Terça, 31 Março 2020 17:29

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

Diante da onda de liberalismo e de neoliberalismo que estava varrendo o mundo, tendo como matrizes os EUA, principalmente após a eleição de Trump, um negacionista, que nega a ciência quando se trata de mudanças climáticas, ou nega as evidências científicas e da comunidade médica, incluindo as recomendações da OMS – Organização Mundial da Saúde, facilitando a disseminação do coronavírus nos EUA e a mesma toada seguida por Boris Johnson no Reino Unido e em vários outros países com predomínio da extrema direita nos governos, inclusive no Brasil, a palavra de ordem por anos a fio foi “menos estado”, em certo sentido aquém do que se convencionou a ser denominado por esses liberais, como o “estado mínimo”.

Para esses tresloucados é fundamental desregular tudo, entregar tudo, de preferência de mão beijada, ao “Deus mercado”, que tem mais agilidade, menos burocracia, custa menos e, por outro lado, ajuda a aumentar os lucros, a acumulação de capital, o enriquecimento de uns poucos, da camada dos 1% do top da pirâmide social e econômica, mas sem reduzir a carga tributária que continua recaindo sobre os ombros e o lombo do povo, via um Sistema tributário regressivo e injusto, que poupa os mais ricos e penaliza os mais pobres.

Com certeza esses liberais querem acabar com o Estado que apoia e assiste os mais pobres e manter o estado que subsidia o capital e abre mão de tributos através da renuncia fiscal que favorece também aos grandes grupos econômicos.

No Brasil, com a eleição de Bolsonaro, que pegou carona na onda da rejeição do PT, no combate à violência e à corrupção, a economia foi entregue a um dos chamados “Chicago's boy”, que, ele próprio fez parte do grupo de alguns economistas que ajudaram o ditador Pinochet a privatizar tudo e a entregar o patrimônio público daquele país, também de mão beijada, aos barões da economia chilena e seus aliados internacionais. Os resultados já estão surgindo no Chile, aumento de pobreza, miséria e revoltas populares.

Resultado, tanto no Chile quanto já em pouco tempo esta fazendo sentir na sociedade brasileira, aumento da pobreza, da informalidade, no subtrabalho que aos poucos se aproxima do trabalho escravo e no sucateamento de todos os serviços públicos, principalmente nas áreas de saúde, educação, meio ambiente, habitação e saneamento básico, enfim, aumento da exclusão social que afeta dezenas de milhões de brasileiros.

Justiça seja feita, parte deste desmonte do Estado foi incrementado no governo de Temer, eleito como vice presidente, graças à aliança do então PMDB, hoje MDB  não apenas com o PT, mas vários outros partidos de esquerda.

O mundo esta assistindo uma pandemia que esta levando o pânico, a ansiedade e desespero à população; aos profissionais de saúde e também à arrogância, o autoritarismo, a prepotência, à falta de rumo e desespero de governantes como Bolsonaro e seus ministros que estão em um eterno “bate cabeças”, por faltar-lhes competência para enfrentar alguma crise profunda, como esta que está em andamento.

Enquanto o Ministro da saúde diz que segue as orientações técnicas da OMS, da ciência e da comunidade médica que recomenda o isolamento social amplo e se inspira em formas de enfrentar o coronavírus em alguns países que conseguiram êxito em tempo recorde como a China e a Coréia do Sul, orientando e encarecendo que a população tome medidas de higienização e isolamento social e quarentena, com suspensão das atividades econômicas, com exceção das estratégicas , essenciais e necessárias, o Presidente Bolsonaro, `a semelhança de um super homem, chamando a atenção da população de que “não está nem ai para esta gripezinha, este resfriadinho”, o número de infectados, inclusive mais de 23 integrantes de sua comitiva que viajou recentemente aos EUA , só cresce e dentro de poucas semanas esta realidade cruel, como já acontece nos EUA, na Itália, na Espanha e no Reino Unidos, poderá estar batendo com todo o seu poder devastador `as nossas portas.

Como todas as crises, sejam econômicas, financeiras, ambientais, sanitárias ou decorrentes de guerras generalizadas, a pandemia do coronavírus está deixando um rastro de destruição na área da economia, com diversos estudiosos afirmando taxativamente que, ao final da mesma, haverá uma grande recessão mundial, atingindo todas as economias, tanto de países pobres, emergentes e também ricos e super  desenvolvidos, tanto os países do G7, do G20, da União Europeia e outras regiões.

Todavia, como varias pessoas tem afirmado, a economia, mesmo sendo destruída pode ser recuperado, como diversos exemplos tem acontecido ao longo da história, mas dezenas, centenas de milhares ou milhões de mortes ninguém conseguirá recuperar essas vidas ceifadas. Esta é a diferença entre quem só pensa na recuperação da economia e coloca em um segundo lugar o esforço para salvar vidas.

Aqui é que entra a questão do “Deus mercado”, se na concepção desses liberais, ultra liberais ou neoliberais que desejam acabar com o Estado, até o Estado mínimo, para entregar tudo para a iniciativa privada, deixando ao mercado a incumbência de tudo regular, tudo resolver, porque estão agora tomando medidas que vão de encontro, contrárias às suas doutrinas?

Vejam, em todos os países, inclusive no Brasil, nos EUA , na Europa, no Japão, diante da crise, os governantes liberais, hipócritas, estão ampliando os gastos públicos, botando a “maquininha” para rodar e imprimir moeda, aumentando o endividamento público, alterando Leis que regulam o equilíbrio fiscal como acontece no Brasil com as alterações nas Leis de Reponsabilidade Fiscal e das Diretrizes orçamentárias, até mesmo a intervenção direta no sistema produtivo.

Enquanto Bolsonaro vai na contramão até das medidas tomadas pelo seu guru e ídolo Trump, que não titubeou em enviar  ao Congresso americano e conseguir um pacote trilionário (em dólares), e também medidas de transferência de renda e apoio tanto a grandes empresários quanto desempregados e pequenos/microempresários que estão ema puros, aqui no Brasil “o bate cabeças” não é apenas entre Bolsonaro e seu ministro da saúde, mas também não devera ser entre o Capitão e seu guru, todo poderoso ministro da economia, que disse que a população deve ficar em casa enquanto seu chefe passeia livremente, em tempos de coronavírus, tanto no meio de manifestantes que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, quanto moradores humildes da periferia de Brasília.

Ah, neste domingo Trump, mudando radicalmente de posição, informou que vai prorrogar o prazo de isolamento social que findaria em 07 de Abril, para o dia 30 do mesmo mês. Na Europa todos os governos estão ampliando o período de quarentena e isolamento social, única estratégia que de fato tem se mestrado eficiente na redução da proliferação do coronavírus, totalmente diferente da proposta de Bolsonaro que deseja a liberação geral e imediata.

No Brasil também praticamente todos os governadores, com raras exceções como o de Mato Grosso, propugnam pelo isolamento social e a restrição das atividades econômicas, educacionais, religiosas, esportivas, culturais, como forma de evitar aglomerações e aumentar a disseminação do coronavírus.

Se o Governo Federal, os governos estaduais e governos municipais, tivessem o mínimo de planejamento integrado, ações articuladas, politicas, estratégias e ações de enfrentamento desta ou de qualquer outra crise de magnitude, com certeza, não seria necessário o Presidente Bolsonaro tomar decisões intempestivas, contraditórias, as vezes quase que tresloucadas e incitando a população a não respeitar decisões de outras instâncias governamentais, inclusive do poder judiciário.

Talvez seja por esta razão que já existem diversas pessoas, inclusive parlamentares e juristas defendendo que o Presidente Bolsonaro seja submetido a testes de sanidade mental.

Cabe aqui um destaque que várias de suas decisões já foram barradas seja no Congresso Nacional ou no Poder Judiciário, por serem ilegais e ou inconstitucionais, mas mesmo assim ele não se emenda e neste final de semana disse de público que “cogita em baixar um decreto para determinar que todos os setores possam voltar ao trabalho e suas atividades”, mantendo o isolamento social e a quarentena apenas para idosos e população de risco. Medida esta que será um desastre no aspecto sanitário, pois vai acelerar a expansão do coronavírus no país, como aconteceu em vários países onde seus governantes não tiveram o discernimento, a lucidez e nem avaliaram as consequências humanas, dessas decisões intempestivas, como aconteceu com o prefeito de Milão que bem no inicio do coronavírus na Itália, lançou uma campanha, agora copiada pela turma do Bolsonaro, lá o slogan era de que “Milão não pode parar” e insistia que a população  continuasse trabalhando e nada de quarentena ou isolamento social como estava sendo proposto pelo Governo Central da Itália.

Hoje a Itália, exatamente na região onde fica Milão conta todos os dias centenas de mortes, e o prefeito de Milão, de forma cínica, foi `a Televisão e redes sociais e demais meios de comunicação pedir desculpas `a população e lamentar sua decisão errada que levou milhares de pessoas à morte.

Esta é aposta que Bolsonaro está fazendo, levando confusão à cabeça das pessoas, flertando com a morte e ao mesmo tempo de forma direta ou indireta cultuando o “Deus mercado”, contrariando a área econômica de seu governo, além do ministro da saúde que desejam que o Estado atue de forma efetiva assistindo a população, tanto na questão da saúde pública quanto na parte econômica, através da transferência direta de renda, aumentando o volume de crédito, flexibilizando o regime fiscal e tributário, o que não deixa de ser uma abominação para os liberais.

Bolsonaro, segue firme cultuando o “Deus mercado”, ao dizer recentemente que ele não é o “paizão” dos brasileiros, inclusive dos idosos e que cabe às famílias cuidar de seus dependentes e ontem, fazendo pouco caso de quem esta morrendo ou venha a morrer por coronavírus , ou que já morrem pela falta de estrutura e sucateamento da saúde publica (SUS) nas filas de hospitais e unidades de saúde, dizendo simplesmente “todo mundo vai morrer um dia, inclusive eu” ou então, duas outras frases que devem ficar como ontológicas de sua forma distorcida de pensar: “pessoas vão morrer, mas é preciso enfrentar o desemprego” e “vamos enfrentar esta doença como homem e não como moleque”. Finalizando parte de seu discursos contra o isolamento social, sem apontar dados estatísticos que comprovem sua assertiva, disse  que devido ao fato de ficarem em casa “mulheres estão apanhando”.

Esta é a diferença entre os cultuadores do “Deus mercado” e as pessoas que defendem, como o Papa Francisco, uma economia humana, solidária, justa e baseada na ECOLOGIA INTEGRAL.

A crise do coronavírus, com certeza, vai promover profundas alterações não apenas nas teorias econômicas, mas também na “arte de governar”, pondo fim, com certeza insensibilidade, irresponsabilidade e egoísmo que fundamentam o liberalismo e neoliberalismo.

Resumindo: “O Deus mercado” está morto e com ele também seus seguidores e adoradores, como aconteceu com o povo hebreu quando resolveram adorar o bezerro de ouro, enquanto Moisés subia a montanha para falar com Deus e receber a Tábua da Lei, com os doze mandamentos.

Uma nova forma de sociedade, um novo mundo e novos padrões de relacionamento  deverão emergir após esta pandemia do coronavírus ser superada, este é o fundamento para quem tem esperança em uma civilização do amor e de uma sociedade do bem viver. Se isto não acontecer, estaremos condenados a outros desastres de maiores proporções, como os decorrentes das mudanças climáticas e do aquecimento global, fruto de uma economia que transgride todos os parâmetros humanos, éticos, científicos e ecológicos.

*JUACY DA SILVA, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

Sexta, 27 Março 2020 12:44

 

Poucas vezes a crueldade do sistema capitalista mostrou suas garras com tanta displicência quanto no discurso do presidente Jair Bolsonaro, transmitido ao vivo na noite do dia 24. Até mesmo alguns antes ferrenhos apoiadores seus recuaram, perplexos. Analistas internacionais vislumbram uma ação orquestrada com o presidente dos EUA, Donald Trump. Outros, concluíram que o mandatário, percebendo a maior crise desse século se avizinhando, pretende ser retirado do cargo, ficando assim livre da responsabilidade. Várias teorias, enfim, surgiram para tentar dar uma explicação plausível ao incompreensível. 
 
Mas, não importa o motivo, o pronunciamento deixa explícito aquilo que já sabíamos há tempos: para o grande capital, 5.500 vidas humanas - previsão de mortes por coronavírus em 6 de abril, no Brasil, segundo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - valem menos do que um prejuízo financeiro. No País em que três bancos particulares aumentaram sua já imensa taxa de lucro em 13%, em um ano estagnado para o restante dos cidadãos, o governo libera R$ 68 milhões e anuncia que irá dispor de mais R$ 1,2 trilhão para ’salvar’ os bancos - o maior aporte de dinheiro público jamais realizado para salvar uma instituição - e anuncia a possibilidade de corte de salários enquanto durar a pandemia.
 
Nos últimos dias, os empresários liberais, acostumados a obter lucros particulares a partir de investimentos bancados com empréstimos públicos, viram-se confrontados com algo, para eles, inédito: a necessidade concreta e premente de solidariedade. Isso porque o País é habitado por uma massa de pessoas que trabalha de dia para comprar o jantar da noite, literalmente. Mães que são faxineiras e recebem a diária de trabalho, com a qual compram mantimentos ou pagam o fiado na vendinha. Vendedores e entregadores que fazem a conta no final do dia, antes de decidir o que irão levar para casa. Essas pessoas podem morrer nos próximos dias. Não pela ação de um novo coronavírus, que provoca uma nova doença, mas por uma causa mortis muito antiga: a fome.
 
Já falta comida nas favelas, e essa é a realidade de quem pesquisa a vida real fora das mídias; nas ruas. Os serviços de saúde não estão entrando em colapso nos rincões do Brasil; já não funcionam há tempos. A alegação de que parar a economia iria prejudicar ainda mais essa parcela da população chega a ser macabra, ela já é a ponta mais fraca do sistema, a que sofre antes as consequências de todos os problemas e raramente colhe os frutos das melhorias. Acostumada a ser ignorada pelas classes dominantes, na recente pandemia ela se vê frontalmente atacada. Um empresário da terceira idade, talvez iludido pelas tantas cirurgias plásticas que fez, declara que ‘tudo bem, só os velhos morrerão’. ‘Não dá para parar a economia só porque vão morrer umas 6 ou 7 mil pessoas’, fala, a sério, o vendedor de hambúrgueres de prenome Júnior - entregando a condição de herdeiro já na assinatura.
 
A vida sempre foi mais fácil para quem nasce em berço esplêndido, no Brasil e no mundo. Mas, poucas vezes, a localização geográfica foi tão distintiva entre a vida e a morte. Talvez o sistema capitalista não sobreviva sem uma imensa parcela de pessoas que são, simultaneamente, mão de obra barata e consumidores acríticos. Mas, quem quer pagar o preço de descobrir isso? Alguns, talvez por não conseguir enxergar além de seus cofrinhos, não se importam com isso. A situação é nova mas a atitude, conhecida. A novidade é que o Ministro da Economia está alinhado ao governo e aos que não se incomodam, para quem a vida humana vale menos do que um balanço financeiro momentaneamente negativo.

 

Fonte: ANDES-SN

Segunda, 23 Março 2020 13:54

 

A população pobre será a parcela mais atingida pelo Coronavírus no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo. Sem acesso à saúde, ao saneamento e sem emprego um grande número de trabalhadoras e trabalhadores brasileiros está muito mais suscetível à contaminação. A observação é do professor da área de Teoria Econômica da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), José Menezes.


Menezes analisa que aprovação da Emenda Constitucional 95, que limitou os recursos para saúde e educação públicas, a reforma trabalhista, que ampliou a terceirização e precarização dos contratos de trabalho, o alto índice de informalidade e desemprego milhares de trabalhadoras e trabalhadores pavimentaram o caminho para a pandemia se alastrar no país.


"A destruição do serviço público e a privatização de tudo deixaram o caminho aberto [para a pandemia]. Temos que construir caminhos para colocar em xeque essas políticas. Temos uma população que não pode cumprir a coisa mais básica para combater o coronavírus que é lavar as mãos com água e sabão. Grande parte da população brasileira não dispõe de água e sabão, grande parte está na informalidade, sem local determinado de trabalho, está na bicicleta entregando pizza, grande parte da população brasileira está à margem", explica.

 

O docente critica as atitudes do governo federal, que ao invés de adotar ações que revertam o quadro de colapso social, tentam impor medidas neoliberais como as reformas administrativa e tributária, as quais irão aprofundar ainda mais a desigualdade e o desmonte dos serviços essenciais para atender a população, especialmente nesse momento de crise.

 

Na última quinta-feira (19), foi divulgado, por exemplo, que o Ministério da Cidadania tirou famílias carentes do programa Bolsa Família: 158 mil benefícios foram cortados no mês de março, revelou o portal UOL, e mais de 61% estavam na região com mais famílias vulneráveis do país, o Nordeste.

 

"Temos que, nesse momento, pensar o combate ao novo coronavírus através do combate às desigualdades e à miserabilidade da população brasileira. Para combater o Coronavírus, vamos ter que resolver o problema de quem sempre ficou à margem e não aprofundá-lo", afirma o docente em palestra disponibilizada pelo Observatório de Políticas Públicas e Lutas de Classe da Ufal.  


Ele propõe a suspensão imediata do pagamento da dívida pública para que haja recursos disponíveis para serem investidos em políticas sociais. Além disso, cobra a revogação da EC 95 e a auditoria da dívida pública, que consome anualmente cerca de 40% do orçamento público, montante três vezes maior do que o investido em saúde e educação públicas.  "Para pensar o combate ao coronavírus temos que repensar exatamente toda a política neoliberal", acrescenta.

 

Crise do Neoliberalismo


Menezes alerta que a pandemia do novo Coronavírus não é responsável pela nova crise do Capital, como muitos tentarão fazer crer. Ao contrário, o impacto da Covid 19 na saúde da população mundial é consequência das políticas neoliberais implementadas ao longo dos anos, e que levaram à situação de colapso mundial, agora escancarada pela doença.

 

Ele lembra que o discurso nos anos 1980 era que o neoliberalismo deveria ser implementado porque o Estado era ineficiente e que a livre iniciativa era capaz de gerir as relações sem interferência estatal. No entanto, o desmonte das políticas públicas levou ao cenário atual, que mais uma vez demanda a intervenção dos Estados.

 

"A crise de 2008 foi exatamente o momento em que todas as políticas neoliberais produziram uma das maiores crises da História. Uma questão muito importante: se o neoliberalismo foi colocado durante quase 40 anos como alternativa e produz exatamente uma crise como de 2008: qual a saída encontrada para os Estados resolverem essa crise?" questiona.


Segundo o professor, em 2005, as bolsas do mundo estavam com valorização de 43 trilhões de dólares. Em 2007, subiram para 64 trilhões de dólares, mas em 2008 tiveram uma queda para 34 trilhões dólares. "É muito importante esse dado porque a crise de 2008 foi contida temporariamente, mas ela continua a se manifestar. Porque 30 trilhões de dólares simplesmente desapareceram do mercado de ações, e isso significou a falência de grandes bancos e grandes empresas", explica. 

 

Após a crise de 2008, as ações voltaram a subir, mas não houve grandes investimentos produtivos. Os Estados se endividaram, para salvar as empresas e cobrir o rombo das perdas provocadas nas bolsas de valores. "A dívida pública de todos os países cresceu em torno de quase 20 trilhões, em 2011", aponta. E, o que vivemos hoje, é ainda consequência daquele momento.

 

"Tudo estava pegando fogo em 2008, mas a prioridade era salvar bancos e empresas. E isso pode acontecer novamente", alerta.

 

Menezes aponta que, de acordo com Instituto Internacional de Finanças, o choque provocado pelo novo coronavírus nos mercados internacionais coincide com um cenário financeiro perigoso, marcado pelo forte crescimento do endividamento mundial. Atualmente, as dívidas representam 322% do PIB mundial, quando em 2008 eram cerca de 70 a 80% do PIB.

 

"Essa dimensão da crise [neoliberal] não pode ser tratada como algo meramente determinado pelo coronavirus. [No entanto], claro que a pandemia traz outro cenário. Por exemplo, como a crise começa na China, que passou a ser o grande centro produtor e consumidor para a economia mundial, tudo que acontece na China tem repercussão mundial. Como a China paralisou a produção, praticamente está paralisando grande parte da produção mundial. Está em xeque também a estruturação produtiva, baseada no toyotismo, que deu à China essa tarefa", conclui.

 

Fonte: ANDES-SN

Segunda, 10 Outubro 2016 08:02

 

Reuniões e encontros debateram os problemas enfrentados pela classe trabalhadora no mundo

 

Visando a internacionalização das lutas dos trabalhadores e a organização de uma ampla reação aos ataques aos direitos sociais que têm se dado em todo o mundo, diretores do ANDES-SN e coordenadores da CSP-Conlutas estiveram em encontros e reuniões e Portugal e no México, na última semana.

 

Representantes do ANDES-SN e da CPS-Conlutas participaram nos dias 3, 4 e 5 de outubro de reuniões com sindicatos portugueses e de outros países para discutir os inúmeros problemas enfrentados pela classe trabalhadora no mundo inteiro.  Um dos encontros aconteceu em Lisboa, capital portuguesa. Na mesma semana, Eblin Farage, presidente do Sindicato Nacional, participou de dois importantes eventos relacionados à conjuntura da Educação na América e no mundo, sediados no México. Foram eles o II Fórum dos Trabalhadores em Educação nos dias 29 e 30 de setembro, e o I Encontro Internacional de Trabalhadores da Educação, no dia 1º de outubro, com o objetivo de que os trabalhadores de diversos países pudessem analisar o impacto da aplicação das políticas neoliberais, assim como organizar as lutas dos povos para enfrentá-las.

 

Em Portugal a primeira reunião foi, no dia 3, com o Sindicato Nacional de Ensino Superior de Portugal (SNESup), que representa os professores lusitanos do setor privado e público. No encontro, os docentes trocaram experiências sobre a situação e os ataques à educação pública em cada país. As universidades públicas em Portugal passam por um processo semelhante ao brasileiro de desmonte e sucateamento, assim como a carreira docente, que sofre com a precarização. O Snesup convidou o ANDES-SN para participar do próximo Congresso da entidade, que discutirá os ataques à carreira docente.

 

No dia 4, reuniram-se entidades sindicais de diversas categorias em Portugal, que representam os trabalhadores do setor portuário, de transporte, de energia e de telemarketing. Segundo Amauri Fragoso, 1º tesoureiro e encarregado de Relações Sindicais do ANDES-SN, e que fez parte da comitiva brasileira, na ocasião, ficou explícita a dificuldade em se criar uma central sindical combativa e autônoma.  “Percebemos que é de extrema importância a criação de uma Central Sindical, na tentativa de oferecer aos trabalhadores opções, entre elas, apoio jurídico, psicológico, e instrumentalizar a luta, nos moldes da CSP-Conlutas”, ressaltou. No dia 5 contaram com a participação de representações de outros países, como a Inglaterra, França e Estados Unidos.

 

A discussão do encontro foi em torno da criação de uma campanha internacional em defesa do emprego. Segundo Amauri, a avaliação das entidades sindicais é que a atuação do Capital frente aos trabalhadores, em nível internacional, gera tantos problemas que, talvez, no futuro não haja emprego para todos. Ainda em Portugal, seis docentes, expuseram individualmente trabalhos relacionados aos temas: Os efeitos da Automação no Trabalho; O Contrato de Trabalho, diferentes formas ; Trabalho em relação aos outros, efeitos das relações interpessoais; O Sindicalismo brasileiro a partir da década de 1980 aos nossos dias, apresentação feita por um professor brasileiro que está fazendo o estágio pós-doutoral; e reforma trabalhista do ponto de vista de uma professora sindicalistas francesa.

 

"O ANDES-SN e a CSP-Conlutas terão um papel importante nesta construção, pois daremos grandes contribuições aos companheiros de Portugal e de outros países”, disse o diretor do ANDES-SN. Também participaram do encontro a 3ª vice-presidente do ANDES-SN e encarregada de relações internacionais do sindicato, Olgaíses Maués, e os representantes da CSP-Conlutas, Mauro Puerro e Paulo Barela.

 

“Projeto de educação do Capital se expande em toda a América” constata presidente do ANDES

 

 Na última semana, o México sediou dois importantes eventos relacionados à conjuntura da Educação na América e no mundo. Foram eles o II Fórum dos Trabalhadores em Educação do México, e o I Encontro Internacional de Trabalhadores da Educação, voltado para que os trabalhadores de diversos países analisassem o impacto da aplicação das políticas neoliberais, assim como as lutas dos trabalhadores para enfrentá-las.

 

A presidente do ANDES – SN, Eblin Farage, participou dos eventos e da elaboração de propostas e ações para a construção da unidade internacional no combate à mercantilização da educação. Eblin ressaltou que toda a América vem passando por ataques ofensivos aos serviços públicos, rumo à mercantilização e precarização da educação, na intensificação de processos de terceirização que inclusive ameaçam a carreira docente em determinados casos. “Constatamos que o projeto de educação do Capital se expande por toda a América. Importante reconhecer a participação dos países presentes, na organização e representação dos trabalhadores da educação e na elaboração conjunta para o avanço em ações comuns e conjuntas contra o capital”, disse a presidente do Sindicato Nacional.

 

Sindicato Nacional se solidariza com professores do México

 

Enquanto aconteciam os encontros relacionados à Educação no México e no mundo, a Secretaria de Educação Pública Mexicana anunciou a demissão de mais 21 professores e notificou outros 300 ameaçando-os de rescisão por terem parado suas atividades por mais de três dias consecutivos no último mês de julho. As notificações foram feitas, inclusive, fora do prazo legal para a tomada das medidas. 

 

O Governo Mexicano continua atacando os trabalhadores da Educação, que se mantém em greve desde o início do ano, contrários à reforma proposta que prevê o fechamento e a privatização de escolas, demissão de professores e diferenciação salarial por meritocracia. 

 

Na ocasião o ANDES-SN e várias instituições, que participavam dos encontros, se comprometeram a integrar a campanha internacional de solidariedade aos professores mexicanos, difundindo-a no Brasil.

 

 

Fonte: ANDES - SN