguaia.
“A partir dessas movimentações local e nacional surgirão outras demandas e formas de interação, que serão encaminhadas futuramente. Estamos iniciando esse processo, mas o consideramos extremamente importante”, concluiu o professor.
Outros GT’s da Adufmat-Ssind debatem temas como Política Educacional (GTPE), Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria (GTSSA), Carreiras (GTCarreira), Ciência e Tecnologia (GTC&T), Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA), Política de Formação Sindical (GTPFS), Comunicação e Arte (GTCA), Políticas de Classe para as Questões Étnico-raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS). Para participar basta entrar em contato com a Secretaria do sindicato por meio do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ou pelos telefones (65) 99686-8732, (65) 99696-9293, informando o GT de interesse e contato para receber os informes do mesmo.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Imagens: TVU/UFMT
AVALIAÇÃO SOBRE O DESMEMBRAMENTO DOS CAMPI DA UFMT - GTMulticampia e Fronteiras
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Texto produzido pelo Grupo de Trabalho Multicampia e Fronteiras, da Adufmat-Ssind, intitulado “Gargalos não solucionados e ausência de projeto de universidade podem colocar em risco instituições propostas a partir do desmembramento de atuais câmpus da UFMT”.
Docentes do Araguaia pedem tempo a representantes políticos para discussões sobre eventual emancipação dos campi da UFMT
Na última semana, os membros da Comissão de Multicampia, formada durante a greve docente deste ano, organizou uma audiência com políticos mato-grossenses que podem ter influência sobre os trâmites de projetos de lei que disponham sobre o processo de emancipação dos campi da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
A audiência, que durou cerca de meia hora, foi realizada na sexta-feira, 28/06, e contou a presença do deputado estadual Valdir Barranco e algumas pessoas de sua comitiva, embora outros representantes que têm projetos acerca do tema, como a deputada federal Rosa Neide, também tenham sido convidados, já que estavam em atividade política na região.
O professor Edson Spenthof, membro da comissão multicampia, explicou o que foi discutido. “Nossa intenção foi pedir tempo, apoio para a comitiva de políticos que estavam aqui. Infelizmente não se confirmou a presença do ministro Fávaro, que é um dos autores do projeto de lei que cria a universidade do Araguaia e de Sinop, e também da deputada Rosa Neide que é autora do projeto daqui e de Rondonópolis, mas veio o deputado Barranco e uma comitiva. A audiência marcada para pedir tempo para que os projetos de lei não tramitem tão rapidamente como tramitou o do senador Wellington Fagundes (PL) no Senado. Nos pegou de surpresa durante a greve a provação do Projeto no Senado [PL 2.223/2021], e já desceu para a Câmara dos Deputados. Lá ainda não tem relator, até sexta-feira não tinha, quando eu fiz a última pesquisa. Mas a comunidade acadêmica precisa de tempo para amadurecer essas questões dentro da universidade”, afirmou.
Segundo Spenthof, o grupo também foi autorizado a falar em nome dos colegas de Sinop, que também compõem a comissão e também se preocupam em fazer uma boa discussão e preparo, para definir se a comunidade quer uma UFMT multicampi, forte, com igualdade de condições como propõe a Reitoria que assumirá em alguns meses, ou se o caminho será a construção de universidades independentes.
“De toda forma, relatamos a eles o resultado da comissão formada pelo próprio Consua (Conselho de Campus do Araguaia), que concluiu que precisamos de mais tempo para amadurecimento e, ao mesmo tempo, já identificou alguns gargalos”, aponta o professor, elencando, ainda, outras atividades, como um seminário realizado no ano passado pela Adufmat-Ssind, que registrou, em sua maioria, manifestação contrárias à emancipação do campus. O que essas atividades demonstram é que tudo o que há, nesse sentido, são dúvidas.
Alguns dos gargalos apontas no relatório do Consua são a evasão e baixo ingresso, situação que atinge todas as universidades, inclusive privadas. No entanto, as universidades do interior do estado recebem muitos estudantes de fora e podem sofrer mais nesse sentido. Além disso, as instituições ainda vivem os efeitos da pandemia e continuam tendo problemas com a evasão. Além disso, há um número insuficiente de docentes e técnicos, problemas de estrutura, e dificuldades para atender aos critérios de internacionalização.
