Quarta, 27 Abril 2016 12:21

Integrantes do MST e outras entidades marcham 27 km até o Centro Político de Cuiabá

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A energia na caminhada impressiona. Foram 27 km a pé, dois dias de caminhada em fila, saindo da BR 364, próximo do rio Aricá, em direção a Praça Ulisses Guimarães, no Centro Político e Administrativo de Cuiabá. Nos pés de muitos que ali caminhavam, chinelo. Além do desgaste físico, o emocional também é um fator importante durante o trajeto. Não é fácil defender a Reforma Agrária e os direitos dos trabalhadores rurais na capital do agronegócio, ainda mais em tempos de aprofundamento da intolerância.

  

Todos os anos o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza uma longa caminhada, dentro da programação do Abril Vermelho. Além das reivindicações gerais do Movimento, como reforma agrária, saúde e educação de qualidade no campo, os trabalhadores lembram, nesse período, que mais um ano se passou sem a punição adequada dos responsáveis pelo massacre do Eldorado dos Carajás, em 1996. Dezenove vidas foram retiradas naquele 17/04. Vinte anos depois, alguns dos autores do crime cumprem pena em regime domiciliar, outros foram absolvidos no final do julgamento, apesar de todas as evidências.

 

A marcha desse ano teve início na segunda-feira (25/04), com os primeiros 17 km cumpridos de acordo com o planejado. Os trabalhadores descansaram na entrada de Cuiabá.  Na terça-feira, acompanhados de outros movimentos sociais, os trabalhadores percorreram mais 10 km do trajeto, até a Praça Ulisses Guimarães. O MST deve permanecer acampado na região durante alguns dias, enquanto pretende avançar em determinadas pautas políticas com INCRA e Secretaria Estadual de Educação. A educação é o tema de parte da programação do Abril Vermelho, que contém o “Ciclo de Debates: Educação e Luta de Classes”, com atividades até o dia 29/04, na UFMT (confira abaixo). Esse ano, o MST também marchou em defesa da democracia e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.    

 

A Seção Sindical do Andes – Sindicato Nacional (Adufmat-Ssind) acompanhou a marcha e prestou seu apoio, reafirmando sua posição histórica enquanto entidade classista. “O ANDES-SN tem uma visão bastante clara da nossa identidade sindical, classista e solidária a todos os movimentos sociais de trabalhadores. O MST, especialmente nessa agenda anual, do Abril Vermelho, é uma expressão genuína dessa luta dos trabalhadores brasileiros, que é nossa também, dos servidores públicos e dos professores”, disse o presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo.

 

Durante a atividade, Araújo chamou a atenção para a conjuntura política do país, que certamente, em sua análise, implicará na organização e grande mobilização dos trabalhadores nos próximos meses.

 

Por onde a marcha passou, não ficou indiferença. Manifestações de apoio e também contrárias à luta demonstram que, bem ou mal, os brasileiros estão interessados e conectados às questões políticas do país, que não se resumem a interesses partidários. Cumpriram seu objetivo os mais de 600 marchadores que atravessaram Cuiabá nessa terça-feira: pautaram sua luta, e disseram à milhares de pessoas que os viram no caminho que é preciso melhorar as condições de vida e trabalho dos brasileiros do campo e da cidade. Para isso, é preciso haver, de início, ao menos consciência e envolvimento da população.

 

Pedras no caminho

 

Não era de se admirar, diante do cenário de intolerância e violência, que houvesse alguma investida para tentar romper ou atrapalhar a marcha do MST. O grupo já tem algumas experiências nesse sentido. No entanto, a surpresa, dessa vez, veio de um agente da Polícia Federal.

 

Assim apontam diversos relatos de membros do MST, e também de outras pessoas que não pertencem ao Movimento, mas acompanhavam a marcha: cerca de cinco km do início da atividade na segunda-feira, um homem simplesmente avançou com o carro sobre os trabalhadores que caminhavam no final da fila. A equipe de segurança do Movimento, tentando evitar que o condutor continuasse e atropelasse as pessoas, acabou quebrando um vidro do seu carro. Gritando e portando uma arma de fogo, o homem, sem nenhuma identificação no veículo ou na roupa, desceu do carro ameaçando os trabalhadores. A segurança do movimento o imobilizou e retirou a arma. Feito isso, o homem entrou no seu carro e foi embora. Cerca de duas horas depois, ele voltou acompanhado da Polícia Rodoviária Federal, que o identificou da maneira devida e iniciou, junto ao MST, o procedimento de devolução da arma. Em nenhum momento a marcha parou ou atrasou. Não houve nenhum incidente.

