Sexta, 16 Dezembro 2022 12:08

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Ao final do governo ultraconservador, parlamentares tentam mais uma investida contra a vida das mulheres e de pessoas que têm útero. Estão retomando na Comissão da Mulher na Câmara a discussão do "Estatuto do Estuprador", um projeto de Lei que prevê, entre outras aberrações, que o estuprador tenha o "direito" de convívio com a criança e seja responsabilizado por pagar pensão, além disso, dificulta ainda mais o acesso a meios abortivos seguros, em caso de estupro, como previsto por Lei. Uma aberração machista e torturadora dos corpos das pessoas que têm útero. Sendo que, a maioria dos deputados a favor do Estatuto na comissão das mulheres da câmara são homens.


Há algum tempo, na primeira tramitação do projeto, escrevi esta crônica denunciando e ilustrando os processos adoecedores e traumáticos desse tipo de imposição às pessoas que t6em útero. Agora, com as discussões afloradas novamente na comissão, compartilho o texto e aproveito para convocar a todas e todos contra mais esta aberração legislativa proposta pelo senador bolsonarista Eduardo Girão (CE).


Abaixo o texto que produzi e publiquei no portal Mad In Brasil.
 


 

Profa Vanessa C Furtado 
Departamento de Psicologia
Originalmente publicado em: https://madinbrasil.org/2022/06/a-lei-dos-homens/
 

 

           - Doutor, o senhor já foi assaltado? 

           Foi esta pergunta que ela lhe fez, ainda com a voz embargada, quase afogada pelas lágrimas, enquanto sua internação era admitida, e a gestação em curso constatada. O médico da internação lia sua AIH (autorização de internação hospitalar) cuja hipótese diagnóstica que justificava o pedido era: F 60.3 (impulsividade, agressividade, auto mutilação, instabilidade emocional). 
           Esta AIH fora preenchida quando, aos berros, ela agrediu a equipe do hospital onde buscou atendimento quando descobriu a gestação. Nesse hospital, recusaram-se a dar encaminhamento ao seu processo de aborto, atropelando, assim, a decisão que ela havia tomado, de interromper aquela gestação.
           - Doutor, o senhor já foi assaltado? Tomando fôlego e interrompendo aquelas explicações que mal conseguira decifrar uma só palavra. 
           O médico parou, olhou para ela, respirou profundamente e respondeu:
           - Quem nunca, é o preço que se paga por morar numa cidade como essa e ter condições de comprar coisas boas. Coisa boa é cara e ladrão só quer saber de coisa boa, de gente que trabalha para comprar. 
           - Alguma vez o senhor sentiu medo? Insistia ela.
           Ele, então, estranhou a pergunta, mas contou que recentemente sua mulher havia sido assaltada, com arma na cabeça "Aqueles vagabundos!" fizeram ela de refém durante 12 horas e até hoje ela tem tremedeira e crises de ansiedade ao sair de casa, não consegue mais passar pela rua onde tudo aconteceu e, para falar a verdade, pouco estava saindo de casa. O carro foi encontrado no dia seguinte, agora está na casa da mãe dela, porque ela não suportava olhar para ele de novo. Dizia que ao entrar no carro era capaz de sentir o cheiro daquele homem, misturado com de sua própria urina que ela não pôde conter diante de tantos gritos, armas na cabeça e ameaças a sua vida. A roupa que usava naquele dia, foi toda posta em saco preto direto para o lixo. "Esses vagabundos! Olha, se eu pego um sujeito desse, sei nem o que eu faria! Só eu sei os dias de tensão e sofrimento que temos passado em casa com minha esposa, ainda bem que agora está medicada!". 
           Conforme o médico ia contando, ela foi se arrumando na cadeira, as lágrimas já haviam parado de escorrer e ela já conseguia falar sem se sentir sufocada. Quando ele terminou a história, olhou para ela e perguntou:
           - Mas porque mesmo estamos falando disso? Bom, vamos ao que interessa: você será mamãe, está pronta para isso? Nós vamos garantir sua integridade para que a gestação ocorra dentro dos conformes. Terá que ter muito juízo agora, cuidar de você e desse pequ…
           - Doutor, eu quero tirá-lo! Não quero essa gravidez! Eu não planejei isso, não é justo comigo! - Disse ela de um grito e forte tapa na mesa, interrompendo o médico que insistia em ignorar o seu pedido inicial. 
           Ele fechou o semblante de imediato e disse que ela precisava dos documentos para isso, que ele não seria conivente com esse crime. Explicou que poderia até pedir um dinheiro do governo para custear a vida da criança e a encaminhou para a assistência social. 
           - O que adianta dinheiro se terei que conviver com o fruto da violência todos os dias da minha vida? Se terei que olhar para essa criança que não pediu para nascer e lembrar daquele dia, daquele homem, de sua voz, seu cheiro e toda a sua sujeira?! Por que tenho que ser "A louca" aqui? Enquanto o Sr e sua esposa sequer conseguem olhar para um mero carro na garagem, por causa de um assalto…  Por acaso seria loucura minha o fato de eu não ser capaz de gerar, parir, criar uma criança e ainda amar algo que me fará lembrar e reviver aquele dia? O que eu só quero é esquecer! Seria eu louca por ter sido vítima de uma vi-o-lên-cia, doutor! Ficarei presa nisso, diariamente vivenciando essa violência que rasgou meu corpo. O senhor precisava ver como eu estava quando cheguei ao hospital geral, dilacerada física e psiquicamente, minhas pernas mal podiam ficar fechadas e o sangue escorria... 
Com a voz vacilante o médico sussurrou:
- Mas é uma vida!
- E a MINHA VIDA? - Gritou ela aos prantos e trêmula: -  O senhor seria capaz de criar e amar o homem que assaltou sua esposa? Ela seria? Porque eu devo ser obrigada, condenada a conviver diariamente com essa representação da violência que sofri? E ainda mais presa aqui… 
O médico balançava a cabeça em sinal de negativa e franzia a testa, explicitamente irritado com aquela conversa e ela, como uma metralhadora, continuava a questioná-lo:
- O senhor sabe o que isso vai custar da minha vida? Não vou poder continuar minha faculdade, não terei condições de conseguir um emprego melhor, com salário melhor e que me dê condições de vida melhores. E a minha vida, doutor, como fica? E a minha vida?
Caiu no choro! Enquanto o médico preenchia um calhamaço de papéis entre prontuário, receitas e encaminhamento, alguém a consolava: dizia que há males que vem para o bem, que Deus escreve certo por linhas tortas, que uma vida é sempre sagrada, por isso ela ficaria ali, internada, para garantir a dignidade e integridade daquela vida que carregava no ventre e que, quando saíssem, ainda teria a bolsa de ajuda e que ninguém ali poderia ir contra a lei divina…
O médico, entregando os papéis, levanta da cadeira e  completa:
- Isso. E nem a lei dos homens… além disso, você receberá um auxílio, não é muita coisa, mas é bem… bem vindo. Ou entregue a criança para adoção!
Ela ficou ali, atônita, enojada, enjoada... gerando uma repulsa, martelando os velhos ditados em sua mente, sentido a Lei dos Homens marcada em seu corpo e no seu espírito a certeza de que há bens que vem para males.

 

Sexta, 16 Dezembro 2022 09:36

 

Em assembleia geral realizada nessa quinta-feira, 15/12, pela Adufmat-Ssind., os docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) discutiram e decidiram sobre os pontos de pauta divulgados no edital - informes, análise de conjuntura e cortes de recursos, delegados para o 41º Congresso do Andes-SN -, além de uma inclusão no início da plenária, sobre a paridade de salário de professores ativos e não-ativos.

 

Durante o ponto de pauta Informes, o professor Breno dos Santos fez um repasse sobre os eventos realizados pelo Andes-Sindicato Nacional em Foz do Iguaçu na última semana, do qual participou como diretor da Regional Pantanal. Foram 3 eventos simultâneos, que abordaram temas como educação na região de fronteira, multicampia, e arte e cultura. Participaram pela Adufmat-Ssind as professoras Loanda Cheim (Cuiabá), Ana Paula Sacco (Araguaia) e Clarianna Silva (Sinop).

 

O professor Aldi Nestor de Souza também fez um repasse da reunião de Setor das Federais realizada no dia 12/12 e seus encaminhamentos (leia aqui).

 

A professora Paula Gonçalves falou sobre a confraternização da categoria no Araguaia e também sobre a assembleia geral realizada no campus, com a participação de representantes docentes, estudantis, técnicos-administrativos e da administração da universidade, tendo como ponto de pauta os cortes orçamentários.

 

Pela Diretoria, o professor Leonardo Santos informou sobre algumas atividades, como a reunião realizada pela Reitoria para informar sobre o caixa zerado para a Educação no dia 06/12, que resultou, entre outras coisas, em nota da Diretoria da entidade (leia aqui). Além disso, o sindicato participou do Ato em defesa dos Direitos Humanos realizado no dia 10/12, em Cuiabá, e de atividade de final de ano em Sinop. O diretor falou, ainda, sobre a perseguição e detenção de dois estudantes da UFMT que filmaram policiais lanchando nos acampamentos golpistas. Santos destacou que o debate sobre critérios de participação em eventos, cuja última assembleia indicou realização, será feito no início do próximo ano e, por fim, leu a carta de solicitação do professor Reginaldo Araújo, que reivindicou a correção de uma informação sobre seu desligamento: após a comunicação do seu desligamento por meio de documento enviado pelo Andes-SN, Araújo solicitou, portanto, a suspensão da contribuição financeira mensal que continuou sendo feita, e não a desfiliação.

 

Conjuntura e cortes de repasses de recursos   

 

No debate sobre a conjuntura e os cortes de recursos, a reunião com a Reitoria foi novamente citada. “Pela primeira vez a Reitoria chamou as entidades e colocou abertamente a situação financeira da UFMT (saiba mais aqui)”, disse o diretor geral do sindicato, Leonardo Santos.

 

A professora Haya Del Bel disse que, em reunião do Conselho Universitário (Consuni), o professor Evandro Soares, reitor da UFMT, fez o mesmo informe, acrescentando que, além do repasse de pouco mais de R$ 1 milhão, que foram utilizados para pagamento de bolsas e auxílios, outros R$ 3 milhões devem ser debitados na conta da universidade na próxima segunda-feira (19). No entanto, a universidade ainda tem milhões em dívidas.  

 

Para a professora Alair Silveira, a categoria deveria ter sido mais ágil na reação aos cortes de bolsas e auxílios, tanto em nível local como nacional, considerando o desespero dos estudantes que dependem desses recursos.  

 

O professor Aldi Nestor de Souza observou que, diante da conjuntura, não é possível pensar na desfiliação da CSP-Conlutas, como discutirá o próximo Congresso do Andes-SN. “As centrais sindicais disseram que não querem a revogação da Reforma Trabalhista [e da Previdência]”, observou, acrescentando que o ministro da Defesa indicado pelo próximo Governo Federal será José Múcio Monteiro, que foi da Arena, participou da construção do impeachment de Dilma Rousseff e, por esses e outros motivos, representa a continuidade de grupos bolsonaristas no poder.

 

Além disso, o docente informou que o próximo Governo já admitiu em reuniões com entidades representativas de trabalhadores que não há previsão de reajuste salarial no próximo período, o que fará de 2023 um ano muito difícil. “Nessa conjuntura, não é possível brincar de fazer central sindical”, concluiu o professor.

 

O professor José Domingues de Godoi Filho trouxe informações sobre a conjuntura internacional, especialmente na área da tecnologia, que implicam também nas questões brasileiras, devido aos interesses do setor privado, cuja grande participação na Educação já é de conhecimento público.

 

Após o debate, os presentes decidiram pelos seguintes encaminhamentos: realizar um debate sobre as perspectivas da categoria com relação ao próximo governo no início do próximo ano; dialogar, junto ao DCE, para a construção de alguma atividade que debata a evasão na universidade; realizar a campanha de valorização dos serviços públicos e recomposição do orçamento, aprovada em assembleia anterior, já no início do ano; e retomar, em âmbito local, o GTPE (Grupo de Trabalho Políticas Educacionais).    

 

Delegados para o 41º Congresso do Andes

 

O 41º Congresso do Andes-SN será realizado entre os dias 6 e 10/02, em Rio Branco, no Acre. No evento, a Adufmat-Ssind terá direito a 10 delegados.

 

Antes de escolher os representantes, os presentes decidiram votar pela posição que os delegados com relação à saída ou permanência na CSP-Conlutas. Após as defensas, a posição que deverá ser defendida pelos 10 delegados é de permanência na Central. Logo no início de fevereiro do próximo ano a Adufmat-Ssind deverá realizar assembleia geral para debater outros pontos que serão debatidos no Congresso.

 

Na assembleia, a professora Alair Silveira defendeu a permanência na central, destacando sua presença nas lutas. “A CSP é a central que, efetivamente, defende os princípios que o Andes-SN sempre defendeu, ser um sindicato de base, classista, de luta”.

 

A professora Raquel de Brito fez a defesa pela desfiliação, com base no texto da diretoria do Andes-SN apresentado no 14º Conad Extraordinário. “Nós não negligenciamos o papel que a CSP nas lutas, mas não é possível se prender a elementos do passado. A central está burocratizada, verticalizada, de forma que o Andes-SN perde em muitas de suas deliberações” disse.

                                      

Após esta decisão, foram aprovados os nomes dos professores Leonardo Santos (indicado pela Diretoria), Clarianna Silva (indicada por Sinop), Paula Gonçalves (indicada pelo Araguaia) e, pela ordem de votação, Alair Silveira, Maria Clara Weiss, Loanda Cheim, Maelison Neves, Aldi Nestor de Souza, Maria Luzinete Vanzeler e José Domingues de Godoi, para representarem a entidade como delegados no evento. Também foram indicados os professores Onice Dall’Oglio, Haya Del Bel, Marlene Menezes, Waldir Bertúlio e Breno dos Santos, pela ordem de votação, para participarem do congresso como observadores.

 

 Paridade salarial entre docentes ativos e aposentados

 

Por último, os docentes a assembleia aprovou a solicitação de um parecer à Assessoria Jurídica do sindicato com relação à demanda pela paridade salarial entre docentes que estão ativos e docentes aposentados.

 

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind  

Quinta, 15 Dezembro 2022 14:57

 

Ao longo desta quarta-feira, 14, representantes do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) foram recebidos pela Liderança da Minoria da Câmara e pela assessoria do senador e relator-geral do Orçamento de 2023, Marcelo Castro (MDB/PI). Os encontros reforçam o compromisso do Fonasefe em manter a unidade e a mobilização das categorias de servidoras e servidores públicos para alcançar a tão necessária recomposição salarial, algo que não é praticado há exatos sete anos. 

As reuniões de hoje complementam outra ação da entidade. Na terça-feira, representantes do Fonasefe visitaram o gabinete do deputado Paulinho da Força (Solidariedade) e foram informados que o parlamentar apresentou uma Emenda que será acatada pelo relator do Orçamento 2023, senador Marcelo Castro. A partir dessa proposta, seria possível que o senador apontasse na Lei do Orçamento Anual (LOA) de 2023 um valor consolidado para o reajuste salarial de 9% para servidoras e servidores públicos federais, sendo uma parcela de 5% para abril e outra, de 4% para o mês de outubro.

“Temos participado de encontros e reivindicado um reajuste salarial tendo em vista as perdas salariais frente a inflação acumulada durante o governo Bolsonaro. Portanto, entendemos que essas cifras são insuficientes para repor as perdas que tivemos durante os últimos quatro anos. Continuaremos em mobilização para discutir com o deputado Rogério Correia e também com o senador Marcelo Castro a possibilidade de utilizar recursos da PEC da Transição, no valor de R$ 105 milhões para incrementar esse reajuste salarial”, esclarece Luiz Henrique Blume, 3º Secretário do ANDES-SN.

A proposta apresentada nos encontros é de um reajuste salarial na casa dos 27% e tem como base de cálculo a inflação acumulada durante o governo Bolsonaro e, por isso, na avaliação do Fonasefe, é necessário avançar em relação aos recursos previstos na Lei Orçamentária Anual de 2023 para estabelecer, de fato, um reajuste digno para servidoras e servidores de todo o país e de todas as categorias do serviço público. 

Ao deixar a Câmara Federal, Blume garantiu ainda que o Fonasefe e o ANDES-SN continuarão intensificando a articulação com parlamentares e com a equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na semana passada, por exemplo, as entidades estiveram reunidas, juntamente com integrantes do Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) e de centrais sindicais com membros da equipe de transição do futuro governo e elencaram suas principais reivindicações, como a revogação de todos os ataques às categorias do funcionalismo público ocorridos durante o governo Bolsonaro, a exemplo da PEC 32/2020 (Reforma Administrativa) e, também, da Emenda Constitucional 95/2016, que instituiu o teto dos gastos. 

Para esta quinta-feira, 15, está prevista uma nova articulação das entidades. Trata-se de uma reunião com o deputado Rogério Correia (PT/MG), da Comissão de Orçamento e Gestão da equipe de transição. Em pauta estará a reivindicação do reajuste acessando os R$ 105 bilhões, valor destinado ao “Auxílio- Brasil” no Orçamento da LOA de 2023, que será suprido com a PEC de Transição.

 

Leia mais

Fonasefe se reúne com GTs da Equipe de Transição e exige “revogaços” e reajuste salarial

 

Fonte: Andes-SN

Quinta, 15 Dezembro 2022 10:10

 

 

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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciências da Comunicação/USP


               No universo das artes, é sempre difícil à crítica se manifestar de forma coerente diante de possíveis desvios de percurso de artistas que já tenham atingido um ponto de excelência e de reconhecimento público. Sendo assim, ao famoso, tudo é permitido: o que dele vier, a ele, aplausos e mais aplausos retornam. Em “outras palavras” – expressão que coincide com o título de uma genial canção de Caetano Veloso (1981) –,um artista de renome, depois que a fama “pegou”, raramente é questionado naquilo que faz.
              Mas por que começo a tratar de arte, ou do artista famoso, neste artigo?
              Porque em um bate-papo com amigos – todos preparados academicamente para a crítica artística –houve recepção naturalizada da gravação de “Deus cuida de mim”, com o pastor/cantor/compositor gospel Kleber Lucas e Caetano Veloso, um ex-ateu, um expoente do Tropicalismo, bem como um dos mais “ácidos” dos “Doces Bárbaros” da MBP. A anuência de meus amigos pode estar embutida no silêncio ou, quando muito, nas meias-palavras, ditas quase em sussurros, de meia-dúzia de críticos, sobre esse trabalho empreendido pela Sony Music.
              De um dos amigos, acerca da gravação, previamente relativizando um estranhamento, é dito que seu ateísmo não é impeditivo para ver Caetano “sempre ‘caetanear’”; logo, “arrasar”. Encantada, uma amiga até filosofou! Por isso, cá estou refletindo sobre esse “caetaneamento”, que, desta vez, além de não “caetanear” nada, ainda se prontificou a cantar um gospel, poeticamente falando, longe da genialidade, repito, de “Outras Palavras” e de quase tudo o que compôs ao longo de décadas.
              Artisticamente, a gravação desse gospel – estilo que tem elevado os lucros de artistas e empresários às alturas– é um susto daqueles de fazer o sujeito cair das nuvens! É mesmo de “arrasar”, mas não no sentido positivo que esse termo até pode assumir.
              Mas antes que alguém gaste energia me praguejando por conta dessa franqueza, quase sem filtros, digo que meu susto não está na conversão do “mano Caetano” de Bethânia, que, ao Fantástico (Rede Globo: 04/12/22),disse que essa gravação só pode ter sido “coisa de Deus”, embora reconheça não ter sido, até ali, “propriamente religioso”.
              Como tudo isso, a mim, soou inusitado, fui tentar entender essa novíssima “força estranha” na obra de Caetano. Rapidamente, encontrei a matéria “Fé no vídeo! Mídia NINJA dirige novo clipe de Caetano Veloso e Kleber Lucas”, assinada por Felipe Altenfelder, de 04/12/22.
              De início, o jornalista contextualiza a aproximação de Caetano com o NINJA, iniciada há quase dez anos (2013), durante o movimento Black Bloc, e continuada por conta da “regulamentação do ECAD, do show no Ocupa MINC..., das apresentações em apoio ao surgimento da chapa dos sonhos de Guilherme Boulos e Sônia Guajajara...”
              Depois, Altenfelder passa a “celebrar o nascimento do clipe de ‘Deus Cuida de Mim’, dirigido pelo Mídia NINJA...”, que estava em ativismo político pró-eleição de Lula contra Bolsonaro. Para isso, às vésperas do segundo turno (última semana de outubro/22), inúmeros artistas participavam, na sede do NINJA, da gravação do clipe “Vamos lá votar”; na verdade, uma “convocação geral” para “lular”.
              Nessa conjuntura, com as pesquisas mostrando empate técnico entre Lula e Bolsonaro, Altenfelder diz que todos passaram a fazer “...um respiro criativo, trazendo novos entendimentos para o fluxo de trabalho da campanha que canalizou no trabalho coletivo que sinergizou articulação, curadoria, estrutura, música, vídeo e fé”.
              Na sequência, eis um recorte do depoimento do mesmo jornalista:
              “...É difícil recordar do momento exato quando acabou a gravação de ‘Vamos lá Votar’, e Caetano e Kleber começaram a cantar ‘Deus Cuida de Mim’. Foi daqueles momentos em que todas as pessoas que estavam no estúdio assumiram suas funções e a mágica foi acontecendo”.
              Em outros espaços da mídia, ficamos sabendo que os dois cantores já haviam se encontrado – na casa do expoente da MPB – para os cuidadosos ensaios dessa “mágica”.
              Mas voltando à matéria de Altenfelder, quase em seu final, é registrado que, “num diálogo sincero de um dos maiores mestres da MPB, Caetano diz que não é mais ateu e adentra no mundo gospel num novo tempo de esperança para mandar uma mensagem divina para os mais de 60 milhões de brasileiros dessa religião”.(!!!)
              Pois bem. Nas pegadas das sandálias do padre Anchieta e de outros jesuítas dos tempos coloniais, desejo ao pretensioso e mais novo mensageiro da fé, boa sorte na missão; ademais, para nosso conforto, diante de uma conversão exposta de forma tão aberta, é sinal de que nenhum oportunismo (político e/ou econômico) está em jogo, como esteve em nosso passado na atuação dos jesuítas durante a exploração portuguesa.
              E se de fato nenhum tipo de oportunismo se faz presente, melhor assim, mesmo não nos cabendo ter qualquer senão contra empreendimentos profissionais no campo das artes, tampouco na militância política de quem quer que seja; todavia, convenhamos, tem sido cansativo e constrangedor ver tanta gente usando o recurso da fé para interesses em nada afeitos à fé em si mesma. Numa proposital cacofonia, é fé demais neste país de cultura de menos, e, pelo jeito, desde sempre e pelos séculos e séculos.
              Seja como for, um momento ímpar como esse merecia ter sido, poeticamente, melhor preparado e apresentado ao público que admira Caetano e, creio, ao próprio Senhor dos Céus. Cá venhamos, uma conversão de um ateu desse nível e projeção merecia uma poesia de maior qualidade, que se aproximasse, pelo menos, daquele velho “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos. Claro que muitos religiosos dirão o contrário; que em Matheus, 19.14, não se lê que o céu pertence aos intelectuais e eruditos, aos ricos e poderosos, mas àqueles que são semelhantes às crianças, aos simples. Se for assim, a canção que embala a conversão de Caetano está no patamar adequado, poeticamente falando. Tudo é muito raso; logo, longe de uma grande inspiração, humana que seja!
              Como contraponto disso tudo, resgato a canção, inteligentemente engajada, intitulada “Eterno Deus MU-Dança”, de Gilberto Gil, composta em 1989, ano de sua eleição como vereador de Salvador-BA, bem como da primeira eleição presidencial pós-golpe-ditadura militar/64, antagonizada, no segundo turno, por Collor e Lula.
              Naquele momento, o eu-lírico de Gil, ao invés de pedir cuidados exclusivos de Deus para si, numa perspectiva de obtenção dos privilégios individuais, apostou na força da multidão por meio de uma brincadeira fonética, que faz da primeira sílaba de “MU-dança” o nome de um deus hipotético, a quem o futuro se assemelha a uma dança, que aposta na dinamicidade da existência humana, marcada pelos processos de ruptura, e não de aceitação e/ou de resignação, com o establishment.
              Bem ao contrário dessa conexão trazida por Gil, arraigada à terra e à Terra, o mítico e o eflúvio celestial parecem ter tomado conta do espaço da gravação do clipe acima citado, culminando, mesmo em um ambiente de “conscientizados políticos” do campo progressista brasileiro, em uma retumbante vitória do teocentrismo à lá Idade Média, pautado pelo extremista de direita Jair Bolsonaro, aliás, de forma tão abrangente como nenhum outro político conseguiu, até então, pautar; quiçá, nem mesmo algum religioso tenha tido tanta força para esse tipo de imposição, intimamente, vinculada às pautas de costumes, tão rompidos, em idos tempos, justamente por Caetano e tantos outros ícones de nossa MPB, via de regras, magnífica em conteúdos e formas.
              Assim, ironicamente, Caetano, um opositor e crítico de Bolsonaro, a partir de sua conversão religiosa, materializada na gravação de “Deus cuida de mim”, coloca-se sob o mesmo manto do pesado lema “Deus acima de tudo e de todos”.
              Mistérios da “força estranha... no ar”?

Quarta, 14 Dezembro 2022 11:05

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Aldi Nestor de Souza*
Marlene Menezes**

 


A partir do chamado estabelecido pela circular nº 431/2022, do ANDES SN, aconteceu na última segunda feira, dia 12 de dezembro de 2022, de modo virtual, uma reunião do Setor das Federais desse sindicato, tendo como pauta:

1.  Informes nacionais;

2.  Conjuntura e cortes na educação;

3.  Encaminhamentos.

A reunião foi motivada pela intensificação dos cortes de recursos da educação, feitos pelo governo federal, que tornou impossível o funcionamento das universidades federais.
Participaram 38 pessoas dessa reunião e, pela ADUFMAT SSIND, os sindicalizados Marlene Menezes, com direito a voto, e Aldi Nestor de Souza, como observador. 
No ponto Informes Nacionais, a direção do ANDES SN, na pessoa de Rivanda Moura, informou da reunião que a direção do sindicato teve com a Equipe de Transição do novo governo federal brasileiro que tomará em 01/01/2023. Destacou que foi entregue um documento, escrito a partir da carta aos presidenciáveis, aprovada no Conad Extraordinário, realizado em 2022 na cidade de Vitória da Conquista, que, dentre outras coisas, contém os seguintes pontos programáticos:
- Recomposição do Orçamento da Educação, que está associado à revogação da Emenda Constitucional 95;;
- Fim da lista tríplice para a escolha dos reitores das universidades;
- Revogação das intervenções nas reitorias das Universidades, feitas no governo Bolsonaro;
- Arquivamento do projeto Reuni Digital;
- Revogação da Reforma do Ensino Médio;
- Revogação de todos os decretos, leis e medidas, feitas pelo governo federal, que atingem e prejudicam a educação nos últimos anos.
Informou ainda que a Equipe de Transição indica a impossibilidade orçamentária para recomposição das perdas causadas pela inflação nos salários dos servidores públicos federais.
Com relação ao Sigilo de 100 Anos sobre alguns temas, decretado pelo governo Bolsonaro, Rivânia Moura informou que há uma negociação entre a Equipe de Transição e o presidente da câmara dos deputados, Artur Lira, sobre quais desses decretos serão revogados.
Um outro informe nacional foi com relação ao encontro realizado em Foz do Iguaçu-PR, pelo ANDES SN, composto por II Seminário Internacional Educação Superior na América Latina e Caribe e Organização dos(as) Trabalhadores(as), o I Seminário Multicampia e Fronteira e o I Festival de Arte e Cultura Sem Fronteiras. Destacou a realização, durante esse evento, do ato Em defesa da Educação Pública e pela Integração Latinoamericana que teve como palco a Ponte Internacional da Amizade, na fronteira entre  Brasil e Paraguai.
No ponto, Conjuntura e Cortes na Educação, a situação dramática em que se encontram as universidades deu o tom da discussão. Há relatos, como o da FURGS, que se encontra ameaçada de não conseguir rodar a folha de pagamento do mês de dezembro, dos professores daquela universidade, em virtude da falta de recursos impedir o pagamento feito a médicos residentes que são parte componente/adicional da folha.
Da ADUFPEL, a representante destacou a dificuldade de contar com a participação dos estudantes daquela universidade em virtude do DCE assumir uma posição apaziguada com a reitoria.  Da ADUA veio o complemento de que naquela universidade não existe DCE.
O repasse da ADUFMAT destacou o histórico dos cortes, vindo desde o corte de energia elétrica que deixou a universidade sem luz em 2019 até o mais recente, que deixou os animais do antigo zoológico sem comida, o que fez com que uma campanha de arrecadação de alimentos fosse realizada.
A evasão gigantesca de estudantes das universidades, em parte em função do valor das bolsas estudantis, que estão a mais de 10 anos sem reajuste, em parte pelo atraso e incertezas de pagamento das mesmas,  também teve lugar na discussão de conjuntura.
Ao longo da discussão, destacou-se ainda o fato de algumas Centrais Sindicais, que andam dizendo não haver necessidade de se revogar a Reforma Trabalhista de 2017. Ainda teve lugar na discussão da conjuntura, em virtude de parte da base do ANDES SN ter afinidade com o governo eleito e, em função disso, entender que “se deve dar um tempo ao novo governo”, qual deve ser a postura do ANDES SN diante do novo ciclo que se inicia em 2022.
Mesmo considerando que estamos no final do ano, com algumas universidades já com as atividades encerradas, o entendimento foi que a situação impõe que é tão dramática que se impõe e exige ação.

Foram aprovados os seguintes encaminhamentos:

1) Jornada Nacional de luta nas universidades contra os cortes – 15 e 16 de dezembro (atos, debates, universidade na praça, faixaços). Data a ser construída com demais entidades da educação.
2) Que o Setor realize um levantamento sobre os calendários acadêmicos das IF e existência de movimentos unificados dentro das IF e com outros movimentos sociais.
3) Reforçar com o GTPE a necessidade de pesquisa e aprofundamento sobre Reuni Digital e Ead.
4) Que as seções sindicais informem suas articulações de luta nos próximos dias via formulário do andes( esse informe deve ser feito em formulário específico que será enviado pelo ANDES SN).
5) Protocolar nossa pauta para o novo governo solicitando uma agenda de discussão e negociação e realizar um ato em Brasília convocando representação das seções sindicais.
6) Impulsionar e ampliar a Campanha pela defesa da educação pública e contra os cortes



*Aldi Nestor é professor do departamento de Matemática da UFMT-Cuiabá
**Marlene Menezes é professora aposentada da UFMT – Cuiabá

Terça, 13 Dezembro 2022 17:13

 

 

Último dia teve performance, carimbó, maracatu e show com Letícia Sabatella e Caravana Tonteria, entre outras apresentações. Fotos: J. Alex

 

A importância da arte e da cultura como instrumentos de resistência dos povos da América Latina e Caribe e também como ferramenta de luta foram temas do último debate do evento realizado pelo ANDES-SN na Universidade Federal de Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu (PR), entre os dias 6 e 9 de dezembro. O dia também teve diversas apresentações musicais e foi encerrado com show de Letícia Sabatella e a caravana Tonteria.

Iniciando os trabalhos de sexta (9), houve a abertura do Festival Cultural (Fecult) da Unila, que coincidiu com a realização do I Festival de Arte e Cultura do ANDES-SN, com apresentações musicais. Na sequência, a mesa “O papel da arte e da cultura na resistência de nossos povos da América Latina”, com Priscila Rezende, artista visual e performer de Belo Horizonte (MG), Félix Eid, professor de música da Unila e Priscila Duque, artista do carimbó de Belém do Pará (PA).

As falas trouxeram diferentes referências de expressões artísticas e como elas contribuem para denunciar violências e expressar diferentes pautas, resgatar e divulgar saberes e tradições de diferentes povos. Também abordaram os diversos tempos do fazer artístico e as incompatibilidades com o tempo ocidental imposto pelo capitalismo, muitas vezes acelerado, inclusive nas produção de conhecimento dentro das universidades.

Priscila Rezende destacou a importância da arte como instrumento de denúncia das violências da sociedade capitalista, patriarcal, racista, machista, lgbtquiap+fóbica e capacitista. A artista utiliza seu corpo como ferramenta de seu trabalho e cunhou a expressão “corpo combate” para descrever sua obra.

 

“Eu costumo falar para as pessoas que o meu trabalho é totalmente incômodo, eu sei que assusta muita gente, a intensão é que seja incômodo mesmo”, afirmou Priscila. “A violência ela é atroz, a violência que a gente vive é atroz. O machismo, o racismo, a lgbtfobia são atrozes. Eu acredito que a reação não”, acrescentou, destacando que sua arte traz uma resposta ao racismo e machismo por ela vivenciados. 

Feliz Eid refletiu sobre o silenciamento das expressões artístico-culturais dos povos da América Latina e do Caribe, e salientou a resistência dessas culturas e povos, através da arte. “Os tempos impostos pelas instituições de ensino ‘normal’ nem sempre são compatíveis com a organicidade de tempo dos povos latino-americanos, indígenas e afrodescendentes. Temos que romper com essa estrutura”, afirmou, ressaltando que tem buscado encontrar esse tempo nas atividades de extensão que desenvolve na Unila. 

Priscila Duque trouxe sua vivência com movimentos de esquerda - partidários e sociais – e também com o carimbo, que segundo ela, carrega os saberes do estado do Pará. “O carimbó é o encontro dos povos subalternizados na Amazônia, criminalizados, exterminados em ideia, em afeto e em território na Amazônia. O carimbó é negro e é indígena”, afirmou.

 

A artista e jornalista destacou a necessidade dos movimentos sociais, sindicais e partidários valorizarem os artistas de resistência e as expressões culturais que não são absorvidas pela indústria cultural. “A esquerda precisa compreender que as ideias, os afetos, os sentimentos, a coesão, os laços com a ancestralidade não estão em panfletos, não estão em carros som, não estão em plenárias, apenas. Eles estão em toda a nossa força. E se a indústria cultural não absorve o artista de resistência, isso significa que ele só tem a vontade dele para existir. E eu percebo que a ampla esquerda também não absorve o artista de resistência. Discute a revolução, a tomada do poder, mas quando faz a sua festa coloca indústria cultural para tocar, quando paga artistas da indústria cultural paga o valor do mercado, e para o artista de resistência paga ajuda de custo, às vezes um lanche, porque ele tem consciência, porque ele é revolucionário”, ressaltou, convidando as e os participantes à reflexão.

Durante toda a sexta-feira (9), ocorreram atividades culturais do Fecult da Unila e, no final do dia, a apresentação dos maracatus Baque Mulher e Alvorada Nova conduziram, num cortejo pelos corredores da universidade, os e as participantes de volta ao auditório onde aconteceu o show de encerramento do evento com Letícia Sabatella e a Caravana Tonteria. 

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Avaliação 

O evento do ANDES-SN na Unila reuniu o II Seminário Internacional Educação Superior na América Latina e Caribe e Organização dos/as Trabalhadores/as, I Seminário Multicampia e Fronteira e o I Festival de Arte e Cultura: Sem fronteiras, a arte respira lucha (arte respira luta. Luta respira arte), que aconteceram de forma intercalada de 6 a 9 de dezembro. 

 

Ao todo, cerca de 150 docentes de seções sindicais de todo o país, mais de 35 convidadas(os) debatedores(as) e mais de 50 artistas envolvidas(os) nas expressões individuais e coletivas foram recebidos no campus Jardim Universitário, que tem em sua entrara um mural em homenagem à Marielle Franco. A organização do evento envolveu membros da diretoria do ANDES-SN, da Sesunila SSind e também da Adunioeste SSind.  Dentro da programação também foi realizado um ato em defesa da Educação Pública e pela integração Latino-americana, na Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai.

“Para a Sesunila SSind, e certamente também para a Adunioeste SSind, foi muito importante receber os seminários e o festival, dando encaminhamento à deliberação do Congresso do nosso Sindicato. Realizar essas atividades de formação, debate e arte aqui na fronteira permitiu lançar luz não apenas à nossa realidade, mas também para as contradições e também para as potências dos territórios de fronteira. Pelo que pudemos debater numa das mesas do seminário, há uma estimativa de que temos em zonas de fronteira 12 universidades federais, com 22 campi, e 04 universidades estaduais, com 42 campi”, afirmou Fernando Correa Prado, presidente da Sesunila SSind. e representante da Comissão Local de organização.

Prado destacou o fato de que a Unila recebe estudantes de toda a América Latina e Caribe, o que também deu um sentido importante de integração às atividades. “Isso pôde ser sentido, por exemplo, na manifestação do movimento estudantil frente aos cortes criminosos que o atual governo tem feito na educação, que levam milhares de estudantes a situação de fome, de falta de moradia e impossibilidade de seguir estudante e criando ciência”, disse. “Em síntese, foi uma alegria e uma imensa honra receber esse evento. Que venham muitos pela frente, Brasil afora, com bons debates, muita arte e luta!”, concluiu.

Rivânia Moura, presidenta do ANDES-SN, destacou que a programação recebeu muitos elogios das e dos participantes. Ela reforçou a riqueza imensa de debates, de trocas, de pluralidade de diversidade, de profundidade das discussões, com representação de vários países. “Nós vivenciamos, durante esses dias, debates de muita intensidade e, com certeza, nos fortalecemos muito para as nossas lutas e para os enfrentamentos que nós vamos precisar fazer e continuar fazendo ao longo da história do nosso sindicato”, avaliou. 

Para a presidenta do Sindicato Nacional, foi muito acertada a realização do I Festival de Artes e Cultura do ANDES-SN, que culminou com o Festival de Cultura da Unila. “Foi também um momento de muita troca e de muita diversidade, com a presença de vários artistas que passaram por aqui e que trouxera, em suas apresentações, a responsabilidade que esse Sindicato tem de fazer com que a política respire arte cada vez mais, que a arte continue respirando política e nos alimentando, porque a nossa vida e a nossa luta também é feita de arte, de poesia, de música, de maracatu e de tantas outras expressões culturais que tivemos nesses dias”, lembrou. 

“Que a arte possa ser também constante e possa ser também determinante para os nossos planos de luta e para o que temos construído no âmbito do nosso sindicato. Nós tivemos a honra de contar com a apresentação de Letícia Sabatella e a caravana Tonteria, uma grande artista mulher, que além de arte faz política, que também nos instiga, nos motiva, nos incentiva e também serve de exemplo. Certamente, saímos dessa semana de atividades bastante fortalecidas e fortalecido, com a certeza de que o ANDES-SN se constrói na base, se constrói na luta, e é na luta que nós vamos permanecer e vamos seguir, juntas e juntos”, finalizou.

 

 

Fonte: Andes-SN

Terça, 13 Dezembro 2022 16:59

 

 

Dentro da programação do evento do ANDES-SN na Unila, aconteceu na manhã (8) desta quinta-feira (8) o debate "Universidade, pandemia e mudanças tecnológicas na AL: uma nova forma de exclusão", com as professoras Amanda Moreira (UERJ/Bra) e Juliana Melim (UFES/Bra) e os professores Ivan Lopez (UNAM/Mex) e Javier Blanco (UNC/Arg).

O evento reúne o II Seminário Internacional Educação Superior na América Latina e Caribe e Organização dos/as Trabalhadores/as, I Seminário Multicampia e Fronteira e o I Festival de Arte e Cultura: Sem fronteiras, a arte respira lucha (arte respira luta. Luta respira arte), que acontecem de forma intercalada, de 6 a 9 de dezembro. 

 

 

As falas da mesa abordaram a plataformização do trabalho docente, os impactos na pandemia no aprofundamento da super exploração e precarização do trabalho e do ensino e a expansão da educação e do trabalho remotos. O cenário brasileiro se repete em outros países da América Latina, de acordo com as explanações da mesa, que expressaram a preocupação com as atuais condições de trabalho e também de organização da categoria docente.

Amanda Moreira lembrou que a educação não fica imune às alterações do mundo do trabalho e destacou que a pandemia criou o cenário perfeito para ampliação da plataformização na Educação.

“A precarização [do trabalho docente} é de longa data, mas com a plataformização, a separação entre trabalho e vida deixa de existir. Isso traz aspectos ainda mais avassaladores da precarização”, afirmou, ressaltando ser importante “criar formas de diálogo com a categoria para avançar na mobilização”.

 

 

Desafios da multicampia

“Os desafios das universidades públicas multicampi no Brasil”, foi o tema do painel com diversas seções sindicais do ANDES-SN. Milton Pinheiro (Uneb), Kate Lane (UFF), Túlio Lopes (Uemg), Valmiene Farias (Ufam), Claudio Fernández (IFRS), Gilberto Calil (Unioeste) abordaram os desafios para o movimento docente nessas instituições.

As falas apresentaram as experiências de suas seções sindicais na organização da categoria e no enfrentamento às diversas particularidades dessa forma de estruturação de várias universidades federais e estaduais. Trouxeram também as dificuldades internas do movimento sindical de perceber as diferenças das condições de trabalho nos campi centrais e naqueles interiorizados.

As e os palestrantes, bem como as e os participantes que trouxeram questionamentos, destacaram a necessidade do ANDES-SN intensificar a luta por melhores condições de trabalho, acesso e permanência estudantil nessas instituições multicampi, bem como de avançar na reflexão de como ampliar e fortalecer a organização da categoria e a participação docentes nos espaços do sindicato, como as assembleias de base.

Milton Pinheiro, que também é vice-presidente do ANDES-SN, ressaltou que a universidade multicampi é um aparelho de perspectiva hegemônica em disputa. “O fazer universitário é rico e é uma contradição em processo, que estimula uma necessidade de entender a região, uma perspectiva de encontrar objetos de pesquisa nas mais diversas regiões e também permite uma perspectiva de docência articulada com as necessidades da comunidade e de uma extensão séria voltada para segmentos populares”, ressaltou.

No entanto, segundo ele, essas características não conseguem se impor em muitas instituições devido à parca autonomia financeira das universidades, que segundo não permite responder a essa contradição em disputa que é uma universidade multicampi.

“O olhar do sindicato é da perspectiva da categoria e da organização sindical e da construção de uma universidade, que não é essa que temos no momento”, lembrou o diretor do ANDES-SN.

 

A professora Valmiene Farias, da Federal do Amazonas, falou da dificuldade de organização sindical, especialmente nesse último período. “Muitos professores têm se tornado alheios à luta. Em nosso sindicato, nos últimos dois anos, estávamos preocupados em sobreviver. E acredito que tenhamos acumulado a luta, nesse ano de 2022, no nosso retorno às ruas para derrotar Bolsonaro”, avaliou.

“É uma tarefa hercúlea retomar questões que são fundamentais para a luta, nesse momento de reorganização da esperança. Precisamos colocar o pé no chão, no otimismo da vontade e no pessimismo da razão” acrescentou, ressaltando o papel estratégico da comunicação. “É necessário trazer os docentes para as assembleias e para a organização sindical”, afirmou.

 

Arte e Cultura

As mesas desta quinta (8) foram antecedidas das apresentações musicais do professor da Unila, Marcelo Villena, e da professora da Ufac, Ana Lúcia Fontenele. A noite desse terceiro dia de encontro foi reservada para a celebração de dez anos do Cinelatino, com a exibição do filme “Eami”, de Paz Encina, seguido de um debate sobre o filme.

Ainda na programação, a atividade “Sem fronteiras: a arte respira lucha”, com “Piseras do Embauba”, com Mulheres do coco”, “Herencia Latina”, com o Grupo Musical de Salsa e Performance com Tambores de Carimbó, com Priscila Duque, do Belém do Pará.

 

Fonte: Andes-SN

Terça, 13 Dezembro 2022 16:21

 

A situação financeira da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) está longe de ser resolvida. As últimas devoluções dos recursos retirados este mês não são suficientes para garantir a conclusão das atividades do final deste ano e, menos ainda, o início das atividades de 2023.

 

O catastrófico presente de despedida do Governo Bolsonaro simbolizou o desfecho de cerca de seis anos de cortes consecutivos e uma prévia do projeto capitalista para a universidade pública: a privatização.

 

Em primeiro de dezembro de 2022, às 19h36, as instituições receberam um e-mail da Subsecretaria de Planejamento e Orçamento do Ministério da Educação dizendo que a publicação do Decreto 11.269, de 30/11/22, “zerou o limite de pagamentos das despesas discricionárias para o mês de dezembro” e, com isso, as unidades vinculadas ao MEC poderiam efetuar pagamentos somente com os recursos que já possuíam em suas disponibilidades financeiras.  

 

Na manhã de terça-feira, 06/12, a administração da UFMT enviou um convite informal aos representantes da comunidade acadêmica, via aplicativo de mensagens, convidando para uma reunião. Na ocasião, informou que não haveria o repasse esperado, que a universidade dispunha de R$ 10 mil em caixa, e que as despesas mensais ultrapassavam R$ 5,2 milhões.

 

Ocorre ainda que parte dos recursos também foram bloqueados em meses anteriores. Em novembro, por exemplo, a UFMT recebeu apenas 30% do valor previsto no orçamento. Assim, hoje, o déficit financeiro estimado para o pagamento das despesas de custeio da universidade é de cerca de R$ 10 milhões, segundo a própria administração.  

 

Após a reunião do dia 06/12, a Adufmat-Ssind se manifestou por meio de nota, lamentando que a Reitoria tenha se preocupado em “discutir” a questão tão tardiamente (leia aqui). Comunidades acadêmicas, especialmente estudantes, que ficaram sem auxílios e bolsas, se levantaram imediatamente em diversas regiões do país.  

 

No dia 08/12 a UFMT publicou em seu site que havia conseguido liberação parcial de recursos e, com isso, efetuou o pagamento, até então suspenso, das 1.726 bolsas e auxílios estudantis. A maioria dos estudantes confirmou, mas alguns reclamam que ainda não receberam. A Adufmat-Ssind solicitou informações oficiais sobre o pagamento das bolsas, mas a Reitoria ainda não se manifestou.

 

“O sindicato se preocupa com o funcionamento da universidade, tanto para o encerramento das atividades quanto para o início do próximo ano letivo, considerando que o repasse parcial anunciado pela Reitoria foi utilizado para o pagamento das bolsas, o que é prioridade, obviamente, mas há ainda outras muitas demandas essenciais para que ela possa funcionar efetivamente”, afirmou o professor Leonardo Santos, diretor geral da Adufmat-Ssind.

 

Nessa quinta-feira, 15/12, a categoria debaterá, mais uma vez, a questão dos cortes de recursos em assembleia geral (leia aqui o edital de convocação).   

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Terça, 13 Dezembro 2022 11:12

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Por Vicente Machado de Avila
Professor Aposentado da UFMT

 

 

CONTINUAÇÃO...


                       Continuando a valiosa contribuição da psicanalista DESCHAMPS: “A psicanálise sozinha não consegue dar conta. Bons textos de FREUD para tentar destrinchar esse caldo são “Psicologia das Massas e Análise do Ego”, “Futuro de Uma Ilusão” e “Mal estar na Cultura”. Pra começar entender o magnetismo que esse tipo de liderança perversa exerce sobre sujeitos com dificuldades constitucionais de lidar com o desamparo que faz parte do viver.

                      O desvio anormal da energia que deveria agregar e construir vida e laços afetivos é capturada e desviada para a gana de destruição. Erguem inimigos imaginários que condensam seus conflitos de desejo e atacam com um grau imenso de satisfação”.

 


Rio de Janeiro-RJ, 22/11/2022


DENISE DESCHAMPS
PSICANALISTA