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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Roberto de Barros Freire*
Ao acompanhar a ida de Bolsonaro para os Estados Unidos, percebe-se uma criança encantada com o mundo avançado, grande, forte dos parques de diversões norte-americanos. O homem submisso, subalterno, foi conceder privilégios ao Sr. Trump, sem nada pedir em troca. De agora em diante, enquanto somos tratados como capachos nas alfândegas dos Estados Unidos, os norte-americanos são tratados como pessoas acima de qualquer suspeita nas alfândegas brasileiras, sem precisar de visto.
Aliás, para Bolsonaro, os emigrantes são todos bandidos, e os brasileiros que fogem da violência social e econômica do Brasil envergonham as “autoridades” governamentais. Enfim, Bolsonaro e o seu ministro das relações exteriores nos fizeram de capacho de Trump, encantados com vagas promessas que em nada nos beneficiam, achando que fizemos grandes conquistas ajoelhados diante dos EUA. Ora, entrar para a OCDE pode parecer um grande passo para alguém minúsculo como nosso presidente e seu ministro, mas na verdade é algo mais simbólico do que efetivo, e já fomos convidados antes e recusamos o convite; não é por mérito do governante, mas pela solidez do país que se adentra nessa organização.
Ah! Sim! Vamos ganhar uns trocos com o lançamento de foguetes de nossas terras. Se é que ocorrerão, pois é bem provável que o congresso mele esse “acordo”, como já fez no passado, inclusive com voto do Sr. Bolsonaro. De qualquer modo, com certeza não ficaremos nem mais ricos nem mais pobres com esse evento, e, digamos, não precisaríamos gastar tanto numa viagem presidencial para conseguir tão pouco.
Por fim , fomos convidados para fazer parte da OTAN, o que para mim é um atraso, pois as guerras por anexação se encerraram com o fim da segunda guerra mundial. E se essa aliança militar fez sentido até os anos oitenta do século passado, de noventa para cá, é mais uma estrutura onerosa do que útil, mais garante emprego para militares do que nos protege de ameaças.
O rude, o bronco e o grosseiro presidente Bolsonaro ofendeu os brasileiros diante das autoridades norte-americanas, falando mal de governantes passados, falando mal de nossas relações com a China e com o continente americano, enfim, querendo afirmar que só depois dele nos tornamos “civilizados”, e que antes dele só haviam animais. Ele parecia mais encantado em realizar um velho sonho – ficar entre os grandes sendo alguém pequeno – do que preocupado em fazer o melhor para o país.
O mais triste é ter que suportar os chatos dos filhos do presidente, em todo lugar, custando caro ao país e sempre presentes em todas as circunstâncias, sem nenhum desconfiômetro. Um presidente fraco, pequeno, precisa de outros para se sentir forte. Elegemos um presidente e temos que carregar três tranqueiras juntos.
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Ainda que possa parecer que já vivemos coisas demais em 2019, não terminamos, sequer, o seu primeiro trimestre.
É claro que cada ano, ao contrário do que gostaríamos, traz consigo suas tragédias. Todavia, o início deste ano parece já ter superado – em quantidade e intensidade – tragédias de outrora, que não foram poucas. Pior é a sensação de que há infortúnios (objetivos e/ou subjetivos) que poderiam ter sido evitados. Cito dois: a) sem considerar os incalculáveis danos ambientais, provocados pela Vale do Rio Doce, em Brumadinho-MG, até agora, além dos que literalmente perderam o chão, 207 são os mortos e 101 os desaparecidos; b) o incêndio que matou dez adolescentes na Toca do Urubu, um dos alojamentos do Flamengo.
Mais distante das previsões, mas não das precauções necessárias e possíveis, está o massacre da Escola Estadual Prof. Raul Brasil de Suzano-SP; além dos feridos, foram dez adolescentes mortos, incluindo os dois assassinos, ex-alunos daquele colégio.
E o que dizer dos crimes contra as mulheres em nosso país?
Tragédias em mosaico. Por aqui, uma mulher, vítima da violência, incluindo o feminicídio, é morta a cada duas horas. De 2016 a 18, o aumento foi de 34%.
Pois bem. Até agora, tratei das tragédias vistas como tais; por isso, podem ser consideradas como ocorridos perceptíveis a olho nu. Contudo, há outros acontecimentos, inscritos no plano do subjetivo, que podem e devem ser compreendidos como trágicos.
Nesse sentido, mesmo sabendo que há controvérsias, a primeira das tragédias de 2019 foi a chegada de Bolsonaro como presidente. Essa tragédia será insuperável; Pior: ela ainda mal começou a mostrar sua verdadeira face.
Mais: ela tende a durar o tempo que os militares – trazidos democraticamente a espaços importantíssimos do poder – quiserem. Aliás, Bolsonaro, “sem querer”, meio que já cantou essa bola. Assim, quando se “precisar” interromper a presença de civis no Palácio do Planalto, a probabilidade de isso ocorrer é enorme, e será apenas mais um lance de desdobramento da tragédia em pauta; aí, sim, poderemos fazer o redimensionamento de seu significado de forma mais ampla. Por ora, “...é viver um dia de cada vez...”.
Mas por que a vitória de Bolsonaro é tragédia, se ele foi eleito por quase 58 milhões de brasileiros, ou seja, 39,2% dos eleitores?
Por isso mesmo, pois 89 milhões (61,8%) não votaram no atual presidente. Nesse contingente, estão os que sequer foram às urnas, os que votaram em branco e os que optaram pelo nulo, que é voto legítimo quando os opostos se atraem, mesmo quando se consideram diferentes.
Pergunto: essa tragédia poderia ter sido evitada?
Sim. Bastava o PT não ter insistido na derrota anunciada de Haddad. Bastava uma aposta política com travessia menos intranquila, fosse com Ciro, Marina... Tudo, menos aquela polarização.
E por que o governo Bolsonaro é trágico para o país, incluindo os seus eleitores?
Porque veio do baixo clero, e a altura do cargo não o tornará maior, ou melhor. Porque – além de ser o patriarca que já viu um dos filhos condecorar milicianos – é um moralista a serviço do projeto neoliberal; por isso, tentará privatizar e aprisionar até nossos pensamentos.
Enquanto isso estiver em processo, principalmente por meio de intervenções reacionárias na educação, o governo tentará fazer profundas modificações na Previdência, que atingirão principalmente os trabalhadores, independentemente se optam pelo vermelho ou se deitam no berço em nada esplêndido do verde e amarelo.
ELEIÇÃO ADUFMAT 2019: LUTO PELA UNIVERSIDADE PÚBLICA! - Aldi Nestor de Souza
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Publicamos a pedido do prof. Aldi Nestor de Souza.
Lembramos que a eleição para a diretoria da Adufmat-Ssind, biênio 2019-2021, será na próxima quarta-feira, 20/03/19.
LUTO PELA UNIVERSIDADE PÚBLICA, ELEIÇÕES ADUFMAT 20/03/19 - Aldi Nestor de Souza
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Por Roberto de Barros Freire*
Sem dúvida que o atentado à escola em Suzano/SP foi coisa de pessoas perturbadas, incapazes de sentimentos humanos. O que leva alguém a querer matar tantas pessoas e depois se matar é algo inexplicável para pessoas normais, que dão valor a vida, que respeitam o direito de todos. Só alguém aloprado se considera superior aos demais, capaz de impor aos outros suas vontades, e dizimar vidas humanas.
Mas, se o acontecimento por si já foi algo horrível, ainda pior foram os comentários do senador Major Olímpio. Insensível à dor de todos, defendeu de forma oportunista sua bandeira armamentista. Aloprado, defende que os professores andem armados, não para acabar com os tiroteios, mas para ter mais pessoas atirando nesse país repleto de bala para todo lado.
Percebam a loucura do infeliz senador. Ao invés de propor um detector de metal na entrada da escola para impedir a entrada de armas, ele propõe armar os professores para revidar os tiros recebidos: com que recursos? Se a arma é um instrumento de trabalho, segundo o insano Major Olímpio, a secretaria de educação é que fornecerá essas “ferramentas” ao professor? Comprar uma arma é coisa de rico, e professor não dispõe de salário para ter uma arma; com o que custa uma arma, compraria antes uma motocicleta para si. Supondo que a secretaria de educação fornecesse as armas, ele transportaria da escola para a casa e da casa para escola, nos ônibus, pelas ruas, ou deixaria a mesma na escola? As escolas, todos sabem, são furtadas até por causa de sua merenda, imagina quantos bandidos não atrairia para roubar as armas dos professores. Ficar andando pela rua armado é não só perigoso, como insano, uma vez que são pessoas despreparadas, pois só a polícia possui esse preparo, e mesmo assim estamos cansados de ver os desastres.
Segundo esse incapaz senador, teríamos que mudar as licenciaturas: sai didática, filosofia e psicologia da educação, entra tira ao alvo, defesa pessoal e o uso de armas brancas: faca e machado. Enfim, o professor guardião armado, preparado para o combate, porém despreparado para a sabedoria e o conhecimento, vigiará crianças e adolescentes contra possíveis ataques, e quando der, ensinará alguma coisa trivial.
Major Olímpio é para mim um terrorista, ampliando a insegurança escolar, não sendo uma pessoa razoável e ocupando um lugar com tanto poder. Um serviçal da indústria armamentista que está mais interessado em aumentar o mercado das armas do que resolver o problema da violência. E o que é pior, sem dar um palpite ou sugestão de como manter os jovens nas escolas – como é obrigação do Estado – para não se tornarem criminosos, querendo apenas punir os jovens abandonados por esse Estado ruim, com senadores ainda piores, diminuindo a menoridade penal. Quer penalizar duplamente nossos jovens, de forma maldosa; o jovem que foi penalizado por não ter recebido educação do Estado, será penalizado por não ter sido educado.
Os limites mentais desse senador assustam, não apenas pelas bobagens que diz e defende, mas pelo fato de ter instrumentos para por em prática suas idiossincrasias. Um senador atrasado, bruto, rústico, terrorista, querendo apenas armar as pessoas, sem outra atuação ou militância que seja penalizar adolescentes pelos crimes dos adultos, ou armar as pessoas para que todos resolvam suas desavenças pela bala. No congresso, sobram trogloditas e faltam humanistas. Todos querem endurecer as leis erradas e abrandar as leis boas até torná-las fracas.
Em minha opinião, esse senador deveria ser repreendido por emitir ideias inadequadas, pois ainda que se tenha liberdade de ideias, não se pode utilizar tão alto posto público para bradar ideias desumanas, arbitrárias e insanas. Deve haver um limite mesmo a imunidade parlamentar, pois que há ideias como a desse senador que podem ser nefastas. Como membro do senado deveria ter um comportamento mais adequado ao posto, e não reagir como um bárbaro sanguinário, e pronto para ver tiroteio nas escolas, a defender suas ideias até mesmo sobre as dores de todos.
Para mim, esse senador é um assassino em potencial, só faltando o pretexto para matar alguém. Antes de defender o direito a legítima defesa, defende a o direito de matar quando se vê ameaçado, e ameaça pode ser qualquer coisa, até mostrar a língua.
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Paulo Wescley M. Pinheiro
Os primeiros meses de 2019 se arrastam. Entre tragédias ambientais, incidentes, acidentes, caricaturas de seres humanos no poder, espraiamento da violência, reverberação do preconceito e anestesia geral na indignação coletiva organizada caminhamos naturalizando a unidade Estado Penal/Mercado ditatorial como elemento inexorável. A vida cotidiana sangra.
Na Nova Era dos Mitos, abrimos nossa caixa de Pandora e soltamos os espíritos da barbárie com a autorização simbólica da agressividade, das práticas bélicas como costume e da falsificação do real como religião. Não é só pau e pedra, são os tiros de sempre e, cada vez mais, achamos que é o fim do caminho.
Na enxurrada diária mães e pais choram crianças mortas, enlameadas, incendiadas, assassinadas. Quem acha que não estamos produzindo a barbárie na sociedade da exploração, opressão e da repressão comunga com acomodação de uma vida sem sentido, da banalização do que é humano e das dores inimagináveis.
Sempre que somos acometidos por diversas tragédias um dessabor se espraia no cotidiano e logo surgem as mais diversas explicações para o conjunto de desgraças. Quando nossa lama não é somente moral, mas concreta, afogando trabalhadoras e trabalhadores, quando jovens sonhadores são carbonizados enquanto sonhavam serem jogadores de futebol, quando o vermelho perseguido não é somente ideológico, mas principalmente do sangue da juventude negra, da população LGBT e de tantas outras pessoas historicamente oprimidas, quando crianças são alvejadas friamente por jovens com seus troféus bélicos nas mãos, quando as farsas tomam contornos trágicos, quando os mitos desmascaram-se do seu moralismo e o conjunto da obra aparece em noticiários... quando tudo parece (e é!) um caos se estabelece o desencanto.
Nesses momentos, não é incomum buscarmos no pensamento mágico as justificativas mais mirabolantes. Sobre os crimes ambientais e sociais assinados por CNPJs, ao invés da inoperância da regulação pública e da revelação pujante do aspecto mais feroz da mão invisível do mercado, despejamos as lágrimas e a direção dos olhos para o sobrenatural: castigo divino, provações, nuvens carregadas sobre o país, energia negativa, a via crucis de sempre. Quanto aos mitos e mentes perversas... a fé de sempre: o fundamentalismo religioso condimentando as notícias falsas.
Um tsunami por dia se estabelece na vida brasileira e não há sequer tempo para digerir um novo escândalo, uma fala bizarra de uma ministra, um depoimento irracionalista de um ministro, uma soberba descabida de um deputado. Ao mesmo tempo, não há como não engolir a seco os números, as mortes, o medo social diante da barbárie.
Assistimos, ainda estarrecidos, a universalização do sofrimento vivenciado nas periferias. O caminhar cheio de incertezas diante da vida, a convivência imposta diante da possibilidade da morte. O gosto amargo da vivência caótica nivela por baixo nossa indignação e o tempero dos discursos é puro torpor. As coisas se misturam, a avalanche de notícias nos toma, o espetáculo mórbido da vez precisa de seus espectadores.
Dos programas policiais aos cultos televisivos permanecemos aprofundando uma overdose de obscenas formas e cores de intolerância, descasos e modos de jogar para debaixo do tapete a complexidade do que vivemos. O nosso almoço é temperado pelo espetáculo das dores. Contra o ódio? Mais ódio! Contra as armas? Mais armas! Contra as mentiras? Mais mentiras! Contra as interrogações das perguntas difíceis, as exclamações violentas e repletas de cinismo.
Diante de tal quadro há muitas formas de pseudo-escape. A negação “memética” do ciberespaço, acostumada ao “desespero que é rir de tudo”, zombando do que chama de politicamente correto e dissimulando a famigerada liberdade de expressão. Há ainda as pequenas frestas de humanidade, evidenciando o reconhecimento da dor do outro, a empatia momentânea, ainda que se expresse quase sempre no minuto anterior das justificativas místicas e da resignação fatalista diante do suposto imponderável.
No entanto, a energia que nos falta não é a do pensamento positivo, não é uma nuvem sobrenatural que nos acomete. Nossa tragédia é material, se concretiza quando degustamos cotidianamente a desumanização e cozinhamos nossas possibilidades nos fornos do protofascismo ou na fogueira das vaidades.
Entre a aurora assombrosa e o crepúsculo de fios de esperança costuramos nossos dias, com seus tecidos de contradições, limites e possibilidades, com a materialização de pesadelos e a necessidade de reconstruir sonhos coletivos. Os espaços genuinamente da classe trabalhadora ainda cheiram mofo, estão cobertos pelas migalhas neoliberais, conciliatórias e/ou pós-modernas. O ar rarefeito do carreirismo ainda toma de conta e a ausência de experiências humanizadoras grita: é a lama, é a lama!
Quando o trágico é naturalizado, quando aprendemos a arte de catapultar suas causas e condicionalidades para o além ou para o aquém, matamos também a nossa possibilidade de reação. E quando, por um instante, a sensibilidade nos permite criar laços com aqueles que sofrem, vem o conjunto de uma sociabilidade alienada e alienante, com seu anzol e suas iscas, transformando o laço em nó... na garganta.
No terceiro mês do ano colecionamos perdas irreparáveis, muitas pessoais, outras tantas coletivas. As tórridas águas da onda da Nova Era anunciam o aprofundamento de um cotidiano cada vez mais distante de condições dignas de vida. O desmantelamento das esfareladas políticas sociais, as contrarreformas em curso, a educação punitivista e militarizada, a hostilidade como política e a a autorização simbólica para matar.
Se as lágrimas de março fecharão o seco verão não sabemos, mas já é hora de pensarmos em florescer uma nova primavera dos povos. Se não pararmos de constituir uma lógica desumanizadora, cada dia mais, nos amorteceremos diante da morte. O fast food de escândalos e tragédias tendem a acostumar nosso paladar. No espetáculo do caos o aperto no peito faz parte do combo. Até quando?
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Agora é pra valer: o carnaval e o pós-carnaval terminaram mesmo, mas não sem deixar debates e embates.
Há muito tempo, o carnaval não nos marcava tanto, pois as críticas políticas foram revigoradas; ganharam personagens até então ignoradas pelo público, como, p. ex., as figuras e as ideias bizarras de Bolsonaro e sua turma.
Dentre tudo que visto, como não ter se emocionado com o desfile da Mangueira? Mais do que expor críticas sociais e políticas deste perigoso momento pelo qual estamos a atravessar, o samba-enredo da Mangueira – “História pra ninar gente grande” – serviu como maravilhosa aula de história, de cultura brasileira, de arte; em resumo, de sensibilidade, de brasilidade.
Diante de tanta beleza estética exposta neste carnaval, ficou a impressão de que o momento político que vivemos deu novo ânimo às festas de Momo, mesmo com as dificuldades impostas por diversas prefeituras, dentre elas a do Rio, cidade, por natureza, tão maravilhosa quanto carnavalesca.
Muitas das prefeituras que tentaram “atravessar o samba” tomaram essa decisão não para conter gastos, como alegaram, mas por conta do moralismo-cristão que visa tomar conta do país, feito sombra repugnante herdada do medievo.
Do moralismo imperante, o destaque mais negativo ficou por conta da visibilidade que o presidente da República, em sua rede social, deu para um fato ocorrido isoladamente em desfile de um bloco paulistano: dois rapazes praticaram, em público, o golden shower (“ducha dourada”; ou seja, urinar sobre o/a parceiro/a).
Em nome da maldita “indignação” e do “repúdio” a “cenas imorais”, repito, compartilhadas pelo presidente Bolsonaro em sua rede social, atitude, aliás, bem próxima das produzidas por beatos fofoqueiros, quem não sabia passou a conhecer de mais essa modalidade de prática sexual, exercida por um contingente de seres humanos.
Portanto, pior do que a cena escatológica em si, inicialmente circunscrita a poucos internautas, foi a visibilidade lhe dada, inclusive no plano internacional. Tudo por conta do moralismo do presidente da República.
Nesse sentido, a capa da Revista Veja, desta semana, resume tudo isso, dizendo que ao divulgar aquele “vídeo pornográfico”, “o presidente Bolsonaro fica menos presidente e mais Bolsonaro”. Assim, provoca a “morte do decoro”; e se esse tipo de assassinato não lhe render um impedimento, já não lhe isentou de um grande desgaste político, principalmente sob o olhar do estrangeiro.
Pois bem. Se Bolsonaro fosse menos preconceituoso e preocupado com a vida alheia, saberia que, antes de tudo, por mais aberração que pudesse ser um golden shower, o carnaval é parênteses nos calendários religioso e civil, concedidos pela própria Igreja Católica desde idos tempos. O carnaval, diferentemente da Paixão de Cristo, é a festa da carne; por isso, é mais humano e menos cínico do que qualquer outra festa.
Sendo assim, na condição de parênteses, nele tudo cabe, inclusive o golden shower, que, segundo os praticantes em questão, não passou de mise-en-scène para estabelecer uma crítica política deste momento, que continua tão asqueroso como antes.
Aliás, mais do que nojento, vivemos um momento de incertezas; daí, perigoso. Tão incerto que, diante de tantas aberrações, muitas vindas da própria família Bolsonaro, já há apostas no sentido de se saber quanto tempo o presidente conseguirá permanecer no poder.
Em outras palavras, quanto tempo faltaria para o vice – que é um militar – tomar assento na cadeira presidencial.
DEMOCRACIA E SAÚDE - Juacy da Silva
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JUACY DA SILVA*
No período de 04 a 07 de Agosto próximo será realizada em Brasília, a 16a. Conferência Nacional de Saúde, tendo como tema “Democracia e Saúde: saúde como como direito, consolidação e financiamento do SUS”.
Para facilitar as discussões e agregar as contribuições oriundas de uma ampla participação popular que deverá ocorrer no país inteiro, nas conferências municipais, regionais e estaduais, que já estão em curso; o Conselho Nacional de Saúde, responsável pela convocação desta conferência nacional, desdobrou o tema em eixos temáticos.
Esses eixos temáticos, em torno do qual os participantes serão distribuídos são: I – Saúde como direito; II – Consolidação dos princípios do SUS e III – Financiamento adequado do SUS.
Esta será a 16a. Conferência Nacional e tem um significado especial como o Conselho Nacional tem enfatizado, no que poderíamos demonizar de 8a. + 8 = 16, destacando o papel fundamental que representou a 8a. Conferência Nacional ocorrida em 1986, quando foram aprovadas as diretrizes para a criação do SUS, no que foi também a primeira conferência nacional que contou com ampla participação popular, tanto nas discussões quanto na formulação de propostas que iriam estar também inseridas na Constituição Federal de 1988.
O SUS foi criado através da Lei Federal 8080, de 19 de setembro de 1990, atendendo aos princípios contidos na Constituição Federal de 1988, nos artigos 196 até 200; cabendo destaque que, pela primeira vez na história do Brasil a saúde, de forma explícita e clara, com fundamento na Constituição estabelece que:
“ Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)”
A Lei de criação do SUS, detalhou de forma mais clara o sentido da saúde como direito das pessoas e obrigação do ESTADO, ou seja, da União, dos Estados federados e Distrito Federal e dos municípios, deixando claro que cabe a esses entes públicos, através de outras politicas publicas, além da politica de saúde propriamente dita, em sentido restrito; prover condições para que a saúde, além de cuidar das doenças, também atenda `a uma definição estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), organismo especializado da ONU, da qual o Brasil participa e é signatário de todos os seus tratados, inclusive os relativos `a saúde.
Para a OMS saúde não é apenas ausência de doenças, mas também o mais completo bem-estar físico, mental e emocional e, em sendo assim, não podemos falar em saúde publica quando mais da metade da população brasileira não tem acesso a esgoto tratado e o meio ambiente sendo desrespeitado e totalmente degradado no país inteiro; onde milhões de famílias vivem na pobreza e passam fome; onde faltam leitos hospitalares, profissionais de saúde; equipamentos e recursos financeiros e orçamentários, quando o Brasil gasta por ano mais de 46% do Orçamento Geral da União com pagamento de juros e serviços de uma divida publica que alimenta a agiotagem do Sistema financeiro nacional e internacional; quando a União abre mão e deixa de arrecadar mais de R$350 bilhões por ano em renúncia fiscal e outro tanto em subsídios a setores e grupos econômicos que se capitalizam `as custas do tesouro e do sofrimento do povo, além de bilhões que são sonegados em todos os níveis, ante a passividade do Estado.
Se o Brasil é realmente um estado democrático de direito, com a Constituição e as Leis sendo cumpridas de fato e não uma democracia corrompida e que cria privilégios para os donos do poder e grupos econômicos que alimentam um Sistema e processo político-eleitoral corrupto; o SUS, que em breve estará completando 29 anos, deveria estar funcionando “às mil maravilhas”, dentro de seus princípios, bases legais e constitucionais, o que não acontece.
Enquanto dezenas de milhares de pessoas sofrem nos corredores de hospitais, postos de saúde ou nas filas visíveis e invisíveis, os donos do poder, os governantes passados, presentes e com certeza futuros estarão fazendo belos discursos e promessas durante os períodos eleitorais e, depois de eleitos e empossados, fazem “ouvidos moucos”, pouco ligando para a miséria e sofrimento do povo.
Em torno de 77% da população brasileira, que coincide com a grande massa de trabalhadores, empregados, desempregados, subempregados e aposentados, dependem única e exclusivamente do SUS para os seus cuidados com a saúde, por ano milhares de pessoas, em todas as faixas etárias continuam sofrendo e morrendo devido à precariedade em que se encontra a saúde publica em nosso país, mesmo com a constante judicialização da saúde, último bastião que o povo recorre para garantir um direito líquido e certo que consta da Constituição de forma expressa , da Lei de criação do SUS e demais disposições existentes em nosso complicado e ordenamento jurídico e moroso Sistema judicial.
Para que a saúde seja de fato um direito do cidadão e dever do Estado, é fundamental que a democracia também seja algo verdadeiro e não um conjunto de princípios, ideias e ideais em que poucos são cumpridos.
Este é o sentido desta 16a. Conferência Nacional de Saúde e das conferências regionais, municipais e estaduais que as antecedem, como a de Cuiabá que terá inicio no próximo sábado e se estenderá até os dias 10 a 12 de abril próximo.
Sem ampla participação popular, controle social e transparência tudo isso continuará apenas como meros desejos, fantasias e letra morta, enfim, um mundo de fantasias; enquanto pessoas também estarão morrendo por falta de atendimento.
Defender o SUS é defender não apenas os direitos humanos, sociais e políticos, mas também é defender a vida em sua plenitude, principalmente das camadas mais pobres, os excluídos, é também defender a democracia, em seu sentido verdadeiro.
Se o povo , principalmente quem tem apenas o SUS como garantia do direito à saúde, não defender o SUS e aguardar que os donos do poder, grupo privilegiado e seus asseclas, o defendam; não vai demorar nossos governantes irão acabar com o SUS como estão fazendo com a Previdência e a Seguridade Social.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
GATOS UNIVERSITÁRIOS - Aldi Nestor de Souza
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Por Aldi Nestor de Souza*
Eles vivem ali. No meio das engenharias, das arquiteturas, das informáticas, das matemáticas, das biologias, das letras, das filosofias. Bem no meio acadêmico, no campus universitário. Alguém lhes traz comida, água, carinho e até veterinário. Ali eles comem, cagam, mijam, se reproduzem, crescem e morrem. Ali eles miam e desafiam.
Ninguém sabe ao certo quantos são. Mas são muitos. Talvez centenas. Minha primeira impressão sobre a presença dos felinos no campus foi a de que, famosos pelo mito de sua frieza, estavam num lugar que lhes parecia familiar. A universidade, como todos sabem, é um lugar frio. Um lugar essencialmente preocupado com resultados, com números, com títulos, com desempenho, com sucesso. Um lugar em que as relações humanas, os sentimentos, as dores, as fraquezas, os dissabores, não tem lá muita importância, posto que não podem ser medidos com números. E, assim sendo, parece um habitat natural pros felinos.
Mas comecei a perceber uma importância vital dos bichanos, pra universidade, no dia em que presenciei uma sesta. Foi assim. Um estudante estava sentado no chão, sozinho - há muita gente sozinha no campus universitário - em uma das galerias, descansando do almoço e aguardando as aulas da tarde. No meio de suas pernas, tinha um gato, esparramado no chão, dormindo e tendo a barriga alisada pelo estudante. Isso mesmo, um cafuné enquanto chega a hora da aula.
Pode parecer pouco, ou bobagem, mas não é. Um gesto de afeto, uma carícia, um dengo, como esse da sesta, é, muitas das vezes, crucial para um estudante ou para um professor, solto num lugar frio como é a universidade. Nunca é muito lembrar que estudantes e professores universitários andam adoecendo e até se matando. Tem doença mental em crescimento na academia, tem suicídio como nunca, tem competição que não acaba mais, como consequência de uma vida avaliada pelo currículo e pelo rigor das datas e prazos massacrantes.
Os gatos, na universidade, são, portanto, uma experiência inumérica, uma experiência fora do valor. São apenas afetos. Não entram no lattes. Não entram nos planejamentos. Não entram nos relatórios. Não entram nas progressões. Não entram nos projetos. Os gatos são refúgio num mundo mediado pela necessidade de parecer mais.
Há casos em que os gatos são as únicas companhias que muitos ali tem. Há alunos que, diariamente, vem e voltam da universidade sem ter com quem dizer uma palavra – são os sem espaço, os que ficam pra trás, que se perdem no curso, que se perdem dos colegas, que não se reconhecem na universidade -. E é ali, nos corredores, sentindo a textura da barriga de uma felino, que relaxam um pouco da dureza de saber que não vão dar certo na academia.
Há muitos casos pitorescos espalhados universidades afora. Tem, por exemplo, o caso de Jeferson, que é um gato que atende pelo nome. Se você o chamar, ele vai e não quer nem saber quem você é. Jeferson já está velhinho, muito gordo, anda com dificuldade e parece muito mais interessado em atenção do que qualquer outra coisa. Jeferson parece desmontar o mito da frieza dos gatos.
E há casos em que o afeto é tanto que transcende a relação gente x gato. Foi o que ocorreu em consequência da morte de um gato, universitário, muito conhecido e querido no campus e que morreu de velho. Os amigos mais próximos, em sinal de dor e carinho, resolveram lhe sepultar com cerimônia. Trouxeram-lhe velas, fizeram oração, choraram.
Mas os gatos, apesar de tudo, tem muitos, mas muitos adversários no campus. Há quem os encare como um problema de saúde pública. De vez em quando alguém os denuncia às autoridades universitárias e até, noturnamente, intenta contra a vida deles, pondo veneno em suas comidas. E eles morrem aos montes.
Mas nascem.
E assim que nascem, ainda cambaleantes, saem miando, desafiando e entrando nos lugares mais improváveis: nas salas de aulas, nas salas dos professores, nas cantinas, nos laboratórios, nos centros acadêmicos, a mostrar que, como diz a canção, “nós, gatos, já nascemos pobres, porém, já nascemos livres. Senhor, senhora ou senhorio, Felino, não reconhecerás.”
*Aldi Nestor de Souza
Professor do departamento de matemática da UFMT/Cuiabá
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Roberto de Barros Freire*
Gostaria de abordar outros temas, mas os ministros de Bolsonaro não deixam semana sem algum acontecimento no mínimo bizarro, para não ser grosseiro e falar um palavrão. Se não os ministros, os filhos queridos expulsando pessoas do governo através de pressão sobre um pai frágil e fraco são também constantes desde o início do governo. E ainda há, é claro, problemas com a justiça por todos os lados, dos filhos aos ministros. Exceção nos militares, por enquanto, pois o poder tem muita capacidade de corromper os bons e atrair os maus.
Toda pose da campanha de Bolsonaro, que seguiria preceitos técnicos nas suas escolhas, que daria carta branca para esses técnicos, seriam superministros que dariam a decisão final, livres para formarem suas equipes sem intromissão sucumbiu na semana que passou, enfim, o recente caso de censura na escolha técnica do Sr. Moro revela o que só os ingênuos não sabiam: Bolsonaro é igual ou pior que os demais políticos, praticando a política miúda por quase 30 anos no congresso sem ser notado. E também que os ministros não são aqueles homens de princípios, técnicos, pois todos eles cedem tudo a visão pequena e estreita do chefe capitão. Apegam-se ao cargo antes que aos princípios.
Moro, por exemplo, deveria pedir demissão para a preservação de sua biografia, ao invés de se submeter à ordem palaciana que passa por cima de sua consciência (terá uma?), de sua visão do que é justo e necessário para se obter um mundo menos violento, ao seu projeto. Enfim, escolheu ficar com o poder antes do que com o certo ou o justo. Como todos tolos atraídos pelas luzes do poder, encantado com o domínio de pessoas e instituições, desfrutando das benesses do Estado e mais ainda do governo, acha que se submetendo às intempéries do chefe conseguirá levar adiante um projeto que já fracassou ao se submeter ao injusto, ao arbitrário, ao autoritário, ao pouco republicano.
Creio que Bolsonaro escolheu seus ministros porque os mesmos ou são fracos e ideológicos, com certeza, parte dos seus auxiliares vivem em um mundo paralelo, que se encantam com fantasmas, dragões e moinhos de ventos sem verem a realidade, e, portanto, nada ameaçam o chefe, ou estão encantados com a proximidade do poder e acreditando que poderão usar o poder do chefe para impor suas vontades, quando na verdade é Bolsonaro que se apropria da grife dos seus técnicos. Tanto Moro como Guedes, os supostos superministros, engolem mais sapos do que conseguem convencer o “chefe” de suas assertivas.
No fundo, nem Bolsonaro, nem seus ministros tem conhecimento para realizarem uma boa política social e econômica. O governo se perde e se pega em questões pequenas, coisas diminutas, insignificantes, vendo conspiração por toda parte, combatendo a esquerda que está afastada a tempo do poder.
Uma pessoa sem grandeza não consegue atrair os grandes, apenas os pequenos ditadores, oportunistas e autoritários querendo impor uma visão estreita de vida e mundo. Cercado e ouvindo apenas as mesmas ideias acaba-se acreditando ser esta a única ideia certa. Como não entram nos debates, ou ofendem os adversários, ou deletam o que não suportam ouvir, acabam acreditando que sua visão é “majoritária”, ou única, ou certa, pois só estas ouvem.
Vejam que Bolsonaro escolhe a imprensa, censura e boicota jornais e meios de comunicação. Como criança pequena, não suporta conviver com a diferença e apenas quer eliminá-la da vista de todos, mas principalmente de si mesmo. Como só lê o elogio, não consegue perceber o mal que lhe causa os aduladores, e do bem que lhe falta ao querer impedir toda e qualquer crítica, como se a mesma fosse destrutiva. Sinceramente, desde que comecei a votar em 1976, considero esse governo o mais despreparado, o que mais improvisa, sem um projeto de país, correndo atrás de solução de problemas que nem imaginava existir; governo preenchido por afinidades ideológicas e sem qualificação técnica ou científica para exercer suas funções.
Ainda que possa observar alguma exceção nos ministros militares, reconhecendo neles uma boa formação técnica, temo que de pouca serventia seja para salvar-nos de um retrocesso histórico, político, cultural e social, pois é a pequenez política, a falta de grandes gestos republicanos o que impera na atuação política desse governo, cheio de inexperientes e incapazes de perceberem o atraso de suas posições. E quem mais atrapalha as propostas políticas dos técnicos governamentais é o próprio presidente; até o momento suavizou a política anticrime de Moro e ameniza a reforma previdenciária do Guedes. Se algo der certo na vida nacional será apesar do governo, não pelo governo, o que é muito comum acontecer nesse país.
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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