Segunda, 16 Abril 2018 13:44

 

Entre os dias 16 e 20 de abril será realizada a “Semana dos Povos Indígenas 2018 – Justiça, Terra, Paz e Sustentabilidade”, no Museu Rondon de Etnologia e Arqueologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Serão realizadas mesas redondas, exibição de documentário e o lançamento de um livro que trata do marco temporal das terras indígenas. A programação é toda noturna, sendo que as mesas acontecem a partir das 19 horas.

Ao todo, serão realizadas três mesas redondas. A primeira, a ser realizada no dia 16, trará o tema Saúde Indígena para ser debatido, e contará com a participação do presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), Crisanto Rudzo Tseremey'Wa (Xavante), e outros representantes dos povos Umutina e Chiquitano, e também com a presença do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena em Mato Grosso (Condis/MT), Osmar Rodrigues Aroaenogwajiwu (Bororo).

No segundo dia do evento (17), o tema da discussão será a Política Energética, Agronegócio, Legislação e Direitos Indígenas. A mesa será coordenada pela representante do Conselho Indigenista Missionário Regional de Mato Grosso (CIMI/MT), e terá como debatedores os professores doutores da UFMT Dorival Gonçalves Júnior e Wanderley Pignat, além do procurador da República, responsável pelo Ofício de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais em Mato Grosso, Ricardo Pael Ardenghi.

O procurador Ricardo Pael também irá participar como debatedor na mesa que será realizada na quinta-feira (19), com o tema “Política de Mineração, Legislação e Direitos Indígenas”. Além dele, haverá a participação da procuradora da República em Mato Grosso Cristina Melo, que na ocasião também estará lançando o livro “Terras Indígenas - Identidade, Reconhecimento e Marco Temporal”, fruto de sua experiência de atuação na área enquanto membro do MPF e da sua dissertação de mestrado. O defensor público, coordenador de Direitos Humanos e Defensor Interamericano de Direitos Humanos, Roberto Vaz Curvo, e o professor doutor da UFMT, José Domingues Godoy Filho também participarão do debate.

Já no dia 20 de abril, a partir das 18h30, será exibido o documentário “O Jabuti e a Anta”, dirigido por Eliza Capai, que fala sobre a seca nos reservatórios no sudeste do Brasil, e de como obras faraônicas construídas no meio da floresta Amazônica impactam na vida de ribeirinhos, pescadores e povos indígenas “atropelados” pelo desenvolvimento. Após a sessão, haverá debate com pesquisadores e estudantes indígenas da UFMT.

O evento está sendo organizado pelo Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF/MT), em conjunto com o CIMI, UFMT, Museu Rondon, Funai, Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat) e Fepoimt.

Confira a programação na íntegra:

 

Fonte: MPF

Segunda, 24 Abril 2017 15:51

 *Atualizada às 13h24 do dia 26/04/17. Correção/troca da palavra "inventariada" por "informada". no parágrafo 8. 

 

O Dia do Índio nunca pode ser, apenas, de festividade. Embora o esforço político em preservar figuras exóticas e românticas tenha, de fato, marcado o nosso imaginário social, é praticamente impossível fechar os olhos para os dramas reais dos legítimos donos da terra em que pisamos. Ano após ano, as Semanas dos Povos Indígenas realizadas pelo país afora trazem à tona a agonia daqueles que lutam diariamente pela sobrevivência há mais de quinhentos anos.

 

Esse ano, a Semana dos Povos Indígenas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) foi realizada entre os dias 17 e 20/04, com diversos debates acerca do tema “Povos Indígenas e seus Biomas: ameaças, resistências e protagonismos”. A demanda da comunidade indígena mato-grossense por discussões políticas foi evidenciada desde o primeiro dia, com mesas que contemplaram desde a situação da população indígena durante a ditadura militar - com o lançamento do livro “Os fuzis e as flechas”, do jornalista Rubens Valente -, até a relação com o agronegócio e as hidrelétricas.  

 

Na noite do segundo dia de debates, 18/04, o cacique Damião Paridzané, referência na luta indígena há mais de meio século, relatou o desmonte da política indigenista. “Respeito pelo índio está acabando”, disse o Xavante, da Terra Indígena Marãiwatsédé. O discurso lúcido trouxe também a tristeza de quem observa de perto os ataques a instituições como a Fundação Nacional do Índio (Funai), que tem perdido recursos, cargos estratégicos e autonomia nos últimos anos.

 

Destruir os direitos indígenas, assim como os direitos sociais e trabalhistas da população não indígena, é uma demanda clara do modo de produção Capitalista. A lógica é bastante simples: se as Terras Indígenas limitam as cercas do agronegócio, impedem a instalação de usinas hidrelétricas, e atrapalham a exploração da terra e dos rios por grandes empresas internacionais, entre outras coisas, elas devem ser reduzidas ou eliminadas. Para o Capital, o direito à terra deve ser revisto.

 

Mas para o cacique Damião, assim como para a população indígena que sofre essa realidade há séculos, rever direitos não é uma tarefa fácil. A terra, além de proporcionar as condições concretas de sobrevivência, tem também um vínculo cultural e espiritual. “Muitos índios morreram quando saíram da terra na década de 1960. Não vale a pena negociar dinheiro, gado, carro. Tudo isso acabada. Terra nunca acaba”, afirmou o índio, contrariando com singular propriedade o recente e infeliz comentário do então presidente da Funai - já demitido -, Antônio Costa. Segundo o pastor, indicado ao cargo pelo Partido Social Cristão (PSC), “terra não enche barriga de ninguém”. Para Costa, essa afirmação certamente justificaria a retirada das Terras Indígenas, mas nunca a limitação do latifúndio.

 

O professor José Domingues, que recebeu e coordenou o debate na Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind), destacou a dívida da população não indígena com os índios, e contou um pouco da luta da Seção Sindical do ANDES junto aos povos originários no estado.  

 

Ataques

 

Em outra mesa, a representante da Operação Amazônia Nativa (Opan), Andreia Fanzeres, alertou que a Funai atua, hoje, com cerca de 24% da sua capacidade de operação. A coordenadora do Programa Direitos Indígenas da ONG também destacou a criminalização dos movimentos sociais. “Fazem parecer que a nossa atuação é criminosa, e não a de quem retira direitos duramente conquistados”, reclamou.

 

Para debater os direitos indígenas no contexto das hidrelétricas nas bacias dos rios Teles Pires e Juruena, um mapa apresentado pela Opan reforçou o que o professor da UFMT, Dorival Gonçalves, falara anteriormente. O número de projetos de energia já existentes somados aos que estão em previstos é assustador. São 114 somente na sub bacia do Rio Juruena, onde vivem centenas de índios que representam cerca de 10 etnias. “Os direitos constitucionais à consulta livre, prévia e informada são recorrentemente violados, porque nós ficamos sabendo desses empreendimentos quando chega o convite para a audiência pública, depois que a decisão política de implementar a obra já está tomada”, disse Fanzeres.    

       

“Todas as usinas hidrelétricas dão impacto, porque são construídas em sequência. As bacias funcionam como grandes reservatórios, modificando toda a dinâmica dos rios e, consequentemente, das espécies que vivem nele”, assegurou o docente Dorival Gonçalves, doutor em Energia.

 

Os reflexos dessa política devastadora já estão em estágio avançado. O relato de Chico Peixe, como é conhecido o ictiólogo Francisco Machado, não deixa dúvidas dos riscos aos quais todos acabam expostos. “Da Usina de São Manoel para cima não há mais peixes migratórios. Mais de 40 espécies habitavam a região”, afirmou.

 

A Semana contou, também, com exposição e exibição de filmes, e terminou com a explanação de estudantes indígenas da UFMT sobre a realidade territorial em suas regiões.

 

GALERIA DE IMAGENS 

 

Leia mais:

Programação com Povos Indígenas mobiliza a UFMT na próxima semana

Projetos de hidrelétricas ameaçam história e vida da população às margens do rio Juruena

    

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind  

 

 

Segunda, 10 Abril 2017 17:29

 

Participantes terão debates, exposições, lançamentos e exibição de filmes entre os dias 17 e 20/04

 

Conhecer a história dos povos originários é, sem dúvidas, conhecer a nossa própria história. Um dia, uma semana, ou até um ano seria pouco tempo para debater os efeitos da tomada do Brasil pelos estrangeiros, em 1500. No entanto, nos dias que cercam o 19/04, Dia do Índio, diversos grupos em todo o país fazem um esforço para ampliar um debate que deveria ser permanente, e que ainda está longe de ser superado.

 

No ano em que o governo federal ameaça as demarcações de Terras Indígenas, o tema “Povos Indígenas e seus Biomas: ameaças, resistências e protagonismos” vem justamente reacender a questão da terra, central na luta daqueles que um dia foram donos de todo o território brasileiro. Na UFMT, a Semana dos Povos Indígenas 2017 será realizada entre os dias 17 e 20/04, com atividades durante todo o dia, divididas entre Museu Rondon, auditório de Adufmat-Ssind, e Centro Cultural, no campus da UFMT em Cuiabá.

 

Debates, exposições e lançamentos de livros estão na programação, que contemplará, dentre outros interessados, estudantes do ensino superior, médio e fundamental, em diferentes momentos.

 

A presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Lia Zanotta, o jornalista Rubens Valente, e diversos representantes indígenas são alguns dos convidados.   

 

Confira a programação completa abaixo e participe. As atividades serão gratuitas e abertas a todos os interessados.  

 

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA DOS POVOS INDÍGENAS – 2017

 

17/04 (segunda-feira)

Local: Museu Rondon de Etnologia e Arqueologia – MUSEAR/UFMT

 

19h - Composição de Mesa de Abertura

Palestra e lançamento da obra: Os fuzis e as flechas. A história de sangue e resistência indígenas na ditadura. Coleção Arquivos da Repressão no Brasil. Rubens VALENTE.

 

Lançamento de outros livros e publicações com a temática indígena.

 

18/04 (terça-feira)

Local: Museu Rondon e Adufmat-Ssind

 

8h30 às 11h30 (Museu Rondon) - MESA: Os Direitos Indígenas no contexto das hidrelétricas nas bacias dos rios Teles Pires e Juruena.

 

Vídeo: O complexo Teles Pires (Fórum Teles Pires)

 

16h (Museu Rondon) - Abertura da exposição de curta duração.

Título: Oi’o e Uiwede: Ritos de Iniciação Xavante

Responsável: Prof. Paulo Delgado

 

19h (ADUFMAT) - Mesa: Desafios da política indigenista frente às políticas de Estado.

 

19/04 (quarta-feira)

Local: Centro Cultural da UFMT

 

8h às 17h – A História e Cultura do Povo Bororo na Perspectiva das Crianças de Cuiabá

 

19h – CONFERÊNCIA: O Estado Brasileiro e os Povos Indígenas

Dra. Lia Zanotta Machado – UNB – Presidente da ABA

Dr. Ricardo Pael – Procurador da República

Libério Uiagumeareu Bororo

Lançamento do livro com apresentação da obra: Etnomapeamento do Povo Kura. Instituto Yukamaniru de apoio às Mulheres Bakairi.

 

20/04 (quinta-feira)

Local: Museu Rondon

 

18h30 Lançamento do Cineclube Jenipapo

Filme: Terra Vermelha.

Debate com os estudantes indígenas: relatos da realidade territorial em que vivem.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Sexta, 06 Maio 2016 18:38

 

Imagine como é difícil ter invadida, saqueada e devastada uma terra que é sua, de onde você e sua família retiram o sustento há gerações; uma terra que significa mais do que trabalho para os seus; um espaço conectado ao seu corpo e ao seu espírito. Essa é a situação a qual os indígenas brasileiros estão expostos há pelo menos 500 anos.

 

Cinco séculos após a chegada de outros povos no Brasil, que resultou na morte e expulsão de milhares de indígenas de suas terras, o território ainda é a grande questão dos nossos povos originários. A exploração absurda da terra sempre foi o motivo. Antes, o maior interesse eram as riquezas minerais. Hoje, o agronegócio avança empobrecendo e envenenado o solo, o ar e os rios.   

 

Essa situação ficou clara durante a Semana dos Povos Indígenas, realizada na sede da Seção Sindical do ANDES (Adufmat-Ssind) e no Museu Rondon da UFMT nos dias 25 e 26/04. A parceria entre estudantes indígenas da universidade com a Adufmat-Ssind, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a coordenação do Museu Rondon, o Diretório Central dos Estudantes e outros movimentos sociais trouxe para o debate professores, estudantes e representantes do Ministério Público Federal e da Advocacia Geral da União.

 

“Aqueles que chegaram no Brasil há menos de 50 anos conseguem terra, conseguem recursos do governo para comprar e depois colocam à venda. E nós, indígenas, não temos um território seguro e tranquilo para seguir com as nossas tradições”, disse Pedro Filho Canela Kwara, liderança indígena representando o Povo Canela do Araguaia.

 

Os Tapirapé, representados por Kamoriwai Elber Tapirapé, fizeram seu relato na língua. A tradução revelou a angústia manifesta no tom da fala: a reclamação também estava relacionada ao território. É preciso ter floresta. “Sem a floresta, nós não somos nada”, disse a liderança.

 

Os Chiquitano, por sua vez, trouxeram a realidade violenta na disputa pela terra entre indígenas e fazendeiros. “Para nós a terra não é mercadoria, ela é mãe. A constituição nos garante esse direito. Que ela seja respeitada”, afirmou Saturnina Urupe Chue. Embora o acesso às aldeias seja restrito, muitos fazendeiros avançam na tentativa de intimidar os índios.

 

A preocupação de Orivaldo Aiepa é que pelo menos seus netos tenham a segurança de crescer em local seguro. “Nós temos informação, sabemos a situação do país. Isso nos preocupa, mas o agronegócio não para. A água não é mais sadia. A mata não é mais sadia. Os bichos não são mais sadios e nós também não, porque estamos muito perto”, afirmou o Bororo.

 

Para alguns rituais, contam os indígenas, já não se encontra mais os animais necessários, como peixes e aves. Por vezes, em vez de caçar e pescar, os índios têm de comprá-los e transportá-los, correndo o risco de receber multas impagáveis ou ter a encomenda apreendida pela Polícia Federal. 

 

Contribuição científica        

 

Os indígenas se apropriam do conhecimento fornecido pela universidade e reivindicam cada vez mais espaço na academia. Assim eles se fortalecem, inclusive, com relação aos direitos que têm, além de ter acesso a diferentes técnicas que podem auxiliar em melhorias nas suas comunidades.

 

Essa foi uma das observações do presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Antônio Carlos Lima (MUNA/UFRJ) que participou do café da manhã temático, na abertura do evento, e provocou o debate na noite do dia 25/04, a partir do tema “O Estado brasileiro e os povos indígenas”. Ele trouxe o histórico da legislação voltada para os direitos dos povos originários, da luta pela terra e das instituições nacionais destinadas à proteção dos direitos indígenas. Para o antropólogo, o único caminho para avançar ainda é a articulação política por meio dos movimentos sociais.     

 

A UFMT tem hoje 75 estudantes que fazem parte do Programa de Inclusão Indígena (Proind). Eles representam 12 etnias diferentes, e estão presentes nos campi da UFMT em Cuiabá, Sinop, Araguaia e Rondonópolis. O Proind teve início em 2008, disponibilizando apenas dez vagas. Mas apesar do aumento gradativo, esses 75 estudantes indígenas não contemplam nem 28% do total de etnias que vivem no estado (43). Essas informações foram apresentadas pelo mestrando em Antropologia da UFMT, Adriano Boro Makuda. Formado em Direito pela UFMT, o estudante, da etnia Bororo, ministrou a palestra com tema “Estudantes indígenas do ensino superior e movimento indígena” na tarde do dia 26/05.          

 

Além de apresentar os dados, Makuda falou sobre as dificuldades encontradas pelos estudantes que chegam na universidade: a saudade da família, as diferenças estruturais da cidade e das relações pessoais, as responsabilidades financeiras que não existiam anteriormente (moradia, serviços, alimentação), as aflições diante do contato com metodologias e conteúdos desconhecidos e a pressão para superar todas essas questões.

 

O mestrando relatou, ainda, que o currículo da universidade, em especial da Faculdade de Direito, onde se formou, não envolve conteúdo de interesse indígena. “Eu fiz um debate na universidade, durante a minha graduação, sobre legislação indígena. Falei aos meus colegas que eles eram privilegiados, porque como futuros advogados, juízes, promotores, poderiam se deparar com casos envolvendo povos indígenas. Diferente do que as universidades oferecem, geralmente, eles estavam ali conhecendo a nossa realidade.”   

 

Para o presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo, o evento foi um aprendizado. A presença de estudantes indígenas na universidade é, para ele, uma oportunidade ímpar de formação cultural para todos. “Há quem acredite que estar na universidade é uma grande oportunidade para eles, mas na minha leitura é uma grande oportunidade para nós, de conhecer e ampliar nosso olhar sobre as diferentes culturas presentes no nosso estado e no nosso país", afirmou.

 

A semana terminou com um sarau indígena. A chuva e o frio atrapalharam um pouco, mas a reunião com música e comida típicas animou quem teve disposição de prestigiar o evento.

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

 

  

  

Sexta, 06 Maio 2016 17:18

 

 

Imagine como é difícil ter invadida, saqueada e devastada uma terra que é sua, de onde você e sua família retiram o sustento há gerações; uma terra que significa mais do que trabalho para os seus; um espaço conectado ao seu corpo e ao seu espírito. Essa é a situação a qual os indígenas brasileiros estão expostos há pelo menos 500 anos.

 

Cinco séculos após a chegada de outros povos no Brasil, que resultou na morte e expulsão de milhares de indígenas de suas terras, o território ainda é a grande questão dos nossos povos originários. A exploração absurda da terra sempre foi o motivo. Antes, o maior interesse eram as riquezas minerais. Hoje, o agronegócio avança empobrecendo e envenenado o solo, o ar e os rios.   

 

Essa situação ficou clara durante a Semana dos Povos Indígenas, realizada na sede da Seção Sindical do ANDES (Adufmat-Ssind) e no Museu Rondon da UFMT nos dias 25 e 26/04. A parceria entre estudantes indígenas da universidade com a Adufmat-Ssind, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a coordenação do Museu Rondon, o Diretório Central dos Estudantes e outros movimentos sociais trouxe para o debate professores, estudantes e representantes do Ministério Público Federal e da Advocacia Geral da União.

 

“Aqueles que chegaram no Brasil há menos de 50 anos conseguem terra, conseguem recursos do governo para comprar e depois colocam à venda. E nós, indígenas, não temos um território seguro e tranquilo para seguir com as nossas tradições”, disse Pedro Filho Canela Kwara, liderança indígena representando o Povo Canela do Araguaia.

 

Os Tapirapé, representados por Kamoriwai Elber Tapirapé, fizeram seu relato na língua. A tradução revelou a angústia manifesta no tom da fala: a reclamação também estava relacionada ao território. É preciso ter floresta. “Sem a floresta, nós não somos nada”, disse a liderança.

 

Os Chiquitano, por sua vez, trouxeram a realidade violenta na disputa pela terra entre indígenas e fazendeiros. “Para nós a terra não é mercadoria, ela é mãe. A constituição nos garante esse direito. Que ela seja respeitada”, afirmou Saturnina Urupe Chue. Embora o acesso às aldeias seja restrito, muitos fazendeiros avançam na tentativa de intimidar os índios.

 

A preocupação de Orivaldo Aiepa é que pelo menos seus netos tenham a segurança de crescer em local seguro. “Nós temos informação, sabemos a situação do país. Isso nos preocupa, mas o agronegócio não para. A água não é mais sadia. A mata não é mais sadia. Os bichos não são mais sadios e nós também não, porque estamos muito perto”, afirmou o Bororo.

