Segunda, 18 Janeiro 2021 16:45

EDITAL DE SELEÇÃO / CONTRATAÇÃO

DEFERIMENTO DE INSCRIÇÕES

- ALEXANDRE BISPO DE ARAGÃO FILHO

- JONATHAS BORGES HOSAKA

- LAELÇO CAVALCANTI JUNIOR

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Segunda, 18 Janeiro 2021 10:22

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Sobre o tema do ENEM, o SUS e porquê devemos derrotar o fascismo
 
Vanessa C Furtado
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As palavras têm sentidos e significados, grosso modo, seus significados são partilhados socialmente, descritos em dicionário, já os sentidos são mais sutis, ainda que construídos coletivamente dão outras conotações, mais apoiadas nas vivências.
Não vê O que acontece com a palavra "vadio" por exemplo? No dicionário significa "vaguear", mas esta palavra, após a promulgação da lei da vadiagem, ganhou outros significados. Esta lei era dotada de sentidos eugênicos, num Brasil que sequer tinha meio século de abolição da escravatura, a palavra "vadio" virou sinônimo de xingamento. E se flexionarmos o gênero, então, "vadia" quantos outros sentidos? 
Pois bem, os sentidos e significados das palavras não são de advento do espírito, tão pouco surgem do nada ou estão impressos de imediato na palavra. Os sentidos e significados das palavras são construídos nas relações objetivas e materiais de produção e reprodução da vida. A linguagem é práxis! 
Como práxis seus sentidos e significados são também sociais e historicamente datados. Isto quer dizer que, carregam em si os valores, implícita ou explicitamente, da sociedade que os cosntrói. Portanto, são mediados pela particularidade histórica e social.
A ênfase, dada na repetição e reafirmação de que a linguagem é práxis social e historicamente constituída, é proposital para chamar a nossa atenção em como as estratégias fascistas são sutis e utilizam de palavras que são quase a mesma coisa, mas não são! Do mesmo modo, aprendi com um professor Duayer (falecido em decorrência da Covid) que as ciências por mais que se requeiram neutras não são! 
Olhem o enunciado do tema de redação do ENEM: *O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira". O tema da Saúde Mental, no início de dezembro tomou as pautas dos jornais e redes sociais com o anúncio do chamado "revogaço" que consistia na revogação de 99 portarias da política de saúde mental e atenção a usuários/as de álcool e outras drogas. Uma verdadeira contra-reforma psiquiátrica, o mais grave ataque que a política de Saúde Mental pode sofrer. Uma política pautada e pensada nas formas de atenção do SUS e como este, é oriunda da luta popular, de movimentos Antimanicomiais, pelo fim dos campos de concentração que se transformaram os hospitais psiquiátricos no Brasil, uma política social contra o Holocausto Brasileiro. 
Aparecer este tema no Enem parece quase a mesma coisa que a luta Antimanicomial defende. No entanto, parecer não é a mesma coisa, ao transcender o campo das aparências e pensar nos sentidos e significados das palavras deste enunciado do Enem, a gente pode notar a questão política que se impõe. 
Lá onde eles falam em estigma, nós, da luta Antimanicomial, falamos de preconceito, eugenia promovida por uma forma de atenção à saúde mental que segregava e não íntegrava; lá onde eles falam de "doença mental", nós falamos em sofrimento psíquico, porque estes são sintomas que expressam o sofrimento de se viver em uma sociedade cindida em duas classes cuja relação é de exploração de uma sobre a outra e se expressa nas práticas racistas, xenófobas, homofóbicas, machistas e eugênicas (nunca é demais repetir esta palavra). 
Assim, é importante notarmos que, embora eles se maquiem no discurso da neutralidade, a forma de cuidado, atenção e promoção em saúde mental que nós da luta Antimanicomial defende é radicalmente diferente deles que tratam por doença sintomas da pura expressão das opressões da sociedade capitalista. 
As diferenças estão pra além da semântica e pode-se comprovar na prática: Eles dizem vencer os estigmas,mas com a popularização dos diagnósticos biomédicos do DSM e patologizando a vida; eles falam em cuidar em liberdade, desde que seja com medicalização sem eficácia comprovada e/ou que cronifica sintomas (a maioria das drogas psiquiátricas disponíveis no mercado); eles falam em tratamento, mas com eletroconvulsoterapia ou terapia transcraniana; eles falam em assistência e defendem que esta seja feita em hospital psiquiátrico, com as pessoas trancadas e afastadas dos que lhes querem bem (e pra quem cumpre quarentena, é possível dimensionar o sofrimento que é ficar longe dos seus). Enfim, parece a mesma coisa mas não é! 
À risca: eles defendem o lucro dos laboratórios farmacêuticos e dos donos de clínicas psiquiátricas! 
São fascistas e genocidas, forjados no bojo da sociedade capitalista, para defender interesses da classe dominante. Por isso, eles chamam de tratamento em saúde mental métodos de tortura e promovem (promoveram) um verdadeiro Holocausto!
Já a defesa da luta Antimanicomial, é, acima de tudo, para que a atenção, prevenção e promoção a saúde mental seja feita de forma pautada nos avanços técnicos e teóricos de uma universidade pública socialmente referenciada; a nossa defesa é pela garantia e promoção de direitos de pessoas atendidas nos dispositivos do SUS; nossa defesa é pela equidade e igualdade, em suma: nossa defesa é pela DEMOCRACIA e de seus frutos, como o SUS. 
Este sistema tão sucateado e que, ainda assim, por causa de suas profissionais, funcionárias públicas, na maioria mulheres, têm salvado vidas durante a Pandemia! E que, mesmo diante da falta de insumos básicos, revezaram-se em "ventilação manual" na tentativa de dar o direito, às pessoas com Covid em Manaus, a respirar enquanto os fascistas até o oxigênio se recusaram a entregar.
Por tudo isso, devemos estar atentas e fortes e devemos sim temer a morte, porque só vivas somos capazes de enfrentá-los, seja na semântica de uma narrativa que prelude a contra-reforma psiquiátrica, seja na luta pelo projeto da sociedade que desejamos construir. É preciso estarmos atentas, fortes e vivas para destruir o capitalismo e construir uma outra forma de sociedade, livre das opressões raciais, machistas e de classe. Cuidar da Saúde Mental passa, necessariamente, pelo fim dos fascistas e, fundamentalmente, pelo fim da sociedade de exploração! Um sociedade onde, no meio de uma Pandemia, o Enem teria sido suspenso porque o principal objetivo é o cuidado e a vida das pessoas!
Quarta, 13 Janeiro 2021 09:55


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José Domingues de Godoi Filho(¹)
 

“As coisas que acontecem por aqui, acontecem paradas.
Acontecem porque não foram movidas.
Ou então, melhor dizendo: desacontecem.
Dez anos de seca tivemos.
Só trator navegando de estadão, pelos campos. (...)
(Carreta Pantaneira, Manoel de Barros, 1985) 

Pantanal Mato-grossense é o nome dado para uma planície com uma    das maiores extensões úmidas contínuas do planeta, situada no centro da América do Sul (Figura 1). Com altitude média de 100m e área aproximada de 140 000 km², é circundado por um planalto com altitude variável entre 600 e 1000 metros, que representa a área fonte de água, sedimentos e toda espécie de resíduos. Como consequência sua evolução física e biológica pretérita, atual e futura está diretamente submetida às condições ambientais dos planaltos.
 
O Pantanal Mato-grossense é uma paisagem geológica recente, resultante da evolução da placa tectônica sul americana, que o individualizou após o soerguimento da cadeia andina. Os rios possuem baixo declive, com descarga pouco uniforme e períodos de inundação prolongada. Devido à baixa declividade, a água que cai nas cabeceiras do rio Paraguai pode levar meses para atravessar o Pantanal.
 
