CARTA ABERTA DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA/IGHD SOBRE A FEIRA ESTADUAL DA REFORMA AGRÁRIA - Anderson Reis
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Publicamos a pedido do professor Anderson Reis
Entre 14 e 16 de agosto de 2025, foi realizada, na praça do Restaurante Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá, a Feira Estadual da Reforma Agrária – um evento de culminância da Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA). A atividade foi um sucesso e parabenizamos aqueles que se esforçaram para sua organização, em particular ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pela articulação de todas as regiões de Mato Grosso com assentamentos da reforma agrária.
O evento contou com a presença de setenta feirantes, milhares de participantes, a venda de cinco toneladas de alimentos, o lançamento estadual do Plano Safra da Agricultura Familiar e a participação de importantes autoridades nacionais e estaduais. Além disso, o Festival da Cultura reuniu várias atrações e movimentou as noites para celebrar os trinta anos da organização do MST em Mato Grosso.
Apesar disso, representantes da extrema direita tentaram causar tumulto para criar vídeos visando destilar ódio na internet. Do mesmo modo, tivemos ataques diretos à UFMT e ao MST em perfis nas redes sociais. Essas iniciativas geraram uma sensação de insegurança em função das ameaças que se avolumaram – uma tentativa de intimidação à indispensável relação entre os movimentos populares e a universidade.
Mais grave ainda foram as agressões da Polícia Militar, que, na noite do dia 14 de agosto, encerrou o evento antes do previsto, sob alegação de “perturbação do sossego”. No dia seguinte, 15 de agosto, o cenário se agravou ainda mais. Houve uma batida policial truculenta, com armas apontadas para estudantes que estavam na praça do RU, próximo ao local onde estava a Tenda da Saúde e a ciranda para o cuidado das crianças que foram à Feira.
O Departamento de História vem a público repudiar veementemente os ataques que esse importante projeto de extensão sofreu. Sobretudo as ações da PM que ferem a autonomia da UFMT e violentam de maneira descabida os estudantes dentro do espaço universitário federal. Isso é inadmissível e, com isso, convidamos toda comunidade acadêmica a discutir qual é a política de segurança que desejamos. Certamente não é uma que ameaça com a violência do Estado o trabalho de técnicos, docentes e estudantes.
NOTA EM SOLIDARIEDADE À FEIRA ESTADUAL DA REFORMA AGRÁRIA E AO MST-MT
A Diretoria da Adufmat, Seção Sindical do ANDES-SN, vem a público expressar sua inteira solidariedade aos lutadores e lutadoras do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e a toda a militância, estudantes, docentes e técnicos(as) que fazem parte da organização da Feira Estadual da Reforma Agrária de Mato Grosso, que está sendo realizada no campus Cuiabá da UFMT, de 14 a 16 de agosto de 2025.
Nos últimos dias, esse fundamental movimento de luta e toda a comunidade universitária têm sofrido ataques e ameaças daqueles que não admitem a democracia e não toleram o que é público. Por meio das redes sociais e pelo uso de forças de segurança, políticos golpistas e seus apoiadores vêm disseminando ódio contra trabalhadores e trabalhadoras, e incentivando comportamentos e ações de caráter fascista e autoritário contra a universidade pública e o movimento, com o intuito principal de causar tumulto e falsificar o papel da universidade e a história das lutas sociais no Brasil. Repudiamos firmemente esses ataques!
O MST Mato Grosso, nos seus 30 anos de luta, tem sido um promotor fundamental da cultura, da soberania alimentar, da defesa dos direitos fundamentais e da educação e da ciência popular. Seu lugar é também na universidade, por direito! E não será o desespero e a ameaça fascista que irá limitar esse direito.
Viva a Feira Estadual da Reforma Agrária! Viva os 30 anos do MST Mato Grosso! Quem ameaça o MST, ameaça a educação pública. E para esses, reafirmamos: NÃO PASSARÃO!
Mato Grosso, 18 de agosto de 2025
Diretoria da Adufmat-Ssind
Gestão Adufmat é pra lutar!
JURA 2025 realiza feira na próxima semana, de 14 a 16/08; 30 anos do MST-MT marca edição deste ano
A Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) deste ano já começou e terá entre as principais atividades uma feira estadual para valorizar a produção camponesa e a agroecologia, além de fortalecer o vínculo entre universidade e sociedade. Ela será realizada em frente ao Restaurante Universitário (RU) entre os dias 14 e 16/08.