 

Para alguns rituais, contam os indígenas, já não se encontra mais os animais necessários, como peixes e aves. Por vezes, em vez de caçar e pescar, os índios têm de comprá-los e transportá-los, correndo o risco de receber multas impagáveis ou ter a encomenda apreendida pela Polícia Federal. 

 

Contribuição científica        

 

Os indígenas se apropriam do conhecimento fornecido pela universidade e reivindicam cada vez mais espaço na academia. Assim eles se fortalecem, inclusive, com relação aos direitos que têm, além de ter acesso a diferentes técnicas que podem auxiliar em melhorias nas suas comunidades.

 

Essa foi uma das observações do presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Antônio Carlos Lima (MUNA/UFRJ) que participou do café da manhã temático, na abertura do evento, e provocou o debate na noite do dia 25/04, a partir do tema “O Estado brasileiro e os povos indígenas”. Ele trouxe o histórico da legislação voltada para os direitos dos povos originários, da luta pela terra e das instituições nacionais destinadas à proteção dos direitos indígenas. Para o antropólogo, o único caminho para avançar ainda é a articulação política por meio dos movimentos sociais.     

 

A UFMT tem hoje 75 estudantes que fazem parte do Programa de Inclusão Indígena (Proind). Eles representam 12 etnias diferentes, e estão presentes nos campi da UFMT em Cuiabá, Sinop, Araguaia e Rondonópolis. O Proind teve início em 2008, disponibilizando apenas dez vagas. Mas apesar do aumento gradativo, esses 75 estudantes indígenas não contemplam nem 28% do total de etnias que vivem no estado (43). Essas informações foram apresentadas pelo mestrando em Antropologia da UFMT, Adriano Boro Makuda. Formado em Direito pela UFMT, o estudante, da etnia Bororo, ministrou a palestra com tema “Estudantes indígenas do ensino superior e movimento indígena” na tarde do dia 26/05.          

 

Além de apresentar os dados, Makuda falou sobre as dificuldades encontradas pelos estudantes que chegam na universidade: a saudade da família, as diferenças estruturais da cidade e das relações pessoais, as responsabilidades financeiras que não existiam anteriormente (moradia, serviços, alimentação), as aflições diante do contato com metodologias e conteúdos desconhecidos e a pressão para superar todas essas questões.

 

O mestrando relatou, ainda, que o currículo da universidade, em especial da Faculdade de Direito, onde se formou, não envolve conteúdo de interesse indígena. “Eu fiz um debate na universidade, durante a minha graduação, sobre legislação indígena. Falei aos meus colegas que eles eram privilegiados, porque como futuros advogados, juízes, promotores, poderiam se deparar com casos envolvendo povos indígenas. Diferente do que as universidades oferecem, geralmente, eles estavam ali conhecendo a nossa realidade.”   

 

Para o presidente da Adufmat-Ssind, Reginaldo Araújo, o evento foi um aprendizado. A presença de estudantes indígenas na universidade é, para ele, uma oportunidade ímpar de formação cultural para todos. “Há quem acredite que estar na universidade é uma grande oportunidade para eles, mas na minha leitura é uma grande oportunidade para nós, de conhecer e ampliar nosso olhar sobre as diferentes culturas presentes no nosso estado e no nosso país", afirmou.

 

A semana terminou com um sarau indígena. A chuva e o frio atrapalharam um pouco, mas a reunião com música e comida típicas animou quem teve disposição de prestigiar o evento.

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

 

  

  

Segunda, 18 Abril 2016 17:12

 

O dia 19 de abril é mais um dia de luta dos povos oprimidos no Brasil. O chamado Dia do Índio marca a data em que foi realizado o I Congresso Interamericano dos Povos Indígenas, no México, em 1940, e representa mais do que um momento de troca cultural; é uma data que tem, antes de tudo, o objetivo de pautar as demandas políticas das comunidades indígenas.

 

Nesse período, atividades por todo o Brasil tratam dessa parte imprescindível da nossa história, durante as semanas dos povos indígenas.   

 

Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Cuiabá, os dias 25 e 26/04 serão dedicados a esse debate. Organizados por entidades ligadas a movimentos sociais e indígenas de Mato Grosso e pelos estudantes indígenas da universidade, os dois dias terão atividades como café da manhã temático, mesas de diálogo e um sarau com diversas artes dos povos da região, como os Manoki, Bororo, Chiquitano, Canela, Tapirapé, Rikbaktsa, entre outros.

 

Uma das preocupações do evento é demonstrar a importância do Museu Rondon da UFMT, fechado para reforma há mais de três anos. Com um dos acervos mais ricos do país e fundamental para a formação de diversos estudantes, ainda não há previsão de conclusão das obras.   

 

O presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Antônio Carlos de Souza Lima (Museu Nacional/UFRJ) também fará parte da programação. Na noite do dia 25/04, no auditório da Adufmat-Ssind, o professor ministrará palestra com o tema "O Estado brasileiro e os povos indígenas”.

 

Confira abaixo a programação na íntegra:

 

PROGRAMAÇÃO

25/04:

8h - Café da manhã temático com lideranças indígenas e autoridades - Museu Rondon da UFMT.


19h - Debate com o tema "O Estado brasileiro e os povos indígenas”, que será provocado pelo presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Antônio Carlos de Souza Lima (MN/UFRJ) - Auditório da Adufmat-Ssind.



26/04:

14h - Debate com o tema "Estudante indígena do ensino superior e Movimento Indígena", orientado pelo bacharel em Direito e mestrando em Antropologia da UFMT Adriano Boro Makuda - Auditório da Adufmat-Ssind.


19h - Sarau Indígena, a partir das 19h, na sede da Adufmat-Ssind.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Segunda, 18 Abril 2016 17:11

 

O dia 19 de abril é mais um dia de luta dos povos oprimidos no Brasil. O chamado Dia do Índio marca a data em que foi realizado o I Congresso Interamericano dos Povos Indígenas, no México, em 1940, e representa mais do que um momento de troca cultural; é uma data que tem, antes de tudo, o objetivo de pautar as demandas políticas das comunidades indígenas.

 

Nesse período, atividades por todo o Brasil tratam dessa parte imprescindível da nossa história, durante as semanas dos povos indígenas.   

 

Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Cuiabá, os dias 25 e 26/04 serão dedicados a esse debate. Organizados por entidades ligadas a movimentos sociais e indígenas de Mato Grosso e pelos estudantes indígenas da universidade, os dois dias terão atividades como café da manhã temático, mesas de diálogo e um sarau com diversas artes dos povos da região, como os Manoki, Bororo, Chiquitano, Canela, Tapirapé, Rikbaktsa, entre outros.

 

Uma das preocupações do evento é demonstrar a importância do Museu Rondon da UFMT, fechado para reforma há mais de três anos. Com um dos acervos mais ricos do país e fundamental para a formação de diversos estudantes, ainda não há previsão de conclusão das obras.   

 

O presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Antônio Carlos de Souza Lima (Museu Nacional/UFRJ) também fará parte da programação. Na noite do dia 25/04, no auditório da Adufmat-Ssind, o professor ministrará palestra com o tema "O Estado brasileiro e os povos indígenas”.

 

Confira abaixo a programação na íntegra:

 

PROGRAMAÇÃO

25/04:

8h - Café da manhã temático com lideranças indígenas e autoridades - Museu Rondon da UFMT.


19h - Debate com o tema "O Estado brasileiro e os povos indígenas”, que será provocado pelo presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Antônio Carlos de Souza Lima (MN/UFRJ) - Auditório da Adufmat-Ssind.



26/04:

14h - Debate com o tema "Estudante indígena do ensino superior e Movimento Indígena", orientado pelo bacharel em Direito e mestrando em Antropologia da UFMT Adriano Boro Makuda - Auditório da Adufmat-Ssind.


19h - Sarau Indígena, a partir das 19h, na sede da Adufmat-Ssind.

 

Segunda, 28 Março 2016 13:19

 

 

Representantes da Seção Sindical do ANDES-SN (Adufmat), Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso (DCE/UFMT), Museu Rondon da UFMT e Conselho Indigenista Missionário (CIMI) reuniram-se na última terça-feira (22) para iniciar a organização da semana dos povos indígenas em Mato Grosso.

 

Na UFMT, o dia 25/04 marcará o período, que sempre tem início na semana do dia 19/04 – chamado Dia do Índio, como referência a realização do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, em 1940.

 

A ideia é fazer do dia 25/04 um dia temático na universidade, com discussões e apresentações da culinária e culturas indígenas. No período da manhã, um café acolherá os interessados para um diálogo com a imprensa, lideranças indígenas, autoridades, e entidades ligadas à luta indígena. À noite, um debate sobre “O Estado brasileiro e os povos indígenas” deverá ser ministrado pelo presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Antônio Carlos de Souza Lima (MN/UFRJ).

 

Além disso, nos dias 19 e 20/04, o CIMI fará palestras em escolas públicas, com o objetivo de debater a temática indígena com a sociedade civil e autoridades competentes, respondendo as demandas dos povos indígenas e trazendo à luz as culturas, invisibilizadas pela sociedade neodesenvolvimentista.

 

O tema nacional indicado para a semana, que deve orientar o evento local é “Nossa casa comum ameaçada: povos indígenas, semente de solução”.

  

A próxima reunião para continuar a organização das atividades será realizada nessa quinta-feira (31/03), às 15h, na Adufmat-Ssind (dentro da UFMT). Todos os interessados podem participar.

 

Participaram do primeiro encontro, na terça-feira, os professores Reginaldo Araújo e Maria Clara Weiss (presidente e diretora da Adufmat-Ssind, respectivamente), Laís Caetano (DCE), Ryanddre Sampaio (Museu Rondon/UFMT), Natalia Filardo e Ir. Lourdes Duarte (CIMI).           

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Segunda, 28 Março 2016 13:14

 

 

Representantes da Seção Sindical do ANDES-SN (Adufmat), Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso (DCE/UFMT), Museu Rondon da UFMT e Conselho Indigenista Missionário (CIMI) reuniram-se na última terça-feira (22) para iniciar a organização da semana dos povos indígenas em Mato Grosso.

 

Na UFMT, o dia 25/04 marcará o período, que sempre tem início na semana do dia 19/04 – chamado Dia do Índio, como referência a realização do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, em 1940.

 

A ideia é fazer do dia 25/04 um dia temático na universidade, com discussões e apresentações da culinária e culturas indígenas. No período da manhã, um café acolherá os interessados para um diálogo com a imprensa, lideranças indígenas, autoridades, e entidades ligadas à luta indígena. À noite, um debate sobre “O Estado brasileiro e os povos indígenas” deverá ser ministrado pelo presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Antônio Carlos de Souza Lima (MN/UFRJ).

 

Além disso, nos dias 19 e 20/04, o CIMI fará palestras em escolas públicas, com o objetivo de debater a temática indígena com a sociedade civil e autoridades competentes, respondendo as demandas dos povos indígenas e trazendo à luz as culturas, invisibilizadas pela sociedade neodesenvolvimentista.

 

O tema nacional indicado para a semana, que deve orientar o evento local é “Nossa casa comum ameaçada: povos indígenas, semente de solução”.

  

A próxima reunião para continuar a organização das atividades será realizada nessa quinta-feira (31/03), às 15h, na Adufmat-Ssind (dentro da UFMT). Todos os interessados podem participar.

 

Participaram do primeiro encontro, na terça-feira, os professores Reginaldo Araújo e Maria Clara Weiss (presidente e diretora da Adufmat-Ssind, respectivamente), Laís Caetano (DCE), Ryanddre Sampaio (Museu Rondon/UFMT), Natalia Filardo e Ir. Lourdes Duarte (CIMI).           

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind