JUACY DA SILVA*
Em boa hora o Grupo Gazeta de Comunicação está lançando uma CAMPANHA de combate à corrupção, através do estímulo para que as pessoas, em todos os setores, de todas as faixas etárias denunciem práticas irregulares que acabam sendo a semente da corrupção.
O Brasil possui inúmeras instituições públicas, que consomem bilhões de reais por ano, com a finalidade de exercerem o controle e a repressão aos crimes de colarinho branco, uma das maiores pragas, um verdadeiro câncer que está destruindo não apenas nossas instituições públicas, mas também o setor produtivo e ao mesmo tempo destruindo a credibilidade da população em relação ao nosso presente e ao nosso futuro.
Apenas para refrescar a memória dos leitores, eleitores e contribuintes, entre os organismos de controle podemos mencionar o TCU - Tribunal de Contas da União, os tribunais de contas nos estados e ainda os tribunais de contas dos municípios do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Temos também os Ministérios Públicos Federal e Estaduais, o Poder Legislativo representado pelo Congresso Nacional, pelas Assembleias Legislativas Estaduais, pelas Câmaras Municipais, as Auditorias, Controladorias, Ouvidorias em todos os níveis da Administração Pública .
No âmbito do Poder Executivo, o Governo Federal tem também a antiga CGU Controladoria Geral da União, a COAF do Banco Central, os setores de inteligência coordenado nacionalmente pela ABIN Agência Brasileira de Inteligência, antigo SNI dos governos militares e os organismos de inteligência das Forças Armadas, das polícias civis e militares, as Polícias Federal, Rodoviária Federal.
Além de toda esta parafernália de organismos de controle e repressão não podemos nos esquecer das famosas CPIs, CPMIs, e todo o aparato do poder judiciário, a quem incumbe mandar investigar, prender, julgar ou julgar e mandar prender, enfim, condenar todos os tipos de crime, incluindo os crimes de colarinho branco.
Apesar de todo este emaranhado de organismos, pouca coisa foi feita nas últimas décadas, a considerar os inúmeros casos de corrupção, onde os mais paradigmáticos foram o mensalão e a LAVA JATO, envolvendo altos dignitários da política e da administração pública em todos os níveis em setores e dimensões. A maior prova é o fato de que em menos de 30 anos, de regime democrático, republicano e de direito tivemos dois presidentes da república afastados por corrupção, um ex-presidente que há poucas semanas foi condenado em primeira instância por semelhantes delitos e o presidente que está no cargo também foi formalmente denunciado pela Procuradoria Geral da República por crime de corrupção passiva, além de dezenas de dirigentes partidários que estão sendo investigados por crimes de colarinho branco, alguns inclusive condenados e presos.
Quanto ao Presidente Temer, graças ao apoio de sua base aliada na Câmara, onde dezenas de parlamentares também estão sendo investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, talvez acabe escapando das investigações e condenação por parte do Supremo Tribunal Federal.
A Campanha ora lançada pelo Grupo Gazeta de Comunicação, de Cuiabá, conforme palavras de seu Presidente João Dorileo, é um estímulo a mais para que as pessoas exercitem o papel do que ele denomina de “Delator Cidadão”. Para tanto foram destacados seis eixos, como foco para que todos os mal feitos, irregularidades, de qualquer natureza, âmbito e tipo de poder, sejam denunciados, enfim, tais práticas que acabam induzindo ou facilitando a corrupção. Esses eixos são: meio ambiente; educação; pavimentação, talvez o melhor pudesse ser infra estrutura que é mais abrangente, politica, saúde e violência, que deveria ser substituído por insegurança púbica e crime organizado.
Apesar de ser uma campanha mais do que meritória, nós os contribuintes, eleitores e cidadãos também não podemos deixar de exigir que os organismos de controle sejam controlados e mais eficientes, para evitar, por exemplo o que aconteceu recentemente nos tribunais de contas do Rio de Janeiro e de Mato Grosso, denegrindo a imagem desses importantes organismos de controle.
Por exemplo, não podemos conviver com um Sistema politico que tem como base o caciquismo, o compadrio e a corrupção, caixa dois e o balcão de negócios como se apresenta. Não podemos conviver com um Sistema judiciário lento, moroso e opaco, pouco transparente, cheio de privilégios.
Não podemos conviver com uma administração paquiderme, com uma burocracia que cria dificuldades para vender facilidades. Não podemos conviver com um Estado que esteja muito mais a serviço dos grandes interesses econômicos e de portas abertas para verdadeiros gangsters travestidos de empresários.
Enfim, precisamos combater a corrupção de alto a baixo e não nos perdermos em picuinhas locais que acabam desvirtuando a verdadeira batalha contra os grandes corruptos que continuam impunes e destruindo nosso país e nossas instituições.
Parabéns ao Grupo Gazeta de Comunicação por esta brilhante e oportuna decisão! A hora de abrir a boca é agora, não se omita, combater as irregularidades e a corrupção é um exercício de cidadania ativa.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs.
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EM DEFESA DOS PEDESTRES - Juacy da Silva
JUACY DA SILVA*
Costuma-se dizer que o meio de locomoção mais utilizado no Brasil e no mundo é através das próprias pernas e pés, daí o conceito de pedestre, atualmente ampliado também para pessoas que, não dispondo de capacidade de se locomover, por serem deficientes ou ainda bebes, “caminham” através da ajuda de outras pessoas.
Todavia, parece que `a medida que a população se concentra nas cidades e em seus entornos, com uma urbanização crescente e no mais das vezes de forma caótica na ocupação dos territórios, principalmente em países do terceiro mundo ou emergentes como o Brasil, a mobilidade e acessibilidade urbana e intermunicipal passam a ser um desafio difícil quase impossível de ser resolvido.
O uso do transporte motorizado, público ou particular, passou a ser uma verdadeira catástrofe urbana e rodoviária, cujas características marcantes são os eternos congestionamentos nas ruas, avenidas e rodovias, a poluição do ar e poluição sonora, os acidentes automobilísticos que ceifam vidas preciosas ou transformam pessoas de todas as idades, paralisadas para o resto da vida, com custos bilionários que afetam os sistemas produtivo, de saúde e a vida de milhões de famílias.
No Brasil, por exemplo, não podemos deixar de mencionar, temos ótimas leis que regulam o trânsito, o transporte público, a proteção de idosos, crianças e adolescentes, as pessoas portadoras de alguma deficiência ou mesmo aquelas consideradas em condições especiais.
Essas leis elencam uma série de direitos e responsabilidades dos condutores de veículos automotores, de usuários dos Sistema de transporte coletivo e também dos pedestres, garantindo o direito de ir e vir com segurança, de mobilidade e de acessibilidade.
Leis maravilhosas, mas que, pelo descaso e omissão das autoridades e agentes públicos que existem e deveriam zelar pelo cumprimento dessas leis, acabam em letra morta, meras cartas de intenção ou como se diz “para inglês ver”, como ocorrem com a falta de respeito como os pedestres são tratados, com bem demonstram que mais de 40% das vítimas do trânsito e dos “acidentes” em calçadas as vítimas são pedestres e ciclistas, os elos mais fracos deste caos urbano que é a nossa mobilidade.
Recentemente escrevi um artigo intitulado “Calçadas: uma vergonha nacional”, tentando despertar tanto a população, principalmente as pessoas portadoras de deficiência, idosos, pais e mães que tem filhos pequenos ou que necessitam de se locomover, com segurança, pelas nossas cidades e, também chamar a atenção de nossas autoridades municipais, para a situação da mobilidade e da acessibilidade em nossas cidades.
Mais de 90% das cidades brasileiras, como acontece com o maior aglomerado urbano de Mato Grosso, constituído por Cuiabá e Várzea Grande, que já conta com quase um milhão de pessoas, não possuem planos de mobilidade e de acessibilidade e deixam para as calendas ou para o Deus dará este direito mínimo que é a garantia das pessoas se locomoverem com segurança e melhor qualidade de vida.
Em boa hora a Câmara Municipal de São Paulo aprovou e o Prefeito da maior metrópole brasileira sancionou no ultimo dia 13 de junho a Lei 16.673, que passou a ser chamada de Estatuto do Pedestre, onde são estabelecidas as normas que devem regular a partir de agora os direitos e deveres dos pedestres, as obrigações e deveres tanto dos poderes públicos quanto das empresas concessionárias, as empresas privadas e também os pedestres, buscando um Sistema de mobilidade e de acessibilidade mais humano, possibilitando que aquela metrópole possa, de fato, ser considerada uma cidade sustentável e inteligente. A ênfase desta lei são as calçadas e o próprio Sistema de trânsito e transporte público.
Oxalá vereadores e prefeitos do Brasil inteiro e também de Mato Grosso, especialmente de Cuiabá reflitam um pouco mais sobre essas questões e possam agir com mais respeito na defesa dos pedestres e ciclistas que são a grande maioria da população só lembrados durante os períodos eleitorais.
O maior desrespeito com os pedestres do Aglomerado urbano Cuiabá/Várzea Grande talvez sejam as obras paralisadas do VLT na Avenida da FEB que não tem um semáforo , passarela ou faixa de pedestre em um trajeto longo, mais de dois km, colocando em risco a vida das pessoas que diariamente precisam cruzar aquela avenida. Oxalá a SECID possa refletir sobre esta realidade!
Voltarei a escrever sobre o Estatuto do pedestre sancionado pelo Prefeito de SP oportunamente e a vergonha que são nossas calçadas, quando existem, por este Brasil afora, abandonado e vilipendiado.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, Titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites e blogs.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Mesmo experimentando dias nunca antes vividos na história deste país, do que destaco a importante condenação de Lula, na Lava Jato, e todas as ações políticas e jurídicas, em curso, contra Temer, portanto, tendo muito a dizer sobre esse panorama, falarei das cotas raciais; e o faço para atender um pedido de um médico/professor de Medicina. Como cidadão, o motivo de sua solicitação me inquietou.
Começo lembrando os leitores de que, desde as primeiras discussões sobre o tema em pauta, tenho me apresentado contrário às cotas raciais. Mesmo relutante, aceito as cotas sociais. Essa postura não significa que eu desconheça e/ou desconsidere o racismo à brasileira e as dívidas (econômicas, sociais, culturais, artísticas...) que o estado tem para com todos os que compõem a gigantesca camada social de pobres (brancos, negros, indígenas et alii) espalhados alhures, porque produzidos historicamente a toneladas.
Sou contra essas saídas – aliás, confortáveis ao sistema – por estarem inseridas naquilo que se chama de “políticas focalizadas”, eufemisticamente vistas como compensatórias. Seja como for, um ou outro nome já nos ajuda, politicamente, a fazer uma leitura razoável da questão.
Como ações “focalizadas”, tudo está obviamente posto. De um contingente de brasileiros a perder de vista, alguns serão seus “representantes”, seja onde/como for, mas principalmente nas universidades. Na perspectiva das compensações, tudo também está igualmente posto. Compensar, nessa grave questão, é oferecer migalhas caídas de uma mesa farta, mas para poucos.
Em outras palavras, as políticas focalizadas/compensatórias mantêm a exclusão, algo que se pensa, assim, combater. Ao manter a exclusão, deixam-se intactas as estruturas de desigualdades sociais, como em poucas partes do mundo se pode ver tão agressivamente. Deixando intactas as estruturas, protelam-se para o nunca as necessárias alterações estruturais em todos os setores, com destaque à educação, base para qualquer mudança de patamar social de alguém e/ou de um povo.
Mas a despeito disso tudo, agora, numa observância micro da questão, chego à centralidade deste artigo: a suposta postura acadêmica da maioria dos alunos cotistas em cursos de Medicina.
Consoante o médico de que falei no primeiro parágrafo, acadêmicos cotistas do referido curso – diferentemente de cotistas das licenciaturas, p. ex. – estariam constrangendo seus mestres exatamente pela condição de cotistas. Trariam consigo, pasmem, uma cultura de supervalorização de seus direitos adquiridos em relação a seus deveres. Essa postura – nada acadêmica – estaria tornando-os seres prepotentes.
Tentando explicar melhor: a descendência afro, indígena et alii – motivo que lhes deu o direito à vaga pelas cotas – seria usada para constranger seus professores em todas as dinâmicas do curso, mas principalmente nos processos avaliativos.
Como a maioria desses alunos, por conta da deficiente base escolar, traz pouco acúmulo intelectual, com destaque à dificuldade de leitura, sentir-se-iam discriminados toda vez que suas dificuldades ficassem visíveis. Ao se sentirem assim, assumiriam uma postura de vítimas de seus mestres.
Fiquei preocupado com essa informação, transposta, aqui, no futuro do pretérito. Diante desse relato, que para mim era novidade, espero que os envolvidos diretamente na questão (universidades e movimentos sociais da causa) busquem informações, e não se privem dos debates.
A denúncia é grave. A apuração é necessária.
Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Há muito tempo, inquietam-me os bombardeios que a mídia vem sofrendo por parte de distintas frentes. De todas, as que mais me preocupam vêm de governantes populistas, via de regra, autoritários.
No plano internacional, os exemplos não são poucos; tampouco suaves. Se olharmos para nossa vizinhança, temos casos emblemáticos. Maduro, na Venezuela, capitania os ataques.
Na proporção em que governos se enfraquecem, passam a encontrar e perseguir inimigos. Dentre estes, a mídia tem sido alvo de praticamente todos os governos com as características acima expostas.
Se esticarmos os olhos rumando ao norte, veremos as atuações cênicas de Trump. Do patamar de sua tenra idade psicológica, que alguém da área já teria dito não passar dos doze anos de idade, assistimos a cenas impensáveis, como aquela em que a criatura aparece esmurrando um homem com o logotipo da Cable News Network (CNN). Para Trump, a CNN só produz “fake news”.
E no Brasil? Como a mídia tem sido vista por parte de nossos governantes?
De forma semelhante como vem ocorrendo alhures. Em passado recente, os dois governantes petistas elegeram a mídia convencional como um de seus maiores e poderosos inimigos. Os ataques foram incessantes. Diziam-se perseguidos por uma orquestração midiática, a “serviço das elites”.
O governo do momento, de quem também devemos sempre temer, tem repetido roteiro semelhante. E dá-lhe surra na mídia.
E nossa população, como tem percebido a atuação da mídia nesse panorama de caos tão abrangente?
Até onde observo, as leituras têm sido feitas a depender do ângulo que se tem; das crenças e descrenças político-ideológicas de cada olhar. Daí uma polarização – que já foi mais marcante – estar presente em nosso cotidiano.
Dessa pluralidade de olhares, foco-me na visão daqueles que se veem como “de esquerda”. Destes, com os quais eu poderia me aproximar, vejo um estrabismo no ar. Motivo: preconceitos advindos de fatos reais vivenciados em décadas passadas.
Para não me afastar tanto no tempo, retomo a virada dos anos 80 para os 90 do século passado. Ali, vivemos um antagonismo de projetos políticos. De um lado, um projeto popular, capitaneado por Lula/PT. De outro, os interesses da elite, representados por Collor, do qual a mídia se declarou aliada. Como tal, fez de tudo para ver seus interesses vitoriosos; e os viu. A atuação da Globo foi maleficamente emblemática. Manipulou tudo o que pôde; e pôde muito.
Hoje, estamos vivendo o 17º ano de um outro século. A mídia mudou?
Na essência, não. Legitimamente, continua a defender o sistema.
Como?
Ora, nenhum veículo colocou-se, p. ex., contrário às reformas em curso. Todavia, a mídia não pode mais fazer as trapaças como já fez. O limite para sua manipulação estreitou-se. Se ela extrapolar o limite, põe em xeque sua credibilidade.
Por que há esse limite hoje?
Pelo advento e força das redes sociais. Onde menos se espera, há um “repórter” a confirmar ou desmentir uma notícia; muitas vezes, tais “repórteres” antecipam informações. Assim, a mídia tem procurado caminhar nas trilhas da moral burguesa.
Entre “cochinhas” e “mortadelas”, quem a mídia morde?
Tirando as exceções, no espaço em que vale a pena apostar mais na moral do que na ética. A mordida que se deu na mortadela tem sido a mesma para cochinhas e congêneres.
Não enxergar isso, parece-me congelar no tempo um olhar correto que se teve. Esse congelamento não nos ajuda nas difíceis análises. A crítica madura é necessária. O bombardeio é perigoso.
CRISES E FALÁCIAS - Juacy da Silva
JUACY DA SILVA*
Antes de iniciar a reflexão sobre o momento grave que o Brasil está vivendo é importante que entendamos como nossos governantes tentam enganar a opinião pública em relação `as verdadeiras causas dessas crises que afetam profundamente tanto as atuais quanto as futuras gerações.
É importante que a opinião pública, as pessoas, enfim, a população saiba ouvir e ler os discursos dos governantes, sejam eles integrantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e também dos barões da economia . Todos esses discursos estão afinados visando jogar nas costas do povo não apenas as causas mas também as consquencias das ações públicas e as relações dessas ações públicas com o setor empresarial, que busca tão somente lucros e acumulação de capital, patrimônio e riquezas, pouco importando se o sofrimento do povo aumente ou diminua.
Para o filósofo Aristóteles FALÁCIA é um sofisma, ou seja, um raciocínio errado que tenta se passar por verdadeiro, com o intuito de ludibriar as pessoas. De acordo com os diversos dicionários da língua portuguesa FALÁCIA é um erro, engano, falsidade, uma ideia errada que é transmitida como verdadeira, para enganar ou iludir as pessoas de boa fé.
Isto é o que está acontecendo por parte do Presidente Temer, seus ministros e parlamentares, muitos acusados de corrupção, que integram sua “base” no Congresso, que, mesmo em meio a uma tremenda crise onde é acusado formalmente pelo Ministério Público Federal de atos de corrupção passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outros crimes mais vindo a público em delações premiadas de empresários e marqueteiros de campanha, quando o mesmo finge que não existe crise e defende com unhas e dentes suas propostas de reformas trabalhista e previdenciária, geradas nos porões de palácios, na calada da noite ou em sedes de grandes grupos econômicos.
Essas reformas não interessam aos trabalhadores, tanto do setor público quanto privado, vai precarizar ainda mais as relações de trabalho e, pior do que tudo isto, não vão tirar o Brasil do buraco em que governantes e políticos corruptos e incompetentes nos colocaram e ainda vão comprometer irremediavelmente as futuras gerações, que terão que trabalhar por 40 anos ou mais, sob uma legislação draconiana que interessa apenas ao capital. Quem viver verá.
O argumento central da tese do Presidente, seu ministro da Fazendo , deputados, senadores e empresários que as apoiam é que as mesmas são necessárias para tirar o Brasil da crise, fazer a economia voltar a crescer, gerar emprego, acabar com o desemprego que atinge quase 14 milhões de desempregados e mais 17 milhões de subempregados.
Organismos internacionais que gozam de credibilidade, como a OIT Organização Internacional do Trabalho, condenam abertamente as referidas reformas e apontam que as mesmas afrontam ou seja, contrariam diversas resoluções internacionais da ONU/OIT das quais o Brasil é signatário e que ao assim homologar tais resoluções, o País se compromete a cumpri-las, sob pena de ser excluído desses fóruns internacionais.
Aqui no Brasil, internamente, o Ministério Público do Trabalho, o chamado fiscal da Lei, já se pronunciou, tão logo o Senado aprovou a matéria, apontando que vai recorrer ao STF por considerar que nada menos do que 14 pontos da reforma trabalhista são inconstitucionais.
Finalmente, um argumento factual, se as leis trabalhistas e o Sistema previdenciário forem as verdadeiras causas do pífio crescimento econômico ou da recessão e desemprego que angustia o país e mais de 30 milhões de desempregados e subempregados, por que durante mais de 70 anos em plena vigência da CLT e do Sistema previdenciário o Brasil apresentou elevados índices de crescimento do PIB e baixos índices de desemprego, como ocorreram nos períodos dos governos de Getúlio Vargas, Dutra, JK, por quase 20 anos dos governos militares, ou até mesmo durante os governos Sarney, Itamar, FHC e Lula?
Basta ver as estatísticas nacionais referente a essas décadas. Durante quase uma década, durante governos militares o PIB do Brasil cresceu anualmente a taxas superiores a 8%, 10% ou até 14%, como explicar isso se essas mesmas leis trabalhistas e sistema previdenciário estavam em vigência?
O problema são as políticas e estratégias erradas, a falta de continuidade de políticas públicas, a corrupção que tomou conta do país, a incompetência de nossos governantes e o fato que de o tesouro nacional tem sido colocado a serviço dos grandes interesses privados nacionais e internacionais. E no caso de Temer, um governo ilegítimo e impopular, marcado pela corrupção.
Se o diagnóstico está errado, com certeza o remédio/tratamento também será errado e o problema não será solucionado, enfim, o doente (povo e o país) poderão morrer. Neste sentido estamos caminhando para o que está acontecendo na Venezuela ou aconteceu na Argentina em anos passados. O Brasil não merece uma classe política e governantes tão medíocres que se escondem atrás de discursos falaciosos tentando enganar continuamente a população.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversos organismos de comunicação. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. twitter@profjuacy Blogwww.professorjuacy.blogspot.com
JUACY DA SILVA*
O Brasil é pródigo em Leis, incluso “boas leis”, mas ao mesmo tempo é campeão no descumprimento das Leis, na omissão dos poderes constituídos e nos órgãos de controle, que se fazem de cegos, surdos e mudos e, com certa incidência, na atuação desses órgãos a serviço de quem deveria ser controlado. Basta vermos os escândalos que a cada momento surgem envolvendo agentes públicos que se corrompem e empresários que, como corruptores, estabelecem a dinâmica das relações entre esses dois setores, esta seria, de fato, a verdadeira parceria público privado , ou o que poderíamos chamar de PPPs do mal ou dos mal feitos, para utilizar uma expressão tão em voga.
Nos âmbitos federal e estadual a corrupção e a vista grossa de nossas autoridades gera , a cada ano, bilhões de prejuízos aos cofres públicos e a população, em licitações com cartas marcadas, a prorrogação de concessões por décadas, os verdadeiras quadrilhas, como no caso do lixo, dos transportes coletivos intermunicipais, na fiscalização que nada vê, como foi o recente caso da “carne fraca”, nas obras rodoviárias de baixa qualidade, no super faturamento, nas propinas, caixa dois etc. e assim por diante.
Já no âmbito municipal, pelo fato dos municípios serem os primos pobres da federação e seus orçamentos serem mais minguados, com exceção das capitais e de algumas cidades com mais de um milhão ou quinhentos mil habitantes, a corrupção também está presente, em escala individual menos gritante, mas quando somados os diversos casos que se multiplicam e que os grandes veículos e meios de comunicação , ocupados com os grandes escândalos, de repercussão nacional e internacional, acabam ficando fora do noticiário.
Além da corrupção o que denigre a imagem dos governantes locais, tanto ocupantes do poder executivo quanto legislativo, é uma omissão que também acaba favorecendo alguns grupos e pessoas em detrimento da grande maioria da população. Parece que as municipalidades abdicam de seu poder de polícia e com isto contribuem para o agravamento dos problemas.
No caso específico da mobilidade e da acessibilidade urbanas, por exemplo, se os governantes locais e os “representantes do povo” nas câmaras de vereadores, realmente estivessem comprometidos e voltados para cumprirem suas promessas de campanha ou devotados para que o planejamento de médio e longo prazos fosse realmente a bússola de suas ações, a maioria dos problemas que afeta a população no âmbito municipal deixaria de existir em uma ou duas décadas, ou seja, os problemas que angustiam os moradores das cidades não se eternizariam por décadas e séculos a fio, como, por exemplo os que afligem a poulação cuiabana e de seu entorno, cuja capital dentro de um ano e nove meses estará completando seus 300 anos.
Cuiabá e Várzea Grande, juntamente com os municípios de Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio do Leveger , Acorizal e Chapada dos Guimarães fazem parte da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, onde estão concentrados em torno de UM MILHÃO de habitantes, quase um terço da população de MT, quase 30% do PIB do Estado, onde estão sediados todos os organismos públicos estaduais dos três poderes, do MP, do TCE, todas as representações dos organismos federais e as máquinas administrativas municipais.
Todavia, aqui também estão presentes mazelas que já afligiam a população cuiabana e da região quando Cuiabá tinha pouco mais de cem mil habitantes e a região considerada nem chegava aos duzentos mil habitantes. A falta de planejamento, a falta de ética, a falta da continuidade das políticas públicas, tanto por parte dos governos federal, estadual e municipais, as obras paralisadas, a incapacidade dos governantes em preverem o crescimento populacional que podia ser visto claramente, determinou que a ocupação do espaço físico ou do território de forma desordenada, gerando conflitos e problemas que até hoje continuam como uma chaga aberta, para flagelo das pessoas, principalmente das camadas média e mais pobres desta região e vergonha por parte dos governantes passados e atuais.
Em artigos futuros abordarei alguns dos principais desafios de Cuiabá , da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá e demais municípios que integram a nossa empobrecida e sempre esquecida Baixada Cuiabana, onde diversos municípios que a compõem a cada dia estão sendo apenas cidades dormitórios e o que isto tem a ver com a qualidade de vida da população e do que deveria ser base para o conceito de cidades sustentáveis e cidades inteligentes. Será que vamos nos defrontar com os mesmos problemas daqui a cem anos, quando serão comemorados Cuiabá 400 anos?
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Na esteira do pensamento de Mikhail Bakhtin, todo busto, estátua, monumento etc. – antes de representar algo ou alguém no campo simbólico – não passa do material que o constitui: argila, cimento, madeira, bronze, prata, ouro... Assim, qualquer escultura não será, antes de tudo, mais do que um determinado tipo de material com determinado peso, que pode variar de poucos gramas até muitas toneladas, como, p. ex., a estátua do Cristo Redentor.
Se isso é verdadeiro, bustos, estátuas, monumentos espalhados por inúmeras cidades, antes de nos ajudar a contar histórias de lugares e de pessoas, portanto, antes de absorverem significado social para além de sua matéria, podem servir para qualquer coisa, inclusive como escudos contra situações indesejadas, como a violência urbana. Claro que em casos tais, as fortalezas seriam mais razoáveis; provavelmente, mais eficazes; seguramente, menos chocantes.
Mas por que essa introdução a este artigo?
Por conta do que ocorreu, há poucos dias, nos pés da estátua de Agenor de Oliveira, mais conhecido por Cartola, um dos maiores poetas de nossa Música Popular Brasileira: mãe e filha foram mortas numa troca de tiro entre policiais e traficantes.
Durante mais esse combate, câmeras mostraram dois soldados usando a estátua de Cartola para se proteger da munição inimiga, bem como revidar os ataques. Uma cena de guerra. A estátua fica próximo à Quadra da Estação Primeira de Mangueira, bem ao lado daquela comunidade.
(Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo)
Esse tipo de cena, cada vez mais recorrente, por si, já é algo inominável; quando ela ocorre num cenário em que uma personagem da paz – mesmo na condição de estátua, acostumada que foi a pensar com as palavras e brincar com as notas musicais – é obrigada a participar, ainda que simbolicamente, do evento, isso nos deveria fazer refletir sobre a dimensão da contradição diária a que estamos sendo empurrados a viver em nosso país.
Quando vi aquela cena tão triste, como outras tantas que se lhe antecederam e sucederam, sem contar as que estão por vir, imaginei um mundo quase sem porvir, pois estamos perdendo a vida para a violência generalizada, originada nos tempos coloniais, dos quais ainda não nos despedimos completamente.
Diante de um mundo bonito que vai escorrendo pelos dedos, lembrei da “Exaltação à Mangueira”, de Enéas Brites e Aloísio da Costa:
“Mangueira teu cenário é uma beleza... Todo o mundo te conhece ao longe,/ Pelo som de teus tamborins/ E o rufar do seu tambor...”.
Lembrei de tanta gente. De Paulo César Pinheiro, vieram-me os “Nomes de Favelas”:
“O galo já não canta mais no Cantagalo,/ A água não corre mais na Cachoeirinha/ Menino não pega mais manga na Mangueira/ E agora que cidade grande é a Rocinha!/ Ninguém faz mais jura de amor no Juramento/ Ninguém vai-se embora do Morro do Adeus/ Prazer se acabou lá no Morro dos Prazeres/ E a vida é um inferno na Cidade de Deus/ Não sou do tempo das armas/ Por isso ainda prefiro/ Ouvir um verso de samba/ Do que escutar som de tiro/ Pela poesia dos nomes de favela/ A vida por lá já foi mais bela/ Já foi bem melhor de se morar/ Hoje essa mesma poesia pede ajuda/ Ou lá na favela a vida muda/ Ou todos os nomes vão mudar”.
Por fim, lembrei do próprio Cartola, cantando Candeia:
“Deixe-me ir/ Preciso andar/ Vou por aí a procurar/ Rir pra não chorar... Quero assistir ao sol nascer/ Ver as águas dos rios correr/ Ouvir os pássaros cantar/ Eu quero nascer/ Quero viver...”.
Está difícil, caro Cartola. Até sua estátua corre o risco de não ficar em pé por muito tempo mais.
AZUL CELESTE - Telma Cenira Couto da Silva
O brilho dos seus olhos azuis já se misturou ao azul do céu. Aos 89 anos, Lenir Couto da Silva nos deixou esta semana. Devota do Divino Espírito Santo, costumava tirar esmolas nas festividades do Divino, enquanto a sua saúde permitiu. Uma forte queda há quatro anos atrás deixou sequelas em sua saúde, comprometendo a sua locomoção e um pouco da sua memória. Desde essa época, afastou-se do convívio social.
O azul também predominou na escolha do seu clube. O Clube Esportivo Dom Bosco foi o seu clube de coração. Irmã de Ana Maria do Couto, a May, que foi presidente do Clube Esportivo Dom Bosco em 1971, e que, talvez tenha sido a primeira mulher no mundo a presidir um clube ligado ao futebol, casou-se com um dom-bosquino ferrenho: Gonçalo Ribeiro da Silva, que foi do conselho deliberativo do clube, e que, por um breve período de transição, assumiu a presidência interina do clube junto a dois outros conselheiros.
Com o jovem oficial da Polícia Militar de Mato Grosso foi amor à primeira vista. Casou-se com o primeiro namorado e grande amor da sua vida, cuja união só a morte do esposo, já com a patente de coronel, separou.
Poucos conheceram o seu lado forte e guerreiro. Sempre esteve ao lado do marido, que foi “sapador” e abriu estradas no “mundão” de um estado ainda não dividido. Ao invés de ficar no conforto do lar, optou por acompanhar o esposo. Morou em acampamentos empoeirados no interior de Mato Grosso e dormiu em redes em regiões inóspitas. Os buracos das antigas estradas a fizeram sofrer um aborto na primeira gestação. Tiveram dificuldade para conseguir ajuda médica adequada à época, o que pode ter causado problemas em sua saúde. O primeiro filho morreu na hora do parto. Dizem que parecia muito com a mãe, com cabelo ruivo e olhos azuis. Foi a segunda perda forte para Lenir. Fervorosa, agarrou-se às orações. Após um tempo conseguiu realizar o sonho de ser mãe: teve três filhos.
Foram várias outras batalhas vencidas durante sua existência, até que, no último dia 26, partiu serena, em casa, deixando para seus filhos e neta, um exemplo de luta, dedicação e dignidade.
Lenir pediu que quando partisse fosse sepultada com o bolero “Sabor a mi” sendo entoado. Gonçalo estaria esperando-a de braços abertos e juntos iriam dançar, como faziam nos antigos bailes de Cuiabá. O seu pedido foi atendido. Agora descansa no jazigo da família no cemitério da Piedade, com a ossada do seu grande amor ao lado. Foi sepultada usando um vestido azul.
**Texto enviado pela Profª Telma Cenira Couto da Silva em homenagem a sua mãe.
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Sem medo de errar, afirmo que a democracia é o melhor dos regimes sociais conhecidos. Contudo, paradoxalmente, é também o mais difícil de ser vivido. Do micro ao amplo, tudo é complexo.
Em meu local de trabalho, há quem me cause perplexidade por conta de atitudes antidemocráticas; têm dificuldades de acatar decisões aprovadas pelo coletivo. Com seres assim, não há argumentos que os modifiquem. Essa face egocêntrica é como se fosse a externalização de uma doença que circulasse pelas veias de seus corpos, diminuindo-os, por consequência, como profissionais e cidadãos. Impressionante.
Em âmbito mais amplo, também me impressiona ver que a maioria dos nossos políticos e séquitos imediatos seja tão antidemocrática. Digo isso porque não tolero ataques à imprensa e a jornalistas, ou seja, em geral, os primeiros alvos dos antidemocratas. Sobre a mídia e seus profissionais sempre caberá a crítica, mas em lugar correto. Nunca pode ser o ataque e/ou o cerceamento ao direito do outro de se expressar.
O parágrafo acima surgiu por conta do relato de Miriam Leitão, publicado em seu blog no jornal “O Globo”. Segundo ela, em recente voo de Brasília para o Rio, militantes do PT agrediram-na verbalmente. “Foram duas horas de gritos, xingamentos, palavras de ordem contra mim e contra a TV Globo”, relata.
De minha parte, não saberia dizer quantas vezes já critiquei a Globo e a própria jornalista em pauta. Todavia, reconheço o direito que têm de pensar e comungar de ideais diferentes dos meus. A referida emissora e seus trabalhadores têm o direito de acreditar no programa neoliberal.
Como não poderia ser diferente, as grandes entidades do nosso jornalismo repudiaram aquele constrangimento. Com este artigo, também manifesto meu repúdio. Na condição de articulista, percebo aumentarem as ofensas verbais por parte de destemperados. Depois de artigos que escrevi, principalmente criticando o PT e/ou expondo opiniões sobre temas religiosos, também já fui constrangido. Esses temas são veredas perigosas para os jornalistas. Neles, podem estar escondidas verdadeiras tocais. É a ditadura da reza na mesma cartilha.
Não ter o pleno direito de opinar sobre aquilo que se pensa é agressão que só sente quem por ela passa. A cada novo artigo, me armo psicologicamente para o que possa vir. É raro quando ofensas verbais não vêm. Além delas, há o constante risco das agressões físicas. Isso tudo é retrocesso. Contra eles, todos devemos lutar.
Diante do ocorrido com Leitão, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, lamentou o constrangimento. Disse que o PT orienta a militância a “não realizar manifestações em locais impróprios”. Todavia, disse que a Globo é, “em grande medida, responsável pelo clima de radicalização e ódio por que passa o Brasil”.
Ao dizer isso, Hoffmann enfraquece a orientação que diz ajudar a fazer à militância petista. No mais, discordo de sua leitura. Sem santificar o jornalismo da Globo, o buraco é mais embaixo. O problema não está na forma/intensidade da exposição de nossas mazelas, como a corrupção, p. ex., mas nos atos praticados em si.
Em outras palavras, a questão não está na incidência e na virulência com que tais fatos possam ser publicados pela mídia, mas neles próprios. Nosso problema não é a mídia, não são os jornalistas, mas a corrupção, a desfaçatez, o desrespeito que nossa elite, incluindo os “donos” da legenda petista, tem imposto à sociedade.
Nesse caos, ser democrático parece ser uma arte cada vez mais difícil de ser exibida, seja no ar ou em solo.
Profa Vanessa C. Furtado
Departamento de Psicologia - UFMT
Quando vislumbrei a carreira acadêmica como possibilidade de atuação, muitos foram os estereótipos que permearam minha escolha: a possibilidade de realizar pesquisas que pudesse efetivamente trazer melhorias à sociedade; o trabalho em conjunto de ensino-aprendizagem enquanto processo dialético de produção de conhecimento; a integração da comunidade e universidade e a disseminação do conhecimento produzido pela universidade com a finalidade de dar acesso universal a essa produção. Hoje, cara a cara com a realidade, reconheço quão ambiciosos eram esses estereótipos que se tornaram planos de atuação quando fui convocada para assumir o cargo de professora.
Das condições materiais efetivas para o exercício de minha profissão dois me são ainda mais árduos e áridos: a falta constante de recursos e profissionais suficientes em meu departamento e a burocratização de meu trabalho. Um implica diretamente no outro, comecemos pela situação da falta de condições de trabalho, ou seja, de recursos. Logo em meu primeiro ano nesta universidade, participava de um curso de formação para professoras quando ouvi, da então reitora, que não deveríamos deixar de trabalhar pelo simples fato da universidade não nos dar as condições necessárias, se o problema fosse falta de data-show, então que o comprássemos com nossos excelentes salários. Na época, embora ainda engatinhando na profissão, achei a declaração absurda e me recuso terminantemente, até hoje, a comprar um data-show para dar aulas! No entanto, não me recuso a comprar livros dos quais a universidade não dispõe, não me recuso a buscar programas que escaneiam trechos de textos para disponibilizar para as turmas as quais dou aula e assim evitar que fiquem sem o material necessário, não me recuso a sair de casa com meu carro percorrer os campos de estágios (que são obrigatórios na grade curricular), às custas de parte do meu salário para abastecer o veículo, não me recuso de atravessar um prédio inteiro para utilizar os sanitários que vivem interditados por falta de água ou algum outro problema, não me recuso fazer orientações extra “PIA” para não deixar os/as discentes sem orientação, não me recuso a trabalhar três turnos e ainda finais de semana para dar conta das atividades que me são impostas. Enfim, nesta conta, o valor do data-show até que não me sairia tão mais caro!
Ah mas não só de sala de aula vive uma professora! Então, preciso integrar ensino-pesquisa- extensão (repetimos isso quase que como um mantra). E, para alguém como eu, que compreende a função social da universidade pública, congregar as teorias com as práticas de minha profissão e militância por uma sociedade mais justa é posto, também, como dever. Sem esquecer, é claro, que no mundo acadêmico tanto vale quanto maior for seu Lattes, portanto: PUBLIQUE! Assim, em algum momento entre todas as reuniões agendadas, aulas a serem preparadas e ministradas, trabalhos a serem avaliados, é preciso tempo para preencher os intermináveis formulários (e como se os já existentes não bastassem, criam mais um tal de REA), que devem ser “selado, registrado, carimbado (protocolado)/Avaliado, rotulado se quiser voar”! Ou seja, TORNEI-ME UMA INEFICIENTE BUROCRATA! Alimentando os fantasmas da fiscalização do trabalho público, pois o mito da funcionária pública que não faz nada é tantas vezes propagado quanto se deseja acabar com essa espécie de serviço neste país.
E para que nos serve O burocratismo em uma universidade pública, onde tudo precisa de carimbos, etiquetas e protocolos? Respondo: para nos retirar do trabalho que nos é mais essencial nesta instituição: a produção de conhecimento (e aqui, leia-se: pesquisa, extensão e preparo de aulas). Quanto tempo dispomos do nosso dia-a-dia de trabalho para montar processos, carimbar folhas, levar ao local de registro, levar ao local de destino? Em meu caso, pelo menos, um turno do meu dia é ocupado por essa função, quando necessito montar um processo para legitimar qualquer ação extra sala de aula, como um simples projeto de extensão que atenda as necessidades da comunidade matogrossense. Não são raras as vezes que eu penso em não realizar tais atividades, apenas para evitar todo esse ciclo de processos intermináveis. E não porque eu me ache incapaz de fazê-lo, mas por falta de tempo dentro daquela rotina já descrita acima.
Agora, o que mais me espanta e indigna é a naturalização desse processo burocrático, que atravanca os caminhos da produção e disseminação do conhecimento produzido em nossa universidade. Também não são raros os relatos de colegas que solicitam a estudantes que as auxilie nesse processo de preenchimento de formulários, usualmente atribui-se essa atividade a quem recebe bolsa, afinal precisa trabalhar. A naturalização dessa atividade é tamanha que, esquecemos que estudantes também recebem bolsa para pesquisar.
Para se ter ideia, apenas hoje, para correção de atividades em meu REA gastei cerca de 34 minutos (contados no relógio por pura birra) de um tempo que estava disponibilizando para preparar minhas aulas da semana. Ou seja, mais 34 minutos porque já havia gasto vários outros, em pleno feriado, preenchendo o tal do relatório com todas as atividades realizadas no semestre. E tome mais fiscalização! Como se não bastassem os imperativos do currículo lattes, do PIA, diário de classe, mais um REA. Pra meu espanto, só que não, as atividades registradas nesse novo relatório ultrapassaram as 40 horas de trabalho às quais deveria me dedicar exclusivamente.
Por um lado, achei ótimo ter uma forma de registro de atividades que chegam perto de demonstrar a realidade da atividade docente, por outro “que vantagem Maria leva?”. Estas horas-extras servirão para efeito de banco de horas ou adicional salarial? Não estranhem a pergunta, pois é retórica, contudo necessária, uma vez que, são estas as opções, em instituições privadas, que se contrapõem ao conteúdo do e-mail que recebemos no início deste semestre, sob orientação da pró-reitoria de graduação, informando a necessidade de darmos aulas nos dias marcados, de justificarmos nossas faltas e planejarmos as reposições, caso contrário, nosso PONTO seria CORTADO! O que de fato não é um problema; entendo que faz parte de nossa obrigação enquanto funcionárias públicas, bem como, do compromisso que assumimos com discentes que necessitam das horas da disciplina para se formar. No entanto, estou tratando a questão por sua essência e não pela aparência, ou seja, muitos mecanismos se criam para regular e fiscalizar nossa atividade, porém, poucos para efetivarmos o trabalho que compreende ensino, pesquisa e extensão “aoommmmmmmm”
E desta forma, chegamos a meu último questionamento: a que se presta esse burocratismo fiscalizador? Qual a sua essência?
Pois bem, aprendi no movimento da luta anti-manicomial que, não adianta abrir as portas dos manicômios e sair das instituições manicomiais se o manicômio não sair de dentro da gente,
ou seja, a lógica que nos é ensinada de que a pessoa considerada “louca” é incapaz e deve ser tutelada e, de preferência, privada do convívio social se mantém. Enfrentamos, nesse âmbito, uma verdadeira resistência de se libertar da lógica manicomial “do passado” e assumir o novo modelo de tratamento. Transpondo essa ideia para nossa discussão sobre a universidade pública, fizemos o contrário, paulatinamente estamos cedendo à nova lógica: a privatista, com resistências cada vez menores a cada nova leva de docentes que ingressam na universidade. O que vai deixando a “velha” lógica do trabalho docente de universidades públicas com ares de ultrapassada. Já sou capaz de vislumbrar as marchas para Brasília onde estaremos clamando por direitos tais quais os que tem os trabalhadores e trabalhadoras com regime de trabalho regido pela CLT (e sabe-se lá quanto tempo esses direitos durarão) e o faremos com as aspirações de que horas-extras e/ou banco de horas são grandes conquistas da luta para o funcionalismo público, para a carreira docente e venderemos alegre e servilmente nossa saúde ao trabalho. Quanto mais o burocratismo nos retira dos espaços de produção de conhecimento, mais privatizamos nossa sala de aula, nossa profissão e a universidade pública brasileira. “Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão” (Aldous Huxley).
E o que mais representa a lógica privatista do sistema se não a produção e metas? E o que mais representa essa lógica, hoje, na universidade pública do que a ilusão de que quanto mais se vale maior é o seu formulário de atividades docentes inócuas ao conhecimento, seja ele o Lattes, o REA ou quantos outros quisermos criarmos.