Terça, 04 Dezembro 2018 16:48

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Aldi Nestor de Souza*

 

A parcela do fies de Benedito, que se formou em administração de empresas e está sem trabalho, tá atrasada e é maior do que suas contas de luz e de água. E é uma dívida que lhe será companhia por uns bons anos, pelo menos até 2024. E nós estamos apenas em 2018.

E ainda tem filha pequena pra criar. Mônica, de seis anos.

Benedito agora é um devedor e terá que percorrer essa extensa linha de crédito. Ele voltou a estudar, fisgado pela tentação de se tornar uma mercadoria um pouco melhor, mais valorizada, mais apresentável na prateleira do mercado de recursos humanos, no saldão do comércio de gente.

Devido ao atraso, ele agora está fichado. O SPC, o Serasa e o Cadim lhe puseram as mãos e as amarras. E o mantém preso a seus bancos de dados. Todas as lojas e todos os bancos sabem que ele, no momento, não é confiável. Mas não é só isso. O fiador do FIES, que é seu antigo patrão, dono da distribuidora de gás onde ele trabalhava, também foi atingido por sua falha e é essa a parte que mais lhe consome.

Anda pensando em vender sua moto. Ou os móveis da casa. Mas é aconselhado pela mulher, Bernadete, a todo momento, a não fazê-lo.

- Onde já se viu querer vender a moto, que comprou com tanto sacrifício? Com ela você pode arranjar um trabalho, ser entregador, cobrador, essas coisas. Pode até alugar.

- Mas com nome sujo é que não quero ficar. Ainda por cima sujei o nome dos outros.

Benedito é magoado principalmente por ter entrado nessa devido aos estudos, coisa de que ele falava tão bem e em que tanto acreditava.

- Queria me formar pra dar uma vida melhor a minha família – relembra.

Antes da dívida, trabalhava entregando gás, na moto Honda 2008 que alugava pra distribuidora e faturava um extra. Ganhava pouco, gastava o sol, corria as ruas, mas não devia a ninguém. Era limpo na praça e gostava de estufar o peito ao dizer isso, o que lhe conferia um pouco de honra e lhe consolava as faltas, as injustiças e a pobreza.

O estudo lhe consumiu o nome, a coisa que ele mais prezava, e o tornou um homem taciturno. Vai ter que se reinventar, agora que entrou na categoria de desempregado e refém dos órgãos de proteção ao crédito.

E veja como são as coisas! Antes do gás, Benedito trabalhou numa empresa de cobrança. Andava na mesma Honda. E sabe muitas histórias de gente endividada como ele. Histórias que se juntam a sua e o impedem, por uma questão de princípios, de voltar à trabalhar na empresa de cobrança que lhe mantém as portas abertas.

- Como é que um velhaco tem moral pra cobrar de outro? – brinca.

Benedito tem a dívida regida pela matemática do sistema francês de amortização - a tabela Price, que lhe foi apresentada, pela primeira vez, justamente na faculdade. Um modelo de controlar dívidas pensado bem longe dele mas que lhe imprime o ritmo, as regras e lhe atinge tão perto. Uma matemática, inventada no outro lado do oceano, a lhe gritar, ali naquele bairro pobre e esquecido, o valor da ousadia de querer estudar. O modelo matemático que ele curtiu aprender na faculdade,  que lhe foi apresentado como inofensivo e neutro, agora se tornou incômodo e doloroso,  lhe fez de vítima, lhe manchou o nome e lhe tirou a liberdade.

A colação de grau, sonho que lhe ocupou a existência por muito tempo, se deu já em meio ao desemprego, à incerteza do futuro e à certeza da dívida volumosa. Ouviu o hino nacional, os discursos das autoridades e a chamada de seu nome já sentindo um gosto cinzento e um ar turvo de dúvidas. Manteve o olhar distante durante toda a cerimônia. Sorriu apenas o indispensável.

E despido de qualquer romantismo com o curso superior, sacou o diploma e adornou o currículo com o título de graduado em administração de empresas.  E mantém a esperança de que isso, em algum momento, seja validado em algum mercado, compense o investimento e o vexame, e o diferencie dos demais miseráveis que não conseguiram, sequer, cair na armadilha da linha de crédito do FIES.
 

*Aldi Nestor de Souza
professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá
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Segunda, 03 Dezembro 2018 09:24

 

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Por Roberto de Barros Freire*
 

Há duas questões que estão em discussão no país, a diminuição da menoridade penal e a escola sem partido. Problemas que estão imbricados e que são decorrentes de um único problema não avistado pelos defensores dessas duas teses equivocadas. Avistam-se soluções para efeitos do problema central do Brasil, a péssima educação, o abandono das crianças e jovens da educação pelo Estado, mas principalmente pela sociedade civil, porém não se avista solução para o real problema nacional, levantado não só pelos educadores, mas pelos organismos internacionais quando examinam a educação brasileira, que é a péssima educação ministrada por nossas escolas, mesmo nas escolas das elites.