 

O advogado do MST, Silvio Araújo, explicou que, passado o susto, a negociação foi tranquila. “A tomada da arma foi um ato de defesa. Qualquer pessoa armada representa um perigo, e a pessoa em questão se identificava, apenas, verbalmente. Com relação à devolução da arma, foi um processo bastante tranquilo. Não é interesse do Movimento se apropriar indevidamente de bem público. A arma pertence à União, então nós a devolvemos conforme combinamos com os policiais que fizeram o contato conosco nesse sentido”.       

 

As atividades do Abril Vermelho seguem até o dia 01/04, confira:

 

PROGRAMAÇÃO ABRIL VERMELHO 2016

 

Dia 24/04 
16h - Ato público de lançamento da Marcha do MST
Local: Rodovia BR 364, sentido Rondonópolis, próximo ao Rio Aricá e PRF

 

Dia 25/04
5h - Largada da Marcha do MST
Percurso: 17 Km de caminhada. BR364 entrando em Cuiabá pela av. Fernando Correa da Costa (aproximadamente 4 a 5 horas de caminhada)
Parada para almoço, descanso e pouso.
Local: área próxima ao trevo/ viaduto Av. Fernando Correa/ Av. Palmiro Paes de Barros
Período da tarde: Formação política (estudo da conjuntura, reforma trabalhista, política de ajustes do governo estadual, etc.)
Noite: atividades culturais - filmes e apresentações

 

Dia 25/04
18h: Reunião para a constituição do Núcleo da UFMT da FRENTE BRASIL POPULAR MT e Ato SAÚDE CONTRA O GOLPE
Auditório 1 do ICHS – UFMT

 

26/04
6h - continuidade da marcha - Av. Fernando Correa até Av. Prainha (morro da Luz), Av. Rubens de Mendonça rumo ao INCRA
Parada para almoço, descanso e pouso
Período da tarde: formação política (estudo da conjuntura, reforma trabalhista, política de ajustes do governo estadual, etc.)
Noite: atividades culturais - filmes e apresentações

 

27/04
8h - ações de lutas na região do Centro Político Administrativo
Pauta: a partir da orientação nacional
Período da tarde: formação política (estudo da conjuntura, reforma trabalhista, política de ajustes do governo estadual, etc.)
Noite: atividades culturais - filmes e apresentações

Ciclo de debates "Educação e luta de classes"

 

27/04/2016 - Local: ADUFMAT
9h – 11h - Panorama da Reforma Agrária do Brasil - Idalice (MST) e Domingos Sávio (Unemat)
14h - 17h - O Estado e o Estado Brasileiro - Ivo Tonet (UFAL)
19h - 22h - Roda de conversa e vídeo

 

28/04/2016 - Local: ADUFMAT
9h – 11h - Carajás: 20 anos de impunidade - Lucineia (MST)
14h – 17h - O Estado e o Estado Brasileiro - Ivo Tonet (UFAL)

 

29/04/2016 - Local: ADUFMAT
9h – 11h - Reforma agrária popular e a perspectiva das lutas - Nivea Regina (direção nacional do MST-RJ)
14h – 17h - O Estado e o Estado Brasileiro - Ivo Tonet (UFAL)
19h – 22h - Sarau: As castanheiras lembram, e você?

 

30/04/2016

Noite - panfletagem contra o golpe no SESI Papa

 

01/05/2016
12h - Almoço com o MST no INCRA (Centro Político)
16h - Romaria dos Trabalhadores - saída do INCRA até a praça cultural do CPA1)
17h - Ato em comemoração ao dia do trabalhador

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Ler 1205 vezes Última modificação em Quarta, 27 Abril 2016 14:20