Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Neste artigo, trato de algumas caras siglas político-ideológicas que aos poucos, infelizmente, vão virando pó: MST, PT, CUT, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Exceto a última legenda, que nasceu em 1916, e a penúltima, que surgiu em 48, as demais foram gestadas durante a ditadura de 64. O compromisso social sempre foi algo caro a essas siglas.
O MST – “herdeiro ideológico dos movimentos de base social camponesa ocorridos desde a chegada dos portugueses ao Brasil” –surgiu, no final dos anos 70, opondo-se ao modelo de reforma agrária dos milicos. O Movimento buscava a redistribuição das terras improdutivas. Consolidou-se na década dos 80.
Por sua vez, o PT nasceu exatamente em 80, pelas mãos de dirigentes sindicais, intelectuais de esquerda (muitos da USP) e católicos da Teologia da Libertação, que punham em prática ensinamentos cristãos no excludente cotidiano de nosso povo.
Logo depois, o PT – “rejeitando tanto as tradicionais lideranças do sindicalismo oficial, como procurando colocar em prática nova forma de socialismo democrático” – tornou-se o berço da CUT, nascida em 83.
A origem da CUT, bem como as siglas anteriores, foi nobilíssima. A entidade surgiu pregando a autonomia sindical; opunha-se aos sindicatos atrelados ao Estado, monstros criados por Getúlio.
Tributo histórico feito, resta-nos ver os rumos que essas siglas tomaram após a chegada do PT à presidência.
Em minha opinião, todas afrouxaram princípios; amordaçaram-se diante da proximidade com o poder. A autonomia em relação ao Estado e ao governo ficou comprometida.
E o que dizer especificamente sobre a SBPC, que surgiu querendo unir o pensamento científico brasileiro, motivado pela chegada de cientistas europeus, trazidos ao país para ajudarem na implementação de nossas universidades, em particular a USP, criada em 34?
Antes de tudo, é mister saber que a SPBC nasceu exigindo dos governos investimentos na ciência e na cultura. Também se colocou em defesa dos profissionais que eram afastados das universidades por perseguições políticas. Logo, sua origem foi nobre.
No entanto, a SBPC também parece ter feito opção político-ideológica em prol do governo petista, que se igualou às siglas de direita até mesmo na corrupção. Exemplo recente: a SBPC acabou de quebrar o silêncio diante da greve das federais. Junto com a ABC, assinou desastroso manifesto intitulado “Em defesa das Universidades Públicas”.
No tal documento, só o título e uma ou outra frase solta é que se salvam. As duas entidades chegam ao cúmulo de solicitarem que o governo não atenda às principais demandas de nossa pauta de greve, com ênfase à carreira docente.
Como se fossem entidades detentoras de suprema sapiência, as signatárias do manifesto apresentam uma absurda lista de sugestão daquilo que o governo deveria fazer.
Em dado momento, chegam à esparrela da leitura política, imputando aos docentes das federais a responsabilidade “pelo sucesso ou fracasso da instituição” em que trabalham. Mais: apostam na universidade colada aos interesses do mercado; logo, colocam em plano inferior o caráter socialmente referenciado das instituições federais.
O referido “manifesto” parece coisa encomendada. A sociedade não merecia isso.
Diante de tudo, mais do que nunca, precisamos reforçar a luta pela universidade pública, gratuita, laica e socialmente referenciada. Se as siglas acima referidas vierem conosco, ótimo. Se não, que paguem o preço que a história deverá lhes cobrar.