Após o debate internacional sobre a situação na América Latina ocorrido pela manhã de sexta-feira (9), a segunda parte da reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas, à tarde, se concentrou na discussão sobre conjuntura e o plano de lutas da central. O balanço das lutas do último período, a construção da Greve Geral de 30 de junho, a luta pelo Fora Temer e as saídas dos trabalhadores para a crise política, econômica e social do país foram os principais temas abordados.
O debate foi coordenado por uma mesa composta por mulheres. Como debatedoras, pela Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, estiveram Joaninha Oliveira e Eblin Farage, e na direção da mesa e das discussões Rosália Fernandes e Ingrid Assis Leitemberg.
Joaninha Oliveira iniciou destacando que a crise no país segue se aprofundando e que o governo Temer, independente de ser absolvido ou não no julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), segue um governo frágil e mergulhado em uma profunda crise. “Uma crise que não foi estabelecida apenas em razão dos escândalos de corrupção, mas pela resistência e luta dos trabalhadores”, afirmou.
“Os trabalhadores e a população pobre entenderam a gravidade dos ataques, que são históricos aos direitos, e estão demonstrando que querem lutar. Isso possibilitou que a greve do dia 28 de abril tenha tido a força que teve e que, depois de Brasília, levou as centrais sindicais a marcarem uma nova Greve no dia 30 de junho”, afirmou.
“A burguesia precisa de um governo que aprove as reformas a qualquer custo. A ação direta, a luta, a organização dos comitês de base e nos locais de trabalho, construir uma greve maior no dia 30, é a estratégia a ser priorizada por nossa central. Não podemos criar ilusões que as eleições vão resolver a vida dos trabalhadores”, disse polemizando com a política do chamado às Diretas Já, capitaneado pelo PT e outros setores do movimento.
“Os trabalhadores precisam de outra sociedade, uma sociedade socialista. Hoje ainda não há embriões da classe que possam atuar imediatamente para a tomada do poder. Mas não podemos dizer que as eleições vão mudar a vida. Temos que colocar mais crise nesse regime, pois vivemos um regime democrático para os ricos. Nosso programa deve exigir que os ricos paguem pela crise”, falou Joaninha, citando reivindicações como o não pagamento da Dívida Pública, redução da jornada de trabalho, fim da carestia, entre outros pontos. “A luta direta é que garante aos trabalhadores, através da demonstração da sua força, que é possível derrotar os patrões e o governo. Temos de priorizar a mobilização e a organização dessa luta”, disse.
Eblin Farage, presidente do Andes-SN, iniciou destacando que o governo Temer, a serviço da burguesia, está fazendo de tudo para avançar nas reformas e o Congresso está fazendo jus a toda corrupção que receberam e também estão atacando os trabalhadores. “Esta situação nos obriga a buscar ações unitárias. Precisamos ampliar nossa resistência e mobilização. A CSP-Conlutas é fundamental para isso, tem reservas e estrutura como se demonstrou em Brasília”, disse. “Não conseguimos acordo entre as centrais para construir uma greve geral de 48h, mas vamos jogar todo peso para construir a nova greve Geral do dia 30 de junho, para que seja uma mobilização ainda maior”, defendeu.
A dirigente do Andes também abordou a questão da palavra de ordem diante do governo Temer e destacou que defender Diretas Já traz riscos aos trabalhadores. “Essa palavra ordem sozinha significa um rebaixamento da nossa pauta. É apostar numa luta exclusivamente institucional, hegemonizada pela burguesia”, disse. “Relacionar esta campanha pelas Diretas com a da década de 80 é deseducativo pra classe. Não vivemos agora o que vivemos em 80 quando enfrentamos uma ditadura. A mobilização da classe não pode ser de forma que deseduque a classe. O PT já fez isso e estamos pagando caro”, afirmou.
Eblin destacou ainda a importância de disputar a consciência dos trabalhadores e debater reorganização da classe para disputá-la. “Temos de construir nos estados que os atos não se dêem pelas Diretas, mas contra as reformas, pelo Fora Temer, a Greve Geral e Eleições Gerais com novas regras. Temos de disputar a consciência dos trabalhadores que está avançando”, afirmou.
Para complementar o debate de conjuntura, a reunião da coordenação também incluiu mais dois informes sobre o processo de criminalização das lutas em curso no país. Falaram Inaldo Serejo, indígena da etnia Gamela e militante do Moquibom, do Maranhão, e Avanilson Araújo, do Movimento Luta Popular e da Executiva Nacional da CSP-Conlutas.
Trazendo dados sobre criminalização da população pobre e negra no país, do genocídio de povos originários, indígenas e quilombolas, ambos defenderam que a Central precisa avançar na discussão e na organização das lutas e da resistência que também estão crescendo nesses setores.
“A CSP-Conlutas precisa incorporar no seu programa uma proposta para o que acontece no Brasil profundo, que existe além dos sindicatos e das universidades. É preciso olhar a luta dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, que sempre foram invisibilizadas ao longo da história. É preciso reverter isso. Ser verdadeiramente uma central sindical e popular”, defendeu Inaldo.
Após as falas que abriram o debate de conjuntura, a mesa abriu as inscrições para o plenário. Dezenas de delegados(as) e observadores se inscreveram e, como não terminaram neste primeiro dia, continuarão no sábado (10), segundo dia da coordenação.
No plenário, o debate refletiu o acordo geral das entidades integrantes da CSP-Conlutas na construção da Greve Geral, bem como sobre a necessidade de uma luta classista contra as reformas, trazendo também diversas opiniões sobre a conjuntura e saídas dos trabalhadores para a crise. Ao final, no domingo, os delegados(as) votarão a resolução política da Central.
Fonte: CSP-Conlutas