“O relatório conclui que neste momento nós não estamos atingindo nem mesmo o que se exige de uma instituição privada para alcançar o status de universidade. “Em qual situação estaríamos melhor, como UFMT ou como universidade autônoma? Não sabemos. Por isso estamos aqui na posição “nem nem”, nem favoráveis nem contrários. Nós estamos querendo tomar posição após discutir profundamente. Não estamos contra a UFMT, reconhecemos a legitimidade da sociedade para dizer o que quer, mas também a legitimidade da nossa participação, considerando a nossa presença aqui dentro, inclusive desenvolvendo estudos sobre esta questão”, defendeu Spenthof durante o debate.
Para o professor Magno Silvestri, a preocupação é a construção de um projeto de universidade não só pautado nas demandas de setores econômicos, mas também sociais. “Nós estamos acompanhando essa fração do movimento docente, via sindicato, portanto, parte da sociedade civil organizada, que reivindica um aprofundamento no debate, tanto dos projetos e desmembramento quanto das possibilidades que já estão circulando acerca da expansão do campus do Araguaia. Por que digo isso? Nós queremos aprofundar o processo que viabiliza a construção de um projeto de universidade, e não fazer isso às cegas ou de forma que atenda interesses mais específicos. Nós nos embasamos aqui pela importância que tem a UFMT e o campus do Araguaia tem nesta região geográfica de Barra do Garças”, pontuou.
As premissas do projeto, segundo o docente, seriam trazer, junto ao aparato estrutural e orçamentário, visões que contemplem a sociodiversidade da região. “Esse é um debate caro a esta comitiva e está no centro do debate público atual: somos favoráveis ao curso de medicina, cursos e pesquisas do setor empresarial, do agronegócio, mas também é preciso ter atenção, maior sensibilidade, com propostas concretas, que dialoguem com a diversidade local. A nossa região tem mais de 40 territórios indígenas de diferentes povos, do Xingu ao Araguaia, mais de 100 assentamentos da Reforma Agrária. Então é estratégico para essas políticas preverem também avanços no campo social, aprofundar os investimentos no campo da Educação. Existem reivindicações históricas na nossa região dos povos do campo, indígenas, assentados, pequenos agricultores, agricultores familiares, comunidades tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e pescadores de toda a região para que a UFMT encampe um espaço, uma política concreta. Nós temos exemplos de sucesso em toda a Amazônia Legal, mas a UFMT ainda não caminhou nesse sentido. Não é à toa que o movimento docente organizado, e aqui presente, tem uma aliança com esses povos: nós recebemos essas reivindicações. Educação do campo, outro setor importante que pode trazer elementos para a gente aprofundar, com responsabilidade, a questão ambiental e o efetivo enfrentamento às mudanças climáticas, com políticas institucionais, com essa responsabilidade que a gente necessita hoje”, concluiu.
Ao final de todas as intervenções, o deputador Valdir Barranco reconheceu a demanda e solicitou que os docentes formalizem a reivindicação. “Na democracia, é natural que possamos dialogar, que nada seja feito sem que haja consenso, que seja dialogado com a sociedade. Vocês deixaram bem claro que não são contrários, mas que é preciso ter certeza sobre o que é melhor para a universidade. Eu saio daqui com esse desafio, vou levar os encaminhamentos, aguardar a formalização do que vocês estão propondo, para que possa trabalhar junto com à professora Rosa Neide, ministro Fávaro, Emanuelzinho e outros, como a Gleisi e o ministro Camilo, que têm proximidade com a pauta. Está acolhida a sugestão, vamos trabalhar para que nada seja aprovado a fórceps, sem que haja uma discussão, porque se democraticamente houver esse convencimento, será melhor para todos. Inclusive com relação às questões orçamentárias e financeiras, que podem ser discutidas e realocadas para garantir o sucesso daquilo que for decidido. Fica aqui o meu comprometimento”, disse.
Em nome da Adufmat-Ssind, a diretora Ana Paula Sacco intermediou a audiência.
Vale ressaltar que, devido a relevância do tema, a comissão de multicampia virou Grupo de Trabalho na última assembleia geral, realizada no dia 01/07, e continuará debatendo e acompanhando esta questão. Interessados em participar podem manifestar a disponibilidade à Adufmat-Ssind por meio do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Eleição Extemporânea para Diretoria da Subseção Araguaia da Adufmat-Ssind - Resultado da votação
A Comissão responsável pela Eleição Extemporânea para Diretoria da Subseção Araguaia da Adufmat-Ssind informa o resultado preliminar da votação realizada nesta quarta-feira, 29/11:
Chapa 1 - Democracia e Transparência obteve 31 votos.
ELEIÇÃO EXTEMPORÂNEA PARA ESCOLHA DA DIRETORIA DA SUBSEÇÃO DA ADUFMAT-SSIND NO ARAGUAIA - Chapa Inscrita e Programa
A Comissão responsável pelas Eleição Extemporânea para escolha da Diretoria da Subseção da Adufmat-Ssind no Araguaia torna pública a inscrição da chapa "Democracia e Transparência", única candidata ao pleito.
Abaixo, a nominata dos candidatos e o Programa apresentado pela chapa.
Coordenado geral de subseção: Robson Da Silva Lopes
Coordenadora-secretária de subseção: Geruza Silva de Oliveira Vieira
Coordenadora-tesoureira de subseção: Valéria Márcia De Queiroz
Segundo Coordenador-tesoureiro: Eliel Ferreira Da Silva
PROGRAMA (clique aqui para ler)
Obs: documento também disponível para download nos arquivo anexo abaixo.
Adufmat-Ssind Araguaia debate "Desafios do Sindicalismo no Brasil e Movimento Docente" na próxima quinta-feira, 27/04
Como atividade relacionada ao Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores (1º de maio), a Seção Sindical da Adufmat-Ssind no Araguaia realizará, na próxima quianta-feira, 27/04, o debate "Desafios do Sindicalismo no Brasil e Movimento Docente". O convidado a provocar reflexões a partir do tema é o editor da plataforma digital e editora Lavra Palavra, advogado formado pela Universidade de São Paulo (USP) e militante, Gabriel Landi.
O evento será presencial, a partir das 19h (horário local igual ao de Brasília), na sala 224 do campus da UFMT Araguaia.
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou o coronel da reserva do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura, conhecido como major Curió, pelo homicídio qualificado e ocultação do cadáver do camponês Pedro Pereira de Souza, o Pedro Carretel. O coronel já foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, em maio de 2020.
O assassinato ocorreu no início de 1974, no sudeste do Pará. A vítima era integrante da guerrilha do Araguaia, movimento de resistência armada contrário à ditadura militar-empresarial brasileira, que atuou entre as décadas de 1960 e 1970. Na época, Pedro Carretel já tinha se entregado aos militares, estava preso e era obrigado a trabalhar como guia do Exército nas matas da região, conforme a denúncia do MPF enviada à Vara Única da Subseção Judiciária de Marabá.
Um grupo chefiado por Curió levou a vítima de uma base militar conhecida como Casa Azul, em Marabá (PA), até uma fazenda em Brejo Grande do Araguaia, e executou o preso a tiros enquanto ele estava sentado e de mãos amarradas. A base era utilizada para interrogatórios, torturas, prisões e assassinatos de camponeses, camponesas e militantes.
Segundo a denúncia do órgão, os demais membros das Forças Armadas que auxiliaram Curió a matar o guerrilheiro ainda não foram identificados ou já estão falecidos. O cadáver da vítima foi ocultado e os restos mortais não foram encontrados até o momento, registra a ação, assinada por sete procuradores da República integrantes da Força Tarefa Araguaia, do MPF.
Denúncia
Ajuizada no último dia 9 de agosto, e divulgada na segunda-feira (16), essa é a décima denúncia do MPF contra militares por crimes na repressão à guerrilha. No total, já são sete denúncias pelos assassinatos de dez opositores à ditadura, duas denúncias pelo sequestro e cárcere privado de seis vítimas e uma denúncia por falsidade ideológica. Sebastião Curió, que comandou o combate aos guerrilheiros, é acusado em sete das dez ações criminais.
Extermínio como política estatal
Dados oficiais, relatórios produzidos sobre o assunto e investigações realizadas pelo MPF atestam que a repressão política à guerrilha do Araguaia foi responsável por quase um terço do número total de desaparecidos políticos no Brasil durante a ditadura militar-empresarial, destaca a denúncia.
Para o MPF, o extermínio dos guerrilheiros decorria de diretrizes padronizadas e planejadas pelo Exército, e não de excessos pontuais ou casos isolados. As práticas criminosas traduziam a política estatal, que determinou o comportamento dos agentes militares no Araguaia, frisam os procuradores da República na denúncia. Estima-se que 67 integrantes do movimento de resistência foram mortos durante o conflito com militares. Desses, 41 foram presos, amarrados e executados quando não ofereciam risco às tropas.
Essas práticas foram especialmente violentas durante a terceira e mais sangrenta fase de combate à guerrilha, batizada de operação Marajoara, da qual Pedro Carretel foi uma das vítimas. Segundo o Ministério, Curió e os militares subordinados a ele, mataram as e os guerrilheiros, mesmo quando rendidos ou presos com vida, e pela forte repressão aos moradores locais como forma de obter informações e impedir a perpetuação da guerrilha.
Na operação Marajoara houve o “deliberado e definitivo abandono do sistema normativo vigente, decidindo-se pela adoção sistemática de medidas ilegais que visavam, notadamente, o desaparecimento forçado dos opositores”, assinalam os procuradores da República.
O MPF trava um embate jurídico desde 2012 pela responsabilização dos militares envolvidos em atos criminosos cometidos durante o regime ditatorial, por considerar que representam atos de lesa-humanidade. Por isso, com base no direito internacional e em decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos (caso Gomes Lund vs Brasil), tratam-se de crimes não alcançados pela prescrição ou anistia.
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Fonte: Ministério Público Federal (com edição e acréscimo de informações do ANDES-SN)
CONDIÇÕES PRECÁRIAS - Laboratórios da UFMT no Araguaia oferecem riscos a docentes, técnicos e estudantes
Os tijolinhos à vista nas paredes, telhados inclinados, e estradinhas de paralelepípedo dão um ar diferente ao campus da Universidade Federal de Mato Grosso no município de Pontal do Araguaia. O local é um charme, arborizado, bem diferente dos prédios mais novos da instituição, secos, quadrados, frágeis. A pequena arena apelidada de “fofocódromo” torna o ambiente ainda mais receptivo e atraente.
“Sejam bem-vindos a uma das melhores universidades do país”, diz um docente a dezenas de estudantes que comemoram o início do que pode ser uma exitosa vida profissional. “Mas saibam que esse é um dos piores momentos da história do ensino superior”, completa o professor, indicando uma das primeiras lições: não confundam aparência com essência.
Campus UFMT Araguaia, unidade de Pontal do Araguaia. Créditos Portal de Notícias Focaia
O Campus da UFMT Araguaia foi fundado em 1981. Trinta e sete anos depois, significativamente marcado pela Expansão Universitária de 2007 (Reuni), oferece 16 cursos de graduação e 4 programas de pós-graduação que atendem mais de 3200 alunos, a partir da dedicação de 67 técnicos administrativos, 210 docentes e 102 trabalhadores terceirizados, que se revezam entre duas unidades, localizadas entre 10 ou 12 km uma da outra – Pontal do Araguaia e Barra do Garças.
A unidade localizada em Barra do Garças, fruto do Reuni, foi inaugurada em 2007, mas assim como a do Pontal, também chama a atenção pela beleza. Embora a estrutura física não seja tão graciosa e intimista, a visão da Serra do Roncador encanta quem anda pelo espaço que, alguns anos antes, abrigou uma fábrica de bebidas destiladas. Notadamente, as pessoas gostam de estar ali.
Serra do Roncador ao fundo da unidade da UFMT Araguaia em Barra do Garças
Aparência X Essência
Embora a unidade do Pontal seja menor e acolha apenas três dos dezesseis cursos do campus, alguns laboratórios ainda funcionam lá. Os de Química, por exemplo, são alguns deles. Ao entrar nesses espaços o cheiro forte faz arder os olhos, mas à primeira vista parece tudo bem. Para quem não entende de laboratórios, o chão limpinho e liso, as janelas gradeadas, as portas com trancas convencionais não fazem diferença alguma, até que alguém explica: “isso aqui é boate Kiss. Nós mexemos com reagentes o tempo todo, se houver uma explosão, as pessoas não têm por onde sair”.
A partir desse alerta, tudo se transforma. Além da estrutura, que os trabalhadores com mais de dez anos na UFMT dizem nunca ter visto reformada, falta material e muitos dos equipamentos não são adequados. “Isso é balança de açougue”, aponta a docente. Em seguida, mostra, em uma pequena sala, o que seria a balança ideal para formar um verdadeiro químico, encostada há bastante tempo por falta de manutenção. Segundo ela, muitas das questões estão relacionadas a serviço de vidraria, e seriam facilmente resolvidas. Outros equipamentos estão “estocados”, da mesma forma.
Balanças no Laboratório de Química da UFMT Araguaia - Real X Ideal
“Veio um pessoal aí, parece que do Paraná. Eles ficaram uns dois dias mexendo, mas não resolveram nada. Não sei o que houve com a empresa, como foi a licitação. O rotaevaporador está parado porque o condensador sumiu. O phmetros estão parados há anos por falta de eletrodo. Talvez nem funcionem mais, porque é tanto tempo sem usar”, observou uma servidora técnica.
“A gente não tem uma CIPA [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes], que seria um órgão que regula a segurança dos laboratórios. Talvez isso dependesse de nós, mas os professores também têm uma sobrecarga. Nós temos muito trabalho administrativo, porque somos poucos, trabalhando nesses laboratórios caóticos. As listas que nós fazemos com os pedidos não são atendidas, e há uma desmotivação, porque a gente não acredita que eles vão chegar”, acrescentou a docente.
Tanto a servidora técnica quanto a docente que receberam a Adufmat-Ssind concordam que, além das condições diárias, paira entre os servidores a insegurança de que os colegas que se capacitam procurem, cada vez mais, outros postos de trabalho, por causa do ambiente insalubre.
É possível observar ainda muitos objetos enferrujados, torneiras, e a inadequação das instalações para limpeza do corpo em casos de contato, além das capelas de exaustão [ou hottes], onde os profissionais abrem os reagentes, improvisadas em cima de pequenas “pias de cozinha”.
Uma das Capelas de Exaustão no Laboratório de Química da UFMT Araguaia
“Essa questão da reforminha para tentar transformar esse espaço num laboratório de química é incompreensível. Porque o chão não é adequado, as portas não são adequadas, as janelas não são adequadas, não tem ventilação”, reafirma a professora, demonstrando aflição.
Além dos alunos do curso de Ciências Naturais com habilitação em Química, os estudantes de outros cursos da UFMT no Araguaia, como Farmácia, Agronomia, Biomedicina, Engenharia de Alimentos, Biologia, e Engenharia Civil, também utilizam essas salas e equipamentos, a partir das disciplinas de química geral, orgânica, analítica, ou físico-química.
Anatomia X Insalubridade
Os docentes que utilizam laboratórios de anatomia também reclamam. Aqui, além da precariedade, há também o não pagamento de percentual de insalubridade.
“Eu entrei com um processo e consegui receber 10% de insalubridade, mas o correto, observando outras universidades, seria 20%. O formol, principal componente químico que utilizamos para conservar as peças é bastante tóxico, é cancerígeno e pode gerar uma série de consequências à saúde no futuro”, explica uma docente.
Mesmo inadequada, a situação da entrevistada é das menos piores. “Eu recebo 10%, mas esse é o meu caso. Eu sei, por exemplo, que a universidade estava negando insalubridade para a técnica que me auxilia. Quando finalmente ela conseguiu, não foi nem 10%. De uns tempos para cá a gente tem tido uma dificuldade muito grande com isso. Desde que eu cheguei aqui, em 2010, já realizaram duas visitas ao laboratório, perguntaram um monte de coisa, mas em nenhum momento alguém nos informou com relação a isso”, afirma a anatomista.
Os servidores que entraram na universidade a partir da expansão provocada pelo Reuni têm tido mais dificuldades também nesse sentido.
Nessas condições, a demanda pelo percentual de insalubridade parece óbvia, mas não é. Há professores e técnicos sem receber, mesmo que manipulem diversas substâncias perigosas para além do período das aulas. “Eu chego antes do aluno para preparar a aula. Eu e os outros professores. A gente pega as peças no tanque, lava, e depois da aula, devolve no tanque. A técnica que trabalha no laboratório me auxilia nesse processo de preparação e manutenção do material. Por exemplo, se a gente recebe um corpo novo, tem de abrir, dissecar, trabalhar esse corpo. A gente fica lá um tempo, exposta diretamente ao formol ou ao que quer que seja. Eu tento substituir por outras substâncias, como a glicerina, mas nem sempre é possível, porque não é a mesma qualidade. Há essa dificuldade. Então é esse trabalho, por horas e horas, durante anos e anos, e a universidade não entende que isso seja uma exposição de fato”, reclama a professora.
Para os estudantes, no entanto, essa questão ainda não aparece de forma tão problemática. “A gente tem um sistema de exaustão que não é muito eficiente. Ele funciona, mas poderia ser muito melhor. Os estudantes sofrem mais com isso. Quando eles chegam, temos de abrir o laboratório para tirar o cheiro, que é muito presente, lacrimeja os olhos. Mas durante a aula vai ficando tudo bem”, complementa.
A manutenção dos equipamentos também é apontada como uma dificuldade nessa área. Um número considerável de microscópios não é utilizado pelos estudantes por falta de revisão. Novamente, a visita “recente” de uma empresa licitada para fazer esse serviço, sem a solução dos problemas, aparece no depoimento.
Na unidade de Pontal do Araguaia, onde também funciona o laboratório de anatomia da UFMT Araguaia, o discurso de acessibilidade ao ensino superior utilizado pelos governos para justificar o Reuni esbarra ainda num outro fator: não há sequer uma cantina no prédio. Para conseguirem comer, os estudantes utilizam ônibus que fazem o deslocamento para o Restaurante Universitário na unidade de Barra do Garças, em horários determinados.
Comunicação
Se a comunicação entre a administração da universidade e seus servidores apresenta problemas, o curso de Comunicação Social da unidade de Barra do Garças também precisa de reparos. Os laboratórios apresentam inadequações visíveis e não visíveis.
“Eu trabalho, especificamente, com a parte de diagramação, em que precisamos de softwares. Nesse quesito, a universidade apresenta um grande problema, porque o mercado trabalha com os programas de edição gráfica do pacote Adobe, e a UFMT não tem esses programas. Ela tinha, mas as licenças expiraram. Nós não sabemos se são aquelas licenças gratuitas [trials - versões gratuitas e temporárias de algum programa]. Mas a forma que eu encontrei de lidar com isso foi concentrar as disciplinas práticas num período e baixar os trials para poder ter aula. Quando eu fui consultar a universidade, eles disseram que precisaria fazer licitação, e que não tinha prazo. Se eu fosse esperar todo o trâmite, até hoje os alunos das disciplinas que eu leciono estariam sem aprender”, afirma mais uma docente.
Segundo a professora, além de procurar e instalar os programas necessários, o único laboratório em que os softwares rodam é disputado por outros cursos do campus. ”O Adobe é pesado e não roda em qualquer máquina, só no laboratório 214. Todo semestre é uma novela, vira uma competição, e a gente tem de negociar entre nós para que os alunos não sejam prejudicados. Tem que ter sorte para conseguir uma maneira de atender todo mundo - Jornalismo, Ciências da Computação, Geografia, entre outros. Isso é complicado, prejudica o ensino. Eu entendo que tem de licitar, mas a partir do momento que a gente abre um curso ele tem precisa ter estrutura, não é?”, desabafa.
Laboratório de Jornalismo UFMT Araguaia
O primeiro semestre do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo recebe 50 estudantes, mas o laboratório destinado a eles só tem sete máquinas, que não têm capacidade de rodar o programa necessário para as atividades gráficas. Na verdade, a estrutura não é suficiente nem mesmo para as atividades básicas de redação.
Os futuros jornalistas disputam ainda as sete câmeras disponíveis no laboratório de Telejornalismo – que atualmente está sem ar condicionado, e com bastante mofo acumulado nas paredes.
Laboratório de Telejornalismo
Assim como os demais docentes, a sobrecarga de trabalho aparece entre os professores da Comunicação. “Faltam técnicos na nossa universidade. Eu tenho que baixar os trials, ensinar os softwares, e resolver tudo o que os alunos poderiam fazer com os técnicos da área em outro período”, conclui a professora.
Na GALERIA DE IMAGENS, abaixo, é possível visualizar mais algumas das precariedades registradas nos laboratórios do campus da UFMT no Araguaia.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind