Comunicação

35º Congresso do ANDES-SN tem início na próxima segunda (25) em Curitiba

Cortes nos orçamentos das universidades federais e estaduais serão discutidos durante o evento

A cidade de Curitiba (PR) recebe entre os dias 25 e 30 de janeiro, o 35º Congresso do ANDES-SN. Durante toda a semana, cerca de 500 professores de universidades e institutos federais e universidades estaduais de todo o país se reunirão na Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), para discutir a conjuntura internacional e nacional e definir as políticas prioritárias do Sindicato Nacional para 2016.
 
Sob o tema central “Em defesa da Educação Pública e Gratuita e do direito dos trabalhadores”, os representantes das seções sindicais do ANDES-SN aprovarão ainda os planos de lutas específicos de cada setor. Na pauta, a discussão sobre o corte nos orçamentos dos institutos e universidades federais e estaduais, a privatização da educação, o ataque aos direitos dos trabalhadores e aos serviços públicos, a repressão aos movimentos sindicais e sociais, além de debates relacionados à ciência, tecnologia, políticas sociais, entre outros.
 
De acordo com o presidente do ANDES-SN, Paulo Rizzo, o congresso anual da entidade, instância máxima de deliberação da categoria, é um momento importante para a reflexão e discussão sobre educação, as condições de trabalho dos docentes, a conjuntura e os desafios para a classe trabalhadora. 
 
"Este será mais um ano de muitas lutas e o objetivo do congresso é preparar os professores para esses enfrentamentos. Devemos ter o aprofundamento do ajuste fiscal e da retiradas de conquistas históricas dos trabalhadores, conforme já anunciou o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que já assumiu o cargo sinalizando uma nova reforma da Previdência e a continuidade da política de arrocho”, afirmou Rizzo, lembrando que durante o 35º Congresso os docentes definirão as lutas centrais e as pautas de reivindicações da categoria para 2016.

Confira o Caderno de Textos e o Anexo ao Caderno 

Serviço
35º Congresso do ANDES-SN
Tema: Em defesa da Educação Pública e Gratuita e do direito dos trabalhadores
Data: 25 a 30 de Janeiro de 2016
Local: Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Campus Curitiba / Sede Centro 
Endereço: Av. Sete de Setembro, 3165 – Rebouças - CEP 80230-901 - Curitiba (PR)

Fonte: ANDES-SN

 

Tarifa zero no transporte público: Como pagar a conta?

Se o Estado garante acesso gratuito a um sistema de saúde pública e à educação, por que não pode assegurar que todos os cidadãos possam exercer seu direito de "ir e vir" em uma grande cidade, custeando integralmente também o transporte público? 

Esse questionamento é a base da proposta de "tarifa zero", defendida pelo Movimento Passe Livre (MPL), responsável pelas manifestações de junho de 2013 e que realiza nesta terça-feira seu quarto protesto do ano contra a alta da tarifa de ônibus em São Paulo (recentemente, o bilhete foi reajustado de R$ 3,50 para R$ 3,80).

A pergunta também é considerada pertinente por especialistas em políticas públicas e economistas consultados pela BBC Brasil. Parece haver certo consenso entre eles que o transporte gratuito de fato poderia trazer benefícios sociais e ajudar a reduzir o trânsito.

O ponto que divide opiniões, porém, é que, como sempre, alguém tem de pagar a conta – e, no caso, uma conta robusta.

De acordo com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), a "tarifa zero", ou "passe livre" para todos os cidadãos custaria R$ 8 bilhões, o equivalente a toda a receita do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) local.

Para muitos especialistas, a proposta é economicamente inviável para uma cidade do tamanho de São Paulo. Outros, porém, acreditam que, com vontade política e apoio da população, seria possível levar adiante um projeto nesse sentido.

Haddad parece estar hoje no primeiro grupo. Em entrevista ao jornal Valor Econômico na semana passada, o prefeito lembrou que o transporte gratuito para estudantes de baixa renda e idosos já custa ao município R$ 2 bilhões.

"É óbvio que alguém pode propor isso (tarifa zero). Quem sabe não aparece um candidato (nas eleições municipais) que defenda essa tese, que fale: 'Olha, vou pegar todo o IPTU da cidade – que é mais ou menos o que custa o sistema de transporte - e vou usar para passagem grátis para todo mundo?'", disse o prefeito.

"O dinheiro da prefeitura é dinheiro do povo. Se o povo entender que vale a pena colocar 100% do IPTU no transporte tirando de saúde, educação, é um direito da democracia, mas tem regras democráticas para decidir isso."

Simplificação

Para o economista e consultor Paulo Sandroni, que foi presidente da extinta Companhia Municipal de Transportes Coletivos, e o engenheiro Lúcio Gregori, que esteve à frente da Secretaria Municipal dos Transportes durante a gestão de Luíza Erundina (1989 - 1993), é contraproducente "simplificar" o debate dessa maneira.

Durante os anos 90, Gregori foi um dos arquitetos de uma proposta de tarifa zero rejeitada pela Câmara de Vereadores. Sandroni, professor aposentado da FGV, também apoiou o projeto. Hoje, ambos continuam a defender a viabilidade econômica da tarifa zero em São Paulo.

"O custo das estruturas necessárias para cobrar as tarifas de ônibus - cobrador, sistema de recarregamento de bilhetes e etc. - corresponde a algo entre 20% e 22% do total, por exemplo, então se você acaba com a cobrança já tem uma redução de custo que não está sendo considerada (pelo prefeito)", diz Sandroni.

Para ele, o passe livre poderia ser custeado por um aumento do imposto sobre carros de luxo e do IPTU das camadas mais ricas da população. "O IPTU poderia dobrar para os verdadeiramente ricos", opina.

"As famílias de classe média também poderiam pagar um pouco mais, mas, no caso, isso seria compensado pelo fato de elas não precisarem mais pagar pelo transporte público de seus integrantes e dos empregados domésticos."

Já para Gregori, hoje haveria formas preferíveis a um eventual aumento do IPTU para financiar o passe livre.

"Até porque o IPTU perdeu peso em relação a outras fontes de arrecadação", explica ele. "Entre as alternativas interessantes estão um repasse de recursos do Estado e da União. Também poderia haver um rearranjo dos gastos municipais, com a identificação de áreas em que poderiam ser feitos cortes para que os recursos sejam direcionados ao transporte gratuito", opina.

Argumento contrário

Há quem discorde da viabilidade dessas alternativas. O economista Ricardo Gaspar, da PUC-SP, por exemplo, está entre os que acreditam que a tarifa zero é inviável em uma cidade como São Paulo, por questões financeiras e políticas.

"É claro que todos gostariam que os ônibus fossem gratuitos - os benefícios sociais do projeto, como seus efeitos na redistribuição da renda, são inegáveis. Mas a complexidade da mudança que a tarifa zero exigiria na estrutura de gastos do município faz com que ela seja inviável", diz Gaspar.

Para o economista um aumento de impostos encontraria muita resistência. "Veja só como é difícil aprovar uma reforma tributária, por exemplo, apesar de todos considerarem isso necessário."

Além disso, Gaspar acredita que para fazer um rearranjo de gastos do município para encontrar recursos para o projeto seria necessário cortar de forma definitiva os gastos de alguma área importante. "Ou seja, teria de haver uma troca de um serviço público por outro", afirma.

O professor da PUC também considera pouco provável que os Estados ou a União aceitem ampliar seus repasses para os municípios para custear o transporte público.

"No atual contexto já há dificuldade até para se cumprir o que está acordado em termos de repasse, imagine para ampliar essas transferências", diz o economista. "Não é à toa que não temos nenhum exemplo no mundo de cidade do tamanho de São Paulo que tenha o transporte gratuito."

Exemplos

Cidades como Sydney, na Austrália, e Baltimore, nos EUA, têm algumas linhas de ônibus grátis, mas nessas localidades também há linhas pagas.

Tallinn, a capital da Estônia, com mais de 400 mil habitantes, se autoproclamou a "capital do transporte público gratuito" ao oferecer ônibus grátis para todos seus habitantes em 2013.

Lá, o fato de as pessoas terem de se cadastrar como moradoras para ter acesso ao benefício (os turistas ainda têm de pagar) teria ajudado no aumento da arrecadação de impostos ao incentivar mais pessoas a se registrarem como residentes locais (passando a pagar impostos em Tallinn), segundo explicou Sulev Vedler, editor do principal jornal da Estônia, o Postimees, em um artigo recente no site de jornalismo independente sobre urbanismo Citiscope.

A decisão de implementar o sistema foi aprovada por referendo, o que deu às autoridades locais legitimidade para fazer as mudanças necessárias.

Além disso, segundo Vedler, o fato de que os subsídios já cobriam 70% do custo do transporte da cidade fez com que o diferencial a ser pago com a gratuidade fosse menor do que em uma cidade em que o subsídio é pequeno.

Também há exemplos de cidades que tiveram de voltar atrás na decisão de implementar o passe livre, justamente por dificuldades em custeá-la, como Hasselt, na Bélgica.

No Brasil, há algumas cidades que oferecem ônibus gratuitos a seus moradores, como Agudos, em São Paulo, e Porto Real, no Rio de Janeiro, mas todas são relativamente pequenas.

A maior delas é Maricá, também no Rio, que tem mais de 140 mil habitantes. Lá, a prefeitura criou em 2014 uma autarquia para gerir o transporte público gratuito.

A Empresa Pública de Transportes de Maricá (EPT), financiada em grande parte com recursos provenientes dos royalties do petróleo, conta hoje com uma frota de 13 ônibus e 10 micro-ônibus, mas não tem capacidade de atender toda a população. Por isso, os ônibus pagos continuam a circular na cidade.

"É difícil fazer comparações porque cada cidade tem uma estrutura diferente de receita e gastos. Trata-se de uma discussão que precisa ser particularizada", opina Gregori. 

Ruth Costas
Da BBC Brasil em São Paulo

Fazendeiros e policiais das fronteiras intimidam indígenas em luta na retomada da aldeia de Takuara

Depois de um fim de semana turbulento para os indígenas Guarani-Kaiowá que seguem em luta na retomada da aldeia de Takuara, no Mato Grosso do Sul, esta segunda-feira teve início com a mesma tensão, relatos de ameaça e o risco de que pistoleiros ataquem os indígenas que permanecem no local.

A CSP – Conlutas acaba de receber novas informações de lideranças indígenas, que estão preocupadas com a intimidação de fazendeiros e do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), e alertam também para a veiculação de falsas notícias sobre o caso.

Cobertura da imprensa

Em diversos meios de comunicação, sobretudo os regionais, há informações erradas sendo difundidas, e que podem prejudicar muito a segurança dos indígenas, afirmando, por exemplo, que a sede da fazenda teria sido ocupada e depredada.

As lideranças indígenas que seguem em contato com a Central nos relataram que, ao serem atacados, correram para o mato, e que não possuem nenhuma arma de fogo. É importante ressaltar que os índios que estão acampados na mata têm como objetivo também preservar fontes de água desta terra, que segundo eles está sendo poluída pelos fazendeiros.

O temor dos indígenas é de que a imprensa esteja alinhada com os fazendeiros, e embora haja cobertura midiática, há poucas informações sobre as demandas justas desta retomada da aldeia de Takuara. Esta terra já possui portaria declaratória, e aguarda apenas a homologação presidencial.

Intimidação

Segundo informações que nos foram enviadas, o “DOF voltou, passou quase atropelando as crianças, e cercou o local pelos dois lados. A Funai e a Força Nacional ainda não chegaram e nem entraram em contato com ninguém”.

 

A direção da CSP-Conlutas acionou o Ministério da Justiça e aguarda o despacho do secretário. A cobrança é para que atendam o pedido dos indígenas e enviem ao local a Polícia Federal e a Funai, para neutralizar a ação dos fazendeiros e do DOF do Estado.

A fim de evitar mais um massacre contra o povo indígena, a direção da CSP-Conlutas acionou o Ministério da Justiça e aguarda o despacho do secretário, e a cobrança é para que atendam o pedido dos indígenas e enviem ao local a Polícia Federal e a Funai, para neutralizar a ação dos fazendeiros e do DOF do Estado.

Também foi feito contato com a assessoria de imprensa da Funai, e até o momento recebemos a seguinte resposta:

“Esclarecemos que a Funai reconhece a legitimidade da luta dos povos Guarani Nhandeva e Guarani Kaiowá por seu território tradicional na Terra Indígena Taquara. A TI Taquara possui 9.700 hectares já declarados como terra de ocupação tradicional indígena pelo Ministério da Justiça, em junho de 2010, porém as comunidades indígenas não detém a posse integral do território. Na última sexta-feira (15), os indígenas retomaram parte da terra. No momento, não temos muitas informações sobre a situação, devido à precariedade de comunicação na região. Uma equipe da Coordenação Regional da Funai em Dourados deverá se deslocar para a área amanhã (19), a fim de colher informações e avaliar as necessidades dos acampados, e a partir de então ter maior clareza das medidas a serem adotadas.”

Rede de informações

Os conselheiros da Aty Guasu nos pediram que, todos aqueles que estiveram na aldeia de Takuara, e que conhecem a realidade dos povos indígenas no Brasil, escrevam relatos em seus perfis no Facebook, contando o que viram, presenciaram e o que pensaram para que possamos fortalecer uma outra versão que não a da grande mídia, sempre a serviço dos poderosos.

Confira a postagem inicial desta mobilização nas redes sociais AQUI.
 
Dados alarmantes

Nos últimos 12 anos, 390 índios foram assassinados no estado, de acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e aproximadamente 500 cometeram suicídios por não conseguir lidar com as humilhações, guerra psicológica e violência física a que são submetidos cotidianamente.

Nenhuma violência contra os povos Guarani-Kaiowá. Chega de genocídio. Pela demarcação imediata das terras indígenas já!

Assista ao vídeo sobre a retomada da Takuara em nosso canal do Youtube, clique aqui

Fonte: CSP Conlutas

1% da população global detém mesma riqueza dos 99% restantes, diz estudo

A riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população mundial agora equivale, pela primeira vez, à riqueza dos 99% restantes. 

Essa é a conclusão de um estudo da organização não-governamental britânica Oxfam, baseado em dados do banco Credit Suisse relativos a outubro de 2015.

O relatório também diz que as 62 pessoas mais ricas do mundo têm o mesmo - em riqueza - que toda a metade mais pobre da população global.

O documento pede que líderes do mundo dos negócios e da política reunidos no Fórum Econômico Mundial de Davos, que começa nesta semana, na Suíça, tomem medidas para enfrentar a desigualdade no mundo.

A Oxfam critica a ação de lobistas - que influenciam decisões políticas que interessam empresas - e a quantidade de dinheiro acumulada em paraísos fiscais.

Ressalvas

Segundo o estudo da Oxfam, quem acumula bens e dinheiro no valor de US$ 68 mil (cerca de R$ 275 mil) está entre os 10% mais ricos da população. Para estar entre o 1% mais rico, é preciso ter US$ 760 mil (R$ 3 milhões).

Isto significa que uma pessoa que possui um imóvel médio em Londres, já quitado, provavelmente está na faixa do 1% mais rico da população global.

No entanto, há várias ressalvas a estes números. O próprio Credit Suisse reconhece que é muito difícil conseguir informações precisas sobre os bens e dinheiro acumulados pelos super-ricos.

O banco diz que suas estimativas sobre a proporção de riqueza dos 10% e do 1% mais ricos "podem estar subestimadas".

Além disso, os números incluem estimativas colhidas em países nos quais não há estatísticas precisas.

A Oxfam afirmou que o fato de as 62 pessoas mais ricas do mundo acumularem o equivalente à riqueza dos 50% mais pobres da população mundial revela uma concentração de riqueza "impressionante", ainda mais levando em conta que, em 2010, o equivalente à riqueza da metade mais pobre da população global estava na mão de 388 indivíduos.

"Ao invés de uma economia que trabalha para a prosperidade de todos, para as geração futuras e pelo planeta, o que temos é uma economia (que trabalha) para o 1% (dos mais ricos)", afirmou o relatório da Oxfam.

Tendência

A Oxfam verificou que a proporção de riqueza do 1% dos mais ricos vem aumentando a cada ano desde 2009 - depois de cair de forma gradual entre 2000 e 2009.

A ONG britânica pede que os governos tomem providências para reverter esta tendência. A Oxfam sugerem a meta, por exemplo, de reduzir a diferença entre o que é pago a trabalhadores que recebem salário mínimo e o que é pago a executivos.

A organização também quer o fim da diferença de salários pagos a homens e mulheres, compensação pela prestação não remunerada de cuidados a dependentes e a promoção de direitos iguais a heranças e posse de terra para as mulheres.

A ONG britânica quer também que os governos imponham restrições ao lobby, reduzam o preço de medicamentos e cobrem impostos pela riqueza em vez de impostos pelo consumo. 

Fonte: BBC Brasil

Entrevista com Valério Vieira - “Não vamos permitir que o crime ambiental e social em Mariana caia no esquecimento”


Após dois meses da tragédia no distrito de Bento Rodrigues/Mariana, o maior crime ambiental da história do Brasil, ainda não houve nenhuma punição aos responsáveis. Até a ONU qualificou como “inaceitável” a resposta das empresas e governos frente aos impactos até o momento. Milhares de famílias seguem afetadas pela contaminação dos rios, pela falta de abastecimento de água e pelo desemprego.  

Confira a Entrevista com Valério Vieira, presidente do sindicato METABASE Inconfidentes/MG.  

CSP: Por que é importante denunciar que a ruptura da barragem no dia 5 de novembro, que matou 13 trabalhadores da mineração e outros seis moradores do distrito de Bento Rodrigues (MG), colocou em colapso o Rio Doce, atingiu comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas não foi um acidente?   

Valério: A denúncia tem que ser constante. Em primeiro lugar porque as empresas envolvidas, Samarco, Vale e BHP, desde o primeiro momento tentaram descaracterizar suas responsabilidades e até mesmo dizer que a tragédia foi “inevitável e natural”, mesmo com todas denúncias e investigações apontando claramente que a ruptura da barragem foi por pura ganância ao aumentar a produção. O aumento de rejeitos nos últimos anos foi por opção estratégica destas empresas em abarrotar o mercado de minério para ganhar uma maior fatia do mercado. Não levaram em consideração nenhum aspecto de segurança, pois já sabiam que aquela estrutura apresentava vários sinais de fragilidade e defeito. Ou seja, foi um risco consciente levando em consideração somente o resultado de seus lucros. Por isso não podemos deixar barato essa irresponsabilidade com vidas e com o meio ambiente.    

 CSP: Quem são os verdadeiros responsáveis? Por quê?   

Valério: Existem dois culpados nesta tragédia anunciada, em primeiro lugar a Samarco, Vale e BHP por se comportar como são, verdadeiros abutres que só se interessam pelos seus lucros, o resto é pura hipocrisia. O outro culpado é o governo Dilma em conjunto com o governo do estado e prefeitura, além deste congresso de picaretas formado pelo PT, PSDB, PMDB e outros partidos que votam e aplicam uma legislação clara em apoio aos grandes empresários, sem nenhuma regulamentação séria para proteger os trabalhadores e a população atingida por estes mega-projetos. Além disso, fizeram questão de sucatear os poucos órgãos de fiscalização, como as DRT´s, DNPM e MPT com a intenção clara de deixar nas mãos das empresas o que deveria ser função do estado. Não é à toa que a fiscalização já estava sob controle dessas mesmas empresas e que elas emitem os principais relatórios. Colocam para a raposa a responsabilidade de cuidar do galinheiro.   

CSP: Sobre a assistência às vítimas, o que Samarco/Vale/BHP fizeram efetivamente para amenizar os danos que sofreram os moradores da região?   

Valério: Tomaram medidas paliativas de pouco efeito real. Por exemplo, um salário mínimo como indenização para famílias atingidas. Agora anunciaram que alugaram casas para os moradores de Bento Rodrigues, além do pagamento de 20 mil reais para as famílias que perderam tudo e 100 mil para aquelas que perderam parentes. Disseram  que vão construir um novo Bento em outro local. Tudo isso, além dos aluguéis, são promessas que só serão cumpridas se houver pressão e mobilização. Nós achamos que mesmo se isso for cumprido, nada pode cobrir os danos causados aos trabalhadores e as comunidades atingidas.   

CSP: Dia 08 de janeiro, o Ibama notificou a possibilidade de que a lama com rejeitos tenha atingido até a região de Trancoso e Porto Seguro, próximo ao arquipélago de Abrolhos no sul da Bahia. É possível mensurar a dimensão ambiental da tragédia?   

Valério: Não. As proporções são assustadoras e para recuperar vai demorar décadas. Infelizmente, se depender das empresas e governos nunca vamos saber o tamanho do prejuízo ambiental.   

CSP: Agora mesmo, tanto a Assembleia Legislativa de Minas quanto a Câmara dos Deputados estão dando celeridade na aprovação de novas leis ambientais e um novo Código Mineral. Qual a posição dos movimentos sociais a respeito?   

Valério: Afirmamos que este código só serve ao capital. Em primeiro lugar, a maioria dessa comissão de deputados que examinam este código foram financiados pelas mineradoras na última eleição. Querem ampliar a produção, que é hoje no país de quase 500 milhões de toneladas/ano de minério de ferro. Pretendem subir para os próximos sete anos, após a aprovação do texto, para mais de 1 bilhão de toneladas. Se hoje temos este tipo de problema como a tragédia de Mariana, imaginem dobrando a produção. Além disso, torna prioridade a exploração mineral sobre as terras indígenas, quilombolas, patrimônios históricos e até sobre a água. Vai ser uma guinada para o futuro de uma terra de ninguém. Se acham que já chegamos ao pior, ainda vamos piorar ainda mais se deixarmos tocar as coisas como estão tocando. Quem tem autoridade para criar uma nova legislação que atenda à vida, a distribuição de riqueza e ao meio ambiente são os trabalhadores e suas organizações.   

CSP: Aproximadamente 1.200 funcionários da Samarco retornaram aos postos de trabalho dia 11 de janeiro. A empresa sinaliza ataques como lay-off de 3 meses a partir do dia 25 de janeiro e em abril, quando acabar o acordo, a empresa poderá voltar a demitir. Como barrar esses ataques e organizar os trabalhadores?    

Valério: É preciso esclarecer que o sindicato que tem representação nesta mina é o Metabase de Mariana. O nosso sindicato, o Metabase Inconfidentes, representa as minas da Vale aqui na região que também foram afetadas pela mesma tragédia, colocando em risco os empregos dos trabalhadores da Samarco e também de todo complexo Mariana. Além disso, já nos colocamos à disposição deste sindicato. Estamos articulando com outros movimentos sociais uma grande resistência e luta contra estes ataques, pois é assim que acreditamos que vamos garantir a estabilidade no emprego não só dos trabalhadores da Samarco, mas também de toda região.   

CSP: O desastre retomou a discussão sobre a privatização do sistema minerário brasileiro e a proposta de estatização do mesmo. Quais argumentos sustentam essa proposta?   

Valério: A Vale deve ao estado brasileiro 41 bilhões de reais, a Samarco também deve, assim como todas as outras mineradoras da região. A CSN, por exemplo, vive as custas dos governos através de isenções de impostos e empréstimos a perder de vista. As únicas alegações no processo de privatização das empresas era economia do estado, que iriam arrecadar dinheiro para pagar a dívida pública, arrecadar com mais impostos e que as empresas cumpririam um papel social na geração de empregos. O que presenciamos agora é justamente o contrário. Em todos argumentos,a única coisa que explica as privatizações é a entrega das riquezas nacionais ao capital privado a preços irrisórios. O setor privado que usou, ganhou muito dinheiro e concentrou a riqueza de forma desonesta e imoral. Continuam demitindo os trabalhadores e dando despesas ao Estado como nunca. Além disso, garantir uma mineração à serviço dos trabalhadores, das populações em seu entorno, do estado e do país só é possível reestatizando essas empresas sob nosso controle. A maior prova que a aventura da política de privatizações do governo FHC, mantida e aprofundada pelo governo do PT, deu errado é a tragédia que aconteceu aqui em Mariana.   

CSP: Em dezembro, houve um Seminário Nacional que deliberou pela realização de uma campanha nacional e internacional de denúncia do crime cometido pela Samarco/Vale/BHP. Como será essa campanha?   

Valério: Ressaltamos a importância deste seminário organizado pela CSP Conlutas. Não vamos permitir que o crime ambiental e social que aconteceu em Mariana caia no esquecimento. É fundamental articularmos com todos que queiram defender as reivindicações dos trabalhadores para definirmos um caminho diferente do que estamos vendo até agora. A continuidade do sistema capitalista, tal como foi provado aqui em Mariana, mostra que a barbárie não está apenas próxima. Infelizmente, a barbárie já está acontecendo e foi fruto de uma política e de uma burguesia covarde que não mede esforços para explorar cada vez mais os trabalhadores. Podemos transformar o que aconteceu aqui em um marco da luta dos trabalhadores, ensinando que é necessário uma mudança radical onde nossas vidas não podem mais ficar reféns de uma regra onde só os ricos e poderosos devem ser os que podem concentrar toda riqueza, sobrando para a maioria a miséria ou a morte. Se vai dar certo ou não é outra história, mas aqueles que acreditam na história e na luta dos trabalhadores tem obrigação de tentar. Os fatos estão aí mostram que a única saída é a luta. 

Fonte: CSP Conlutas