Os participantes encontrarão, entre os produtos comercializados, pratos típicos da culinária da terra, isto é, da baixada cuiabana, como ventrecha de pacu e Maria Isabel, além de muitas folhas - alface, rúcula, couve - e legumes - cará (inhame), mandioca -, entre outras variedades de cultivo, próprias da diversidade que a agricultura camponesa e familiar oferece.
Segundo a organização, durante a feira haverá também rodas de conversa, apresentações culturais e atividades de extensão. Isso porque a edição deste ano marcará a celebração dos 30 anos de existência e resistência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado.
O coordenador do movimento, Vanderly Scarabeli, reforçou o convite a todos. “Amigos e amigas do MST e da luta pela Reforma Agrária no estado de Mato Grosso, gostaria de convidá-los e convidá-las para participarem do evento de comemoração de 30 anos do MST neste estado, de 14 a 16 de agosto, com uma grande celebração e feira da Reforma Agrária. Nesses dias teremos mesas de debates sobre temas como a questão climática, ambiental, análise de conjuntura política, com destaque para a crise do capitalismo. Também haverá um grande ato, no dia 16, às 8h, para celebrarmos, de maneira oficial, a existência do MST em Mato Grosso. Durante todos esses dias, além dessas atividades, também teremos shows. Então, todas as noites, de 14 a 16 de agosto, teremos atividades importantíssimas para vocês participarem. Compareçam, tragam seus familiares, amigos e amigas, imprescindíveis para a construção desse movimento e da luta pela Reforma Agrária em Mato Grosso”.
As Jornadas Universitárias em Defesa da reforma Agrária são realizadas todos os anos em todo o país pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em parceria com as universidades locais.
Comida, saúde e conhecimento
Dentro da programação da JURA, entre 29 e 31/07, foram realizadas, ainda, palestras e oficinas voltadas para pesquisadores que trabalham o tema "Expansão do Agronegócio e Conflitos Socioambientais no Mato Grosso Contemporâneo". Participaram representantes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) - articulados entre o Departamento de História e Instituto de Geografia, História e Documentação da UFMT com o Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFR -, além de convidados da University of Innsbruck (Áustria) e University of Miami (EUA).
A atividade integrou grupos de pesquisa como Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos (NERU), Grupo de Pesquisas em Geografia Agrária e Conservação da Biodiversidade (GECA), Núcleo de Pesquisa em História (NPH), Núcleo de Estudos Ambientais, Saúde, Trabalho e Educação (NEAST) e Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional (NDIHR).
Durante a programação, os presentes partilharam dados e resultados obtidos por meios dos trabalhos realizados.
“Partindo de um projeto de extensão protocolado junto ao SIEX/UFMT [Sistema de Extensão da universidade], este evento foi pensado e organizado a partir da necessidade de uma maior aproximação entre pesquisadores e pesquisadoras de grupos e núcleos de pesquisas que se dedicam a estudar e debater, no tempo presente, conflitos relacionados à expansão do agronegócio no estado de Mato Grosso. Desta forma, envolvendo o esforço de todas essas instituições e núcleos de pesquisa, o evento foi ampliado e passou a ser organizado pelo IGHD [Instituto de Geografia, História e Documentação], com grande contribuição da professora Dra. Giseli Dalla Nora, que fez a articulação com a JURA, reunindo pesquisadores que vão continuar compartilhando resultados de pesquisa e fomentando debates abertos à comunidade externa da UFMT”, destacou a professora do Departamento de História, Dra. Juliana Cristina da Rosa, também integrante do NERU e NPH, e coordenadora do projeto de extensão que resultou no evento.
Confira abaixo o material de divulgação da Feira Estadual da Reforma Agrária:
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Integrantes da Diretoria Nacional do ANDES-SN visitaram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) localizada em Guararema, no interior de São Paulo, na última sexta-feira (9). A escola é um centro de educação e formação política de organizações populares de todo o mundo, idealizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A ENFF foi nomeada em homenagem ao sociólogo e educador Florestan Fernandes, incentivador do trabalho coletivo e defensor do ensino público, gratuito e de qualidade para todas e todos. A escola oferece cursos lecionados por professoras e professores e intelectuais voluntárias e voluntários em diversos temas como filosofia política, teoria do conhecimento, sociologia rural, questão agrária, marxismo, feminismo e diversidade, entre outros.
Já passaram por lá mais 24 mil pessoas, que participaram de cursos, seminários, conferências e visitas, oriundas de movimentos sociais do campo e da cidade, no Brasil e países da América Latina e da África. Além disso, a escola também proporciona cursos superiores e de especialização, por meio de convênio com mais de 35 universidades brasileiras.
De acordo com Rosana Fernandes, coordenadora-geral da ENFF, o foco da escola é a organização de cursos de formação para militantes, dirigentes e quadros das organizações populares brasileiras e de outros países.
“Receber a diretoria do ANDES-SN foi um momento fraterno de acolhida, reconhecimento e compromisso. Acolhida, no sentido da consideração e respeito pelo que o ANDES-SN representa; reconhecimento pela parceria política e de contribuição na manutenção da Escola. Também afirmamos alguns compromissos, na perspectiva de realizarmos cursos de formação sindical em conjunto, ter a ENFF como espaço para realizar algumas atividades do sindicato e divulgar a Associação de Amigos e Amigas da ENFF junto às seções sindicais locais. Além disso, neste ano que celebramos 40 anos do MST, contaremos com a ampliação na mobilização para a realizar a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária Popular. Tudo isso está posto diante de um cenário de poucos investimentos públicos para a Reforma Agrária, bem como reafirmar a luta permanente em defesa da educação pública”, explicou.
Construída entre os anos de 2000 e 2005, pelas mãos de mais de mil trabalhadoras e trabalhadores sem terra e simpatizantes, a escola é mantida pelo MST, com apoio de outros movimentos, entre eles, o ANDES-SN.
Em 2011, durante seu 30º Congresso, realizado na cidade de Uberlândia (MG), o Sindicato Nacional aprovou o apoio financeiro à Escola e recomendou que as seções sindicais também contribuam, conforme as suas possibilidades financeiras. Desde então, anualmente, durante seus congressos, as e os docentes renovam o apoio à ENFF.
Gustavo Seferian, presidente do ANDES-SN, ressaltou que a reunião entre o ANDES-SN e ENFF foi importantíssima e histórica. “Nosso sindicato, há mais de uma década, contribui mensalmente com essa iniciativa impulsionada desde 2005 pelo MST. Renovado a cada congresso, fazemos o balanço de que esse auxílio solidário resultou mais de iniciativas individualizadas, atomizadas, de professores e professoras de nossa base, e um reconhecimento da importância do MST em suas lutas históricas, do que propriamente uma interlocução entre as entidades. A partilha direta, com vistas à construção de possíveis ações conjuntas que convirjam nos interesses e pautas do ANDES-SN, foi um passo importante para o fortalecimento de nossas lutas, do bom diálogo com o MST - que nesse ano chega aos seus 40 anos - e da possibilidade de nos somarmos a embates importantes, de forma autônoma e independente, contra o capital, o agronegócio e as políticas de Estado que minam os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, em defesa da educação pública, gratuita, de qualidade e amparada nos mais radicais interesses de nossa classe”, afirmou.
Também estiveram presentes na visita Francieli Rebelatto, secretária-geral do ANDES-SN, e Jennifer Webb, 1ª tesoureira da entidade.
Estrutura
A escola está erguida sobre um terreno de 120 mil m2, com instalações de alvenaria de tijolos fabricados pelos próprios trabalhadores e pelas próprias trabalhadoras. Ao todo, são três salas de aula, que comportam juntas até 200 pessoas, um auditório, dois anfiteatros, uma biblioteca com 40 mil livros (obtidos por meio de doação), com espaço de leitura e ilha de edição.
Além disso, a escola conta com quatro blocos de alojamento, refeitórios, lavanderia, estação de tratamento de esgotos e casas destinadas a assessores e às famílias de trabalhadores e trabalhadoras que residem na ENFF. Dispõe, ainda, de uma horta que produz para consumo local e árvores frutíferas espalhadas pelo terreno. Para o lazer, oferece um campo de futebol gramado e uma quadra multiuso coberta.
Para o seu funcionamento, demanda a dedicação integral de 42 trabalhadores e trabalhadoras militantes residentes no local, de todas as áreas (da administrativa ao setor pedagógico, passando pela infraestrutura elétrica e sanitária e outros). Além disso, todos que frequentam os seus cursos se encarregam da limpeza, dos cuidados com a horta e outros trabalhos que a manutenção da escola exige. A ENFF conta ainda com um espaço para as filhas e os filhos das e dos estudantes.
Fonte: Andes-SN
Militante do MST é assassinado na região do Bico do Papagaio, em Tocantins
O militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado do Tocantins, Raimundo Nonato Oliveira, popularmente conhecido como Cacheado, foi assassinado por dois homens que na madrugada de terça-feira (13). Os assassinos chegaram encapuzados, invadiram a casa de Oliveira, de 46 anos, e o executaram com tiros de arma de fogo, no município de Araguatins (TO), na região conhecida como Bico do Papagaio.
No estado, Cacheado começou a se envolver na luta social ainda muito jovem. Iniciou sua militância nas comunidades Eclesiais de Bases, participando da Pastoral da Juventude Rural-PJR/CPT. Nos anos 2000, ingressou no MST, contribuiu com movimentos sindicais e partidos políticos do campo progressista.
“Tanto o Movimento como o próprio Cacheado sempre foram criminalizados e perseguidos pelos latifundiários, grandes grileiros de terras públicas na região do Bico do Papagaio. Estes, por diversas vezes, entre os anos de 2000 a 2015, tentaram assassinar Cacheado. Porém, ele conseguiu sobreviver às tentativas”, afirma o MST em nota.
No decorrer do período do governo Bolsonaro, as ações de criminalização e ameaças de morte de militantes sociais, sobre tudo aqueles e aquelas que lutam pela terra, ficaram muito evidentes, se acirrando ainda mais no período eleitoral e pós-eleições, neste ano de 2022.
Atualmente, de acordo com MST, o movimento e seus militantes na região do Bico do Papagaio vivenciam uma investida por parte dos latifundiários, dos órgãos de segurança pública e até mesmo por parte do Poder Judiciário, o que, para o MST, contribui para motivar ocorrência de crimes dessa natureza.
Ainda segundo nota emitida pelo movimento, Raimundo Nonato Oliveira – Chacheado, sempre falava que, ainda criança, vivenciou o assassinato de seu pai por pistoleiros a mando de latifundiários, fato que o motivava a se envolver na luta pela terra. “Cacheados deixa filhos e netos além de um legado de resistência, persistência e coragem, com uma continua preocupação com as bases e com 'Trabalho de Base Dentro da nas Base', algo que sempre deve ser lembrado e praticado", escreveu o movimento.
“O MST reafirma que vai continuar lutando e resistindo contra toda e qualquer forma de injustiça social, com quem quer que seja. Lutaremos incansavelmente para que seja feito justiça contra mais esse brutal assassinato que ceifou a vida do militante Cacheado”, conclui a nota.
Fonte: MST (com edição do ANDES-SN)
MST pressiona e Justiça concede imissão de posse da Usina de Cambahyba ao Incra

Após luta histórica do Movimento Sem Terra (MST), a Justiça Federal cumpriu mandado de imissão de posse na última segunda-feira (5), concedendo as terras da antiga Usina de Cambahyba, em Campos dos Goytacazes (RJ), ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Com isso, o MST conquista mais uma etapa no longo processo de redistribuição das terras da antiga usina.
Há mais de 21 anos, trabalhadores e trabalhadoras sem terras lutam pela desapropriação do terreno, já considerado improdutivo por não cumprir a sua função social. Em junho passado, mais de 300 famílias se juntaram à ocupação e formaram o Acampamento Cícero Guedes, dando uma nova função social à terra.
Membro da direção nacional do MST, Luana Carvalho disse ao jornal Brasil de Fato que é um fato a comemorar, mas que a luta continua para pressionar o Incra a implementar a política de reforma agrária. Ela relembrou o histórico de violência nas terras da Cambahyba e o assassinato de Cícero Guedes, militante do MST morto em 2013 em uma estrada próxima a uma das ocupações organizadas pelo movimento no local.
"Tivemos uma grande conquista hoje, é uma vitória na luta do MST. São 21 anos da primeira ocupação que fizemos aqui e conseguimos, enfim, obrigar o Incra a ser imitido na posse. Oficialmente, essas terras não fazem mais parte da família proprietária. Elas são de propriedade do Incra, do Estado brasileiro. Pensamos no tanto de violência que houve aqui, no sangue derramado, na incineração de corpos", afirmou.
História da Usina Cambahyba
O território da Usina Cambahyba é formado por sete fazendas que somam cerca de 3,5 mil hectares. Em 1998, a área foi decretada pelo Governo Federal para fins de reforma agrária. Anos mais tarde, em 2012, o local foi considerado improdutivo pela Justiça. Na época, a área pertencia a Heli Ribeiro Gomes, político fluminense eleito deputado federal em 1958.
A Usina, que produzia açúcar, se tornou notória pelo fato de que, durante o período da ditadura empresarial-militar no Brasil (1964-1985), foi utilizada para incinerar os corpos de opositores assassinados pelo regime.
Fonte: ANDES-SN (com informações do Brasil de Fato/RJ e MST)
MST realiza ato Político-Cultural para marcar 25 anos do Massacre de Eldorado do Carajás
Nesse sábado, 17 de abril, completam 25 anos de um dos maiores crimes já realizados no campo no Brasil: o Massacre de Eldorado dos Carajás. Para marcar a data, resgatar a memória das vítimas e denunciar a impunidade, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) realiza um ato político-cultural internacional.
A atividade ocorre a partir das 10h, com transmissão pelos canais do MST, com a previsão de participação de cerca de mil pessoas de várias partes do país e do mundo. Também será um momento para celebrar as batalhas enfrentadas pelo campo popular, refirmar a importância da luta pela Reforma Agrária Popular e debater os principais desafios da classe trabalhadora para este ano.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, desde 1985, quando a CPT iniciou a publicação do “Conflitos no Campo Brasil”, 1.501 casos de assassinatos foram registrados, com 1.988 vítimas. Indígenas, posseiros, quilombolas, pescadores, agricultores, ribeirinhos, Sem Terra e lideranças religiosas foram vítimas de assassinatos em conflitos no campo. Este número inclui 250 vítimas de massacres. O total de massacres no campo entre 1985 até os dias atuais chegou a 51.
O ato será realizado no Dia Internacional da Luta Camponesa, o dia “D”, que também contará com um conjunto de ações simbólicas pelo país, a partir das 9 horas, vigília em homenagem aos mártires de Eldorado do Carajás e ações nas redes sociais com twittaço.
“Este ano, as homenagens e denúncias de impunidade dos 25 anos do Massacre são marcadas pela dor no peito pelos outros massacres atuais, da pandemia, do vírus e da fome. Ao mesmo tempo, o MST se mantém no desafio da transformação social e da tarefa histórica de manter viva a chama da luta pela terra, da Reforma Agrária Popular e da memória dos 21 mártires de Eldorado do Carajás”, afirma o MST, em seu site.
Durante o ato cultural desse sábado, também será lançada a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA), que desde 2014 vem mobilizando várias instituições de ensino superior na defesa da Reforma Agrária e da educação pública como bases para construção de um projeto popular para o país.
A JURA tem como objetivo reconhecer os movimentos populares do campo como sujeitos coletivos de produção do conhecimento e a legitimidade de suas lutas em defesa da qualidade da alimentação do povo brasileiro e da democratização da terra, da educação, da cultura e da comunicação.

Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária
Além da atividade deste sábado (17), durante todo o mês de abril, considerado um período de luto e luta camponesa internacional em defesa da Reforma Agrária, o MST organiza, todos os anos, a Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, com uma série de atos em homenagens aos 21 trabalhadores Sem Terra assassinados em Eldorado do Carajás, em 17 de abril de 1996, no sul do Pará.
As mobilizações da Jornada Nacional, feitas tradicionalmente de forma massiva, pelo segundo ano consecutivo serão realizadas à distância por causa da pandemia da Covid-19, mas sem perder jamais seu caráter de luta e resistência. Diante do governo Bolsonaro, os atos pelo país levantam ainda a reflexão acerca dos retrocessos e da violência no campo.
Várias atividades estão sendo realizadas desde o dia 10 de Abril, na 15ª edição do Acampamento Pedagógico da Juventude Oziel Alves. O acampamento, que tradicionalmente é realizado na Curva do “S”, em Eldorado do Carajás onde ocorreu o massacre, abre a Jornada Nacional de Lutas do Movimento Sem Terra. A programação segue até o sábado (17) com informações, oficinas, atividades culturais e de memória sobre os assassinatos e terá ainda a visita ao cemitério de Curionópolis, onde as vítimas do massacre foram enterradas. Também será realizada a revitalização do Monumento das Castanheiras e do Memorial de Carajás, entre outras ações simbólicas.
No domingo (18), ações de solidariedade realizadas em todo o país ressaltam a importância da produção de alimentos saudáveis, principalmente nesta pandemia em que homens, mulheres, crianças, jovens e idosos estão caminhando à margem da pobreza e sem perspectiva de ter o básico para sobreviver. As ações dão continuidade à campanha de doação de alimentos do MST para aqueles e aquelas que estão em situação de maior vulnerabilidade.
O encerramento das atividades da Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária será no dia 21 de abril e terá a perspectiva da luta pela vida, a partir da recuperação de áreas degradadas por meio da campanha “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”. Lançada em 2019, a proposta é que em 10 anos as famílias acampadas e assentadas da Reforma Agrária e a sociedade em geral plante 100 milhões de árvores em todo o país. Durante o dia 21, serão plantadas e distribuídas mudas para construir no MST, e na sociedade o entendimento de que Reforma Agrária é sinônimo de alimentação saudável e de cuidado com os bens comuns da natureza.

25 anos do Massacre
No dia 17 de abril de 1996, 21 trabalhadores rurais sem terra foram executados pela Polícia Militar do Pará, no que ficou conhecido mundialmente como Massacre de Eldorado dos Carajás.
Cerca de 1,5 mil pessoas estavam acampadas na curva do S, em Eldorado do Carajás, sudeste do Pará, em forma de protesto. O objetivo era marchar até a capital Belém e conseguir a desapropriação da fazenda Macaxeira, ocupada por 3,5 mil famílias sem-terra, para reforma agrária.
Na data, os camponeses ocuparam a BR-155, rodovia que liga o sul do estado do Pará a Belém. Eles marchavam para a capital, reivindicando a desapropriação de um latifúndio improdutivo e a sua destinação para reforma agrária.
O então governador, Almir Gabriel (PSDB), enviou tropas da PM, comandadas pelo Coronel Mário Pantoja e pelo major José Maria Oliveira, para desobstruir a BR 155, com a ordem de “usar a força necessária, inclusive atirar”. A declaração foi dada dias depois do massacre pelo secretário de segurança pública do Pará a época, Paulo Sette Câmara.
Dezenove trabalhadores morreram no local e outros dois no hospital. Segundo os laudos médicos, 10 trabalhadores foram executados à queima roupa, alguns, alvejados com tiros na nuca e na cabeça. Sete trabalhadores foram mortos a golpes de facão e enxada.
Em 2012, Pantoja e Oliveira foram condenados pela justiça. O primeiro a 228 anos e o segundo, a 158 anos de reclusão. Atualmente, nenhum dos dois está em regime fechado. Embora houvesse a denúncia de envolvimento de fazendeiros na ação, nenhum proprietário de terras ou jagunço foi indiciado.
Após o massacre, o dia 17 de abril passou a marcar também o Dia Internacional de Luta Camponesa e a Jornada de Lutas do MST pela Reforma Agrária Popular, conhecida como “Abril Vermelho”.
Fonte: ANDES-SN (com informações do MST)
Adufmat-Ssind é solidária aos trabalhadores que sofrem despejo no Acampamento Quilombo Campo Grande, em Minas Gerais
“Em plena pandemia, o governador de Minas Gerais leva adiante uma ordem de despejo, jogando fora do local de morada mais de 450 famílias. Isso é um ato desumano, criminoso, que nós, da Adufmat, repudiamos veementemente. Nos solidarizamos com todas as famílias de trabalhadores e trabalhadoras do assentamento Quilombo Campo Grande”, declara, incisivo, o diretor geral da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind), Aldi Nestor de Souza.
O dirigente se refere à ordem de despejo das centenas de famílias que moram no Acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio - MG, que começou a ser executada na quarta-feira, 12/08 e durou mais de 50 horas. Enquanto os trabalhadores, com razão, resistiam à cruel insensatez do governo de Romeu Zema – do chamado Partido Novo, mas de práticas velhas -, a polícia atirou bombas até contra crianças, e ateou fogo no acampamento, destruindo casas e a escola da comunidade, nomeada Eduardo Galeano.
“O que acontece no Quilombo Campo Grande é o reflexo de um país que insiste em não fazer Reforma Agrária. E mais do que isso, um país que criminaliza quem luta pela terra, quem luta por direitos humanos, indígenas, quilombolas. Essa é a situação que a gente está vivendo”, destaca o diretor.
Souza lembra, ainda, que além de absurda, a ordem de despejo é simbólica, demonstrando o lado escolhido pelo governo mineiro. “O dia da ordem de despejo, 12 de agosto, é também o dia em que a gente relembra a morte de Margarida Alves. Uma camponesa, de Lagoa Grande, na Paraíba, que foi assassinada por pistoleiros na frente da sua casa, na frente da sua família. Quem era Margarida Alves? Uma lutadora do campo. Uma mulher que lutava por direitos, por dignidade, por condições mínimas de sobrevivência de trabalho para os camponeses lá do sindicato do qual ela era presidente. Então matar trabalhador do campo é uma rotina no Brasil. É uma violência com a qual o povo do campo vive atormentado, porque é uma rotina. Nós já perdemos as contas do número de massacres. Os trabalhadores do campo vivem cotidianamente de frente para as balas”, lamenta o docente.
A Adufmat-Ssind é solidária aos trabalhadores e trabalhadoras do Quilombo Campo Grande, e mais uma vez defende publicamente sua posição histórica da classe trabalhadora, seja do campo ou da cidade, da Reforma Agrária, e de uma sociedade justa e igualitária.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Mulheres do MST ocupam Ministério da Agricultura durante jornada de lutas
Na manhã de segunda-feira (9), as mulheres sem terra ocuparam o Ministério da Agricultura, em Brasília (DF). A mobilização contou com a participação de 3500 trabalhadoras Sem Terra de 24 estados, que estão na capital federal para o I Encontro de Mulheres do MST. A ocupação integrou ainda a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra. As mulheres sem terra também realizaram protestos em rodovias e nas subsedes de ministérios e do Incra por todo o Brasil.
Durante a ação, as trabalhadoras denunciaram a chamada titularização das terras, que visa à privatização individual das áreas de assentamentos; os cortes nos investimentos públicos; e a liberação desenfreada de agrotóxicos pelo governo Bolsonaro. Em 2019, foram liberados 474 agrotóxicos, a maior quantidade dos últimos 15 anos.
“Nós sempre defendemos o Contrato de Concessão de Uso (CCU), porque restringe a mercantilização das terras conquistadas, e terra para nós é um bem comum da natureza, e, portanto, não pode ser mercadoria”, explica Maria da Silva Trindade, militante do MST, sobre a distribuição de titularidades individuais dos lotes de terra para os assentados.
O movimento denunciou também o fracasso da política econômica, a queda nos investimentos públicos e o aumento do desemprego. Para a militante do MST, “as garras da direita bolsonarista e miliciana é expressão do projeto ultraliberal, que quer acabar com todos os direitos da classe trabalhadora”.
As mulheres do MST protestaram ainda contras medidas específicas do governo, que aprofundam ainda mais o desmonte das políticas agrárias e voltadas para os trabalhadores rurais. Entre elas, o decreto nº 10.252, que enxuga a estrutura do Incra, extingue o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), o programa Terra Sol e outros programas que davam incentivos aos assentados, quilombolas e comunidades extrativistas.
Além disso, segundo o MST, o governo Bolsonaro está determinado a privatizar as terras e promover a devastação ambiental. Um exemplo é a MP 901/19 que, na prática, irá excluir da proteção ambiental de 4.745 hectares da flora nos estados do Amapá e Roraima e abrir estas áreas para a mineração. Já a chamada MP da Grilagem (MP 910/19) flexibiliza as regras de regularização fundiária, repassando áreas da União até 2.500 hectares ao valor irrisório de 10% sobre a terra nua a invasores ilegais, que se valeram do crime de grilagem para se abonar destas terras.
Após as denúncias, as mulheres desocuparam o prédio do Ministério, mas mantiveram acampamento em frente a alguns escritórios do Incra, como em Porto Alegre (RS).
I Encontro de Mulheres do MST
No domingo (8), anterior à ocupação, as mulheres do MST integraram o ato do Dia Internacional da Mulher, em Brasília (DF). Junto com movimentos de mulheres da capital e entorno, marcharam pelo eixo Monumental, contra o machismo, o racismo e o fascismo e pela vida de todas as mulheres.
Desde quinta (5), as mais de 3500 mulheres estavam acampadas no parque Sara Kubistchek para o 1° Encontro de Mulheres do MST “Mulheres na luta semeando a resistência. Qelli Rocha, 1ªa vice-presidente do ANDES-SN, esteve no encontro para levar a saudação e apoio da diretoria do Sindicato Nacional.
“Nesse contexto de retirada de direito dos trabalhadores e, sobretudo, das trabalhadoras, e acirramento da luta de classes, o encontro na nossa avaliação foi fundamental taticamente, evidenciando que as mulheres têm protagonizado e vanguardiado as lutas antifascistas e contra o bolsonarismo. A ocupação do prédio do Mapa evidencia um retorno de uma forma mais tática e contundente de atuação e resistência desse movimento”, avalia Qelli.
Fonte: ANDES-SN (com informações e fotos do MST)
Diante de tantos ataques aos direitos da população brasileira, em meio a um conturbado cenário político e econômico, a Adufmat-Ssind foi convidada para contribuir com a análise de conjuntura durante a reunião da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na última sexta-feira, 17/05.
A parceria entre o sindicato dos docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e MST é histórica, tanto pela defesa do direito constitucional à terra, por meio da Reforma Agrária, quanto pela luta pelos direitos fundamentais, sociais e trabalhistas de todos os trabalhadores.
Na mesa, além do dirigente nacional do MST, João Paulo Rodrigues, e do professor Aldi Nestor de Souza, que representou a Adufmat-Ssind na ocasião, os professores da UFMT, Paulo Wescley (Departamento de Serviço Social) e Paulo Rocha (Faculdade de Comunicação e Artes), dividiram suas leituras e experiências para tentar desvendar a atual conjuntura.
“A análise de conjuntura é central, porque ajuda a organizar as ações seguintes, além de ser uma experiência coletiva, porque não há saber iluminado”, afirmou Rodrigues, abrindo os trabalhos.
O dirigente pontuou, de forma bastante didática, quais influências internacionais e nacionais foram decisivas para derrocada do governo Dilma Rousseff e a eleição de Bolsonaro, um processo de golpe que teve início nas manifestações de junho de 2013 e, na sua avaliação, ainda não está completo. A questão central nos interesses econômicos resvala agora no empobrecimento gradativo da população, no aumento da exploração e também opressão, repressão e criminalização dos movimentos sociais organizados que lutam para resguardar os direitos atacados.
Para o diretor geral da Adufmat-Ssind, Aldi Nestor de Souza, é preciso refletir sobre a palavra da onda do moralismo no Brasil: “corrupção”. “Eu tenho interesse de encarar essa palavra. Ela carece de tratamento, porque parece absoluta, mas não diz nada, não explica nada. A corrupção é inerente às relações capitalistas”, afirmou o docente, citando inúmeros casos de escândalos de corrupção praticados por governos e empresas.
Numa análise mais local, o professor utilizou o termo “ninguendade”, conceito de Darcy Ribeiro cunhado na obra “O povo Brasileiro”, para descrever as relações estabelecidas na universidade. “A UFMT é formada por pessoas que vieram de outros lugares em busca do seu próprio garimpo e aqui não se identificam com nada. É uma relação muito parecida com a do estado de Mato Grosso, para onde muitas pessoas, de diversas regiões, vieram atrás de um pedaço de terra. Ou seja, a universidade está muito alinhada com esse projeto de estado”, concluiu.
O professor Paulo Wescley elencou diversos desafios para que os trabalhadores consigam superar o que considera uma crise estrutural de sociabilidade, mas ao final de sua exposição, garantiu: “Minha fala não é pessimista. Nós temos de saber que o desafio é muito grande, mas não é impossível. A Reforma da Previdência, por exemplo, é algo que não conseguem fazer desde o governo FHC, passando por Lula, Dilma e agora Bolsonaro. As contradições vão se ampliar, mas é preciso disputar consciências, aprofundar as discussões sobre projeto de sociedade e as táticas para unir as pessoas e as pautas”, afirmou o docente.
Já o professor Paulo Rocha compartilhou suas experiências nas periferias de Cuiabá, de outros estados e países, afirmando que os pobres foram abandonados pela chamada esquerda nos últimos anos. “É preciso refazer as relações, diminuir essa distância”, indicou o jornalista.
Para Rocha, o espírito do tempo atual é de um conservadorismo sem precedentes. “Há um negacionismo político absurdo, às vezes até para quem é de esquerda. Um preconceito tão cego, capaz de superar até mesmo a autoridade de Deus”.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind