Quinta, 25 Outubro 2018 10:25

 

O Colegiado de Curso de História manifesta seu mais veemente repúdio aos atos de violência política no país. Já são mais de 50 casos registrados, segundo o Mapa da Violência Política no Brasil. Essa violência adentrou os muros da nossa Universidade, que foi pichada com a suástica, símbolo adotado como emblema oficial do III Reich, e que se tornou a insígnia do nazismo. Também um discente do curso de História foi vítima de violência de gênero com motivação política. Ao mesmo tempo em que repudiamos toda e qualquer forma de violência política, reafirmamos a nossa defesa intransigente da democracia e do Estado Democrático de Direito.

 

Colegiado de Curso de História.

 

Quinta, 25 Outubro 2018 09:34

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Domingo (28/10), longe das opções singelas entre “Ou Isto ou Aquilo”, inseridas em um “poema infantil” de Cecília Meireles, os brasileiros elegerão o novo presidente; em princípio, para quatro anos. “Em princípio”, pois é certo o futuro incerto.

Dos mais recentes discursos e acontecimentos sabidos, destaco o vídeo em que Eduardo Bolsonaro – filho do “capitão” Jair – admite estarmos caminhando a um “estado de exceção”. Para ele, o STF poderia, a qualquer momento, ser fechado “por um simples cabo e um soldado”, sem sequer precisar “de jipe”.

Estarrecedora declaração.

Pior: o estarrecimento deve ser redimensionado, pois esse filho de Bolsonaro teve a maior votação que um deputado já pode ter em nossa história republicana.

Feito o registro daquela aberração, seguida de inaceitáveis desculpas, tanto do pai, quanto do filho, a realidade é que tais criaturas – em nome da Tradição, Família e Propriedade, tendo “Deus acima de todos”, é que, conforme as últimas pesquisas – deverão conduzir os rumos de nosso país.

Céus! A que ponto descemos!

Mas, agora que a “Inês já é morta”, melhor do que o desespero, seria didático para todos nós, defensores da democracia, entendermos os motivos pelos quais a esse ponto chegamos; afinal, é indiscutível que manifestações conservadoras e protofacistas possam surgir do nada.

Logo, se tal situação não vem do nada, por que a maioria de nosso povo está dando aval a um candidato com os mais profundos vínculos com o militarismo? Como faremos para sobreviver ao que poderá vir?

Partindo das indagações acima, é possível que leitores possam avaliar que antes de pensar sobre isso, o ideal seria, em nome de salvar o regime democrático, fechar os olhos e tapar o nariz para a história recentíssima do país e acatar a chantagem do “voto crítico” em Haddad.

Infelizmente, divergindo de amigos tão caros, não reflexiono em cima de cadáveres. Repito, hoje, a “Inês já é morta”. E foi “morta” – antes de outras quaisquer – pelas ações do PT, que insistiu em errar, deixando-nos num beco sem saídas, a não ser voltar a seus próprios subterrâneos políticos, ainda que a volta seja estratégica e momentânea, dado o esforço que isso exige de tantos, inclusive de filhos pródigos do Partido. 

Mas a propósito: quem “mata Inês” pode salvar a democracia?

Convenhamos. A derrota do PT era previsão dada. Sem Lula, o Partido perderia o segundo turno, fosse a quem fosse. Bolsonaro, idem, desde que não disputasse com o PT. Portanto, se todos sabiam disso, tínhamos saídas, mas todas foram inviabilizadas pelo PT. Agora, a reversão desse quadro seria enorme surpresa.

Por que?

Porque “nunca antes na história...” o “antipetismo” foi tão forte. Por isso, não leu os rumos que a rua foi tomando quem não quis. E quem não quis, apostou no escuro.

Agora, imersos ao desespero, seria interessante desvendar os porquês de não terem lido as evidências.

Arrisco a dizer que muito do estrago feito à nossa democracia se deu por conta dos caprichos do “comandante” preso, que apostou em si até o limite. Depois, acreditou que passaria sua herança política a alguém. Não fosse isso, nossa democracia não correria o risco que corre; não da forma como corre. Ninguém seria obrigado a se juntar a uma “organização criminosa” travestida de partido.

Por fim, antes que o futuro sombrio chegue de fato, é prudente, desde agora, a quem puder, “já ir” pensando em saídas, pois, para nós, o sinal poderá se fechar de repente, não mais do que de repente.

Que tristeza.

Quarta, 24 Outubro 2018 17:50

 

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Por Alice Saboia*

 

PARA “BONS ENTENDEDORES” POUCAS PALAVRAS NÃO BASTAM? HÁ MAIS “MISTÉRIOS” ENTRE OS POLITIQUEIROS DE PLANTÃO E O PROJETO DE PODER E DE DESMANDO NO BRASIL DO QUE DESCONFIA O ELEITOR!!! EIS A QUESTÃO! A QUEM SERVEM TAIS DESPAUTÉRIOS? AO INTERESSE PÚBLICO? COM CERTEZA NÃO!

Um ponto fundamental do conhecido filme de Ingmar Bergman é destacar que os humanos, de maneira geral, trazem, em si mesmos, o bem e o mal. Aliás, para ser mais precisa, essa dicotomia atravessa toda a história da humanidade e, de tudo que se sabe, esteve bem em foco durante a chamada “idade das trevas”, a Idade Média, nos famosos procedimentos de “caça às bruxas” que levaram tantos e tantos às fogueiras da inquisição... Na estética romântica também foi pano de fundo. A literatura, de modo geral, é prenhe do emprego da dicotomia bem versus mal, heróis versus anti-heróis e por aí segue.

Certos “modismos, são cíclicos. Volta e meia aparece um “exorcista” de plantão para jogar os infiéis à fogueira! Melhor forma não existe que adotar um “argumento” que cala alto à alma dos “santos”, como, por exemplo, o “ovo da serpente”!!! Não é de graça que os politiqueiros de plantão jogam com o “medo” e a “esperança”, ou seja: o “demônio”, a reencarnação dos torturadores, a volta da ditadura militar, tudo a ser derrotado pelo “salvador da pátria”.

A propósito dos “temidos militares”, das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) Polícias, Militar e Civil, ocorre, sempre, uma pergunta: os militares são “extraterrestres do mal” que têm o propósito de torturar as pessoas do bem? Pelo que se sabe, só brasileiros podem integrar os contingentes militares. Normalmente, esses contingentes são constituídos por jovens (filhos, hoje também filhas) das famílias brasileiras, e têm obrigação de prestar serviço militar.

Tudo faz crer que a referência raivosa às Forças Armadas Brasileiras não passa de um grande equívoco, ou de uma terrível desinformação. Quanto aos embates a que insistem em se referir alguns “ideólogos”, esses foram, de fato, fantasiosos fogos cruzados, de parte a parte... Não há tantos santos crucificados, como querem fazer crer, nem demônios a ser exorcizados. A “briga” foi pau a pau. Bateram e levaram, levaram e bateram. As verdadeiras vítimas estavam enterradas numa vala comum no Cemitério de Perus, São Paulo. Os demais não passam de atores medíocres fazendo mera figuração.

Por todo o mundo, sabe-se que há alguns “mecanismos” temíveis e terríveis, em alguns países, como a famosa, temida e indestrutível KGB russa, pouco referida no Brasil. Certas lembranças não são tão convenientes... Não é mesmo? Os soviéticos não não nazistas! Nem fascistas! São eles mesmos e dispensam ideologias importadas, pois não precisam disso...

Aqui muito se fala do DOI-CODI, de triste memória, já foi, faz muito tempo, juntamente com os “guerrilheiros anistiados”, estes continuam recebendo polpudas aposentadorias e pensões, quando jamais contribuíram para a Previdência Social.

Que tal jogar um aterrorizante “ovo da serpente”, como uma espécie de “premonição” de instauração de um regime fascista ou nazista, se o candidato do outro lado que não o do ideólogo vencer nas urnas com o voto da maioria que, nesse caso, será constituída dos “nazistas ou dos fascistas”? Dependendo do ponto de vista (na grande tirada na trilha do inesquecível e irreverente Millor Fernandes), se o povo escolher seu governante democraticamente nas urnas, mas a maioria depositar seu voto em um candidato que não seja o “recomendado” pelos ideólogos bons, será esse povo, imediatamente, carimbado de nazista ou fascista.

No entendimento dos “bons”, o mal, diferentemente do “bem”, não costuma ser tão “evidente”, a não ser que aqueles que se julgam “bons” e emissários do “bem” tratem de evidenciá-lo nos outros, não em si mesmos! O ”ovo da serpente” é gestado sempre, sempre, sempre nos outros... Seria trágico, se não fosse hilariante... Só os “clarividentes” são capazes de detectá-lo, nos outros, naturalmente... É claro!!!

O conhecido cientista inglês, Stephen Hawking (falecido em março do ano passado, depois de uma longa doença paralisante), no exercício normal de sua respeitável sabedoria e de sua reconhecida sapiência, certa vez teria asseverado que, no DNA do ser humano, há informações que o conduzem para o bem e(ou) para o mal. Um exemplo disso é o fato de todo ser humano ser movido pela ambição que tanto pode conduzi-lo à prática do bem, quanto do mal. Em excesso, a ambição conduz a guerras e a toda sorte de práticas maléficas, por isso, segundo esse gênio único, a ambição está na raiz de todas as guerras. Pode-se concluir: tudo em torno das disputas pelo poder.

Tudo levar a crer que não é diferente nas disputas políticas e eleitorais.

Nessa linha, há temas que conduzem os humanos a desencontros muito graves. No Brasil, por exemplo, as discussões sobre times de futebol que têm torcidas numerosas, religião, partidos políticos com diferentes ideologias, gênero e raça são bastante controvertidas e, não raro, levam às vias de fato os mais radicais, que beiram ao fanatismo irracional.

Nos tempos atuais, os brasileiros deveriam aproveitar a oportunidade de escolher seus governantes e os seus representantes no Parlamento, neste momento de gravíssima crise econômica, social e, sobretudo, ética, sem precedentes, para consignar suas aspirações por uma sociedade melhor, mais justa, calcada em valores como decência, dignidade da pessoa humana, honestidade, desenvolvimento social, atendimento competente às necessidades públicas em saúde, educação, segurança, infraestrutura e fortalecimento das instituições públicas, investimento na ciência, na tecnologia, enfim, na produção do conhecimento que assegure à nação brasileira uma posição de autonomia em todos os setores da produção do saber, com soberania, independência e respeito no concerto das nações, sem filiação a qualquer fanatismo político-ideológico, como é de esperar de uma não nação livre e democrática.

Não se sabe exatamente por qual razão determinados ideólogos consideram que esses valores são de “direita”, “insulto”, utilizado de regra, pelos que se consideram de “esquerda”!

Como humoristicamente diria Millor Fernandes, direita e esquerda dependem sempre do ponto de vista de quem olha. Direita e esquerda são apenas as designações de lados opostos linearmente que se podem alternar, dependendo da perspectiva e dos interesses em jogo... Acontece que o universo não se constitui apenas de direita e de esquerda, porque ele é multidimensional. Reduzi-lo à direita e à esquerda é de uma mediocridade espantosa, principalmente quando isso parte de pessoas consideradas “esclarecidas”...

Nessa mesma visão simplória, é que, para certas pessoas, "serpentes" sempre são as outras. É o caso de quem só acha que é o outro o culpado, e os outras pessoas são "serpentes venenosas" (pleonasmo vicioso!!!, porque toda serpente é venenosa!). Ela pica, na certeza de que, com seu veneno, eliminará o outro ser, de quem pretende defender-se)... Assim, como o veneno é-lhe inerente, conhece muito bem seu potencial destrutivo, logo, trata de disseminá-lo, de forma a “eliminar” as outras “serpentes” que, por vezes, são cobras inofensivas...

É obvio que, ao praticar tal “precaução” as serpentes, pensam passar a falsa ideia de que seu veneno não é veneno, mas "forma de limpar" o ambiente das “impurezas” produzidas pelas serpentes infiéis. Essa é a lógica daqueles que se julgam bons... Nessa perspectiva, quem não se subordina a essa mesma lógica, tem que ser destruído... Não é isso? A lógica destrutiva, projetiva, assenta-se em atribuir ao outro a gestação do "ovo de serpente"...

A cegueira político-ideológica é um mal que destrói qualquer possibilidade de convivência respeitosa, harmoniosa, digna, decente, honesta, leal, enfim, todas as práticas positivas na direção de uma sociedade saudável, fraterna, humana e humanitária.

O bom-senso e a democracia deveriam fazer com que todos respeitassem o direito de o cidadão votar, segundo seu entendimento, aspirações, visão de mundo, etc. sem manipulações da parte de quem quer que seja... Essa, sim, a verdadeira democracia. Ganhar ou perder são contingências normais da vida.

Ganhar, a qualquer custo, ou impingir derrota ao outro, a qualquer preço, é a concretização da barbárie.

Em síntese, politicamente, a direita e a esquerda se merecem mutuamente...

Um bom fecho é o que disse, certa vez, Millor Fernandes:

Não gosto da direita porque ela é de direita, e não gosto da esquerda porque ela é de direita.

*Alice Saboia, Professora Titular (aposentada), Doutora em Letras e Linguística - (USP), Pós-Doutorado - Université Lumière Lyon II, Pós-Doutorado - Université de Toulouse, Le Mirail - França

Quarta, 24 Outubro 2018 17:46

 

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Por Vicente Machado Ávila
  

Deixem o povo votar, exercer seu livre arbítrio. É assim que quer o Papa Francisco.

Não transforme sua Igreja em um palco de RINGUE

Preguem o amor, a paz e a democracia. É assim que queria o pastor Martin Luther KING.

Deixem o povo votar, livremente escolher, caminhar, rezar e sonhar.

É assim que queria a Madre Teresa de Calcutá.

Deixem o povo votar, livremente sem raiva e sem medo.

Não faça da sua missão uma ferramenta do voto de cabresto.


Professor Vicente Ávila
Colaboradoras
Professoras Enelinda Escala e Acadêmica de Direito Silvia Melo

 

Terça, 23 Outubro 2018 16:21

 

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Por Aldi Nestor de Souza*
 

A mãe de Adelina sabia tudo do algodão. Mas tudo mesmo, do plantio ao feitio das roupas. Até o solo pra receber e gestar as sementes ela sabia preparar. Plantava, cultivava, colhia, descaroçava, fiava, tecia, fazia até linha de costura e costurava. Era isso: de uma sementinha de algodão e o conhecimento adquirido dos pais, avós, bisavós e etc, ela conseguia fazer uma blusa, uma saia, uma calça, uma rede.

E tudo isso se dava ali, no sossego do roçado ao redor da casa, no alpendre ventilado e na sala espaçosa. Era uma fábrica sem pressa, sem hora marcada, que conseguia dar conta de tudo, da matéria prima ao produto final, e que funcionava de portas abertas, de chinelo de dedo, de calção cerzido, de saia de chita, às vezes pra empurrar o tempo. Era uma fábrica muito engraçada, uma fábrica que nem era fábrica.

Adelina, que agora vive muito longe dali, se pegou pensando nessas habilidades da  mãe ao dobrar uma blusa de algodão, feita artesanalmente, e muito parecida com as que a mãe fazia. Ela estava numa casa, de pessoas completamente desconhecidas, prestando seus serviços de arrumadeira de mala de viagem. Um aplicativo da internet a levou até ali.

O serviço dela consiste apenas de arrumar mala de viagem. É o seguinte: alguém um dia percebeu que poderia ser um bom negócio, assessorar as pessoas que viajam e que costumam esquecer de colocar na bagagem os pertences necessários para tal. Daí nasceu a figura do Personal Organizer, com especialização em arrumação de malas, que é o caso de Adelina.

Para se tornar um profissional como esses, você precisa primeiro fazer um curso de Personal Organizer, que é uma formação geral, e depois se especializar. Pode ser em arrumação de malas, como a Adelina, mas pode ser em arrumação de gavetas, em arrumação de interiores de casa, arrumação de armário de banheiro, arrumação de quarto de criança, pode ser apenas especialização em dobrar roupas. Sim porque tem gente que até consegue colocar as roupas no guarda roupa ou na mala, mas não sabe dobrá-las.

Para contratar os serviços de Adelina, o cliente precisa saber: para onde está viajando, quantos dias vai ficar lá, se é viagem a negócio ou a passeio, se no lugar tem pontos turísticos e quais, se tem praia, etc. Com tudo isso informado no aplicativo, Adelina segue até o destino e faz seu trabalho. Uma nota pelo aplicativo, sela a qualidade do serviço prestado.

Adelina, ao lembrar da mãe,  lembrou também da fábrica sem pressa e de quando brincava de fazer nuvem com a lã do algodão. Ela tinha inclusive um céu inteiro, todo cheio de nuvem no seu quarto. Tinha nuvem escura, pintada de carvão, que era pro tempo de chuva. E tinha nuvem escassa, nuvem de tempo limpo.

Adelina abandonou suas nuvens para ir pra cidade estudar. Hoje ela é formada em administração de empresas. Sabe até falar língua distante. Mas com o desemprego, acabou indo parar na onda tecnológica e no empreendedorismo. Agora ela é uma micro empreendedora individual. Não tem patrão, o aplicativo é quem dita as regras. Mas é um aplicativo que ela carrega dentro da própria bolsa, no seu próprio celular, é tudo de casa, portanto.

A mãe de Adelina, que sabia tudo do algodão, que sabia preparar o solo, que sabia plantar, que sabia cultivar, que sabia colher, que sabia descaroçar, que sabia fiar, que sabia tecer, que sabia fazer linha de costura, que sabia costurar, nunca foi à escola.

A fábrica sem pressa não existe mais. Não existe mais tempo vadio nesse mundo. A fábrica, o roçado, o alpendre, a sala e as nuvens, não resistiram a exatidão do aplicativo.


*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática UFMT/Cuiabá
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Terça, 23 Outubro 2018 15:28

 

A conjuntura política na qual o Brasil está inserido tem deixado boa parte da população inquieta e preocupada com o aumento da violência, muito relacionada ao processo eleitoral. Os ataques são direcionados a manifestações de ideias divergentes, e já resultaram em agressões físicas e até homicídios. Por esse motivo, a Adufmat-Seção Sindical do ANDES-SN convocou todos os interessados para o debate “Tempos Sombrios, Tempos de Intolerância”, realizado na última sexta-feira, 19/10, que mobilizou dezenas de pessoas ansiosas para entender os motivos de tanta brutalidade.       

 

A mediadora da mesa, professora Lélica Lacerda, recepcionou os presentes afirmando que o encontro teve como objetivo o debate, mas também o fortalecimento dos laços e a organização dos trabalhadores na defesa dos direitos sociais e liberdades democráticas. “É importante ver esse auditório tão cheio, perceber que os anseios de todos nós, de alguma forma, nos une nesse momento”, disse a docente, apresentando a proposta de movimentos sociais mais próximos ao sindicato de construir uma Rede de Apoio às Vítimas do Fascismo, discutida mais detalhadamente ao final no evento.   

 

 

O professor Cândido Moreira Rodrigues, do Instituto de Geografia, História e Documentação da Universidade Federal de Mato Grosso (IGHD/UFMT), convidado para explanar sobre a Ressurgência do Fascismo no Início do Século XXI, iniciou sua apresentação afirmando que tudo o que acontece atualmente no país já foi visto antes, e que historicamente as relações de intolerância emergem em momentos de fragilidade da democracia burguesa. “Uma democracia em que os cidadãos não exercitam seus direitos com frequência estará periodicamente sujeita ao desgaste. O fascismo ganha fôlego nos momentos em que o Liberalismo não atende mais as demandas da sociedade, a partir das décadas de 1920 e 1930”, disse o historiador.

