Quarta, 06 Fevereiro 2019 16:45

Perspectivas para 2019: docentes encerram congresso no Pará com estratégias para enfrentar ataques contra a categoria Destaque

Escrito por 
Avalie este item
(0 votos)

 

 

O 38º Congresso do ANDES-Sindicato Nacional terminou neste domingo, 03/02, em Belém do Pará, por volta das 4h30 da manhã. Poucos conseguiram acompanhar os momentos finais do evento, mas todos os 599 participantes, inscritos como delegados, observadores, convidados ou diretores se depararam com questões centrais da luta dos trabalhadores nos seis dias dedicados às reflexões políticas que envolvem a categoria docente.  

 

Foi um congresso difícil, tanto pela conjuntura quanto pelas disputas políticas. Vislumbrando a necessária unidade para barrar os ataques aos direitos fundamentais, sociais e trabalhistas, vários grupos apresentaram e defenderam estratégias que consideram as melhores para o período, que certamente será de intensas disputas.

 

Para o professor da Universidade Federal da Bahia, Rodrigo Pereira, a unidade dos trabalhadores será o grande desafio do ano. “Estamos entrando num período com um governo bastante reacionário. O Congresso apontou que é preciso construir lutas unitárias, com outros sindicatos, outros setores e movimentos sociais para enfrentar os ataques que virão. Esse é um grande desafio que a gente tem para o ano”, disse o docente, que atua na área de Política e Gestão Educacional desde julho de 2017, e participou pela primeira vez do Congresso do ANDES-SN.   

 

   Rodrigo Pereira em debate na Plenária do 38º Congresso do ANDES-SN

 

 

De modo geral, os presentes convergiram sobre a gravidade de um governo que pretende atacar, deliberadamente, os serviços públicos, os professores, as liberdades de cátedra, expressão, pensamento, e os direitos humanos, sociais, trabalhistas, ambientais, dos povos tradicionais, entre outros. Assim, as divergências se concentraram nas estratégias para continuar resistindo ao processo de desmonte que já está em curso, mas tende a se agravar, aprofundando as desigualdades sociais e, consequentemente, a violência.    

 

“Há uma riqueza muito grande nos debates, nas temáticas, acerca da necessidade urgente de articulação em busca das garantias e melhorias para a carreira docente, mas também uma reflexão mais incisiva sobre a conjuntura natural da educação. Então, pensar na carreira docente pressupõe pensar na construção dessa carreira como um todo, mas sobretudo na educação e outras áreas afins no país”, avaliou Gardênia Souza Furtado Lemos, professora do curso de Psicologia da Universidade Federal de Goiás. Após 17 anos de magistério no ensino privado, a docente da UFG, que ingressou na carreira no ano passado, se aproxima da luta dos servidores públicos em 2019, participando, também pela primeira vez, do Congresso do ANDES-SN.  

 

 

As discussões realizadas apontaram, em especial, os rumos para construção da unidade entre os trabalhadores, por meio de uma frente de lutas e da greve geral, e destacaram as ações contra a criminalização dos movimentos sociais e do trabalho docente, contra a aprovação da Reforma da Previdência, e pela ampliação da participação das mulheres nos espaços políticos do ANDES-Sindicato Nacional, garantindo a paridade na diretoria do sindicato nos blocos da presidência, secretaria e tesouraria, conforme previsto no estatuto.  

 

A aprovação do texto que determina a presença de no mínimo 36 mulheres na diretoria nacional, com o pelo menos de 50% de mulheres em cada uma das vice-presidências regionais foi comemorada pela grande maioria dos presentes. “Não estamos falando de cotas. O que nós estamos cobrando dos companheiros é que eles sejam, de fato, companheiros. Nós queremos ocupar a direção desse sindicato, porque na luta nós já estamos”, disse a professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Lorene Figueiredo.

 

Nesse sentido, o Congresso também deliberou a participação do ANDES-SN e das Seções Sindicais na Greve Geral convocada para o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, que deverá mobilizar mulheres de todo o mundo no próximo 08 de Março.

 

Na avaliação do professor de Direito do Trabalho, na Universidade Federal de Lavras – Minas Gerais, Gustavo Seferian, que leciona há 3 anos na instituição e participou, este ano, do seu terceiro Congresso do ANDES-SN, a conscientização da categoria sobre esses e outros temas será um dos desafios mais importantes para 2019. “Eu venho de uma universidade cujo contingente de ingressantes nos últimos anos é 3/5. A gente quadruplicou depois do Reuni, e isso é um grande problema para a viabilização da organização da camada mais jovem da categoria, porque algumas questões não têm efeito imediato sobre nós. Lá em Lavras, por exemplo, não foram poucos os casos de perseguição de docentes, e isso tem sensibilizado individualmente os professores, não coletivamente”, explicou.

 

 Seferian (de preto) participa pela terceira vez do Congresso do ANDES-SN

Para Seferian, essa questão é uma das dificuldades que deverão ser superadas pelos docentes para a mobilização em defesa de direitos, como a aposentadoria. “Eu acho que o conjunto de discussões não só sinalizaram a importância desse período que se inaugura - ou que se dá continuidade agora - como também alguns achaques que estão sendo direcionados aos elementos materiais mesmo, de condução das nossas possibilidades de sobrevivência. Se, de um lado, a gente vê anúncios da criminalização da luta e da organização da classe trabalhadora - e nós sabemos que vamos ter de resistir a isso -, de outro, já está posto na agenda da ofensiva burguesa, o emplacar da Contrarreforma da Previdência, que nós temos algumas dificuldades de lidar. As pessoas estão pensando e se mobilizando, em regra, por perspectivas mais imediatas. Infelizmente tem mais pressão para manutenção ou adesão aos planos do Funpresp do que propriamente para entender o que é a realidade da Previdência. Então, acho que o grande desafio que vai se colocar no meu retornar à Lavras, para pensar essa nossa agenda de lutas, está nesse processo de convencimento dos companheiros e companheiras quanto a imprescindibilidade de ser intransigente com qualquer espécie de ataque à nossa Previdência. E, da mesma sorte, inibir e prestar solidariedade a todos que venham a sofrer processos de perseguição, criminalização e impossibilidade de condução das suas lutas”.

 

A professora Cinthya Marques do Nascimento, da área de Artes Visuais da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, destacou a preocupação com a perseguição aos professores. “Estamos num momento da história do Brasil em que a democracia vem sendo ameaçada, e nós não entendemos muito bem quem são nossos aliados e inimigos. Minhas expectativas são de que a gente possa atuar juntos, como uma classe de docentes, na luta para assegurar os direitos da categoria e a liberdade de cátedra, contra o projeto Escola Sem Partido, além de retomar a consciência do quanto a educação é importante, e que está sendo ameaçada porque está dentro de um projeto que não nos vê mais como formadores de opinião e pensamento. Temos de ficar muito atentos e críticos com relação a isso. Eu espero que a gente possa avançar mais nesse campo de luta a partir das deliberações aqui do Congresso”, afirmou a docente, também em sua primeira participação no espaço deliberativo mais importante do sindicato nacional.

 

Professora Luciana Carvalho (de preto, à frente) junto a parte da delegação da Seção Sindical do ANDES-SN da Universidade Federal de Santa Maria 

 

Para enfrentar as lutas deste ano, a comunicação também deverá ser um dos elementos centrais do movimento sindical, como ressaltou a professora Luciana Menezes Carvalho, da Universidade Federal de Santa Maria – campus Frederico Westphalen. Formada em Jornalismo e docente há sete anos, Carvalho já contribui com as discussões do Grupo de Trabalho de Comunicação e Artes (GTCA) e do Conselho de Representantes da Seção Sindical dos Docentes de Santa Maria, mas participou pela primeira vez, este ano, do Congresso do ANDES-SN. “Eu percebo com preocupação nossa conjuntura, porque nós temos muitos desafios pela frente, e muitos dos nossos colegas não entendem o quanto a comunicação é importante. Nós temos que ter uma política que norteie as nossas ações. É necessário que as seções sindicais trabalhem conjuntamente, alinhadas com o ANDES-SN, a partir de uma visão estratégica, para que a gente possa contrapor essas visões que estão nos ameaçando. Precisamos trabalhar, junto às bases, com jornalistas, professores da comunicação, trazer os profissionais da área para que se envolvam. É importante entender a comunicação como uma ciência necessária nesse momento, porque, numa era de pós-verdade, com uma eleição pautada pelas fake news, pela desinformação, a gente vai precisar usar o Jornalismo, em especial, como um elemento fundamental da militância, da educação política do sindicato”, disse a docente.

 

A carta de Belém, com as principais deliberações do 38º Congresso do ANDES-Sindicato Nacional já foi disponibilizada pelo sindicato (leia aqui), e o relatório final, contendo integralmente todas as propostas aprovadas será publicado nos próximos dias, após o processo de revisão.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind   

(Imagens: Adufmat-Ssind, Adufsm-Ssind e ANDES-SN)     

 

Ler 1174 vezes Última modificação em Quinta, 07 Fevereiro 2019 11:29