De um lado não se percebe que os jovens infratores são responsáveis por no máximo 2% dos crimes violentos, e acreditam que prendendo esses menores se diminuirá o índice da criminalidade. De outro, se acredita que as escolas estão doutrinando jovens e crianças, quando na verdade não conseguem nem ensinar a ler e escrever, muito menos aprender as quatro operações básicas da matemática, quando não estão excluindo crianças e jovens do seu interior. Se aprendessem alguma ideologia já seriam boas, mesmo que ideologias equivocadas, mas nem isso se consegue ensinar direito.
Esse jovem infrator é fruto do abandono da sociedade e do Estado da educação dele, não fornecendo uma educação decente, nem agradável, nem razoável. Excluído cedo das escolas, cai na vida sem forças para resistir ao crime e suas ofertas, melhor do que a “boa” sociedade pode ofertar.

Diminuindo a menoridade penal, apenas penalizaremos ainda mais alguém que já foi penalizado pela sociedade que não lhe deu educação decente, nem uma escola boa. Ou seja, boa parte dos jovens evadem as escolas porque as mesmas nem são úteis, nem são vistas como uma forma de ascensão social, mas tão somente como algo estéril, quando não desagradável. Os jovens brasileiros ficam em média menos anos na escola, menos dias por ano e menos horas por dia que a maioria esmagadora da população mundial, o que faz das nossas escolas as piores do mundo.


Ora, há fartas evidências de que o professor médio nas escolas públicas frequentemente não está preparado para garantir que os alunos aprendam. E pesquisas mostram que a capacidade do professor é o que mais tem impacto no aprendizado dentro da escola. Esse profissional não tem formação inicial adequada e tampouco costuma receber boa qualificação em serviço. Muitos não dominam os conteúdos a serem ensinados e/ou as técnicas de didática para ensiná-los. A carreira também não atrai os estudantes com melhor desempenho nos vestibulares: quase ninguém quer ser professor.
Diferentemente da deficiência na aprendizagem, amplamente medida e quantificada, é desconhecida a intensidade da doutrinação de esquerda que Bolsonaro e apoiadores veem.


Se confirmada a guinada que o governo Bolsonaro pretende, o país colocará mais força para tentar solucionar um problema ainda incerto. E deixará de lado o problema do déficit de aprendizagem. Além disso, o projeto de lei da Escola Sem Partido diz, por exemplo, que "o professor não se aproveitará da audiência cativa dos alunos para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias". Há algo mais subjetivo e imensurável do que essa proposição?


Tanto o presidente eleito quanto alguns parlamentares acham que sexo tem que ser ensinado só dentro de casa. É de se perguntar, em que mundo eles vivem? Pesquisas mostram que jovens entre 15 e 26 anos não conversam com os pais sobre o assunto. A realidade deve ser pior entre os mais jovens, por uma única razão. A maioria das famílias não sabe e não está preparada para falar de sexo. Nunca esteve. Não conversaram com seus pais, e pais não sabem o que falar com seus filhos.


O problema não é a ideologia, mas a ideologia do outro. Ora, a democracia garante o direito de ter ideologias, opiniões, e o direito de ter opinião fundamentalmente significa – o direito a ter opinião errada, visto que poucos de fato conhecem a verdade e a realidade, se é que alguém conhece de fato. Enfim, a evasão e a repetência de jovens de 15 a 17 anos são o principal gargalo para o objetivo de universalizar o acesso à educação básica, e não a ideologia dos professores.


O problema ideológico acaba deixando de lado os problemas reais que precisam de solução urgente, e que são os mensuráveis por toda pesquisa educacional: uma formação precária dos docentes e alunos que saem do Ensino Médio analfabetos funcionais; o roubo, ausência ou baixa qualidade de merenda escolar; baixos salários de professores e falta de estrutura nas escolas para acolher os estudantes; teto orçamentário impedindo investimento na área. O obscurantismo está norteando a triste educação brasileira das novas gerações.


O desenvolvimento do Brasil passa obrigatoriamente pelo desenvolvimento de uma educação de alta qualidade. Valorização de profissionais, intensificação da carga horária e melhoria e expansão de escolas, entre outras medidas, apresentariam resultados a médio prazo. Mas ouvem-se apenas discussões etéreas. Na lista de prioridades dos bolsonaristas consta a implantação de mecanismos patrocinados pelo Estado, de resto inconstitucionais, para alcaguetar professores e bisbilhotar o que dizem em sala de aula: o indicado para a Educação propõe o restabelecimento da inquisição como modelo educacional.


A educação no Brasil não é ruim por culpa do PT, e sim, porque não foi prioridade em nenhum governo após a década de 60, incluindo o período da ditadura militar. A educação também está longe de ser prioridade do novo governo, que agora se rende às indicações da bancada da Bíblia em um assunto tão estratégico para o futuro. Uma educação que vai contra os valores ocidentais de tolerância religiosa, política e cultural. O que distingue os valores ocidentais? É a filosofia das Luzes. A tolerância, a abertura de espírito, o espírito crítico, o respeito às minorias, colocar o outro antes de si, o amor à cultura, o respeito à inteligência. E a educação só serviu para a emancipação humana quando ela se tornou laica, distante das repressões religiosas.


Estão propondo a volta da caça às bruxas, agora identificadas como esquerda, e a penalização de menores abandonados pela sociedade civil e o Estado.

 
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Quarta, 14 Novembro 2018 16:25

 

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Por Aldi Nestor de Souza*

 

E assim, sem nenhum pudor, sem nenhum remorso, sem nenhum acanhamento, sem nenhum luto, a pobre escola mandou plantar, na parte mais visível de seu pórtico, uma imensa faixa, de letras decididas e compenetradas, com a seguinte informação: primeiro lugar no ideb.

Nenhuma dúvida: a escola mostrou-se decidida a descer ao mais profundo dos confins da lógica do mercado e do consumo e apresentou seu preço, do mesmo modo como o fazem a alcatra, o sabonete, o papel higiênico, a goma de mascar. E como se estivesse numa prateleira das mais comuns, grita: primeiro lugar no ideb!  É a pechincha final.

Despudorada, a escola agora, pelo menos por uns dias, anda com sorriso largo, de nariz imponente e pode entrar pela porta da frente, a exigir respeito, da secretaria que lhe impõe regras e rédeas e respira o ar árido da glória meritocrática, alcançada ao custo de uma subserviência enlatada, como se fosse puro.

Primeiro lugar no ideb! É o que esbraveja a faixa de medidas largas, ecoando para toda a comunidade à sua volta os louros por ter cumprido à risca a determinação do distante ministério que nem lhe reconhece o linguajar, nem os costumes, nem as medidas, nem a cor, nem as feições, nem a história.

Primeiro lugar no ideb foi a morte a que se reduziu a antiga e simpática escola, dona de saudosa história de eventos comunitários, de festas, de jogos, de quermesses. História essa que, aos poucos, anda se desfazendo e sendo trocada por treinamento rigoroso para atingir o tão propalado e degradante pódio.

Ocupada com o êxtase do exame e de suas consequências, nem percebe o mugido da educação à distância, que se aproxima a passos largos e que já ameaça trinta por cento da presença física,  na escola, de sua juventude mais verdejante. Também não lhe sobre tempo pra discutir a excrescência do silêncio, imposto pelo projeto que ameaça amordaçar a liberdade de cátedra de seus professores.

Não! O ideb parece ser o grande fim. Ocupar a primeira posição, e narcisisar-se com isso, é a meta. Cumprir a meta numérica, e apregoá-la ao alcance dos olhos dos míopes, é o que interessa. Disputar os parcos recursos do ministério, às custas do preço alcançado no exame, é o fim da educação.


O que essa pobre escola tem a dizer pro estudante que também  viu seu nome apregoado no alto da avenida, num outdoor flamejante, a anunciar “primeiro lugar em medicina na federal” ? Como vai orientar esse pobre jovem, também precificado e exposto ao mais visível e mortal dos relentos? Como pretende  fazer resistência ao violento comércio da educação?

Primeiro lugar no ideb! Comemora a escola, agora vencida pelas ordens dos organismos internacionais que colonizam o pensamento e escravizam pais, alunos e professores e os submetem ao vexame de atingir esse tão disputado lugar nenhum.

Nenhuma diferença existe entre ela, a primeira colocada, e a outra escola, do mesmo bairro, das mesmas condições, e que se deu mal no exame. Mas, ambas cegas, apenas desfilam suas alegria e dor na mesma intensidade, e não criticam, nem resistem, nem analisam os ditames do exame que as mortificam.

E nesse rito, as escolas, como um todo, vão se degenerando e se transformando num lugar inóspito, oco, vulgar, pragmático e triste. E, a galope, vão perdendo o sentido e nada tem a oferecer à humanidade que, ao vê-las, precifica-se também, perde a dignidade e entrega-se à gula dos mercadores ferozes e insaciáveis.

Agora rastejantes, as escolas se igualam as ervas daninhas, rentes ao chão, sem conseguir olhar nada muito alto, nada muito longe, nada muito belo, nada muito poético, nada muito artístico. Ficam ali, a danificar as frutíferas, as comestíveis, as medicinais, as livres. Sobrevivem como um incômodo, um incômodo que pode ser carpido a qualquer momento, sem nenhum grito de compaixão, sem nenhuma defesa.

Talvez as escolas sejam reflexo do que fazem os cursos de graduação das universidades, que seguem a mesma sina, também tem seus preços afixados nos pórticos e cumprem lá suas corridas na mesma direção, a direção do reinado das ervas daninhas.

Talvez as escolas, assim como as universidades, não tenham entendido direito sua função junto à sociedade. E igualam-se às empresas mais rudes, buscando metas que se medem com números vulgares e resultados entendíveis até aos pés de capim e as ervas cidreiras.

Talvez as escolas, assim como as universidades e as ervas daninhas, não tenham percebido o risco que estão correndo e não veem a roçadeira no braço do capinador a mirar-lhe o tronco e, de um só golpe, tirar-lhe a vida.  

Talvez as escolas, assim como as universidades, tenham se afeiçoado ao reino das ervas daninhas e acostumaram-se a ser de pouca serventia, numa existência de mato vadio, sombra pros rastejantes mais peçonhentos.
 

*Aldi Nestor de Souza

Professor do departamento de matemática - UFMT/Cuiabá

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Terça, 06 Novembro 2018 11:19

 

A fim de resguardar a democracia e o direito de todos à educação, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88) concretiza o direito à liberdade de cátedra, que, por um lado garante à comunidade o acesso às pesquisas e ideias desenvolvidas pela academia, e, por outro, assegura a liberdade de atuação em sala de aula. Será inconstitucional, portanto, qualquer conduta que busque limitar esse Direito.

O art. 205, da CF/88, prevê que a educação visará o preparo para o exercício da cidadania, além da qualificação para o trabalho, sendo que os princípios que orientam a educação foram explicitados no artigo seguinte. Conforme o artigo 206, II e III, garante-se a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber” e o “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”. A liberdade de cátedra é também reforçada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96).

Neste cenário normativo, qualquer professor ou professora que que venha a ser alvo de ameaça ou constrangimento ao exercício desse básico direito, pode e deve usar a legislação existente em favor da liberdade de cátedra.

É possível, ainda, invocar a garantia da autonomia universitária, também constitucional (artigo 207, da CF/88), que representa uma importante conquista do movimento democrático, não apenas durante a constituinte, mas fruto de permanente esforço de associações e sindicatos em garantir o exercício pleno desse direito, que nasce do reconhecimento da histórica resistência da comunidade acadêmica frente à vocação autoritária do Estado brasileiro.

Centrados nesses direitos e garantias constitucionais é que passamos as seguintes orientações preliminares diante dos recentes ataques à autonomia e liberdade de expressão de professores e professoras das Universidades Públicas, Institutos Federais e CEFET.

1 – Em caso de ameaça física ou verbal direta e/ou por meios de comunicação impressa e/ou eletrônicas registre fotografando, filmando, gravando e salvando documentos, se possível na presença de testemunhas;

2 – A entrada de pessoas estranhas na sala de aula somente pode ocorrer com autorização do/a professor/a;

3 – Acaso ocorra o ingresso de pessoas não autorizadas em sala de aula, chame imediatamente a coordenação imediata de sua instituição de ensino e informe oficialmente, por escrito, à direção da instituição de ensino;

4 – A utilização de celular e/ou outro equipamento que permita a gravação em sala de aula somente poderá ocorrer com autorização do/a professor/a. Acaso a gravação ocorra sem esse consentimento, e seja utilizado para outros fins, isso pode ensejar medidas judiciais cíveis e criminais contra o/a autor/a das ameaças e/ou ofensas. Importante! Faça prova do fato e procure a assessoria jurídica de sua seção sindical para orientação imediatamente. Sugerimos que já seja explicitado no programa do curso, entregue no início do semestre, a proibição para gravação e fotografar as aulas;

5 – Denuncie sempre qualquer tipo de ameaça, inclusive para a mídia que a está divulgando e para a sua instituição de ensino! A maioria das mídias impressas e eletrônicas dispõe de mecanismos que permitem que se faça denuncias;

6 – Não haja sozinho, procure preferencialmente o apoio jurídico de sua seção sindical e/ou de instituições públicas e/ou privadas de defesa dos direitos do/a cidadão/a, como o Ministério Público, Defensoria Pública, Ordem dos Advogados do Brasil e outras no seu estado;

7 - Cuidado com modelos de petições que circulam na internet e no whatsapp. Antes de tomar qualquer medida, procure a assessoria jurídica da sua seção sindical;

8 – Caso seja necessário ir à delegacia de polícia para registro de boletim de ocorrência, vá sempre acompanhado, preferencialmente com um/a advogado/a;

9 – Cuidado com as fake news, elas ajudam a disseminar o pânico. Caso receba alguma mensagem, cheque a confiabilidade da fonte e a veracidade da informação antes de repassar. Acaso não consiga essa confirmação, encaminhe para o conhecimento de sua seção sindical e não envie adiante;

Essas são orientações preliminares de como proceder em caso de ameaça ao direito constitucional à liberdade de cátedra. A Assessoria Jurídica Nacional (AJN) está preparando um manual buscando trazer orientações mais detalhadas e que em breve será disponibilizado!

Sendo o que tínhamos para o momento, nos colocamos, desde já, à disposição para esclarecimentos complementares que se façam necessários.

 

Atenciosamente,

 

Rodrigo Peres Torelly

Assessoria Jurídica Nacional do ANDES-SN

OAB/DF nº 12.557

Sexta, 26 Outubro 2018 16:31

Sindicatos e movimento estudantil se manifestam em defesa das liberdades democráticas e das instituições públicas de ensino superior

ANDES-SN, Fasubra, Sinasefe, Une, Fenet e Anpg divulgaram, nesta sexta-feira (26), uma carta aberta à sociedade brasileira e à comunidade acadêmica para denunciar os ataques contra a Universidade Pública Brasileira, orquestrados por meio de ações da Justiça Eleitoral, que em alguns casos foram acompanhadas pela Polícia Militar ou Polícia Federal.

O documento destaca que “desde o fim do segundo turno das eleições gerais no Brasil, a violência, o ódio e as ações de perseguição contra LGBTTI, mulheres, jovens, negros/as tem se intensificado, assim como os ataques à liberdade de expressão nas Universidades Públicas”.

As entidades denunciam os casos de agressões e violências, físicas e verbais, dentro das Universidades Públicas. “Além de um conjunto de Fake News que visam desmoralizar as instituições públicas e o funcionalismo público”, acrescentam.

As entidades, que representam docentes, técnicos e estudantes das instituições federais de ensino, reafirmam o compromisso intransigente com as liberdades democráticas, em defesa das instituições públicas de ensino superior e da organização autônoma dos trabalhadores dessas instituições.

“Nossas instituições, ao longo de todo o seu histórico, defenderam as bandeiras da democracia, das liberdades, da defesa dos direitos dos grupos marginalizados, da liberdade de expressão e da autonomia das instituições públicas de ensino. Sempre nos colocamos contra o autoritarismo, a ditadura e o fascismo. Nesse momento histórico do Brasil, em que o país está polarizado entre projetos políticos distintos, reafirmamos nossas posições históricas. Por isso mesmo, estamos sendo perseguidos”, declaram.

Na avaliação das entidades, o objetivo dos ataques é desmoralizar a educação pública, como já vem ocorrendo desde 2016. “Não vão nos calar! Não vamos recuar! Continuaremos nas ruas em defesa das políticas públicas, das universidades e das liberdades democráticas!”

A carta ainda questiona o posicionamento da Justiça Eleitoral, que considerou que faixas com a expressão “antifascistas” atacam o candidato Jair Bolsonaro. “Neste caso, não deveria a justiça tomar medidas contra o fascismo? Por que, em um Estado Democrático de Direito, como estabelece a Constituição Federal de 1988, perseguir os que se colocam contra o fascismo?”, perguntam.

As entidades ainda denunciam a proibição de panfletos, debates e palestras que abordem temas como democracia, eleições e se proponham a explicar o que é o fascismo. Nesta quinta-feira (25), diversas instituições foram notificadas pela justiça eleitoral.

“Nas ruas e nas lutas, nossas entidades foram construídas e aí continuaremos. Nossas lutas não se encerram no dia 28 de outubro com o segundo turno. Ao contrário, após derrotar nas urnas o projeto contrário à educação pública e às liberdades democráticas vai permanecer o desafio de defender nas ruas a Universidade Pública e a democracia”, concluem.

Confira aqui a íntegra da carta.

 

Fonte: ANDES-SN

Terça, 09 Outubro 2018 10:38

 

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Por Aldi Nestor de Souza*
 

Planejei submeter um relato de experiência para o congresso de educação, SEMIEDU, que acontecerá aqui na UFMT, no mês de novembro desse ano.  O relato trata de uma experiência que fiz em sala de aula, de uma disciplina de Álgebra, aqui do curso de licenciatura em matemática da UFMT, na qual Paulo Freire e sua Pedagogia do Oprimido se fizeram presentes e transitaram no meio da abordagem axiomática da teoria dos Anéis e Corpos de que trata a citada disciplina. Chamei a experiência de Álgebra do Oprimido.

Eu até cheguei a escrever o relato. Num wordzinho, como esse que aqui escrevo, num total de 6 páginas, estava tudo pronto e relatado: as leituras freireanas, as aulas de álgebra, a linguagem abstrata da teoria matemática em questão, os debates sobre: a serviço de quem estão estas palavras abstratas?, de quem são mesmo as palavras que constam dos livros de Álgebra?, quem lê livros de matemática?, é a Matemática, em particular, a Álgebra, uma concentradora de conhecimentos e que tem a linguagem como o grande gargalo?

A ideia de usar Paulo Freire foi justamente a de discutir, à luz de sua educação como prática da liberdade e de sua educação dialógica, o papel rígido, de certa forma indubitável das ideias e escritas matemáticas que gozam de um conforto estupendo no meio acadêmico e quase não sofrem crítica sobre sua forma de se apresentar à sociedade e, em particular, para estudantes de cursos como os de formação de professores.

Até fiz a inscrição no SEMIEDU, paguei o boleto e tudo mais. Na hora H, a de enviar o material, fui dar uma conferida nas instruções para tal submissão e parei. O conjunto de regras e normativas, coisas da ABNT, davam um total de 15 páginas. Isso só para a modalidade RELATO DE EXPERIÊNCIA, relato esse que, segundo uma das normas, deveria ter entre 4 e 8 páginas. Isso mesmo, 15 páginas de regras para a submissão de um texto com no máximo 8 páginas.

Quando eu pensei em relatar essa experiência foi com a melhor das intenções, e até mesmo acreditando estar contribuindo ou sugerindo uma possibilidade de abordagem para disciplinas, como a que relatei, marcadas por um alto grau de abstração e reprovação por parte dos estudantes. Pensei no relato como forma de mostrar pros colegas de ofício e receber deles a apreciação e críticas, tão fundamentais na construção de práticas de ensino e aprendizagem.

Mas as regras, ah, as regras, me retiraram de tal maneira a vontade da tal submissão que desisti por completo. Tamanho de letras, espaçamentos, margens, referências bibliográficas, tudo com suas medidas, tantas e tão implacáveis, que cansei até de lê-las.

Reproduzo aqui, como ilustração, um pouquinho das tais regras só para o uso de alíneas.

“ É possível, também, o uso de alíneas, que obedecem às seguintes indicações:

  1. a) Cada item de alínea deve ser ordenado alfabeticamente por letras minúsculas seguidas de parênteses, como neste exemplo;
  2. b) Use ponto-e-vírgula para separar as alíneas, exceto no último item;
  3. c) A lista de alíneas é separada do parágrafo de texto anterior por meia linha em branco (6pts) e do parágrafo de corpo de texto seguinte por uma linha (12pts);
  4. d) O estilo "Alínea" constante deste documento pode ser usado para a aplicação automática da formatação correta de alíneas.”

É claro que esse conjunto de regras não é um privilégio apenas do SEMIEDU. Para qualquer lugar que se ande na academia, é forte a pressão de órgãos que nos medem da cabeça aos pés, nos controlam e nos padronizam. Estamos, lembrando aqui de Herbert Marcuse,  unidimensionais, no apogeu do progresso técnico e vivendo numa sociedade cada vez mais sem oposição.

Mas qual será mesmo a gravidade estética de um espaçamento 1,5 ser trocado, por exemplo, por um de medida 1,0? Ou por outra, quão sério é uma margem superior 2,5 ser trocada por uma de 3? Mais grave do que tudo: imagine a tristeza de um avaliador do evento ao ter que conferir essas medidas. Imagine ainda dispensar um trabalho acadêmico sob a alegação de que numa referência bibliográfica, uma certa letra minúscula foi trocada por uma maiúscula.

Lembrei aqui de um artigo, no qual constava a demonstração da infinitude dos números primos e que foi feita em apenas uma linha. Segundo as normas do SEMIEDU, esse importante trabalho não teria chance de ser aceito.

Por fim, quem tem tempo de ter criatividade se uma avalanche de normas e regras rígidas tolhem a paciência, roubam o tempo e  asfixiam a liberdade de pensar sob o pretexto de, nos moldes de uma linha de montagem, padronizar os trabalhos pela escrita?

De quem são, afinal, as palavras iguais que constam dos trabalhos acadêmicos? A quem interessa tanta coisa cinza?



*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá.
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Segunda, 08 Outubro 2018 14:52

 

A direção da Biblioteca Central (BCE) da Universidade de Brasília (UnB) divulgou na quinta-feira (4) que cinco livros de seu acervo sobre direitos humanos foram danificados propositalmente. Os livros rasgados foram encontrados por um servidor da BCE, que percebeu um padrão nos danos e identificou ainda outros dois livros danificados.

 

Em entrevista ao portal G1, o servidor afirmou que notou que os danos são “muito característicos” e, por medo de ameaças, preferiu manter seu nome em sigilo. "O fato vem ocorrendo desde o início do ano. Foi de pouco em pouco. Supomos que foram casos isolados, mas agora reunimos sete livros que sofreram o dano", disse ele ao G1.

