Quinta, 24 Agosto 2023 11:05

 

Como forma de protesto e denúncia, no próximo dia 24 de agosto, Movimentos Negros e entidades parceiras realizarão uma Jornada Nacional contra a violência policial, em todo o Brasil. Entre fim de julho e início de agosto, chacinas policiais mataram ao menos 32 pessoas na Bahia - estado que tem a polícia mais letal do país, matando ao ano, mais do que todas as forças policiais estadunidenses -, 18 em São Paulo e 10 no Rio de Janeiro. Soma-se à iniciativa, o grito de justiça pelo assassinato da liderança quilombola Bernardete Pacífico, executada em sua residência na cidade de Simões Filho (BA), o que mostra não ser apenas a polícia a operar o genocídio que recai secularmente contra a população negra no país, sendo também praticado pelo capital e pelo latifúndio no atentado às condições de vida de negras e negros.

 

 

O ANDES-SN está engajado na construção dessa jornada. O Sindicato Nacional convoca as seções sindicais a se integrarem na organização dos atos, mobilizando a categoria para participação dessa agenda importante na luta antirracista e na defesa da vida.

“Os recentes episódios relativos às ações das polícias militares, sobretudo nos estados de São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, caracterizam-se como violações dos direitos humanos, abusos e ilegalidades, resultando na execução sumária de crianças e jovens negras e negros”, afirma a diretoria do Sindicato Nacional, na circular 276/2023 (acesse AQUI).

A orientação é que, além de atos nas ruas e nas universidades, institutos federais e cefets, as Seções Sindicais também promovam ações nas redes sociais, denunciando o racismo e seus efeitos perversos sobre o povo negro.

“Ocupar às ruas no dia 24 de agosto! Basta de violência policial! O povo negro quer viver!”, conclama a diretoria do ANDES-SN.
 

Atos nos estados

Estão previstos protestos em pelo menos 15 estados brasileiros. Definido em uma plenária online feita no último dia 10, com cerca de 250 organizações, o dia de luta ocorrerá em 24 de agosto por ser a data que marca a morte de Luiz Gama, advogado e ativista abolicionista.

Além dos protestos na próxima quinta-feira (24), as organizações construíram um calendário de lutas, com mobilizações mensais até o dia 20 de novembro, data em que se recorda a Consciência Negra no Brasil. O objetivo é pressionar por reivindicações junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), aos Ministérios Públicos Estaduais e Federal e ao Congresso Nacional. Entre as exigências, estão o pedido ao STF de proibir operações policiais com caráter reativo em comunidades e favelas e a criação de uma lei federal que exija câmeras de segurança nos uniformes dos agentes de segurança, entre outras demandas.

Justiça por Mãe Bernadete

Além de protestar contra a violência policial, os atos pedem justiça por Mãe Bernadete Pacífico, líder da comunidade Quilombola de Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA), que foi brutalmente assassinada dentro do seu terreiro. A líder religiosa ocupava o cargo de Coordenadora Nacional da Articulação dos Quilombos (Conaq).

“O ANDES-SN exige uma apuração rigorosa deste e de todos os assassinatos de líderes religiosos do povo negro. Continuaremos nossa luta incansável e nosso empenho na defesa das expressões religiosas de matriz afro-brasileira-indígena”, afirmou o Sindicato Nacional em nota. Leia a nota na íntegra AQUI.

Atos confirmados (segundo levantamento do site Alma Preta)
- Aracaju (SE), 15h, Praça Camerino
- Belo Horizonte (MG), 17h30, Praça 7
- Brasília (DF), 15h, Museu Nacional da República
- Curitiba (PR), 18h, Praça Santos Andrade
- Florianópolis (SC), 18h, em frente ao Morro do Mocotó

- Goiânia (GO), 18h30, na Praça do Bandeirante
- Teresina (PI), 16h, Parque da Cidadania
- Juiz de Fora (MG), 18h, Câmara Municipal
- Macapá (AP), 16h, Mercado Central
- Recife (PE), 16h30, Praça UR11 Ibura
- Rio Branco (AC), 8h, Assembleia Legislativa
- Rio de Janeiro (RJ), 16h, Candelária
- São José do Rio Preto (SP), 12h, Defensoria Pública
- São Paulo (SP), 18h, MASP
- Vitória (ES), 16h, Praça de Itararé

Protestos também estão confirmados no Rio Grande do Sul, Pará, Maranhão e Bahia. Os locais ainda serão divulgados. 

Fonte: Andes-SN (com informações do site Alma Preta)

 

Quarta, 23 Agosto 2023 17:05

 

 

 

Apresentamos, a seguir, um resumo das informações repassadas pelo advogado Francisco Faiad sobre a perícia do processo dos 3,17%, que deixou a todos nós preocupados e sobressaltados com a estranha conclusão do perito de que um grupo considerável de docentes teria recebido a mais do que teriam direito. Após o resumo da manifestação do advogado, a diretoria apresenta sua opinião a respeito.

 

  1. O que diz o advogado Francisco Faiad?

 

Na última assembleia geral da Adufmat-Ssind, realizada em 14/08, o advogado Francisco Faiad informou a conclusão da perícia contábil referente ao processo dos 3,17% (URV). A perícia constatou o não recebimento por parte de 137 docentes, o recebimento por parte de 325 docentes, e relacionou os valores devidos a familiares de docentes falecidos.

 

No entanto, a assessoria jurídica estranhou o fato dos alegados pagamentos não terem sido discriminados no holerite (a exemplo de outros processos), além de os valores serem absolutamente discrepantes. Por isso, solicitará, nos autos, as seguintes explicações: 1. Os valores realmente são referentes a este e somente este processo? Por que os valores são absolutamente aleatórios? Por que a universidade realizou pagamentos sem informar aos docentes? De onde saíram os valores, já que alguns professores receberam valores altos, enquanto outros não receberam nada?

 

Para exemplificar, o advogado utilizou alguns contracheques não identificados, demonstrando o que a universidade alega ser o pagamento do processo dos 3,17%, sob a rubrica “Decisão Judicial Não Transitada em Julgado”.

 

 

 

 

No exemplo 1, o docente teria começado a receber o valor de R$ 978,58, na rubrica “Decisão Judicial Não Transitada em Julgado”, a partir de abril de 2002.

 

 

 

 

No exemplo 2, o docente teria começado a receber o valor de R$ 563,77, na rubrica “Decisão Judicial Não Transitada em Julgado”, também a partir de abril de 2002.

 

 

 

 

No exemplo 3, o docente teria passado a receber o valor de R$ 941,47, na rubrica “Decisão Judicial Não Transitada em Julgado”, a partir de abril de 2002. Neste caso, no entanto, percebe-se que o valor pago a partir de abril de 2002 é significativamente inferior ao pago anteriormente – nos dois primeiros casos os valores aumentaram. Além disso, há especificado no contracheque o pagamento dos 28,86%, isto é, um processo identificado, que é a forma correta de efetuar o pagamento.

 

 

 

 

No exemplo 4, o advogado demonstrou um holerite onde não consta qualquer pagamento com a rubrica “Decisão Judicial Não Transitada em Julgado”.

 

Aos docentes que o perito indicou o recebimento a mais, Faiad explicou que, além de questionar se esses valores são de fato referentes ao processo da URV, não acredita que a instituição reclamará a devolução, considerando que já passaram mais de cinco anos dos pagamentos, e, portanto, já prescreveram; que os mesmos foram recebidos de boa-fé; e que não houve pedido para que os pagamentos fossem efetuados da forma aleatória como foram.  

 

Há ainda um grupo cujos holerites não foram enviados pela UFMT. Neste caso, o escritório vai requerer ao juiz que solicite o encaminhamento imediato.

 

Com relação aos docentes falecidos, o escritório orientou que as famílias entrem em contato com o escritório para dar prosseguimento aos trâmites. O telefone para contato é: (65) 3623-7044.

 

Interessados em consultar sua situação no processo podem entrar em contato com a Adufmat-Ssind presencialmente ou por meio dos telefones (65) 99686-8732 e (65) 65 9696-9293. A assessoria do escritório Advocacia Faiad também está disponível para atendimento dos docentes, no mesmo telefone indicado acima.

 

  1. O que pensa a diretoria da ADUFMAT?

 

Ao ter contato com outros holerites de professores, notamos que há dois pagamentos distintos: um que faz referência a “DECISÃO JUDICIAL N TRAN JUG AP” e outra que diz, explicitamente, “VANTAGEM ADMINIST 3,17% APOS”, com distintos valores, sendo o pagamento referente aos 3,17% muito inferior ao outro. Por outro lado, o valor considerado pelo perito foi referente a DECISÃO JUDICIAL N TRAN JUG AP e não VANTAGEM ADMINIST 3,17% APÓS. O que isso significa? Que, ao menos no caso analisado, e imaginamos que também nos demais, há grave erro material do perito que requer urgente reparação. Esta diretoria se reunirá com o advogado do processo para os encaminhamentos cabíveis.

Além disso, ficamos bastante preocupados com a situação de professores que constam no início do processo, mas cujos nomes não estão arrolados na perícia, sem nenhuma explicação. Esta diretoria está em contato com o advogado Francisco Faiad e aguardando a prometida resposta.

Nos solidarizamos com os professores que sofrem com esta confusão, que implica na demora do acesso ao direito cristalino de reparação das perdas financeiras. Seguimos vigilantes para que nossos direitos sejam respeitados.

 

 

Quarta, 23 Agosto 2023 10:01

 

 

O fim de semana (18 e 19) foi de muita discussão em torno da mobilização em defesa dos direitos das servidoras e dos servidores públicos federais, em especial da categoria docente. Reunido em Brasília, o Setor das Instituições Federais de Ensino (Ifes) do ANDES-SN reafirmou a pauta de mobilização que passa pela campanha de revogação do Novo Ensino Médio (NEM), o fim das intervenções nas universidades, institutos federais e cefets e a campanha salarial 2024.

 

A luta em torno de um reajuste que possa, de fato, acenar para a recomposição dos salários há muito tempo defasados, ganhou contornos de extrema relevância frente ao descaso com que o governo tem tratado as negociações. Para a 3ª vice-presidenta do ANDES-SN, Lucia Lopes, a reversão do quadro só acontecerá com muita mobilização.

“A Mesa Nacional de Negociação Permanente não teve avanços até agora. Nenhum índice de recomposição salarial foi apresentado, nenhum ato normativo proposto para ser revogado o foi, as mesas específicas só serão instaladas a partir de setembro. Enfim, nada de concreto foi negociado desde que a MNNP foi instalada em 11 de julho. Por isso, é fundamental a mobilização da categoria. A pressão será fundamental para que nossa companha salarial de 2024 não seja frustrada. É hora de fortalecer a jornada de lutas que ocorrerá entre 28 e 31 de agosto. Sem luta, não haverá vitória!”, conclama a diretora do Sindicato Nacional.

 

 

Na avaliação do Setor das Ifes, é imprescindível, no curso da campanha salarial 2024, reforçar a luta pela democracia, o que se materializa na defesa dos servidores, das servidoras e dos serviços públicos, contra os Tetos de Gastos sociais e a PEC 32/20, propostas que podem ser aprovadas à revelia das necessidades da população. Para isso, é necessário também o fortalecimento dos fóruns estaduais em defesa dos serviços públicos.

No conjunto dos debates, os assuntos de aposentadoria receberam atenção especial. Deliberou-se pela necessidade de reforçar a luta pela paridade entre ativos e aposentados e aposentadas, bem como lutar pelo reenquadramento dessas aposentadorias. O Setor das IFes aponta, ainda, a urgência de avanços em pautas latentes para o conjunto da sociedade, como a revogação imediata do excludente e racista Novo Ensino Médio e o fim da lista tríplice para a escolha de reitores e reitoras.

Secretária-geral do ANDES-SN, Francieli Rebelatto destaca a necessidade do trabalho conjunto com as demais categorias do serviço público para avanço das pautas do segmento. “Foi uma reunião importante envolvendo parte significativa das nossas Seções Sindicais, que demonstrou a necessidade de seguir construindo a unidade para reforçar essa luta conjunta, entendendo que temos, nesse momento, contradições colocadas no governo, que não sinalizou nenhum reajuste depois de tantas perdas salariais acumuladas nesses últimos anos”, avalia.

“Foi uma reunião que aposta em uma jornada de lutas para a construção de unidade, nesse avanço da nossa organização e da consciência também da categoria sobre a necessidade de seguirmos, de fato, entendendo que temos desafios importantes para a conquista de condições de trabalho dignas a partir desse reajuste”, completa. Rebelatto reforça também a necessidade de manter a mobilização contra as políticas de ajuste fiscal, por impedirem a existência de um serviço público de qualidade, não só a partir da recomposição salarial de servidores e servidoras, mas também, por serem os serviços públicos direitos que podem e devem ser ampliados para toda classe trabalhadora.

Confira o calendário de mobilização aprovado:

24/08 – Prazo para o governo responder ao ofício entregue pela bancada sindical em18/08;
24/08 – Jornada Nacional contra a violência Policial;
25/08 – Rodada de assembleias nas seções sindicais;
27/08 – Reunião do Setor das Ifes;
28/08 – Rodada da Mesa Nacional de Negociação Permanente (a confirmar);
28 a 31/08 - Jornada de Lutas
     - Pressão no parlamento – visita aos gabinetes na Câmara dos Deputados;
     - Construir audiência com o Ministro da Educação;
     - Realização de uma Plenária nacional do Fonasefe e Fonacate e centrais sindicais;
     - Ações locais nas unidades e campis nas Universidades, nos Institutos e nos Cefets;
     - Reforço da luta contra qualquer política do teto de gastos sociais, como a EC 95 e o Arcabouço Fiscal;
30/08 – Indicativo de paralisação nas seções sindicais e ato público em Brasília (DF);

O Setor das Ifes volta a reunir-se em Brasília, na sede do ANDES-SN, no dia 27 de agosto.

O relatório da reunião do Setor pode ser acessado AQUI.

Neste link você acessa o álbum de fotos no Facebook.

 

Fonte: Andes-SN

Terça, 22 Agosto 2023 15:33

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

 

Dizem, principalmente os especialistas, psicólogos, comunicólogos, psiquiatras, enfim, profissionais que dedicam todo o seu tempo ao estudo do comportamento coletivo, nas manifestações de massa, melhor dizendo, na manipulação das massas pela ideologia e pela propaganda política, que a melhor forma de se criar um MITO é transforma-lo em vítima, e nada melhor do que prende-lo, encarcera-lo.

Minha “tese” de que Bolsonaro não deve ser preso, não é porque comungo das ideias e das maluquices dele e de seus seguidores, alguns tão fanáticos que ficaram dias, meses diante dos quartéis no Brasil inteiro, rezando, orando, adorando pneus como se os mesmos fossem divindades, de que o tal mito, que demonstrou ter pés de barro, tão logo deixou os píncaros da política nacional, jamais foi ungido ou escolhido pelo Grande Eleitor do Universo, que é Deus, o supremo criador, que, ao que se saiba, não é filiado a qualquer partido político no Brasil; de que o slogam Deus, Pátria Família, que o bolsonarismo e a extrema direita, tanto no Brasil quanto em inúmeros países utilizam não é nada novo e nem original, mas sim, é a copia fiel do mesmo slogan que estava na base do nazifacismo e que levou o mundo `a catástrofe da Segunda Grande Guerra, que provocou mais de 50 milhões de mortes, destruiu a Europa toda, o Japão e resultou em mais de 200 milhões de vítimas ao redor do mundo.

Meu raciocínio é simples, mesmo que para alguns doutos juristas já existem muito mais evidências para que Bolsonaro possa ser preso e ser conduzido para a Papuda, para juntar-se a vários, talvez centenas de outros bolsonaristas, seus seguidores, principalmente militares, das Forças Armadas e da Polícia Militar, principalmente do Distrito Federal, os quais, juntamente com civis tresloucados que, em nome de defender o Brasil da sanha do comunismo ou coisas do gênero, teimavam e continuam teimando em não aceitar o veredicto das urnas, onde a maioria, pouco importa qual o percentual de votos a menos do que o então presidente recebeu, de forma democrática, possibilitando que Lula, o candidato que a ele se opunha, que era taxado o tempo todo de ex-prisioneiro, ladrão, nove dedos, corrupto, tivesse a preferência da maioria dos eleitores e tenha sido eleito para seu terceiro mandato como Presidente da República.

Tem um provérbio que diz, “nada resiste ao tempo” ou nada como um dia depois do outro. Lula foi fustigado muito, por um juiz incompetente e parcial, foi preso, aceitou todas as formas de humilhação, mas resistiu, não como Nelson Mandela que por 28 anos foi encarcerado por lutar contra o racismo e o apartheid em seu pais, a África do Sul, de onde saiu como herói nacional, para ser eleito presidente daquele país, mas sim, com apoio da militância que dia e noite davam bom dia e boa noite Presidente.

Repito, Lula esteve preso por mais de 500 dias e conseguiu através dos recursos e espaços demarcados pelo sistema jurídico brasileiro, anular todos os processos e recuperar seus direitos políticos e voltar ao cenário político nacional, não como um pária, carregando o ônus da roubalheira, mas como , ai sim, um mito, um herói ou o maior e mais popular líder político brasileiro, que veio de baixo, de família e origem humilde e, as vezes, fala e promove ações que não fazem parte do figurino dos donos do poder e das elites dominantes em nosso país.

Bolsonaro, diferente de Lula, durante 28 anos como parlamentar, bastante apagado, sem nunca ter abraçado causa popular alguma, mas reconhecido pela sua forma rompante e autoritária, a defesa do arbítrio e da tortura, perpetrada durante os governos militares e valores considerados sagradas pela população, mas que jamais fizeram parte de seu dia-a-dia, como os escândalos que a ele estão associados e que as diversas investigações em curso tem demonstrando como seus subordinados e amigos estavam tão longe da verdade. Os fatos que estao sendo revelados e falam por si mesmos!

Enquanto durante os últimos quatro anos a comunicação palaciana era calcada na indústria da “fake news” e no negacionismo, promovidas pelo chamado Gabinete do ódio ou das milícias digitais que estão sendo investigadas pelo SPT, nos porões do poder estava sendo gestado um golpe de estado para burlar o resultados das eleições, impedir a posse do presidente Lula, eleito democraticamente, permitindo que Bolsonaro e seus correligionários e seguidores continuassem no poder ou disseminando as “narrativas” que alimentavam pessoas incautas ou que já sofreram lavagem cerebral.

Mesmo que diversos de seus auxiliares imediatos e seguidores militares ou civis já estejam presos e Bolsonaro já tenha sido considerado INELEGÍVEL por oito anos, ou seja, carta fora do baralho na política nacional, criando um verdadeiro caos interno tanto no partido do ex-presidente quanto entre outros partidos e aliados que se situam entre o centro, a direita e a extrema direita, dificultando o surgimento e escolha de um novo líder nacional, ainda assim, a figura do Bolsonaro Mito, ungido de Deus para dirigir os destinos do Brasil, estimula debates e reflexões políticas.

Assim, imagino que , se é que o sistema judiciário julga além dos fatos e provas produzidos e anexadas aos autos, mas imaginando que juízes e ministros das Cortes Superiores também incluem em seus julgados aspectos políticos e ideológicos, juntamente com a pura e simples interpretação das Leis, com certeza, poderão ou não em qualquer momento, diante de fatos novos, determinar, como o Ministro Alexandre de Moraes determinou há poucos dias a prisão preventiva de toda a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal e do  então dirigente máximo da PRF (Polícia Rodoviária Nacional) e, anteriormente, do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, de seu ajudante de ordens, um coronel do Glorioso Exército brasileiro ou de outros civis e militares graduados, repito, somente diante de algum fato novo e grave poderá levar Bolsonaro `a prisão.

Todavia, isto poderá transforma-lo em uma vítima do sistema político e jurídico existente legitimamente no Brasil, fortalecendo sua imagem de mito, ungido de Deus perante seus seguidores, que a cada dia estão minguando e  da debandada que suas hostes tem sofrido ultimamente, partidos e quadros políticos que sempre estiveram ao lado de Bolsonaro o estão abandonando e passando a fazer parte da base do governo Lula, como aliás já fizeram nos governos anteriores de Lula e Dilma. Refiro-me a partidos como o União Brasil, PP, Republicanos, PSD , parte do PL e outros mais que sempre se alinharam e se alinham mais a direita, no momento estão abraçando o Governo Lula, fazendo o “L” felizes da vida, afinal, vão continuar barganhando cargos e emendas em nome da garantia da governabilidade do atual Governo (Lula e a frente ampla e democrática que o elegeu no ano passado).

Por tudo isso é que em minha modesta forma de observar o cenário político brasileiro a opinião pública não pode estar ávida pela prisão de Bolsonaro, ela só deverá acontecer, se acontecer, depois da ampla defesa, do contraditório, do devido processo legal, enfim, da garantia de todos os seus direitos, inclusive recursos judiciais a serem interpostos por seus advogados, não como ex presidente, mas sim como um cidadão comum, para que a Justiça seja feita plenamente!

Se provado e considerado culpado, Bolsonaro deverá sim, ser preso e pagar pelos crimes cometidos. Se considerado inocente, como aconteceu com Lula, deverá recuperar seus direitos políticos e , se assim o desejar, apresentar-se, novamente como candidato a qualquer cargo que lhe aprouver, até mesmo como sindico de condomínio!

Por isso, concluo esta reflexão dizendo “não prendam Bolsonaro ainda, por favor, pelo amor de Deus”. Não podemos e nem devemos transforma-lo em vítima, um herói ou mito verdadeiro. Vamos esperar mais um pouco, aguardar todas as investigações em curso e os fatos que realmente a ele forem imputados. Assim é que o sistema judiciário de um país que vive em pleno estado de direito e democrático tem que julgar as pessoas, não importa o seu pedigree, cargos ocupados, medalhas, condecorações ou joias que tenha ou ostente!

Afinal a nossa Carta Magna estabelece que “todos são iguais perante a Lei” e como tais é que devem ou devemos ser investigados, julgados e punidos, quando considerados culpados!

 

*Juacy da Silva, professor aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Terça, 22 Agosto 2023 14:17

 

Na próxima semana, a Adufmat-Ssind realizará atividades em Cuiabá, Sinop e Araguaia em referência ao mês da Visibilidade Lésbica. A ideia é iniciar o evento na sede e subsedes às 19h (horário local), com a leitura de um dos textos da ativista americana Audre Lorde e, em seguida, promover um sarau cultural com artistas locais. Em Cuiabá e no Araguaia a atividade será na terça-feira, 29/08 e, em Sinop, na quinta-feira, 31/08, ambas com o tema “Vivas, visíveis e sem medo”.  

 

O sindicato já havia realizado atividades como essas em 2019, com a intenção de aproximar a entidade das lutas de interesse popular. “Nossa gestão, Lutar e Mudar as Coisas nos Interessa Mais, busca atuar, inclusive, desfazendo uma falsa polêmica sobre se um sindicato classista precisa passar pelas questões de gênero, raça e sexualidade. Na nossa compreensão, a exploração de classe precisa se viabilizar através da hierarquização de discriminação de pessoas, e estão construídos marcadores sociais de raça, gênero e sexualidade que desempenham esse papel de hierarquização. Então, para nós, a luta classista precisa ser uma luta que enfrente todas as formas de opressão, discriminação e exploração que recaem sobre a humanidade”, explicou a diretora geral adjunta do sindicato, Lélica Lacerda.

 

A docente destacou que, nesse sentido, a pauta da Visibilidade Lésbica é muito importante para a construção de um outro projeto de sociedade, no qual ninguém seja deixado para trás. “Sobretudo num sindicato vinculado à Educação, que tem por papel formar as novas gerações para que elas sejam capazes de responder aos conflitos do seu tempo, a pauta das mulheres lésbicas é de suma relevância. Nós vivemos num país onde - só pela moral e os bons costumes, sem existir qualquer lei que determine a pena de morte a mulheres ou LGTBS -, mais se mata pessoas trans e LGBTs. Segundo as estatísticas, um LGBT morre a cada 27 horas no Brasil. Além disso, é o quinto país que mais mata mulheres. Essas questões dizem respeito a nós mulheres lésbicas, e a Educação precisa estar sensível, no sentido de desconstruir essa cultura patriarcal que atenta contra as nossas vidas, nossos sonhos e os nossos corpos. Por isso, a primeira atividade sociocultural da nossa gestão é a do mês da Visibilidade Lésbica, demarcando que essa é uma pauta tão importante quanto todas as outras que cabem à luta sindical e classista”, concluiu.  

 

 

Para a diretora de assuntos socioculturais da Adufmat-Ssind, Ana Luisa Cordeiro, demarcar essas características da formação política e social do Brasil é fundamental para analisar a realidade nacional. “Nós vivemos numa sociedade capitalista de supremacia branca, masculina, cis-heteropatriarcal, na qual, pensando em Brasil, é importantíssimo que a gente compreenda que o que constitui a nação brasileira estruturalmente são questões de classe, sim, mas também de raça e de gênero. Pensar isso é fundamental quando a gente pensa nas lésbicas, nas lésbicas docentes, na nossa existência. Nós existimos e resistimos cotidianamente neste país, que figura mundialmente como o que mais mata pessoas LGBTs, que cotidianamente extermina a vida de mulheres, e o feminicídio atinge mais as mulheres negras na sociedade brasileira. Então, não há como desconsiderar essas questões estruturais quando a gente pensa a realidade social, as lutas que a gente precisa empreender para que possamos, de fato, existir”, afirmou.

 

Com o aumento da intolerância em todos os sentidos, também incentivada pelo Governo Bolsonaro, os índices de assassinato de mulheres e das populações preta e LGBTQIAPN+ dispararam. Por isso, desde 2021, a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e a Associação Lésbica Feminista de Brasília – Coturno de Vênus, realizam o LesboCenso Nacional, com o objetivo de identificar quais são as condições e necessidades desta população e, assim, sugerir políticas públicas.    

 

O primeiro Dossiê do Lesbocídio demonstrou que, entre 2014 e 2017, ocorreram 126 assassinatos de lésbicas no Brasil, motivados por lesbofobia. Vale destacar que, justamente pelo preconceito, esses casos geralmente são subnotificados.  

 

A data 29 de agosto foi estabelecida como Dia Nacional da Visibilidade Lésbica para marcar a organização das mulheres que realizaram o 1º Seminário Nacional de Lésbicas, coordenado pelo Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (COLERJ), em 1996. Sob o tema “Visibilidade, Saúde e Organização” as mulheres debateram sexualidade, prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e HIV/AIDS, além de trabalho e cidadania. Desde então, o 29 de agosto é, nacionalmente, um dia de atividades voltadas para temas de interesse de todas as mulheres, independente da sexualidade.

 

Mas a diretora Ana Luisa Cordeiro observou que, em agosto, são duas datas importantes para demarcar: 19/08 - Dia do Orgulho Lésbico e 29/08 - o Dia da Visibilidade Lésbica. “Essas datas trazem para a centralidade a discussão dos corpos de lésbicas que cotidianamente se vêm ameaçadas cotidianamente - pelo fato da orientação sexual e da sua identidade de gênero, junto a outras intersecções que, como diria Heleieth Saffioti, tornam as nossas realidades muito mais complexas, como as dimensões de classe e de raça. Então pensar, demarcar, refletir, fazermos essa tarefa histórica de pensar nossa realidade social de modo mais amplo é fundamental para pensar a sociedade que a gente quer, logo a Educação que a gente quer, voltada para a emancipação humana, na qual a gente não pode deixar para trás ninguém”, concluiu.

 

 Também estão na organização dos sarais as entidades parceiras: Celetiva Tesouras do Cerrado, Associação da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso (APOLGBTQIA+MT) e Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL).

 

    

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Terça, 22 Agosto 2023 13:49

 

Circular nº 277/2023

Brasília (DF), 21 de agosto de 2023.

 

Às seções sindicais, secretarias regionais e à(o)s diretore(a)s do ANDES-SN

 

Companheiro(a)s,

 

Temos o prazer de convocar a Reunião do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Étnico-racial, Gênero, Diversidade Sexual (GTPCEGDS) conforme o que segue:

 

Data: 22 e 23 de setembro de 2023 (sexta e sábado)

Horário: Início: sexta 16h.  Término: sábado, 17h.

Local: Sede do ANDES-SN (auditório, 3º andar)

 

Pauta:

1. Painel: "Luta por Justiça Reprodutiva e a defesa da legalização do aborto no Brasil”;

2. Informes;

3. Organização do III Seminário Integrado do GTPCEGDS;

4. I Seminário Nacional sobre abolicionismos penais;

5. Nossa base é diversa, mas não dispersa: construção de metodologia para pesquisa da constituição da base do ANDES-SN;

6. Atualização da Cartilha de Combate ao Racismo;

7. Outros assuntos.

 

Ressaltamos a necessidade da confirmação da participação de até dois(duas) representantes, por meio do preenchimento do formulário disponível no link [acesso do sindicato] até o dia 20 de setembro de 2023 (quarta-feira).

As seções sindicais que quiserem socializar os seus informes devem enviar, até às 18h do dia 21 de setembro de 2023 (quinta-feira), exclusivamente por formulário disponível no link [de acesso do sindicato], para ser publicado junto ao relatório da reunião.

Sem mais para o momento, renovamos nossas cordiais saudações sindicais e universitárias.

 

Profª. Francieli Rebelatto

Secretária-Geral

Terça, 22 Agosto 2023 10:53

 

 

A Diretoria da Adufmat-Ssind, no uso de suas atribuições regimentais, convoca todos os sindicalizados para Assembleia Geral Ordinária a se realizar:

Data: 25 de agosto de 2023 (sexta-feira)
Local: AUDITÓRIO DA ADUFMAT
Horário: às 13:30 horas com a presença mínima de 10% dos sindicalizados e às 14:00 horas, em segunda chamada, com os presentes.

Pontos de pauta:

1 – Informes;

2 – Conjuntura;

3 - Campanha salarial: avaliação da contraproposta;

4 - Paralisação dia 30/08;

5 - Avaliação das contas das gestões anteriores;

6 - Revisão de estatuto sobre representações nos conselhos superiores.

7 – Emancipação do Campus Sinop

8 - Medidas sobre suspensão da insalubridade.

 

A Assembleia será presencial e ocorrerá simultaneamente no auditório da sede de Cuiabá e nos campi do Araguaia e SINOP.

 


Cuiabá, 22 de agosto de 2023.
Gestão Lutar e Mudar as Coisas nos Interessa Mais

Segunda, 21 Agosto 2023 15:16

 

A Adufmat-Ssind informa que, por um erro do sistema do Governo Federal, a prévia do holerite deste mês apresentou um desconto de contribuição sindical superior a 1% (que é o percentual estabelecido pela categoria). Assim que informado, o sindicato conferiu o cálculo apresentado e acionou o Executivo, para que efetue a correção. Já obtivemos resposta no sentido de que o valor está sendo ajustado. 

Atualizaremos as informações em breve.  

Segunda, 21 Agosto 2023 14:49

 

Circular nº 272/2023

Brasília (DF), 21 de agosto de 2023

 

Às seções sindicais, secretarias regionais e à(o)s diretore(a)s do ANDES-SN

 

Companheiro(a)s,

 

Dando continuidade à construção da luta do(a)s Servidore(a)s Público(a)s Federais em Defesa dos Serviços Públicos e da Educação Pública, conforme temos debatido e consolidado nas agendas de jornadas, atos, congressos e mobilizações.

Pelo presente, portanto, convocamos as seções sindicais das IFES para Reunião do Setor das Federais, a se realizar no dia 27 de agosto, em Brasília (DF), com horário e pauta detalhados a seguir:

Dia: 27 de agosto de 2023 (Domingo)

Horário:  Das 9h às 18h

Pauta Única:

1.      Campanha Salarial 2024.

Ressaltamos a necessidade da confirmação da participação de até dois(duas) representantes, por meio do preenchimento do formulário disponível no linkhttps://forms.gle/yq5DkeQE1iuVReYY7 , até às 18h de 24 de agosto de 2023 (quinta- feira), indicando o(a) representante com direito a voto.

Informes das SSind para a reunião do pleno devem ser previamente repassados para a Secretaria do Sindicato Nacional, por meio do preenchimento do formulário disponível no linkhttps://forms.gle/3WLmeQ5or3jfVJNx5 , até às 18h de 24 de agosto de 2023 (quinta- feira), para que constem do relatório da reunião.

Sem mais para o momento, renovamos nossas cordiais saudações sindicais e universitárias.

 

Profª. Francieli Rebelatto

Secretária-Geral

Segunda, 21 Agosto 2023 14:14

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Aldi Nestor de Souza*

 

 

“Traga-me um copo d'água, tenho sede
E essa sede pode me matar
Minha garganta pede um pouco d'água
E os meus olhos pedem o teu olhar”
Dominguinhos – Tenho Sede

 
Beber água, fazendo as mãos de cuia, na beira de um córrego, é uma coisa. Beber água, abrindo uma geladeira, escolhendo uma garrafa e um copo adequados, é outra muito diferente.  A sede pode até ser semelhante, o ato social de matá-la, não.

Quando a água era coisa que dava nos rios, de graça e não cogitava virar uma mercadoria, bastava à humanidade, acossada pela sede, talvez após uma caminhada, curvar o corpo, esticar os braços e tomá-la natural, pura e à vontade, direto da fonte, sem intermediários, numa relação certamente próxima de natural. Não havia, nessa altura da história, com respeito a forma de matar a sede, muita diferença entre o ser humano e os outros animais.

Com o passar do tempo, a água foi invadindo as moringas, os potes, os tonéis, os barris, os tanques, os filtros até, finalmente, as geladeiras, seu estágio atual. Cada mudança dessa foi forjando a sede e, fundamentalmente, foi desnaturalizando a forma de matá-la. Diversos intermediários foram se aproximando, entrecruzando e intervindo na trajetória da sede. O artesão do pote, do barril, do tonel, o fabricante da geladeira são alguns exemplos. O ser humano também foi se alterando. O que bebe água gelada certamente é outro tipo de ser, tem o paladar muito distinto daquele que fazia as mãos de cuia.

A água, hoje, tem dono, está privatizada, inclusive a do subsolo, dos confins da terra. Está até na bolsa de valores. Virou uma commoditie. Ganhou rótulos, marca, código de barras, data de vencimento, enfileirou-se em prateleiras.  Uma cadeia produtiva, de proporções gigantescas, está por trás de um simples copo d’água. E a humanidade nem se assemelha àquela natural, que ia ao córrego. Também se distanciou daquela que usava moringas, potes, barris, filtros e que ia aos artesãos. Matar a sede se tornou algo muito mais complexo, exige até conhecimento científico.

A geladeira depende de uma linha de montagem e de uma quantidade quase incontável de pessoas no seu entorno. Tem modelo específico, cor, design, nível de consumo de energia, capacidade em litros, marca. É produzida por certo tipo de trabalhadores, com variadas formas de direitos trabalhistas. É vendida numa loja, por outros trabalhadores, com outra configuração e outra forma de trabalho. É entregue nas casas dos compradores por outros trabalhadores, sujeitos também a outras regras do mundo do trabalho.  A geladeira é um produto do trabalho assalariado, que a humanidade das mãos de cuia nem em sonhos imaginava que viesse a existir.

Uma fonte de energia é necessária para gelar a água. Talvez a construção de uma hidrelétrica, talvez a tecnologia da energia solar ou eólica, um certo tipo de política energética, uma agenda governamental. Aqui, outros milhares de trabalhadores envolvidos: engenheiros de diversos tipos, advogados, cobradores de impostos, trabalhadores da companhia de energia;  e uma classe de políticos: vereadores, deputados, governadores, senadores e até  presidentes da república. Da confluência e da disputa entre toda essa gente sai uma fonte de energia.

Para construir uma hidrelétrica, outros milhões de pessoas, além dos trabalhadores da construção, são afetadas diretamente, populações inteiras, cidades inteiras são remanejadas. Mas também a fauna e a flora do entorno do rio a ser contido. Uma operação invasiva e de dimensões profundas é realizada e está por trás do ato, aparentemente singelo, de se beber um copo de água gelada.

A garrafa também mobiliza outras gigantes da indústria, outros incontáveis trabalhadores, milhões de outras relações sociais, inclusive a indústria petrolífera e a ciência mais avançada. Uma simples mudança no formato da garrafa, para economizar plástico e baixar os custos de produção, envolve modelos matemáticos de otimização, a engenharia química e o estudo da resistência de materiais. Muito distante dos reservatórios de água e de quem vai matar a sede, uma frota industrial trama, intervém, media e controla os passos da sede.

O copo também tem sua existência e suas mediações. Também é consequência de uma cadeia produtiva. Assim como a garrafa e a geladeira, tem modelo, cor, marca, tamanho, design. E para cada uma dessas coisas, trabalhadores com diversos tipos de habilidades são necessários. Tem copo para adulto e para criança, tem de vidro e tem de plástico. O copo também impõe que a ciência se mexa, que a tecnologia lhe atenda. Também depende das decisões de estado sobre os direitos e as políticas trabalhistas, pois assim como a geladeira e a garrafa, depende do trabalho.

A indústria de água mineral é um capítulo à parte. Retirada de certas propriedades privadas, a água mineral é embalada em garrafões e comercializada. A compra desses garrafões de água, em geral, depende de uma companhia de telefonia ou de uma rede de internet. Novamente, outro sem número de trabalhadores envolvidos, entregadores por aplicativos, com tecnologia de ponta nas mãos e submetidos a condições de trabalho precárias.

Beber um copo d’água, hoje em dia, aquece a economia, mexe com o produto interno bruto, agita o mercado financeiro, inflama os especuladores. Beber um simples copo d’água, mesmo no silêncio da noite, mesmo se estando em casa, com as portas trancadas, é um ato que obriga o mundo inteiro a ficar sabendo. Ninguém, hoje em dia, bebe um copo d’água impunemente.

E é um mistério, algo como um feitiço, que toda essa avalanche de gente e de acontecimentos estejam por trás de um simples copo d’água e a gente nem se dê conta. É fascinante, intrigante, o número de funções que um copo d’água cumpre. Matar a sede parece ser apenas o mais aparente, o mais simples de se entender.

 
*Aldi Nestor de Souza
Professor do Departamento de Matemática- UFMT/Cuiabá
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