Quinta, 01 Junho 2017 09:05

DE DIREITA E DE ESQUERDA - Roberto Boaventura

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Roberto Boaventura da Silva Sá*

 

Sobre “Fanáticos por quadrilhas”, meu artigo anterior a este, muitos comentários surgiram. Ali, ao invés das quadrilhas juninas, que neste mês se espalharão pelo país, tratei dos brasileiros que têm demonstrado fanatismo por corruptos. Destes, citei Dirceu e Vaccari, já presos. Mas há outros do mesmo Partido, incluindo o “chefe”, que dificilmente escaparão de punições. E melhor: sem nenhuma perseguição da mídia e/ou da Justiça, como querem fazer crer aos tolos da plebe que optou pela ignorância dos fatos e das imagens.

Pois bem. Dos comentários, destaquei três deles para continuar o debate sobre essa modalidade nova de fundamentalismo: cultuar corruptos; ou seja, comportamento social que já deveria – se é que já não há – estar motivando dissertações e teses no campo da Psicologia. Isso é sério; até porque é constrangedor ver esse comportamento sendo “compartilhado” alhures. Vergonha alheia.


O primeiro dos leitores me cumprimenta e diz que sou “do tipo razoável que critica a direita e a esquerda”.


Ainda que eu me esforçasse para lembrar de quando eu teria condenado a atual esquerda, confesso dificuldades. Até onde me lembro, nunca critiquei ninguém do Psol ou do PSTU. No limite, mesmo sem aproximação partidária com esses agrupamentos, reconheço que é o que restou de mais próximo daquilo que se podia identificar com partidos de esquerda, isso quando aquele “anjo torto”, de Drummond, ainda conversava com mortais. Os outros partidos, não. O PT menos ainda; ele é tão neoliberal quanto o PSDB, PMDB, DEM, PP... Com exceções, seus agentes estão em todos os braços e abraços da corrupção: juntos e misturados.


Aliás, as cifras desses crimes são de tirar o fôlego. Mal sabemos quantos zeros têm alguns dos valores já revelados; e revelados com tanta familiaridade com os milhões, com os bilhões. Quem fala de mil fica inferiorizado no mundo imundo da corrupção; parece que humilha os esquemas. Portanto, nunca critiquei a esquerda brasileira. Refuto agentes do neoliberalismo: de Sarney e Collor a Temer, passando por FHC, Lula e Dilma. Por tabela, menosprezo também tipos como o “Mineirinho”.


Outro leitor se disse positivamente surpreso, pois pensou que eu, “como a maioria dos colegas da UFMT, fosse PTista até a alma”.


Sobre isso, respeito quem ainda seja petista, como já fui. Conheço pessoas queridas insistindo e acreditando nesse erro. Fazer o quê? O que tenho dificuldade é de compreender como alguém ainda pode apoiar políticos nitidamente corruptos e achar que há perseguições em curso. O que não admito é ver o PT neoliberal arrotar de oposição. Estou farto de farsas. Não admito porque não considero políticas de compensação avanço algum. Ao contrário. São colchões que amortecem a queda no chão duro; mas a queda ocorre do mesmo jeito.


Por fim, um leitor, querendo fazer que eu enxergue o meu lugar de mero mortal, diz que “Caetano Veloso é um fanático! Diretas Já!”


Nessa lista de gente “avançada” do nosso meio cultural, o leitor ainda poderia inserir Mart’nália, Tereza Cristina e Milton Nascimento, além de outros menos conhecidos. Ah, sim! Não poderia esquecer de Chico Buarque que, sistematicamente, tem dado apoio público aos petistas. Nem tudo é perfeito. 


Quanto a isso, com raras exceções, penso que esses artistas não estão apoiando a corrupção. Têm apenas uma leitura de que com Temer já não dá mais, com o que concordo, e, por isso, pedem as “Diretas Já”.

Bem, isso já é outra questão. Dela, não tratei no artigo anterior; nem neste.   

 

*Roberto Boaventura da Silva Sá, professor de Literatura na UFMT e Dr. em Jornalismo pela USP.

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