 

Quatro livros rasgados são da área de direitos humanos, um sobre a história do movimento pagão na Europa e, os demais, da seção de belas artes, sobre o renascimento. Um dos livros rasgados, cuja imagem circula nas redes sociais, é sobre a ditadura empresarial-militar brasileira. Na imagem é possível ver que o livro foi rasgado na página que traz a emblemática foto de um homem pichando “Abaixo a Ditadura” em uma parede.

 

Confira abaixo a nota da BCE da UnB.

 

NOTA PÚBLICA

 

A direção da Biblioteca Central da Universidade de Brasília (BCE/UnB) identificou cinco livros propositalmente danificados, todos sobre temáticas relacionadas aos direitos humanos. A BCE está, no momento, fazendo uma varredura em outros títulos acerca desse assunto, de forma a verificar se há mais obras rasgadas. Será aberta uma investigação preliminar para apurar as circunstâncias e identificar os responsáveis.

 

A UnB repudia quaisquer atos de vandalismo e informa que abrirá processo junto à Polícia Federal, órgão que apura casos de dano ao patrimônio na Universidade.

 

 

Fonte: ANDES-SN (com informações de BCE/UnB e G1). 

 

Segunda, 08 Outubro 2018 09:58

 

Sindicato Nacional ressalta importância de investimentos públicos em educação pública

 

O ANDES-SN enviou uma carta a todos os treze candidatos à presidência do Brasil apresentando propostas para a educação pública. O envio da carta foi deliberado durante o 37º Congresso do Sindicato Nacional, realizado em Salvador (BA), no início do ano.

 

Na carta, o ANDES-SN lembra que o Brasil tem uma dívida histórica com a educação pública e que é necessário garantir o investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em todos os níveis da educação pública. O Sindicato Nacional também critica o Plano Nacional de Educação (PNE) em vigência, por ele não fazer distinções entre investimentos públicos e privados.

 

O ANDES-SN também defende a autonomia das instituições de ensino em relação ao Estado, aos governos e aos partidos políticos. Na missiva, a entidade afirma que essa autonomia deve ser pautada “pela liberdade de pensamento e informação, sendo vedada qualquer forma de censura ou discriminação de natureza filosófica, religiosa, ideológica, política, ética, de gênero ou orientação sexual”. Por fim, o Sindicato Nacional reafirma a necessidade dos docentes terem remuneração justa e carreira estruturada.

 

“Entendemos que nesse momento de disputa de projetos para a sociedade brasileira é fundamental que Vossas Senhorias assumam o compromisso público em defesa da Educação Pública, gratuita, laica, de qualidade e socialmente referenciada, que contribua na construção de uma sociedade justa e igualitária”, conclui a carta.

 

O ANDES-SN também enviou aos presidenciáveis a carta da Auditoria Cidadã da Dívida, que demonstra a necessidade de realizar uma auditoria na dívida pública brasileira, e o Caderno 2 do Sindicato Nacional, que apresenta uma aprofundada análise da situação da educação brasileira.

 

Confira aqui a carta do ANDES-SN aos presidenciáveis.

Confira aqui a carta da Auditoria Cidadã da Dívida aos presidenciáveis.

Confira aqui o Caderno 2 do ANDES-SN.

 

Fonte: ANDES-SN

Quinta, 20 Setembro 2018 10:07

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

Estamos há menos de um mês para a realização das eleições gerais quando 147,3 milhões de eleitores estarão aptos a escolherem quem irá dirigir os destinos do Brasil no plano federal e em todos os Estados e o Distrito Federal. Desses 147,3 milhões de eleitores, para vergonha de nossa tão propalada democracia corroída pela corrupção e pela mediocridade de nossos governantes, estão também incluídos 11,8 milhões de analfabetos e mais 38 milhões de analfabetos funcionais, que totalizam quase 50 milhões de pessoas ou 33,8% de eleitores que ou não sabem ler e escrever ou mesmo tendo frequentado alguns anos de escola não conseguem entender um simples parágrafo e, por isso são facilmente manipulados pela propaganda politica enganosa.


Na 14a. Sessão da UNESCO em 26 de outubro de 1966, foi criado e aprovado o DIA INTERNACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO, a ser “comemorando” , lembrado e relembrado por todos os países, no DIA 08 DE SETEMBRO DE CADA ANO, incluindo organizações governamentais e não governamentais de que a educação é o fundamento do desenvolvimento nacional e mundial, sem a qual bilhões de pessoas estarão sempre excluídas dos frutos deste desenvolvimento.


Se a educação é o fundamento ou condição básica para que um país rompa as amarras do atraso, da miséria, da desigualdade e possa dar um salto qualitativo que promova melhores condições de vida, melhores oportunidades de trabalho e melhores salários no plano individual, a base da educação é a ALFABETIZAÇÃO, tanto no inicio do processo educacional quanto para atingir e possibilitar a inclusão de milhões de jovens, adultos e idosos, que com 15 anos ou mais são analfabetos ou analfabetos funcionais.


De acordo com dados recentes da UNESCO, no mundo existem 758 milhões de analfabetos, mas que devido a subnotificação de dados nacionais e a baixa qualidade das estatísticas em inúmeros países, este total pode ser aproximar a mais de 850 milhões de pessoas. China, Índia, diversos outros países na Ásia, África e América Latina, apesar dos “esforços” que vem sendo realizados para extirpar esta chaga que denigre em muito a imagem desses países, inclusive do Brasil, ainda estão muito longe de atingirem a meta de ALFABETIZAÇÃO Universal e ANALFABETISMO ZERO.


O progresso tanto em alfabetização de crianças quanto de adultos é a base de todo o processo educacional e, se não for feito corretamente ou se for negligenciado, afetará negativamente a vida do estudante, trazendo sérias consequências tanto em sua vida acadêmica quanto para sua inserção produtiva no Mercado de trabalho e para o desenvolvimento do país, principalmente nas áreas da ciência e tecnologia; do preparo da mão-de-obra, nos níveis de remuneração e distribuição de renda, enfim, será uma das causas do atraso em todas as áreas, que tão bem caracterizam os países sub desenvolvidos ou emergentes.


O analfabetismo no Brasil tem sido reduzindo ao longo das últimas décadas, mas de forma extremamente lenta e já foi objeto de inúmeros programas de governo como o MOBRAL e ultimamente o EJA – Educação de jovens e adultos. Nos anos que antecederam a intervenção militar, ou seja, governos Jânio Quadros e João Goulart, inúmeras iniciativas foram colocadas em prática, incluindo o Método PAULO FREIRE, que além da alfabetização se propunha a estimular o despertar da conscientização do alfabetizando, no caso, alfabetização de adultos. Em decorrência da controvérsia ideológica envolvendo não apenas o método em si, mas principalmente seu idealizador (Paulo Freire), que chegou a ser preso durante os primeiros anos dos governos militares e depois viveu muitos anos no exílio, os esforços governamentais foram reduzidos neste sentido. 


Na mesma época também houve uma experiência no âmbito estadual, no Rio Grande do Norte e também em Recife, com Aluísio Alves e Jarbas Maranhão, respectivamente, mas foram paralisados com a troca de governo e sua substituição pelo MOBRAL, programa idealizado pelos governos militares para dar conta deste desafio.


O Brasil em seu último plano nacional de educação estabeleceu que a taxa de analfabetismo em 2015 deveria ser de 6,5% e que a meta de ANALFABETISMO ZERO deveria ser alcançada em 2024. Todavia, as taxas de analfabetismo estão “congeladas” ou tem caído muito pouco nos últimos anos. Em 2015 foi de 7,7%; 2016 caiu para 7,2% e no último ano chegou a 7,9%; isto significa que em três anos a queda foi de apenas 0,7% ou uma queda anual de 0,23%.


Se este for o ritmo pelos próximos anos, o Brasil vai precisar de mais 30,4 anos para atingir a meta de analfabetismo zero, ou seja, apenas 2047, desde que todas as crianças em idade de inicio escolar estejam na escola e sejam, de fato, alfabetizadas, o que jamais acontecerá, considerando o descalabro em que se encontra a educação brasileira, em todas as suas  fases ou níveis, descalabro este reconhecido até por diversos ministros da educação, como o atual.


A falta de valorização do corpo docente e demais trabalhadores em educação; a falta de investimento em infraestrutura e recursos pedagógicos, em atividades de suporte a uma boa educação, incluindo alimentação escolar, transporte escolar, bibliotecas, laboratórios, além da corrupção que tem dominado esta área, praticamente em todos os Estados, sempre sujeita ao fisiologismo politico e o aparelhamento da administração pública, indicam que vamos ter que “comemorar” por muitas e muitas décadas o DIA MUNDIAL DE COMBATE AO ANALFABETISMO.


Esta realidade é triste, é vergonhosa. Só existe uma certeza, com os governantes que temos em todos os níveis, do plano federal, passando pelos estados até chagar aos municípios, nosso pais esta fadado a estar sempre na “rabeira” dos rankings da UNESCO e outras organizações internacionais. Segundo a UNESCO, em 2016 entre 127 países o Brasil ficou em 88a posição, atrás até da Bolívia e que na mesma ocasião existiam mais de 700 mil crianças, em idade escolar, fora da escola e as taxas de analfabetismo em algumas regiões do Brasil e na área rural é superior a 28% da população com 15 anos e mais.


Sobre isto é o que devemos refletir neste 08 DE SETEMBRO de 2018, mais um DIA INTERNACIONAL DE COMBATE AO ANALFABETISMO, oxalá a população e os candidatos possam debater um pouco mais sobre esta realidade e buscarem um novo caminho que transforme esta realidade.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular, aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e articulista de diversos veículos de comunicação. Email, O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com