Além das áreas sem alagamento periódico e campos inundáveis, caracterizam a paisagem pantaneira feições, localmente definidas como: - baías (lagoas de diferentes formas e dimensões), salinas (baías com grandes concentrações de sais alcalinos), cordilheiras (elevações do terreno que separam baías), capões-de-mato (semelhantes às cordilheiras, porém circulares) , vazantes (canais que servem de escoadouros às baías e rios) e corixos ( pequenos rios que conectam baías).
 
Nesse cenário diverso, a Embrapa Pantanal verificou que o Pantanal não é um só. São onze pantanais com características próprias de solo, vegetação e clima: Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço, Paraguai, Paiaguás, Nhecolândia, Abobral, Aquidauana, Miranda, Nabileque e Porto Murtinho.
 
OS IMPACTOS AMBIENTAIS
 
É fundamental ressaltar que além dos fatores que atuam há milhões de anos na formação da região pantaneira, outros resultam direta e indiretamente da ocupação humana. A degradação e ameaças ambientais geradas ou agravadas pela espécie humana na região vem crescendo em frequência e intensidade, desde pelo menos o início dos anos 1980 com a implantação de usinas de álcool, usinas hidrelétricas, garimpos, expansão de áreas urbanas sem tratamento de esgotos, intensificação do plantio de soja, milho e algodão nas terras altas e mesmo no interior da planície.
 
Como agravante a preservação do Pantanal não pode ser desvinculada de um outro problema, isto é, o processo de ocupação da Amazônia. A BR-364 (Cuiabá-Porto Velho), que cruza as terras altas da porção norte do Pantanal foi e é uma das principais entradas para a “invasão” da Amazônia, programada pela antiga SUDECO – Superintendência para o Desenvolvimento do Centro-oeste.
 
O agronegócio, com práticas nefastas para as condições ambientais, devastou a região e não respeitou nem mesmo as terras indígenas e das populações locais, além de pressionarem as áreas e estações de preservação permanente.
 
Todo o conjunto dessas atividades estranhas à região, somadas a práticas de trabalho precário imposto a muitos pantaneiros, contribuiu para a ruptura das relações sociais vigentes. Muitos pantaneiros deixaram a região na esperança de conseguir melhores condições de vida. Com isso, novos proprietários se instalaram na região para criar gado com prática diferente da adotada historicamente pelo pantaneiro, o que tem contribuído, significativamente, para o aumento de queimadas, especialmente, em períodos de seca mais intensa e com ciclo previsível, como as ocorridas em 2020.

 

De 2019 para cá, com a posse de um governo negacionista e com postura de liberar a devastação, houve um impensável processo de desregulação ambiental, desconstrução do aparato institucional e da política nacional de meio ambiente para que a “boiada passasse”, via precarização e omissão na fiscalização e aplicação das penalidades previstas em lei. As previsíveis queimadas, criminosas ou não, de 2020, são um exemplo das consequências do desrespeito às mais elementares normas de preservação e conservação ambiental.
 
PANTANAL MATO-GROSSENSE: RESERVA DA BIOSFERA.
 
Em função de suas características e importância, em 2000, a UNESCO reconheceu o Pantanal Mato-grossense como Reserva da Biosfera. As atividades econômicas necessitam, contudo, de rigoroso manejo do solo, convivência com os períodos de cheia e controle do desmatamento. As cheias modificam a qualidade do solo e a produtividade do Pantanal por transportarem água, sedimentos e resíduos antrópicos da região circunvizinha. O desmatamento e a urbanização desorganizada de suas bordas afetam a quantidade e a qualidade da água, os sedimentos e a velocidade de transporte desses materiais para as terras baixas, alterando gravemente o equilíbrio socioambiental.
 
O Pantanal e sua área de influência representam uma região singular de alta complexidade, ainda pouco conhecida cientificamente e, sobremaneira rica e frágil. Sem um criterioso planejamento, reivindicado pelos pantaneiros, desde os anos 1970, o aproveitamento de seus recursos naturais, renováveis e permanentes, e, todo seu potencial econômico e socioambiental sofrerá danos irreparáveis para o futuro da região, como demonstrado nos acontecimentos de 2020.
 

No paraíso das águas, o desrespeito à sua qualidade significa o desrespeito à vida.
 
Figura 1: Fonte – Godoi Filho, J.D. (1984)
 
Texto publicado pelo Núcleo Piratininga de Comunicação – Livro-agenda 2021.
 
(¹José Domingues de Godoi Filho – Professor da     UFMT/Faculdade de Geociências.

Terça, 12 Janeiro 2021 11:42

 


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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Jornalismo/USP. Prof. de Literatura/UFMT
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            Como ainda estamos na primeira quinzena de 2021, e como não pude externar antes, desejo a todos nós, seres humanos, um período repleto de cachorradas.
            Com tais votos, não estou desejando nada de ruim a ninguém, embora, nos dicionários, o sentido figurado registre que “cachorrada” seja “ação vil ou malévola”.
           Pensando bem, essa metáfora é mais um equívoco dos humanos; pior: é injusta com os cães. Por isso, e também para fugir da mesmice dos votos de sempre de “muita felicidade, paz, amor, saúde e prosperidade”, é que reafirmo: muita cachorrada para todos em 21 e anos subsequentes.
          Para explicar meu desejo, começo divergindo de Eduardo Dusek – cantor e compositor de quem sou fã –, que, na última parte do “Rock pra cachorra”, pede que sejamos “mais humano” e “menos canino”, e completa: “Dê guarida pro cachorro/ mas também dê pro menino/ Senão, um dia desses/ você vai amanhecer latindo”.
           Essa letra de Dusek é socialmente pertinente, mas comete o deslize de ameaçar os humanos – principalmente aos que cuidam mais dos cães do que de seus semelhantes – com uma das características inerentes aos cachorros: latir.
             De minha parte, sem desconsiderar a preocupação central daquela música, eu preferiria ver muitas pessoas latindo a vê-las “falando” tanto nas redes sociais, onde compartilham “opiniões” sem lastro, além de cenas de suas vidas, em geral, miseráveis, embora com “filtro” de felicidade sem-fim.
            Pois bem. Usar animais para compará-los a ações dos humanos – positivas ou negativas – parece algo recorrente nas situações mais díspares; e isso remonta a tempos distantes. Quem não se lembra, p. ex., da cobra bíblica que “ludibriou” Eva, fazendo-a experimentar do que, maldosamente, lhe fora proibido? A propósito, à lá questionamento Saramago, se era proibido, por que foi criado? O Pai, que tudo sabe, não conhecia o que estava criando?
            Seja como for, aquela serpente, se não foi a fonte originária, foi, com certeza, a que popularizou a comparação de uma pessoa muita astuta (no caso, má) a uma cobra.
            As fábulas também são fontes de abundantes comparações: cigarra, formiga, leão, porquinho... A lista é longa. Pela própria lógica que move as fábulas, a comparação dos animais às ações humanas é ato contínuo; tanto que é difícil encontrarmos um animal que não sirva para algum tipo de comparação.
            Particularmente, fico de “queixo caído” com esse tipo de exercício feito por Manuel Bandeira, não em uma fábula, mas no poema “Rondó dos Cavalinhos”, de 1936.
            Contudo, neste artigo, quero falar só de quatro ações, ou de cenas, mas especificamente caninas. Com isso, pretendo mostrar como seria bom se fôssemos mais caninos e menos humanos, já que estamos mesmo velozmente perdendo a humanidade.
          Primeira ação/cena que destaco: os cães “de rua” (“vira-latas”) atravessando ruas e avenidas nas faixas exclusivas de pedestres. Impressionantemente eles sabem o lugar e esperam o sinal fechar!!!
             Sempre que os vejo assim, tão respeitosos, tão cuidadosos, sinto constrangimento de minha espécie. Por conta desse respeito canino às regras urbanas, pensadas pelo “homo sapiens” para o dito “homo sapiens”, raramente vemos um cão atropelado. Já o contrário...
            Outra atitude canina de arrepiar: aquelas cenas em que os cães ficam, nas portas de hospitais, esperando por seus donos – em geral, mendigos – dali saírem. Há inúmeros desses registros. Já o contrário, muita gente é capaz de ir a uma “clandestina” no mesmo dia que amigos e parentes são hospitalizados, velados ou mesmo enterrados.  
            A penúltima dos cães que destaco foi vista, por mim, no recente 1º de janeiro; aliás, essa data é o “dia mundial da paz”, uma criação de Paulo VI, nos idos de 67. Eis a cena: dois “vira-latas” – que podem ter se conhecido ali e naquele momento – rolavam, brincando carinhosamente no canteiro central de uma avenida por onde eu caminhava.
          Por “ironia do destino”, ao lado exato daquela cena “caninamente pueril” passavam dois carros emparelhados. Seus ocupantes, aos berros, “mandavam-se” mutuamente um tomar naquele lugar. Suas mães – mesmo à distância – também “entraram na desavença”. Era uma briga de trânsito, dessas que, comumente, encaminham-se para a fatalidade.
            Meu último destaque refere-se aos acasalamentos caninos nas ruas, e “na frente das crianças”!!! Oh!!!
           Excetuando a disputa natural da espécie para ser o “vira-lata” escolhido, pouco se noticia, na mídia, a prisão de algum cão – tomado de ciúmes da cadela que o preteriu publicamente – por ter assassinado, na frente de seus filhotes, “aquela safada, aquela desavergonhada”. Quem ganhou, cumpre sua função. Quem perdeu, bota o rabo aonde bem quiser e segue seu rumo, mesmo quando não o tem bem definido. Já o contrário, a mídia não deixa de noticiar crimes de feminicídios – na frente dos filhos –, dos quais o Brasil é um dos campeões mundiais. Infelizmente, somos tão bons de bola quanto de bala. Ah! E de bíblia também... É a desastrosa tríade que tem regido um povo completamente desgovernado, sem rumo na Terra.
            Pelas cenas acima destacadas, e por muito mais, reafirmo meus votos de um ano cheio de cachorradas para todos. Sem exceção. 

Segunda, 11 Janeiro 2021 10:11

 


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JUACY DA SILVA*
 

“Após meses de isolamento, casal sai para cortar cabelo e morre de Covid-19” Fonte: Site CNN (EUA) 30/12/2020 Simret Aklilu, da CNN. “Visita de Papai Noel com Covid-19 provoca 18 mortes em lar de idosos na Bélgica. 121 moradores e 36 funcionários foram infectados no começo de dezembro no asilo localizado na Antuérpia.” Fonte: Site G1 Globo, 27/12/2020.

“Pelo menos 46 idosos foram diagnosticados com Covid-19, em um surto de contágio registrado em um asilo no município de Cantagalo, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Até o momento, quatro pessoas morreram”. Fonte: CNN Brasil 30/12/2020.

Essas são apenas três noticias, várias histórias de vida, sofrimento e morte, dentre milhares ao redor do mundo e também no Brasil, onde e quando pessoas infectadas com a COVID-19, sem saberem que estão contaminadas com o CORONAVIRUS ou até mesmo sendo assintomáticas, não se resguardam, ou não são orientadas e assistidas como no caso de idosos, muitas das quais não usam máscaras, não mantem o distanciamento social de dois metros, não higienizam as mãos e acabam sendo contaminadas e também contaminando outras pessoas, principalmente idosos/idosas e outras integrantes dos vários grupos de risco.

Essas pessoas, ao lado da negligência dos poderes públicos, na verdade, são os agentes do sofrimento, das desgraças e das mortes que continuam dizimando milhões de pessoas ao redor do mundo e o Brasil também está nesta mesma situação e faz parte desta triste e lamentável realidade.

Não bastasse o descaso de governantes, que negam a existência e a letalidade do vírus, alguns, como Bolsonaro que dizia, no inicio da pandemia no Brasil, que o CORONAVIRUS “é apenas uma gripezinha”, ou insinua que quem usa mascara não passa de maricas, quando referindo a esta realidade, disse explicitamente que “o Brasil precisa deixar de ser um país de maricas”.

O CORONAVIRUS, COVID-19 está circulando no mundo todo e ultimamente com novas variantes mais contagiosas e letais, muitos imaginavam e ainda imaginam que o surgimento de uma ou várias vacinas iria representar o fim da pandemia de um dia para o outro e que tudo estaria resolvido, o mundo e os países voltariam ao “antigo” ou “novo” normal. 

Ledo engano, mesmo com a vacina, apesar de que mais de 50 países já estarem imunizando suas populações e nos próximos dias, semanas ou meses com certeza mais de uma centena de países também estarão protegendo suas populações, inclusive, países com dimensões econômicas e geopolíticas de peso muito menor do que nosso país, o Brasil, lamentavelmente, pela incompetência, descaso, negacionismo e incúria de nossos governantes, está no fim da fila, sem vacinas e nem seringas e agulhas o Ministério da Saúde consegue comprar, o que demonstra tanto o descaso quanto a falta de planejamento e de compromisso do Governo Bolsonaro e de diversas governantes estaduais e municipais com a saúde e a vida da população.

Por outro lado não podemos culpar apenas ou exclusivamente tais governantes insensíveis ou negacionistas mas, também, boa parte ou talvez a maior parte da população que é estimulada por tantas demonstrações de descaso quanto aos perigos e letalidade da COVID-19 por parte de autoridades, a quem atribuem uma grande dose de verdade, continua se aglomerando, promovendo festas e comemorações clandestinas ou ostensivas, pessoas saindo `as ruas ou frequentando áreas de comércio popular, com grande número de pessoas aglomeradas e circulando sem distanciamento social e sem o uso de máscaras, tem contribuído para o aumento assustador de novos casos de infecções e de mortes nos últimos dois meses, caracterizando que estamos em plena segunda onda desta pandemia.

Dados estatísticos e inúmeras reportagens tem demonstrado que o Sistema de saúde, principalmente o Sistema público de saúde, está entrando ou em alguns estados e capitais já entrou em colapso total.

Hospitais não tem mais leitos, nem de enfermaria e muito menos de UTI para atender ao aumento assustador de casos, números esses que, conforme diversas especialistas, tendem a aumentar nas próximas duas ou três semanas, como consequência e resultado das aglomerações e falta de cuidados por parte da população e falta de ação dos poderes públicos para coibirem tais eventos durante os festejos natalinos e de final de ano.
Da mesma forma que a segunda onda impôs novas medidas drásticas de isolamento, fechamento de estabelecimentos comerciais, atividades econômicas, esportivas, de lazer e outros setores na Europa e em vários outros países, talvez, já que a vacina ainda vai demorar muito tempo, muitos meses para estar disponível para toda a população, o Brasil terá que adotar, novamente, medidas restritivas, tendo em vista que os hospitais estão super lotados e sem chances de atender o aumento do volume de pessoas infectadas que demandam leitos hospitalares, principalmente leitos de UTIs, respiradores, além de equipes de profissionais de saúde que também estão morrendo e desfalcando tais quadros técnicos, o que torna a situação ainda mais crítica e assustadora. Só não vê quem não quer ou quem acredita em fake news, charlatanismo ou curandeirismo que continuam negando a existência e a letalidade do coronavírus.

Temos ouvido e visto no noticiário diário que o Sistema de saúde pública está encontrando dificuldade para contratar novos profissionais de saúde, seja para repor os cargos/funções de inúmeros que contraem a COVID-19 e outros que foram vitimas/morreram.

Conforme dados da OMS até Agosto pouco mais de 7 mil profissionais de saúde perderam a vida para o coronavírus, sendo 1.077 nos EUA, 649 na Inglaterra; 634 no Brasil; 631 na Rússia e 573 na Índia, entre os diversas países.

No caso do Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde, em reportagem no site Agência Brasil, a COVID-19 infectou 257 mil profissionais de saúde e provocou centenas de mortes, impactando negativamente o volume e qualidade dos serviços prestados aos pacientes.

Cabe ressaltar que enquanto a corrupção através de criminosos de colarinho branco, dentro e fora dos organismos públicos continuam roubando recursos destinados ao enfrentamento do coronavírus, falta dinheiro para pagar pessoas abnegadas, como os profissionais de saúde, que colocam suas vidas em risco, ou adquirir equipamentos, sem os quais se torna impossível oferecer serviços de qualidade, como acontece em vários estados.

Roubar dinheiro da saúde pública deveria ser considerado crime hediondo e esses ladrões deveriam receber penas longas, por muitas décadas, para demonstrar que, realmente, o crime não compensa, já que no Brasil não existe pena de morte e nem de prisão perpétua para tais tipos de crimes e criminosos.

Lamentavelmente os ladrões de colarinho branco ainda continuam agindo e soltos após cumprirem penas bem leves, passando a mensagem para outros corruptos de que o crime compensa, já que a impunidade é a tônica dominante.

O Brasil, por falta de planejamento e gerenciamento precário no Sistema de saúde pública vive também um verdadeiro paradoxo, de um lado estão faltando leitos hospitalares e de outro existem milhares de leitos equipados mas falta pessoal técnico e de apoio, principalmente médicos e outros profissionais especializados.

Só no Rio de Janeiro, onde a situação está praticamente fora do controle, existem mais de mil leitos de UTI desativados por falta de médicos e outros profissionais de saúde, principalmente em hospitais públicos federais, estaduais, municipais e também hospitais universitários, o que é um absurdo, verdadeiro crime contra a população que tem na saúde pública a única forma de buscar atendimento e socorro.

Volto a repetir e a enfatizar, os hospitais estão superlotados, o número de leitos de enfermarias e, principalmente, de UTIs estão praticamente com capacidade esgotada, as filas da morte com dezenas de milhares de pessoas em todos os Estados aguardando uma vaga de UTI que não surge e ai a MORTE CHEGA NA FRENTE, tem aumentado dia após dias a angustia de doentes e seus familiares.

Neste cenário vamos continuar assistindo, ouvindo relatos, noticiário da imprensa radiofônica, impressa e televisiva pessoas amontoadas em corredores de hospitais ou nas portas de unidades de saúde, em ambulâncias que perambulam de hospital para hospital, muitas morrendo sem qualquer assistência. É muito triste e revoltante observarmos uma situação como esta.

Falamos tanto em democracia, em “Estado democrático de direito”, em direitos fundamentais das pessoas, direitos humanos como consta de nossa Constituição Federal que em seu artigo 196 assim estabelece “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”

Ora, a saúde é mais do que importante para que as pessoas, os cidadãos e cidadãs possam exercer vários de seus direitos fundamentais, dentre os quais, o direito mais sagrado, a partir do qual todos os demais direitos estão vinculados que é a VIDA.

Sem saúde todos os demais direitos, inclusive o direito `a vida, se tornam sem sentido, por isso é a mesma Constituição Federal, que todos os Governantes juram cumprir e fazer cumprir e inclusive existe a mais alta instância do Poder Judiciário , que é o STF, cuja única atribuição é de ser o guardião de nossa Carta Magna, mas que em muitos casos, inclusive nesta pandemia, quase 200 mil pessoas não tiverem seu direito a vida garantido e foram tragadas pela morte.

Até o dia 05 de Janeiro de 2021, o Brasil já registrou 7,8 milhões de casos e 197,7 mil mortes, sendo que nas últimas 24 horas do dia 04 para 05 de janeiro foram registrados 56.648 novos casos e ocorreram 1.171 novas mortes, dentro de mais três meses, quando supõe-se que pelo menos parte dos grupos de maior vulnerabilidade possam já ter sido vacinados, estima-se que o número de casos podem seja igual ou superior a 10 milhões e o de mortes pode superar 250 mil, mantendo-se o atual índice de letalidade da COVID-19 no Brasil que é de 2,5%, como tem ocorrido ao longo dos últimos meses.

Sempre é bom ler e reler o que consta de nossa Constituição Federal, como, por exemplo em seu artigo quinto quando estabelece “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes….”

No andar atual “da carruagem”. como se diz, o plano nacional de imunização, no que tange à COVID-19, poderá não passar de um belo documento, para enfeitar prateleiras ou para que os governantes o exibam perante os meios de comunicação, jamais um plano real que represente ações de fato, que contenham metas e indicadores, prazos precisos e que consigam reduzir ou eliminar a circulação do vírus em nosso país.
Até que mais da metade dos brasileiros , incluindo todas as pessoas integrantes dos grupos de risco possam receber a vacina, vamos ter que aguardar vários meses ou talvez até o ano todo de 2021 para que isto aconteça.

Enquanto isso, dezenas de milhares de pessoas  serão infectadas  e centenas morrerão todos os dias. Assim, o Brasil poderá contabilizar e superar em 2021 mais de 12 milhões de pessoas infectadas pela COVID-19 e mais de 300 ou 350 mil mortes.

Neste contexto, é bom refletir que o Brasil continua sendo o terceiro país em número de casos, atrás dos EUA e da Índia. Mesmo tendo pouco mais de 15,3% da população Indiana tem 31,7% mais casos do que aquele país, isto significa que o índice de mortalidade por COVID-19, por 100 mil habitantes é de 10,7 na Índia e de 92,9 no Brasil. Nos EUA este índice é de 107,2 mortes por 100 mil habitantes e no mundo é de apenas 24,4 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes.

Quando comparamos os índices de letalidade, ou seja, qual o percentual das pessoas diagnosticadas/infectadas com COVID-19 que acabam morrendo,  esses índices são os seguintes: mundo 2,2%; Itália 3,5%; Inglaterra 2,7%; Espanha 2,6%; Brasil e França 2,5%; Alemanha 2,0%; Rússia 1,8%; EUA 1,7%; Índia 1,4% e Turquia 1,0%. Esses são os dez países com maiores números de casos no mundo. A média do índice de letalidade desses dez países é de 1,9%.

No entanto, desde o inicio da pandemia do coronavírus os dados estatísticos tanto em relação ao mundo como um todo quanto de inúmeros países onde tais dados estão disponíveis indicam que a taxa de letalidade cresce de acordo com o aumento das faixas etárias, a despeito de que os índices de contágio sejam mais uniformes, ou seja, pessoas em todas as faixas etárias, a partir de 20 ou 30 anos são contaminadas, mas, mesmo que os idosos com 60 anos e mais sejam a minoria da população, proporcionalmente são infectados em maior percentual e, pior ainda, apresentam índices de letalidade diversas vezes maiores do que das faixas etárias menores do que 60 anos.

Os dados a seguir são do Estado de São Paulo, até meados de dezembro e representam a média nacional em relação aos Brasil como um todo e guardam a mesma relação  com dados da China, de diversas países Europeus, dos EUA e também de praticamente todos os países da América Latina.

Internamente, no caso do Brasil, os índices de letalidade variam bastante e decorrem tanto do estado de higidez da população quanto da qualidade dos sistemas de saúde, principalmente dos sistemas públicos.
Isto significa que as pessoas cujo estado imunológico esteja comprometido com outras comorbidades, como portadores de diabetes, doenças cardíacas, vasculares, renais, câncer, fumantes, obesos ou que sofrem com doenças respiratórias ou degenerativas quando infectadas pelo coronavírus tem a probabilidade de serem afetadas com maior severidade e irem a óbito do que as demais pessoas que tenham melhor imunidade e não tenham comorbidades.

Além disso, a falta de condições no atendimento do Sistema público de saúde principalmente, com a falta de leitos hospitalares, falta de medicamentos, falta de profissionais e técnicos de saúde contribuem para a demora no atendimento e diagnóstico correto, complicando sobremaneira a situação desses pacientes e aumentando a probabilidade de um aumento de mortes. Nessas situações os grupos populacionais excluídos, pobres e moradores das periferias urbanas e meio rural são as maiores vitimas.

Voltando aos índices de letalidade no Estado de São Paulo, por faixa etária, os dados indicam que em pessoas com menos de 40 anos este índice é de 0,2% ou seja, de cada mil pessoas infectadas apenas duas vão a óbito, nas demais faixas etárias os índices são: 40 a 49 anos 1%, em mil contaminados 10 morrem; 50 a 59 anos 2,8% ou seja, de cada mil infectados 28 acabam morrendo; de 60 a 69 anos 8,4% indicando que em mil pessoas contaminadas 84 acabam morrendo; 70 a 79 anos 18,5% ou seja, de cada mil infectados 185 morrem; 80 a 89 anos 32,0% indicando que de cada mil pacientes nesta faixa diagnosticados 320 acabam morrendo e pacientes com mais de 90 anos o índice de letalidade é de 37,8% demonstrando que quanto maior e a faixa etária maior é o índice de letalidade, no caso dos idosos com mais de 90 anos 378 dos diagnosticados com COVID-19 acabam morrendo.

Na maioria dos países e também aqui no Brasil, idosos com 60 anos ou mais representam 76% do total de mortes por COVID-19, isto significa que das 197,7 mil mortes ocorridas até o dia 05 de Janeiro de 2021, nada menos do que 150,2 mil óbitos foram de pessoas idosas com 60 anos ou mais, um absurdo, quando este grupo representa apenas 13,6% da população brasileira.

A negligência em relação a esses grupos, principalmente os mais idosos, pode representar um verdadeiro genocídio, ou seja, extermínio de boa parte dos idosos em idade mais avançada.

Merece também um destaque para o fato de que os índices de letalidade no Brasil variam muito entre os Estados. Enquanto o índice de letalidade do Brasil é de 2,5%, em Mato Grosso do Sul de 1,9%, em Pernambuco 5,3% e no Rio de Janeiro 6,6%.

Para situarmos melhor a questão dos idosos em relação à COVID-19 e a vacinação, precisamos destacar que existem no Brasil 28,9 milhões de idosos (pessoas com 60 anos ou mais) ou 13,6% da população brasileira.
Por faixas etárias temos o seguinte Quadro: a) de 60 a 74 anos existem 22,2 milhões de idosos, ou 77% de idosos que serão excluídos inicialmente do plano de vacinação do ministério da saúde; b) acima de 75 anos existem 6,7 milhões de idosos ou 23,0% da população idosa, que, em princípio serão vacinados em caráter prioritário nos termos do plano de vacinação do governo federal.

Só para vacinar todos os idosos o Brasil teria que garantir nada menos do que 57,8 milhões de doses de vacinas, além dos grupos de risco como profissionais de saúde, portadores de comorbidades, cujos dados exatos estão ausentes nos diversas planos de vacinação dos governos federal, estaduais e municipais.

É neste contexto que precisamos discutir a questão da vacinação, pois além dos idosos, não apenas acima de 75 anos, mas sim, acima de 60 anos sejam vacinados, em cumprimento inclusive ao que consta do Estatuto do idoso, que em seu artigo 15 estabelece “ É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo  a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos”.

Ora, neste e em nenhum outro artigo o grupo de idosos de 60 ate 75 anos consta que este grupo deva ser excluído, razão pela qual tanto o Governo Federal quanto os governos estaduais e prefeituras não podem excluir a maior parte dos idosos no Brasil em se tratando de vacinação contra a COVID-19.

Os idosos no Brasil (pessoas com 60 anos e mais) representam 13,6% da população; 16,3% dos casos de COVID-19 e o absurdo de 76,8% das mortes por esta terrível pandemia.

Em relação à vacinação e fabricação de tantos insumos e equipamentos fundamentais e imprescindíveis para o pleno funcionamento dos sistemas de saúde, é importante refletirmos que, enquanto alguns países como EUA, diversas europeus, Rússia, China, índia e Japão estão em um estágio avançado em educação, ciência e tecnologia em todas as áreas, inclusive nesta de equipamentos e insumos hospitalares e de saúde, o Brasil, ao longo de décadas pouco tem investido em educação, ciência e tecnologia e tanto se orgulha de ser um dos grandes exportadores de commodities, matérias primas com baixo índice de agregação de valores, como era a economia brasileira durante os períodos colonial e do império. Esta é uma razão para não produzirmos vacinas, respiradores e até mascaras e luvas, itens que devem ser importados, uma vergonha!

Parece que um cenário como este não abala as preocupações dos políticos, gestores e governantes municipais que começaram uma nova gestão a menos de uma semana ou políticos estaduais e federais que só pensam nas eleições de 2022, até lá, o povo que se dane, o povo que se lasque, o povo que continue chorando seus doentes e enterrando seus mortos, sem sequer poder vela-los com dignidade.

Também é necessário que os Ministérios Público Federal e Estaduais, que são “os fiscais da Lei”, as Defensorias públicas e inclusive o Poder Judiciário, tenham uma ação mais decisiva e efetiva para que os Governantes e instituições públicas e privadas realmente cumpram com as leis que garantem os diversas direitos da população. Afinal, a existência de Leis que não são cumpridas não passam de “belas mentiras”, ou como dizem, “para inglês ver”.

Este é o Brasil que teremos, em 2021, no que tange à maior crise sanitária de nossa história, é a falência total do Sistema público e, em parte do Sistema privado de saúde, inclusive dos planos e seguros de saúde, além de todas as demais mazelas que colocam nosso país no centro do noticiário internacional como o descaso, degradação e crimes ambientais, a violência endêmica que já tomou conta de nossa sociedade, a corrupção que continua correndo solta, a pobreza, a miséria e a fome que afetam mais da metade da população brasileira, situação que vai piorar muito com o fim do auxílio emergencial a partir deste inicio de 2021.

JUACY DA SILVA, professor universitário, aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia e colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy

 

Quarta, 06 Janeiro 2021 11:07


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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
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OS DEUSES FORAM PILATOS
 

Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Jornalismo/USP. Prof. de Literatura/UFMT
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        Já dentro de 2021, que apenas dá sequência ao doloroso 2020, externo o constrangimento por ter visto compartilhadas, em redes sociais, algumas manifestações – de amigos e familiares – acerca da recente passagem.
       Depois de um ano tão anômalo, como foi 2020, nosso comportamento naquele momento também foi revelador de como cada um tem visto o outro durante o processo pandêmico em curso.
       Em viradas anteriores, qualquer palavra podia ser dita, por mais clichê que fosse. Nesta, não. Todo cuidado – ou respeito – era necessário, principalmente com as palavras. Mas só teria essa postura quem, de fato, havia internalizado a dimensão da tragédia vivida, não apenas pelas vítimas diretas da covid-19, em especial pelas que saíram dos hospitais em caixões lacrados e sem velório, mas por todos os familiares e amigos de cada uma dessas vítimas fatais. Em menos de um ano, foram quase 200 mil! Como foi lembrado por um telejornal, número que não é encontrado em 97% de nossas cidades.
         Por esse panorama, ao invés de fogos de artifícios e palavras vãs que, ainda bem, se vão com a força do vento, só o silêncio cabia. Por isso, não cabia a exposição, pelo menos publicamente, do velho e natural agradecimento (obviamente, aos deuses) pela vida. Não cabia sequer agradecer pelo fato de se estar junto à sua “sagrada” família; afinal, esse tipo de agradecimento, em momento de tanta dor e incertezas, mesmo de forma inconsciente, é registro do império do individualismo, há muito, naturalizado em nossa cultura, que consegue conviver, sem questionamentos, com a contradição que sustenta um casamento socialmente cínico – desde as primeiras barbáries da exploração portuguesa – do voraz capitalismo com o cristianismo de fachada.
          Numa cultura assim, o individualismo é prova de como cada um de nós se sente melhor e o escolhido por algum tipo de criador – seja ele de que matriz religiosa for – para, neste tempo de pandemia, ter sido isentado da devastadora doença que não poupou lugar no planeta.
        Qualquer reflexão básica deveria nos levar a perceber que ter sobrevivido a 2020 foi arte que demandou esforços exclusivamente humanos; nada mais. Os deuses – se existirem – foram Pilatos. Cruzaram os braços e assistiram a uma grande tragédia planetária. Logo, não houve mão divina separando os joios dos trigos. Detalhe: muitos dos “trigais” perderam a vida, apesar de todos os cuidados tomados, afinal, por perto, ou pelas mídias, podia (e certamente havia) ter alguma abominável criatura negacionista, “rondando ao redor”; ou um parente, um vizinho, ou um amigo desatento, ainda que pontualmente.
          Nunca andamos tanto na corda bamba, por mais que as precauções fossem tomadas: sabão, álcool em gel ou o distanciamento social de 2 metros mantido; aliás, se os deuses existem, certamente disseram a todas as vítimas fatais de 2020: “- mas, você, aqui? Agora? O que houve no inferno da Terra? Não era ‘sua hora’ ainda! Queria me ver mais rapidão, quando – no fundo, no fundo – ninguém dentre minhas amadas criaturas quer me ver nem pintado de ouro? Não estou entendo”. 
           Agradecer – nas redes sociais – por ter sobrevivido a 2020 foi o mesmo que desconsiderar – quando não escarniar – todas as dores sentidas por tantas famílias, mesmo que nenhuma delas fosse de nosso convívio. Ao dizer isso, me recordei do poema “Procura da Poesia”, de Carlos Drummond, inserido no livro “A Rosa do Povo”, do qual transcrevo as duas primeiras estrofes:
         “Não faças versos sobre acontecimentos./ Não há criação nem morte perante a poesia./ Diante dela, a vida é um sol estático,/ não aquece nem ilumina./ As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam./ Não faças poesia com o corpo,/ esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.// Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro/são indiferentes./ Não me reveles teus sentimentos,/ que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem./ O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia...”
          Toda vez que releio esse poema, penso em como o silêncio pode ser mais significativo do que tantos atos que concretizamos e de palavras que proferimos; aliás, como lembra Arnaldo Antunes no poema “O Silêncio”, “o silêncio foi a primeira coisa que existiu; um silêncio que ninguém ouviu”, posto ter vindo antes da voz. Ah, se sempre nos lembrássemos disso!
           Se nos lembrássemos sempre disso, os espaços das redes sociais raramente seriam usados para tanta exposição de nossos sentimentos, fossem quais fossem. Esse comportamento fútil está nos conduzindo à saturação como seres humanos.
           Se nos lembrássemos sempre disso, penso o quanto o silêncio poderia nos ajudar a entender nossa dimensão diminuta e nossa relativa importância nos giros do mundo, até por conta de nossa incontrolável efemeridade.
          Ao nos fazer lembrar disso tudo, o eu-poético de Drummond nos coloca diante de nossa limitada importância individual, mas nos projeta como raridades na dimensão coletiva da continuidade da espécie, da qual não passamos de um singelo exemplar, aliás, e paradoxalmente, raramente exemplar.
          Talvez, lançar mais mão do silêncio nos fizesse entender o que, citando-o novamente, Arnaldo Antunes já compreendeu, ao dizer sobre si:
           “...Eu sou um fragmento de olhares alheios que me compõem... Sou a síntese de todos os olhares possíveis que existem sobre mim, também. Essa fronteira entre interior e exterior; não tem um ‘eu’. O ‘eu’ é um mundo voltado para uma experiência do mundo... Eu questiono essa coisa porque que tem um “eu”, Arnaldo. Não. Eu sou o resultado do que a vida tá passando, por este momento presente”.
           Lindo isso, mas difícil de ser absorvido, posto a maioria de nós já estar bem atolada no vício de compartilhar insignificantes individualidades.

Sexta, 18 Dezembro 2020 14:30


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Encaminhamos o artigo a pedido da Profª Marluce Souza Silva, intitulado #DEFENDAOLIVRO e lute como um leitor: o enredo do empoderamento social pela leitura no Brasil, da aluna Julia Marina Bortolani Martins.

 

 

Sexta, 18 Dezembro 2020 10:41


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Texto enviado pelo Prof. Aldi Nestor de Souza*

 

17:00h. Quarta Feira, 16 de dezembro de 2020. Várzea Grande. Mato Grosso. Os assistentes e as assistentes sociais cerram a porta do ginásio de esportes, após um dia de cadastramento e vão pras suas casas. Do lado de dentro do ginásio, a mobília de mais de mil famílias, despejadas do residencial Colinas Douradas, de propriedade da caixa econômica, na manhã daquele dia. Do lado de fora, as famílias, alguns colchões espalhados pelo chão, uma barraquinha de plástico. 

De pouco valeu a pergunta, feita ao funcionário da caixa, cuidadoso e conferindo cada colchonete, cada saco de roupas velhas, cada armário, cada gaveta espalhados no piso do ginásio,  e ao pessoal da assistência social, em suas mesinhas ornadas de questionários:
 
o que vai ser feito com as pessoas que estão lá fora?
 
Pelo funcionário da caixa foi dada a seguinte resposta: A Caixa econômica, conforme decisão judicial, é responsável pela mobília. Ela ficará aqui no ginásio por um período de trinta dias. Sobre as pessoas, é o poder público que tem que se responsabilizar.
 
Certo, mas e se começar essa chuva que está a caminho, elas vão poder entrar e se proteger aqui na quadra?
 
Isso quem resolve é a prefeitura.
 
Pelos assistentes e pelas assistentes sociais foi dada a seguinte resposta: a prefeitura tem os abrigos, elas podem ir pra lá. Estamos fazendo um cadastro via CRASS, que consiste de saber o antigo endereço delas, de algum parente, para encaminhá-las. “porque com certeza elas tinham endereço, elas moravam em algum lugar antes da invasão, né?”, finalizou uma assistente social.
 
Lá fora, homens, mulheres e crianças, muitos ainda sem almoço naquele dia, olhar de desânimo, de cansaço, de tristeza, de revolta,  relatavam o ocorrido, a violência da polícia e afirmavam precisar dormir ali na calçada por não ter pra onde ir. “sim, é claro que eu tenho parentes. Morávamos 12 pessoas, duas famílias,  numa peça de dois cômodos”. “eu morava de aluguel, perdi o emprego na pandemia, fiquei sem ter como pagar e me juntei ao pessoal para ocupar o prédio desocupado da caixa”. “ eles retiraram uma mulher com covid lá do prédio, de nada adiantou ela mostrar os exames positivos, os remédios, a dor, a fragilidade.  A polícia arrancou ela de lá .”
 
Uma assistente social ainda conseguiu dizer o seguinte: “mas eles tem até carro, apontando para uma saveiro, anos 90, estacionada perto”. Olha, respondi:  um deles tem uma caminhonete novinha, de dois anos de uso, mas com mil famílias despejadas, por que te chamou a atenção apenas a pessoa da saveiro? Por que você não escolhe aquela senhora grávida, com três crianças pequenas enroscadas em suas pernas, uma das quais inclusive passou mal hoje devido  a ter ingerido os biscoitos vencidos que a polícia deu na hora da reintegração de posse? Ou porque você não escolhe aquele cadeirante, que levou spray de pimenta na cara e teve que ser socorrido e retirado com urgência da frente do trator que avançava? Ou porque você não escolhe pensar que esse despejo se deu em plena pandemia, jogando na rua cerca de 6 mil pessoas? Ou por que você não escolhe as centenas que não tem pra onde ir, que não são daqui, não tem parentes, não tem carro, casa, nada?  a assistente social deu de ombros.
 
A polícia doou biscoitos, com data de vencimento 06/11/2020, conforme os pacotes exibidos por vários moradores. As crianças comeram, algumas caíram em vômitos. Não é fácil entender a doação de biscoitos na hora de uma reintegração de posse. Menos ainda, de biscoitos vencidos. É como se a maldade e a indiferença, de mãos dadas, estivessem de conluio, prontas e dispostas à demolição.
 
Um homem disse: ” vou dormir aqui, amanhã de manhã vou pro meu serviço. Depois, não sei. “
 
Foi preciso calma pra ver a segurança e a tranquilidade  com que o homem da Caixa econômica falava do cumprimento da lei, do que cabia à Caixa, de os moradores terem invadido uma propriedade privada, de a Caixa não ter nada a ver com isso, de que a lei é pra ser cumprida, de que a Caixa cuidaria dos pertences dos moradores e lhes asseguraria o tempo de um Mês para a retirada e ponto final.
 
Foi preciso paciência para aturar os assistentes e as assistentes sociais, seguros e seguras de seus questionários, alheios e alheias para com o desespero que se espalhava no meio da tarde, na calçada, no sol, no calor, na noite que se aproximava, daquelas famílias, ali  a cinco metros de distância de suas mesinhas.
 
É preciso multiplicar a indignação, estourar os miolos da paciência com os serviçais e operadores da justiça, técnicos decoradores dos compêndios de leis, ignorantes da vida real e das relações escaldantes que tanto mutilam nosso povo, e que,  em plena pandemia,  são capazes de ordenar um despejo para agradar a um banco e que jogou ainda mais no flagelo milhares de miseráveis. 
 
Eu imaginei, o que fez todo sentido, que aquele homem da caixa,  aqueles assistentes e aquelas assistentes socias, esses operadores da justiça são produto dessa sociedade absolutamente doente,  formada à base da lei do valor, que gera indivíduos medonhos, sem compaixão, sem amor, sem poemas, sem lirismo, sem afeto, insensíveis à dor ao lado.
 
Eu imaginei a profundidade dos pedaços do poema, O operário em construção, de Vinícius de Morais, quando este diz:  de fato, como podia, um operário em construção, compreender por que que um tijolo valia mais do que um pão?  Ou ainda “ que o operário faz a coisa e a coisa faz o operário”.
 
*Aldi Nestor de Souza
 
Departamento de Matemática-UFMT-Cuiabá
 
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Quarta, 16 Dezembro 2020 10:07

EDITAL DE SELEÇÃO / CONTRATAÇÃO 

A ADUFMAT, ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO, pessoa jurídica de direito privado, com natureza e fins não lucrativos, inscrito no CNPJ/MF sob o nº 14.912.075/0001-53, Av. Fernando Correa da Costa, 2367 - Boa Esperança – Cuiabá-MT/CEP 78060-900 torna público, que realizará contratação para Prestador de Serviços Advocatícios no cargo de Advogado e/ou sociedade de Advocacia, com inscrição regular na OAB, nas seguintes modalidades: 

Prestador de Serviços Advocatícios – A contratação será efetivada por regime de Prestador de Serviços / Autônomo, podendo participar Advogado e/ou sociedade de advogados, em conformidade com seu Conselho, Sindicato e Legislação Específica, devendo para tanto estar com inscrição regular na Ordem de Advogados do Brasil. E comprovar experiência em assessoria sindical e defesa de pautas coletivas de trabalhadores sindicalizados. A remuneração será mensal de R$ 4.982,54 (Quatro mil novecentos e oitenta e dois reais e cinqüenta quatro centavos).

DOS DEVERES DO CONTRATADO:

  1. Elaborar pareceres Jurídicos, Defesa da Entidade, propor e Acompanhar as Ações nas áreas do direito Constitucional, Civil, Administrativo, Trabalhista e previdenciário, propondo medidas judiciais e administrativas quando necessário.
  2. Assessorar e prestar consultoria jurídica aos filiados 01 (uma) vez na semana (na Sede ADUFMAT Cuiabá ou na Sub-sede no interior), no horário matutino, na sede da ADUFMAT, cumprindo rigorosamente o horário especificado, ressalvado os feriados. Caso não haja o cumprimento do horário estabelecido, os dias serão descontados no recebimento do valor dos honorários convencionados.
  3. Poderá a entidade sindical frente à desídia do contratado, contratar outro profissional, para cumprimento temporário das obrigações contratuais. Sendo que os custos desta contração serão descontados dos valores da prestação de serviço pactuados.
  4. O Contratado deverá acompanhar os filiados, inclusive do interior do Estado, em audiências judiciais, sindicâncias e processos administrativos, elaborando defesa e recursos em face da administração pública; com gasto de locomoção, estadia e diária por conta da ADUFMAT.
  5. Propor as medidas e ações judiciais, acompanhando-as em todas as suas instancias.
  6. Quando solicitado, deverá elaborar pareceres jurídicos relacionados aos assuntos sindicais e assuntos que afetem a vida funcional dos filiados, atendendo a urgência de cada caso.
  7. Deverá prestar assistência jurídica nos movimentos de greve, assessorando o comando de greve no trato com a administração pública, fazendo-se presente nas reuniões e Assembléias que seja convocado.
  8. Quando solicitado, comparecer nas assembléias da entidade sindical, prestando assessoria e assistência jurídico à entidade sindical e seus filiados e acompanhar atividades na sub-sedes da ADUFMAT e em âmbitos nacional.
  9. Não poderá participar do processo de contratação o advogado ou sociedade de advogados, que possuam vínculo empregatício com o Serviço Público Federal, devendo o proponente firmar termo de ausência de exercício funcional-administrativo com a administração pública federal.
  10. Havendo falsidade na declaração de não vínculo funcional-administrativo com a administração pública federal, o proponente será desclassificado.

 

Encaminhamento de formulário de inscrição e currículo serão feitas exclusivamente pela internet (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)  nos dias 11 a 17 de janeiro de 2021 no horário 00:00h  a 23:59h . (horário de Cuiabá)

O processo de seleção se dará nas seguintes etapas:

1 – Análise de currículo documentado,

2 – Entrevista, pela plataforma google meet, nos dias 26 e 27 de janeiro de 2021.

3 – Homologação da Assembleia Geral da Adufmat Ssind em 02 de fevereiro de 2021.

Cuiabá-MT, 03 de dezembro de 2020.

Diretoria da ADUFMAT

Cronograma Edital Assessoria Jurídica ADUFMAT Ssind

 

Divulgação do Edital em jornal local e site da Adufmat Ssind

16-12-2020 a 10-01-2021

Inscrições conforme Edital

11 a 17/01/2021

Deferimento das Inscrições no site da Adufmat Ssind

18/01/2021

Recurso

19/01/2021

Resultado do Recurso no site da Adufmat Ssind

20/01/2021

Horário das Entrevistas no site da Adufmat Ssind

20/01/2021

Análise de Currículos

25/01/2021

Entrevistas

26 e 27/01/2021

Resultado no site da Adufmat Ssind

28/01/2021

Recurso

29/01/2021

Resultado Final no site da Adufmat Ssind

01/02/2021

Homologação Assembleia Geral Adufmat Ssind

02/02/2021


CLIQUE AQUI E FAÇA DOWNLOAD DO EDITAL

CLIQUE AQUI E FAÇA DOWNLOAD DA FICHA DE INSCRIÇÃO

Quarta, 29 Abril 2020 19:55

Além de lugares de expressão da fé, várias igrejas, centros e outros espaços religiosos têm também papel fundamental, em muitas comunidades, na concentração de ações de solidariedade voltadas para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Porém, com a pandemia do novo coronavírus, esses locais tiveram que fechar as portas, para diminuir a aglomeração de pessoas.

No entanto, diversos líderes religiosos no país se negaram obedecer as regras de isolamento, postura que gerou muitas críticas. Outra questão que também tem dificultado o combate à Covid-19 é o fundamentalismo religioso, que dissemina, entre os fiéis, a descrença no conhecimento científico e, consequentemente, nas orientações dos órgãos de saúde pública para evitar a contaminação.

Para discutir essas questões, a imprensa do ANDES-SN conversou com o pastor evangélico Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho de Niterói (RJ). Vieira é professor, cientista social, historiador, teólogo, pastor e ator. Constrói o canal Esperançar. Militante de direitos humanos desde a adolescência, ele atua junto a diversos movimentos sociais no Rio de Janeiro e foi vereador pelo PSol na cidade de Niterói, entre 2012 e 2016. Confira:

ANDES-SN: Como o extremismo religioso impacta nas medidas de combate ao novo coronavírus?

Pastor Henrique Vieira: O extremismo religioso é pautado num fanatismo que inviabiliza o diálogo, a escuta, a convivência fraterna. Por tanto, pressupõe uma verdade absoluta fechada em si mesma, que não consegue lidar com a diversidade, por um lado e com o acúmulo do conhecimento humano produzido ao longo da história, por outro.


Estou dizendo isso, porque o extremismo religioso acaba também inviabilizando o diálogo com o campo científico e com aquilo que vem sendo colocado como melhores medidas para combater o novo coronavírus, diminuir o ritmo do contágio para dar tempo de estruturar o sistema de saúde, para salvar a vida de muitas pessoas.

Como o extremismo religioso é fechado em si mesmo e não dialoga com a pluralidade de saberes, nesse contexto, ele também nega o campo científico e, dessa forma, tende a minimizar o problema e a inviabilizar, ou dificultar, que medidas sejam tomadas para realmente conter o avanço do coronavírus na sociedade.
 

Então, é um impacto negativo à medida que desconsidera o saber científico, minimiza o tamanho do problema e gera a leitura, em parte da sociedade, de que o isolamento social não é importante. Tem, na prática, um impacto negativo, que pode influenciar o comportamento das pessoas, aumentar o ritmo de contágio e o número de mortes.

ANDES-SN: Como você analisa os atos de solidariedade encabeçados pela sociedade civil, entidades sindicais e sociais?

Pastor Henrique Vieira: Os atos de solidariedade são fundamentais. Primeiro, para amenizar o sofrimento das pessoas, socorrer quem precisa de ajuda. Aquela frase é tão simples, mas tão correta: "quem tem fome, tem pressa". A precariedade é tão grande que a urgência é muito necessária. Essas redes de solidariedade se tornam essenciais para manter a vida de milhares de pessoas. A solidariedade salva, objetivamente, ainda mais num momento como este.
 

E tem um segundo sentido que é para além de amenizar o sofrimento, na urgência da fome, da precariedade. Acho que a solidariedade é um valor que aponta para um outro mundo. Um valor que denuncia essa lógica de competição, de rivalidade, de individualismo, de meritocracia da sociedade capitalista. A lógica do capitalismo é a lógica da não solidariedade. Cada um por si, e todos por ninguém. Todos contra todos e quem puder se salva. E percebemos que essa lógica é insustentável, tanto do ponto de vista humano quanto do ponto de vista ecológico. Então, a solidariedade, além de amenizar o sofrimento, ela nos sinaliza um outro modelo de sociedade, que possa romper com essa lógica do capitalismo individualista, meritocrático, privatizante do sentido da vida.


Acho que essa rede de solidariedade pode ser a semente de um outro modelo de economia, de produção, de consumo, de relação com o tempo, com o trabalho, com a natureza. Se pegarmos esse valor e, realmente, aplicarmos à transversalidade da vida a cooperação e comunhão, lógicas mais comunitárias de produção da vida.


Então, eu acho que a solidariedade também tem esse valor. Além de amenizar o sofrimento, socorrer quem precisa e aliviar a dor, apontar um outro caminho civilizacional que não seja mais pautado por esse individualismo que torna a vida amarga.

ANDES-SN: A postura do presidente Bolsonaro e de líderes religiosos em manter as igrejas abertas, inclusive para missas e cultos, em tempos de quarentena é bastante criticada. Qual a sua opinião?

Pastor Henrique Vieira: Minha opinião é que essa é uma postura irresponsável, inconsequente, insensível, desumana. Uma postura que coloca em risco a vida de muitas pessoas. Parece até que muitas igrejas, inclusive por força judicial, estão se mantendo na maior parte do tempo, fechadas. Eu não tenho informação sobre como está nesse momento, mas eu acompanhei e vi que muitas lideranças se quer queriam fechar as suas igrejas.

O que está por trás disso é uma experiência religiosa fanática, inconsequente, que não cuida da vida. E, também, tem um outro fator que é econômico. Igrejas cheias, dentro dessa lógica, de determinadas lideranças, significa arrecadação alta. Então, em certo sentido, estão se preocupando mais com o bolso do que com a vida.


Cabe dizer, e é importante dizer isso, que eu sinto saudade do encontro presencial da minha igreja. Que essa dimensão comunitária do culto, da comunhão, no espaço da igreja, é uma dimensão muito importante para mim e para milhões de brasileiros.


Não se trata de dizer que isso é fácil, que não se encontrar na igreja é tranquilo. Não é. Tem dor, sentimos falta, pois faz parte da nossa tradição de fé cantarmos juntos, orarmos juntos, lermos a bíblia e orarmos, presencialmente, uns pelos outros. Há uma dimensão comunitária presencial que é muito importante nas nossas vidas, só que, o isolamento social é uma necessidade para preservar vidas. Embora a gente sinta saudade e faça falta na nossa vida, é consequente, consciente e necessário e é, na verdade, uma atitude de amor, que nesse momento, os encontros coletivos nas igrejas não aconteçam.

E eu acho que isso é fruto de uma espiritualidade que compreende a vida, que coloca o amor como centro e que procura cuidar das pessoas - da gente e do próximo. Sentimos saudades, pois o valor comunitário é muito importante para nós. Só que o isolamento social é uma necessidade e nesse momento um ato de amor, de cuidado com a gente e com o próximo.

ANDES-SN: Qual seria a postura aconselhável de igrejas e de líderes religiosos neste momento, em que milhares de pessoas estão infectadas e outras tantas desempregadas e desabrigadas?

Pastor Henrique Vieira: Aquelas igrejas que têm acesso às ferramentas de internet podem usar as redes sociais para produzir conteúdo, estudo bíblico, compartilhar palavras de consolo e esperança. Inclusive o próprio whatsapp é um mecanismo, eu acho que dos mais populares em termos de redes, que pode ser muito utilizado para compartilhar devocionais, estudos bíblicos, palavras de consolo, palavras de esperança. Acho que a igreja tem essa responsabilidade, de produzir consolo, de apontar caminhos usando os meios mais responsáveis nesse momento.  Então, por que não usar as redes sociais, as múltiplas possibilidades disponíveis para levar às pessoas uma palavra de acalanto, de consolo, de cuidado, de carinho e de esperança?

Por outro lado, não menos importante em hipótese alguma, as igrejas devem participar, de maneira responsável e com logística responsável, de campanhas de solidariedade, de arrecadação e distribuição de alimentos. Sempre zelando pela higienização, pela forma correta de fazer, colocando o menor número de pessoas em deslocamento, mas participando ativamente de campanhas de solidariedade para amenizar o sofrimento, para distribuir alimentos, para impedir que pessoas passem fome. Inclusive, acho que essa é uma tarefa ética da igreja, a partir da nossa fé em Jesus.

Consolo, esperança e solidariedade, do ponto de vista objetivo, acho que é um caminho mais responsável para igrejas e lideranças religiosas. É o que temos procurado fazer com humildade, com coragem e com amor. 

*As opiniões contidas nesta entrevista são de inteira responsabilidade dos entrevistados e não necessariamente correspondem ao posicionamento político deste Sindicato