 

Analisando os casos de ascensão do fascismo especialmente na Europa, o palestrante pontuou entre os elementos característicos desse movimento a proteção exacerbada da identidade nacional e aversão ao estrangeiro, retórica da ameaça comunista, a criação de movimentos sociais de extrema direita e enraizamento desses movimentos nos espaços de representação, a chegada ao poder – que nem sempre decorre de golpe, mas também pela via eleitoral, como Hitler, na Alemanha – e o próprio exercício do poder.

 

“Esse espaço representativo é preenchido quando os conservadores de centro cedem parte do seu poder à extrema direita, a partir de negociações que envolvam determinados interesses”, revelou o pesquisador. Ao mesmo tempo, entre a população, aumenta a desconfiança nos governos e nas instituições e nessas esferas representativas, os direitos e liberdades passam a ser relativizados, assim como os valores da razão se desgastam.

 

“Eu trouxe todo esse material para dizer a vocês que talvez não estejamos diante de um problema brasileiro, nem passageiro. Talvez o capitalismo esteja se deslocando da democracia ideal”, finalizou Rodrigues.

 

 

 

Em seguida, a cientista política, Alair Silveira, segunda debatedora da noite, iniciou sua análise, afirmando que as condições objetivas da atual conjuntura estão dadas e são captadas pelos movimentos organizados de trabalhadores, mas as subjetivas ainda escapam. “À exemplo de Gramsci, nós precisamos questionar a fundo por que, se o nosso projeto é o mais generoso, nós não conseguimos tocar as mentes o os corações das pessoas”, disse a professora do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFMT.

 

A docente criticou a ausência de memória brasileira sobre os horrores da ditadura militar, muitas vezes abafada pelo que ficou conhecido como “milagre econômico”. Silveira também alertou para o processo de desmonte da Constituição de 1988, a partir da implementação do projeto Neoliberal, por Fernando Collor de Mello. Junto a reestruturação produtiva, a queda do Muro de Berlim e a consolidação da cultura pós-moderna, esses elementos provocaram, aos poucos, a desmobilização da população que lutou pela abertura política nos anos anteriores.  

 

Para Silveira, as manifestações de 2013, no entanto, indicaram insatisfação da população justamente com o desmonte dos direitos sociais. “Vocês se lembram que os manifestantes erguiam cartazes reivindicando educação e saúde padrão Fifa? Eles sabiam o que não queriam, mas não exatamente o que queriam. Sem saber, disseram não ao Neoliberalismo”, afirmou.

 

Ao mesmo tempo, a convulsão social registrada em 2013 já lançava embriões da intolerância, com o repúdio aos partidos políticos e manifestações xenofóbicas contra estrangeiros que participavam, por exemplo, do Programa Mais Médicos. Esses sentimentos foram capitaneados por grupos políticos que conseguiram formar as legislaturas mais conservadoras da história do país em 2014 e 2018, e poderá eleger, também no pleito de 2018, um presidente da República com as mesmas características.

 

“Esse processo de desestabilização está bastante presente na América Latina, de modo geral, com os mesmos fundamentos, e a mesma estrutura, envolvendo sempre questões de fundo moral”, acrescentou a docente.

 

As universidades, segundo a pesquisadora, contribuíram com esse processo e foram afetadas igualmente por ele. “Tudo isso foi construído socialmente, inclusive dentro da universidade, no processo de formação do imaginário social. Mas de 2016 a 2018, além do contingenciamento econômico, as instituições de ensino superior sofreram também ataques políticos, interna e externamente. Eu fiz um levantamento e já registrei dezenas de processos administrativos e até pedidos de demissões com justificativas absurdas, como improdutividade, utilização de referencial teórico marxista, e até por participação em publicações ou lançamentos de livros. Um desrespeito absoluto às particularidades do trabalho do professor e pesquisador”, denunciou a palestrante.

 

Por fim, a professora retomou o questionamento inicial, de Antonio Gramsci. “Nós já estamos vivenciando um período duro, que provavelmente será ratificado pelas urnas. As condições objetivas estão dadas, mas estamos atrás com relação às subjetivas. A questão que nos desafia é como construir um canal para disputar a hegemonia, no sentido de que os trabalhadores identifiquem o projeto que realmente os representa, e assuma esse projeto como seu”, provocou a convidada.  

 

Rede de Apoio às Vítimas do Fascismo

 

Como anunciado de início, ainda diante da plateia lotada, o professor Aldi Nestor apresentou a proposta de movimentos sociais para formação de uma Rede de Apoio às Vítimas do Fascismo. Na ocasião, alguns dos casos já registrados em Cuiabá e Mato Grosso foram relatados pelo docente.

