Nenhum nome será esquecido ou ignorado. Assédio, desemprego, desigualdade e outros abusos não serão mais tolerados. A cada ano, os movimentos organizados de mulheres se tornam mais fortes para denunciar e resistir às inúmeras manifestações violentas de gênero. Em 2018, mais uma vez, elas foram às ruas dizer que estão fartas de flores e homenagens vazias, e que o desejo real é por respeito em todos os sentidos.
Em Mato Grosso, o 08 de Março começou com manifestação radicalizada. Dezenas de mulheres trancaram a garagem de uma empresa de ônibus, impedindo a saída dos veículos. O ato teve o objetivo de chamar a atenção para o número crescente de feminicídios no estado, entre outras violências, mas as manifestantes destacaram uma outra questão central: a desvalorização da mão de obra feminina no sistema capitalista.
“Entre as diversas atividades que nós planejamos para o dia, dialogando com movimentos internacionais que pautaram a parada da produção, nós realizamos o trancaço numa das maiores garagens de transporte público em Cuiabá para mostrar que só o fato dessas mulheres atrasarem algumas horas já demonstra o quanto elas são necessárias nesse processo. E se nós somos maioria, se somos nós mulheres que produzimos, nós queremos receber o justo e o legítimo por essa produção”, explicou a professora e militante do movimento feminista, Patrícia Acs.
Foram duas horas de atraso. Em seguida, o grupo seguiu para a região central da cidade para distribuir panfletos com as principais reivindicações. Entre as violências relatadas, os efeitos da Contrarreforma Trabalhista e da Contrarreforma da Previdência para as mulheres aparecem entre os mais nefastos.
Enquanto isso, cerca de 300 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocupavam a Fazenda Entre Rios, no município de Jaciara, a 142 km de Cuiabá. A propriedade acumula diversos processos trabalhistas e está penhorada por sonegação de impostos. A ocupação foi uma das atividades da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra 2018, intitulada “quem não se movimenta, não sente as correntes que a prendem”, em referência à militante comunista Rosa Luxemburgo.
Mas a reivindicação pelo direito à terra, por meio dos programas de reforma agrária previstos na legislação, esbarrou na prática cotidiana e violenta do campo: o dono da fazenda, munido da sua influência econômica e política, ameaçou e coagiu as mulheres, que deixaram a terra por volta das 16h. (Leia aqui a nota divulgada pelo MST)
Em Sinop, as mulheres foram para as ruas para exigir a implementação da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) e, na região do Araguaia, se reuniram no 1º Encontro de Mulheres para discutir diversas questões de interesse, como o acesso à Justiça e violência obstétrica.
O 8 de Março de 2018 foi marcado também por diversas matérias na imprensa local e nacional denunciando a violência contra as mulheres. O dia começou com a denúncia de 18 casos de feminicídio em Mato Grosso nos primeiros dois meses do ano, e terminou com 20. Em média, 12 mulheres perdem a vida diariamente no Brasil por serem consideradas um tipo de propriedade por seus algozes. Provas não faltam de que a luta é real e cotidiana e, por mais que instituições públicas tentem negar ou mascarar os dados alarmantes, já subnotificados, o movimento feminista segue crescendo e afirmando que nenhum nome será esquecido ou ignorado até que não haja mais nenhuma mulher vítima de violência de gênero.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind