Quinta, 08 Junho 2017 14:57

GTPCEGDS traz para o centro dos debates sindicais casos de assédios contra mulheres Destaque

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O ato político contra opressões nos campi da UFMT de Cuiabá e Sinop, realizado nos dias 5 e 6 de junho, trouxe para o centro dos debates sindicais a questão da descriminação contra gêneros, étnico-racial e sexual. Nesses dois dias de ações políticas estiveram reunidos alunos, professores e servidores em atividades como mesas de discussões, marchas contra opressões, oficina de cartazes e a apresentação da Cartilha de Opressões – Desafio e Possibilidade elaborada pelo Andes.


As atividades foram organizadas pelo Grupo de Trabalho de Política de Classe para as questões Étnico-Raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS / Seção Sindical Adufmat), juntamente com a frente de Mulheres na Luta e em parceria com o Andes-SN. 


Em Cuiabá, compuseram a mesa de discussões a diretora da Adufmat- SSind, Alair Silveira, a coordenadora do Andes Sindicato Nacional, Caroline de Araújo Lima, a diretora regional do Andes-SN, Vanessa Furtado, presidente do Sindicato dos Médicos (Sindmed), Eliana Carvalho, a coordenadora geral do Sintuf, Léia de Souza Oliveira acompanhada pelas coordenadoras do grupo Mulheres Trabalhadoras do Sintuf, Marilene Rosa e Berta

 

A discussão da mesa “Lugar de mulher é onde ela quiser: a participação da mulher no espaço sindical”, foi aberta com o relato de uma aluna do campus que esclareceu o principal objetivo do cartaz fixado no bloco do ICHS, onde se lia“Vocês fingem que não sabem, mas nós sabemos” Segundo ela, a fixação de cartazes em alguns blocos da instituição tinha um propósito meramente estético, como uma atividade de uma disciplina do curso de Arquitetura. No entanto, a tarefa acabou por ganhar uma proporção política, com denúncias de assédio contra mulheres dentro do campus da UFMT que foram escritas nos cartazes.


Após essas intervenções nos cartazes, as estudantes acabaram se vendo no meio de uma discussão que envolve denúncias de preconceitos e misoginia. Elas receberam uma carta escrita e assinada – somente com as iniciais - por um técnico da UFMT, na qual o autor se impõe como um homem que tenta desqualificar a luta das mulheres.

 

O fato mostra o quanto é necessária e urgente a abertura de espaços para tratar dos casos de abusos que ocorrem dentro da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O ataque feito pelo servidor às discentes é um o reflexo de uma sociedade machista, misógina, preconceituosa e racista que habitualmente tratam agressões contra mulheres como algo natural.


Depois de ouvir o relato das estudantes e ter lido a carta anônima escrita pelo agressor, a diretora regional do Andes, Vanessa Furtado, fez observações sobre o tratamento dado as mulheres nos espaços públicos e a naturalização das opressões contra elas. Além disso, chamou a atenção para quando classificamos como “distúrbios” reações de homofobias e machistas presentes em nosso cotidiano.


“Quando elas dizem que essa pessoa tem um distúrbio, eu fico pensando o quanto colocamos na ordem do distúrbio coisas que são do senso comum, fora do âmbito humano! Pois, quando colocamos isso no âmbito da loucura acabamos por desresponsabilizar o humano. A carta expressa o que está posto na sociedade, principalmente a mulher que está num espaço tão masculino como é o sindicato ou como é a política. Muitas vezes fico pensando quantas mulheres nesse espaço sindical precisam se performar masculinamente para serem respeitadas. ”


Incomodada com os relatos das alunas, a coordenadora geral do Sintuf, Léia Oliveira, defendeu que a mesa deveria propor medidas concretas quanto ao caso, uma vez que não se trata de um fato isolado. “O assédio que vivemos na UFMT é sofrido por mulheres estudantes, técnicas, mas imagine pelas mulheres terceirizadas? É visível que sofrem todo tipo de assédio, desde o moral ao sexual, quando andam de cabeça baixa. ”

Instrumento de comunicação

“Lugar de mulher é onde a gente quiser, só que não”, declarou diretora nacional do Andes, Caroline Lima. Ela lembra que historicamente, muitos espaços foram negados às mulheres, mas foi a partir das organizações em movimento social, que espaços como a direção de sindicatos começaram a serem ocupados pela mulher.

“É imprescindível que o debate classista no Brasil dialogue com as questões de gênero, sexualidade, cultura e raça. Porque nós estávamos em um país escravocrata até outro dia e ainda temos os aspectos de trabalho escravocrata. Nós não conseguimos romper com muitos marcos da fundação da nação brasileira. Logo, não tem como o movimento sindical não pautar essas discussões, mas é importante lembrar que essas discussões só estão sendo pautadas, porque nós começamos a nos colocar nesses espaços”.

 

A propagação de uma consciência é fundamental para que políticas públicas sejam feitas para incluir os movimentos feminista, LGBT, indígena e negro, uma vez que eles sempre foram marginalizados. Pensando nisso, o Andes Nacional elaborou a Cartilha de Combate as Opressões. “ Ela faz um debate do assédio sexual, moral e foi distribuída no Conad do ano passado e já está sendo atualizada. Dessa forma, hoje temos um instrumento para que professores dialoguem com os pais para que eles compreendam o que é isso”, ponderou Caroline. 

Ouvidoria


A ausência de canais para a comunicação de casos de opressões dentro da instituição foi questionada pela mesa de debates. As debatedoras observaram a contradição que existe entre as prerrogativas de reflexão e construção de conhecimentos de uma universidade e a falta de ações políticas voltadas para o combate as opressões.


“Lamentavelmente na nossa universidade não tem e sua estrutura nenhuma instância, nem para denúncias e nem creche, muito menos se debate isso. Em contrapartida, se formo levantar o número de mulheres na estrutura de poder na universidade verificaremos que são a maioria. Elas estão presentes nas pró-reitorias, em coordenações e chefias de departamento, entretanto essa ocupação não reproduz em políticas institucionais", observou Léia.


Nos últimos anos, cada vez mais as mulheres devem ficar atentas e vigilantes diante das atitudes conservadoras que têm surgido dentro do cenário político do país. Não basta apenas ocupar os lugares predominantemente colocados como pertencentes aos homens.  “Vivemos tempos sombrios, as coisas retrocederam muito na tentativa de negar todas as coisas adquiridos”, alertou a presidente do Sindmed, Eliane Carvalho.


Devido a esses ataques, o fortalecimento da luta é necessário para que as conquistas continuem, sejam elas no campo do direito - como a Lei Maria da Penha, criação de delegacias para mulheres, ou no da profissão. “Temos que reforçar a todo tempo que temos competência tanto quanto os homens”, reforçou Eliane ao relatar algumas das barreiras, preconceituosas, encontradas por mulheres que assim como ela escolheram a medicina como profissão.


A diretora da Adufmat e membro do GT de Formação Sindical, Alair Silveira, chamou a atenção para a inclusão dos homens nas discussões. “Uma preocupação que tenho visto em sala de aula, em que nome de especificidades, manifestação de solidariedade de homens foram rechaçadas de que nenhum homem compreende a mulher porque ele não é mulher. Essa é uma questão que incomoda muito, que é quando as nossas diferenças se sobrepõem aquilo que nós lutamos. ”

Reivindicações

Ao final do debate, os participantes listaram algumas politicas para mulheres que devem ser realizadas dentro da UFMT. Dentre elas estão; a criação de uma ouvidoria, a construção de creches, ampliação da rota do Ligeirão, melhoria da iluminação do campus,  revisão do efetivo de segurança da instituição - com a proposta de incluir mulheres nesta função -, reivindicar o debate do tema Combate as Opressões, dentro dos cursos de formações voltados para os profissionais do campus, e outras. O GTPCEGDS da seção sindical da Adufmat, juntamente com o Andes, a Coordenadoria Geral do Sintuf e a frente de Mulheres na Luta, se comprometeram em elaborar um cronograma de atividades e fortalecer a lutar por políticas de inclusão e acolhimento das mulheres da UFMT.

Veja aqui a galeria de fotos do evento.

 

Priscilla Silva

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind 

 

Ler 614 vezes Última modificação em Sexta, 09 Junho 2017 08:34