 

Além de acolher as vítimas, a Rede será responsável por orientar juridicamente, exercer pressão sob o Poder Público exigindo providências, e formar comunicadores para denunciar e dialogar com a população em geral.

 

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind  

 

Terça, 23 Outubro 2018 15:28

 

A conjuntura política na qual o Brasil está inserido tem deixado boa parte da população inquieta e preocupada com o aumento da violência, muito relacionada ao processo eleitoral. Os ataques são direcionados a manifestações de ideias divergentes, e já resultaram em agressões físicas e até homicídios. Por esse motivo, a Adufmat-Seção Sindical do ANDES-SN convocou todos os interessados para o debate “Tempos Sombrios, Tempos de Intolerância”, realizado na última sexta-feira, 19/10, que mobilizou dezenas de pessoas ansiosas para entender os motivos de tanta brutalidade.       

 

A mediadora da mesa, professora Lélica Lacerda, recepcionou os presentes afirmando que o encontro teve como objetivo o debate, mas também o fortalecimento dos laços e a organização dos trabalhadores na defesa dos direitos sociais e liberdades democráticas. “É importante ver esse auditório tão cheio, perceber que os anseios de todos nós, de alguma forma, nos une nesse momento”, disse a docente, apresentando a proposta de movimentos sociais mais próximos ao sindicato de construir uma Rede de Apoio às Vítimas do Fascismo, discutida mais detalhadamente ao final no evento.   

 

 

O professor Cândido Moreira Rodrigues, do Instituto de Geografia, História e Documentação da Universidade Federal de Mato Grosso (IGHD/UFMT), convidado para explanar sobre a Ressurgência do Fascismo no Início do Século XXI, iniciou sua apresentação afirmando que tudo o que acontece atualmente no país já foi visto antes, e que historicamente as relações de intolerância emergem em momentos de fragilidade da democracia burguesa. “Uma democracia em que os cidadãos não exercitam seus direitos com frequência estará periodicamente sujeita ao desgaste. O fascismo ganha fôlego nos momentos em que o Liberalismo não atende mais as demandas da sociedade, a partir das décadas de 1920 e 1930”, disse o historiador.

 

Analisando os casos de ascensão do fascismo especialmente na Europa, o palestrante pontuou entre os elementos característicos desse movimento a proteção exacerbada da identidade nacional e aversão ao estrangeiro, retórica da ameaça comunista, a criação de movimentos sociais de extrema direita e enraizamento desses movimentos nos espaços de representação, a chegada ao poder – que nem sempre decorre de golpe, mas também pela via eleitoral, como Hitler, na Alemanha – e o próprio exercício do poder.

 

“Esse espaço representativo é preenchido quando os conservadores de centro cedem parte do seu poder à extrema direita, a partir de negociações que envolvam determinados interesses”, revelou o pesquisador. Ao mesmo tempo, entre a população, aumenta a desconfiança nos governos e nas instituições e nessas esferas representativas, os direitos e liberdades passam a ser relativizados, assim como os valores da razão se desgastam.

 

“Eu trouxe todo esse material para dizer a vocês que talvez não estejamos diante de um problema brasileiro, nem passageiro. Talvez o capitalismo esteja se deslocando da democracia ideal”, finalizou Rodrigues.

 

Em seguida, a cientista política, Alair Silveira, segunda debatedora da noite, iniciou sua análise, afirmando que as condições objetivas da atual conjuntura estão dadas e são captadas pelos movimentos organizados de trabalhadores, mas as subjetivas ainda escapam. “À exemplo de Gramsci, nós precisamos questionar a fundo por que, se o nosso projeto é o mais generoso, nós não conseguimos tocar as mentes o os corações das pessoas”, disse a professora do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da UFMT.

 

A docente criticou a ausência de memória brasileira sobre os horrores da ditadura militar, muitas vezes abafada pelo que ficou conhecido como “milagre econômico”. Silveira também alertou para o processo de desmonte da Constituição de 1988, a partir da implementação do projeto Neoliberal, por Fernando Collor de Mello. Junto a reestruturação produtiva, a queda do Muro de Berlim e a consolidação da cultura pós-moderna, esses elementos provocaram, aos poucos, a desmobilização da população que lutou pela abertura política nos anos anteriores.  

 

Para Silveira, as manifestações de 2013, no entanto, indicaram insatisfação da população justamente com o desmonte dos direitos sociais. “Vocês se lembram que os manifestantes erguiam cartazes reivindicando educação e saúde padrão Fifa? Eles sabiam o que não queriam, mas não exatamente o que queriam. Sem saber, disseram não ao Neoliberalismo”, afirmou.

 

Ao mesmo tempo, a convulsão social registrada em 2013 já lançava embriões da intolerância, com o repúdio aos partidos políticos e manifestações xenofóbicas contra estrangeiros que participavam, por exemplo, do Programa Mais Médicos. Esses sentimentos foram capitaneados por grupos políticos que conseguiram formar as legislaturas mais conservadoras da história do país em 2014 e 2018, e poderá eleger, também no pleito de 2018, um presidente da República com as mesmas características.

 

“Esse processo de desestabilização está bastante presente na América Latina, de modo geral, com os mesmos fundamentos, e a mesma estrutura, envolvendo sempre questões de fundo moral”, acrescentou a docente.

 

As universidades, segundo a pesquisadora, contribuíram com esse processo e foram afetadas igualmente por ele. “Tudo isso foi construído socialmente, inclusive dentro da universidade, no processo de formação do imaginário social. Mas de 2016 a 2018, além do contingenciamento econômico, as instituições de ensino superior sofreram também ataques políticos, interna e externamente. Eu fiz um levantamento e já registrei dezenas de processos administrativos e até pedidos de demissões com justificativas absurdas, como improdutividade, utilização de referencial teórico marxista, e até por participação em publicações ou lançamentos de livros. Um desrespeito absoluto às particularidades do trabalho do professor e pesquisador”, denunciou a palestrante.

 

Por fim, a professora retomou o questionamento inicial, de Antonio Gramsci. “Nós já estamos vivenciando um período duro, que provavelmente será ratificado pelas urnas. As condições objetivas estão dadas, mas estamos atrás com relação às subjetivas. A questão que nos desafia é como construir um canal para disputar a hegemonia, no sentido de que os trabalhadores identifiquem o projeto que realmente os representa, e assuma esse projeto como seu”, provocou a convidada.  

 

Rede de Apoio às Vítimas do Fascismo

 

Como anunciado de início, ainda diante da plateia lotada, o professor Aldi Nestor apresentou a proposta de movimentos sociais para formação de uma Rede de Apoio às Vítimas do Fascismo. Na ocasião, alguns dos casos já registrados em Cuiabá e Mato Grosso foram relatados pelo docente.

 

Além de acolher as vítimas, a Rede será responsável por orientar juridicamente, exercer pressão sob o Poder Público exigindo providências, e formar comunicadores para denunciar e dialogar com a população em geral.

 

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind  

 

Terça, 23 Outubro 2018 10:51

 

 

            Vivemos tempos sombrios, cuja memória nos remete aos anos de chumbo, quando proibir era o verbo mais usado. Tempos em que ao invés do embate político, havia a tortura nos porões. Tempos em o direito de divergir era calado pelo medo, e que o espaço da liberdade pública (imprescindível à política) inexistia. Tempos em que a liberdade de aprender e ensinar se limitava à disciplina de Moral e Cívica. Tempos em que as universidades viram seus livros confiscados e/ou queimados, e seus professores, estudantes e técnicos perseguidos. Tempos em que a força das armas impunha-se à força dos argumentos.

Tempos em que a ADUFMAT, fundada em 05/12/1978, presenciou sua Primeira Diretoria sofrer intervenção, quando seus diretores foram destituídos dos cargos, e uma Junta Governativa assumiu a partir de 20/11/1979. Tempos de demissão e de afastamento de docentes de seus cargos e de suas atividades. 

Esses tempos que esperávamos ter superado em meados da década de 1980, apresentam-se, agora, como alternativa eleitoral representativa do “novo” e do “diferente”. Um discurso cuja novidade está construída sobre os mais antigos discursos de ódio a todos aqueles que ousem ser e/ou pensar diferente. Como ‘novo’ somente o prefixo que antecede sua definição. Lamentavelmente, esse discurso neofacista tem inspirados as mais terríveis manifestações de ódio racista, LGBTfóbico, xenófobo, que avançam de ataques verbais a ataques físicos contra aqueles que assumem posições diferentes.

Diante desse quadro, cujas perspectivas remetem ao passado de chumbo que deve ser totalmente rechaçado, a Diretoria da ADUFMAT-S.Sind. do ANDES/SN vem a público manifestar-se integralmente em defesa da democracia, dos direitos humanos e sociais e da solidariedade social.

 

                                               Cuiabá/MT, 23 de outubro de 2018.

 

                                           ADUFMAT de Luta: Autônoma e Democrática

                                     Gestão 2017-2019

Terça, 23 Outubro 2018 08:45

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto de Barros Freire*
 

A vitória de Bolsonaro é quase certa. Só não ocorrerá caso haja algo inusitado que condene o candidato, mas mesmo isso é muito difícil de acontecer, pois mesmo as coisas que desabonariam um candidato (ameaçar ex-esposa de morte, roubá-la, ou ter funcionários fantasmas no parlamento para trabalhar na sua casa de praia, ou dizeres racistas e ditatoriais que desabonam a maioria das pessoas) não colam no candidato. E devido ao desabono da imprensa iniciada e levada adiante por décadas pelo PT, fez com que jornais e televisões não sejam considerados confiáveis pelos bolsonaristas ou por grande parte das pessoas. Bolsonaristas acham que a imprensa está a favor do PT e os petistas acham que a imprensa está contrária a eles, e todos lançam suspeitas sobre a imprensa. Sem dúvida, Bolsonaro conta com a incompetência petista para se eleger.


A confiança do PT na força de Lula foi a única coisa que apresentaram nas eleições. Não se percebeu, desde 2013, a necessidade de se refundar o partido. Foi o antes inexpressivo Jair Bolsonaro quem conseguiu surfar a onda da revolta popular contra o sistema. Impulsionado pelas redes sociais, ele alavancou sua retórica incendiária para energizar cidadãos indignados com a promessa democrática frustrada. Sem partido e sem máquina, ficou livre para fazer um compromisso estridente com a mudança.


Criou um discurso por “lei e ordem”, que se fundamenta no pensamento que “segurança pública é assunto de polícia” e que percorre diferentes classes econômicas (com seus consequentes reflexos políticos), mas que estabelece um sentido convergente de eliminação do outro, seja pela morte, seja pelo depósito de vidas em presídios com precárias condições de vida, ao arrepio do Estado de Direito.


Muita gente no Brasil está cansada, por exemplo, de ser levada a pensar que debates ao redor do fenômeno “trans” sejam a pauta mais importante em termos de direitos humanos. Antes de tudo, a gente comum (que normalmente é casada e a mulher manda em casa, a fim de que a janta seja servida todos os dias) cansou de sentir que sua percepção de mundo é absurda, errada, reacionária, monstruosa, idiota ou cheia de ódio.


Para a maioria do eleitorado, como se depreende pelos 58% a 42% do Datafolha, ou do 59% a 41% do Ibope, o PT não oferece sonho, uma perspectiva de melhora que seja e nem sequer é um mal menor. Os 58%/59% preferem arriscar-se no desconhecido, no novo, mesmo que o novo tenha cara de velho, gosto de passado e cheiro de bolor.


O partido de Lula tem agora o ainda mais raro privilégio de renascer pela segunda vez. Só que desta vez vai sobreviver apenas se se mostrar maior do que é, se abrir mão de concentrar poder. Só renascerá se se apresentar como mero ponto de confluência de uma reconstrução institucional. Para isso, tem de convencer de que está à altura da gravidade do momento. Tem de dar garantias de que vai recolocar as instituições em novo e positivo patamar de funcionamento. Tem de convencer de que estará acima de seu próprio partido. Tem que provar que Haddad não é um fantoche de Lula.


Ou seja, será preciso uma autocrítica digna do nome e gestos políticos que demonstrem sua convicção pela democracia. Antes de tudo deve condenar o governo Dilma pela incompetência ao invés de ficar criticando a oposição pela sua derrocada. É preciso expulsar todos os condenados pela justiça do interior do partido, pois não há prova maior de apego à democracia do que se submeter às suas instituições. O PT até o momento só se contrapõe ao judiciário e ao ministério público, e mantém em seus quadros elementos já condenados, se contrapondo a lei. Um partido que não exclui dos seus quadros aqueles que a sociedade através de suas instituições condenaram, se contrapõe ao judiciário e se coloca acima das leis. A submissão à lei é prova de democracia, a contraposição é prova de tirania.


O chamamento a todos os democratas afirmando que o PT não tem restrição, dizendo que se as pessoas tiverem noção do que está em jogo no Brasil e defenderem a democracia, tem que estar nessa caminhada petista é de uma profunda petulância e arrogância. A causa democrática não precisa do toque do PT, é justo o contrário. A ideia segundo a qual o programa do PT precisa apenas de ajustes é suicida. A Haddad não restará a estratégia, agora muito tardia, de se desfazer do peso e do lastro indesejável dos exclusivismos petistas, que repeliram parte do eleitorado mais centrista e ameaçam derrubar precocemente o balão murcho de sua candidatura. O PT usou bastante essa arma, um traço que se agravou à medida que o partido passava por seu conhecido declínio ético ("nós contra eles", liberais rotulados de fascistas, campanha de desmoralização da imprensa etc.).


O fato é que o PT minou várias instituições democráticas, por exemplo, afirmando sempre para não se acreditar em nada que a mídia tradicional diga. Precisa aprender a criticar e a se autocriticar — algo exógeno à personalidade brasileira, que prefere rodeios condescendentes ou tons agressivos, delegando culpas aos outros.


O PT esperava que apoios de segundo turno se dessem pela lei da gravidade. Não entende de física, nem de política. O PT achava todo mundo que não fosse petista um canalha, golpista. A violência na política não está apenas no lado fascista, mas está do lado do populismo. Agora quer que todos se unam por ele, como? Não esqueçamos também que o mea-culpa do petismo demorou tanto que está se tornando desnecessário. Quando se insulta a direita liberal e/ou conservadora chamando-a de fascista, as pessoas não vão mais confiar nas eleições, vão questionar sua legitimidade.


É preciso um gesto aos demais partidos, cedendo lugar e poder aos partidos de centro e de direita, e não apenas cargos secundários aos partidos esquerdistas que se satisfazem com porcaria. É preciso incorporar políticas do PSDB, do MDB, da Rede, do PDT, mais do que apenas solicitar apoio. Terá grandeza para tanto? Duvido........

 
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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