Novo hospital
Notícia ruim é o que não falta quando o assunto é saúde pública.
Foi inaugurado em nossa capital o prédio reformado do velho Hospital Neurológico Egas Muniz, no bairro do Quilombo.
A hotelaria ficou chique, digno de hotel cinco estrelas.
O ruim é que logo após a sua inauguração o nosocômio foi fechado, para reabrir somente quando o governo federal decidir repassar recursos permanentes para o seu custeio.
Sabemos que essa liberação poderá demorar meses, e a garantia de um apoio permanente é uma aposta.
O único hospital público federal e de ensino aqui existente está sucateado, exatamente por falta de investimentos financeiros.
Em inauguração de hospital a má notícia é que não existe ainda formado, treinado e contratado o corpo clínico e administrativo.
A referência do hospital são seus profissionais, e não, a hotelaria.
A dificuldade do governo é tão grande para captar bons profissionais, que a única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) inaugurada há dois anos até hoje não funcionou na sua plenitude.
Não é atrativo, profissionalmente, trabalhar em prédio ‘novo’ e bonito, mas sem as mínimas condições de trabalho, e honorários sempre abaixo do mercado de trabalho.
O paciente quando procura um serviço de saúde prioriza a qualificação dos seus profissionais.
A hotelaria de luxo é dispensável. Torna-se obsoleta em curto prazo de tempo, e necessita de permanente manutenção e reposição dos equipamentos.
Não é isso que acontece nos órgãos públicos.
Sem robustos financiamentos públicos para a alta complexidade, o ‘jeitinho’ são as liminares judiciais.
Mesmo hospitais internacionalmente reconhecidos cientificamente pela excelência do seu atendimento, como o Sírio Libanês e Albert Einstein em São Paulo, para citar os preferidos pelos políticos, precisam de incentivos oficiais (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e de particulares para sobreviverem com qualidade.
Vamos torcer para que o nosso São Benedito consiga transpor essa barreira de incompreensão do poder público com a saúde para oferecer serviços médicos de ‘gente rica para uma população pobre’.
Gabriel Novis Neves
24-05-2015
Hospital psiquiátrico
Em 1957 foi inaugurada em Cuiabá uma ala do futuro hospital psiquiátrico - único no Estado não dividido, no distrito do Coxipó da Ponte, com o nome de Hospital Colônia de Alienados.
Houve parcos recursos federais para o início da obra, ficando o custeio e a gestão por conta do pobre Estado de mais de um milhão de quilômetros quadrados.
Em 1966 o hospital era um imenso depósito de doentes mentais, muitos acorrentados, isolados em celas fortes, vivendo como todos os demais internos em condições sub-humanas.
Faltava tudo para o funcionamento do manicômio: equipe especializada de saúde, medicamentos, leitos, alimentação e segurança.
A promiscuidade entre homens, mulheres e crianças, maltratava a sensibilidade dos médicos, especialmente os mais jovens, e afastava a sociedade daquele hospital mal assombrado pelo terror.
Com o apoio decisivo e incondicional do jovem governador da época, Pedro Pedrossian, e do seu Secretário de Saúde Clóvis Pitaluga de Moura, recursos e autonomia foram ofertados para a recuperação da chamada vergonha mato-grossense.
Naquela ocasião Pedrossian sancionou uma lei estadual dando o nome de Hospital Adauto Botelho à casa desumanizada.
O velho depósito de pacientes irá fechar por força de lei federal e seus infelizes pacientes jogados nas ruas, já que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) não funcionam na prática.
Falar que esses pacientes irão para hospitais da rede pública é uma falácia, pois não há hospital público para atender a demanda atual, e novos estabelecimentos ainda estão nas pranchetas de municípios sem recursos.
A própria coordenadora de saúde mental do município, reconhece que “não foi feito nenhum planejamento na época do fechamento do Pronto Atendimento do Adauto junto ao Estado para lidar com a questão”.
Hoje a gestão é do falido município, mas, o Estado e o governo federal têm responsabilidades no funcionamento desse importante setor especializado, tão carente de equipe multidisciplinar para suas atividades.
A situação do doente mental em nosso estado é gravíssima!
Seria possível o surgimento de um contemporâneo Pinel por estas bandas?
Gabriel Novis Neves
09-04-2015
296 anos
É pauta obrigatória para os veículos de comunicação de massa uma ampla cobertura sobre o aniversário de Cuiabá, que completou no dia 8 de abril duzentos e noventa e seis anos.
As indagações são as mais oportunas e interessantes. De um modo geral, todos os jornalistas procuram os mais idosos para saber suas opiniões sobre o progresso da aniversariante.
Temos de ter cuidado com as respostas para não cairmos no pessimismo patológico nem na euforia inconsequente.
Considerando a população do ano que nasci, há oitenta anos, a população da cidade pelo senso do IBGE de 2013 aumentou, aproximadamente, trinta vezes.
Surgiram os arranha céus, avenidas duplas com canteiros centrais, trincheiras, viadutos, pontes sobre o Rio Cuiabá e até uma Arena que sediou jogos da Copa dos 7X1.
O número de veículos e motos aumentou assustadoramente, inviabilizando o trânsito em muitos setores da cidade.
O ensino superior é uma realidade. Hospedamos duas universidades, uma federal e outra particular, além de inúmeros cursos superiores em centros universitários e escolas isoladas.
É evidente que Cuiabá não é mais aquela de conversas pelas calçadas, encontros sociais nas praças e jardins, nascimentos, casamentos, morte e velório em casa.
Tenho saudades daquela pequena aldeia em que despreocupadamente vivíamos.
Cuiabá absorveu tudo de ruim que uma cidade grande tem, sendo que o pior foi o aumento da violência.
A expectativa de vida aumentou entre seus habitantes, mas perderam em qualidade.
A cumplicidade entre seus habitantes e a solidariedade são peças raras hoje em dia.
O medo tomou conta dos moradores e até carros blindados temos - exatamente como em outros grandes centros.
A segurança pessoal foi incorporada aos mais visados na escala social.
A corrupção acampou por aqui com a sua inseparável impunidade produzindo verdadeiras devastações nos nossos sonhos de cidade com oportunidade para todos.
Novos ricos assumiram o poder e os valores adquiridos pela educação caseira antiga estão sendo exterminados.
É o preço alto que pagamos pelo progresso não planejado.
Esperamos que Cuiabá procure a estrada do desenvolvimento social e volte a ser uma cidade mais justa e humana.
Gabriel Novis Neves