Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Conforme preceitos das “Sagradas Escrituras”, o retorno dos humanos ao pó se dá após a conclusão do ciclo de vida, que pode ser longa ou não. Assim, todo ser que do pó veio – em geral depois de ter comido o pão que o diabo amassou – a ele retornará; ou seja, materialmente falando, voltará ao espaço do nada.
Pois bem. Este preâmbulo, sustentado por uma sentença bíblica, serve agora para falar do retorno ao espaço da insignificância política que o Partido dos Trabalhadores (PT) já está trilhando.
Após ter sido uma das legendas mais influentes das últimas décadas – oriundo das camadas populares em parceria com a nata da “intelligentsia” brasileira, e ladeado por sujeitos progressistas da Igreja Católica – o PT começou, há alguns meses, a descer a ladeira do Senhor do Bonfim. Desgovernado, o Partido se parece com aquela vaca da campanha eleitoral, mas atolada na lama.
Pergunta elementar: como é possível saber quando um partido político tão importante como o PT entra nos momentos finais de sua existência, ou de sua importância política?
Simples: quando sua voz não é mais ouvida. Pior: quando sua voz sequer é suportada pela maioria das pessoas. Eis o caso.
E para quem ainda tinha alguma dúvida da agonia política do PT, em cinco dias, dois episódios puderam ajudar na revelação desse estágio de coma em que o partido está imerso.
O primeiro dos episódios, na verdade, foi a falta de verbo, essência para qualquer atividade de poder, que, muitas das vezes se sustenta apenas pela mera exposição de discursos.
Explicando: no dia 01 de maio, internacionalmente comemorado como o dia do trabalhador, o Partido dos Trabalhadores não pode fazer o tradicional discurso para marcar a data.
A presidente da República – que é uma das principais estrelas daquela constelação de decadentes – foi obrigada a quebrar uma tradição de longa data. Ficou muda. Perdeu a fala. Cortaram a língua da rainha do Alvorada.
Motivo: a presidente não discursou porque qualquer fala sua teria sido abafada pelo barulho de panelas, buzinas, cornetas etc. Raro seria o brasileiro – até mesmo entre os mais pobres e os dependentes do FIES – que pararia para ouvir seu blá-blá-blá.
O segundo dos episódios que revelam a agonia do PT foi exatamente o uso do verbo.
Como assim?
Na tentativa de quebrar o silêncio da presidente do dia 01 de maio, o PT, no dia 05, usou a cadeia de rádio e TV para sua propaganda política, na qual a presidente aparece apenas em imagens; de novo, a mulher não falou.
Todavia, de nada adiantou sua mudez. Mal começou a propaganda política do PT e as pessoas, Brasil afora, começaram a protestar usando panelas, cornetas, buzinas etc.
Com isso, uma constatação significativa: o problema não é necessariamente com a chefona do Alvorada; é com todos e com tudo que possa estar identificado com o PT.
Por que isso?
Por vários motivos.
Um deles: essa sigla não consegue mais se desvencilhar de denúncias de corrupção. Há uma equivalência de base: falar de corrupção é falar de alguém do PT, que invariavelmente tem se justiçado da seguinte forma: “eles também são corruptos”.
Outro motivo: o estelionato eleitoral empreendido na cara dura pela moradora do Alvorada. Tudo o que ex-candidata disse que não faria contra os mais pobres da sociedade, fez, faz e fará na condição de reeleita.
Por tudo isso, ela não pode mais falar. Dificilmente se recuperará da mudez.
Para piorar o que já é ruim, o PT está nas teias do PMDB; ou seja, é asfixia política. Dessa enroscada, será bem difícil sair com vida.