Terça, 12 Maio 2015 13:01

 

Em minhas reminiscências sobre Cuiabá, alegrias de infância e adolescência em uma cidade acolhedora, tranquila e conectada visceralmente com a natureza. Quando retornava de férias estudando “fora”, primeira coisa no reencontro fora de casa era ir curtir o belo centro velho  mergulhar nas águas do Cuiabá, Ribeirão e Coxipó. Sempre foi fascinante palmilhar com os pés e perscrutar com os olhos aquela arquitetura bela nas estreitas ruas de paralelepípedos. Ali, porões soturnos, como a bafejar o grito de dor e indignação de escravos e índios, brutalizados pela insaciável violência da ocupação armada e sanha pela fortuna fácil do ouro abundante. As Lavras do Sutil foram vertentes de dor e lágrimas das vítimas, negros e índios, estes últimos que até então aqui viviam neste território, felizes e livres. É alto o preço deste progresso, distante de um marco civilizatório. No processo histórico desta cidade, idas e vindas, contenda que desagua por uma cidade saudável, frente a cidade imaginada que a gente quer de melhor para viver. Nestes tempos, mais do que antes, é preciso superar o ufanismo e cair na realidade que temos a nossa frente. Fica para trás tudo o que não lutamos que poderia ter sido feito para que tivéssemos uma cidade melhor. Afinal, qual cidade queremos? – Qual progresso? Certamente não é este, que vem se apresentando no empobrecimento da paisagem e do cotidiano urbano. Em uma cultura política que acumulou a prática da gestão pública como sinônimo de burocracia perversa e corrupta. Aí está recente o tal legado das obras da copa, acompanhado por legados malditos em profusão. Que nos joga para baixo, rumo a imobilidade urbana. Em uma cidade onde os aparelhos públicos coletivos foram historicamente menosprezados. Ruas poeirentas, esburacadas, esgotos a céu aberto, asfaltos esburacados, consertos com remendos passageiros, sinalizações péssimas, pedestres, ciclistas e transporte coletivo em planos inferiores. Calçadas irregulares, verdadeiras armadilhas. Transportes frágeis, ônibus capengas. Quase nada é cumprido, desde a qualidade dos veículos até os horários e que linhas passam por ali, e outros como a falta de refrigeração nos ônibus. Legislativos e órgãos de fiscalização e controle ao largo da possibilidade de intervenções para o bem coletivo. Sistema de esgotos precaríssimos, coleta e disposição final de lixo insuficiente, poluição de córregos e rios, mau cheiro por todo lado. Quase toda sujeira da cidade no difícil escoamento de águas vão para córregos já mortos, caindo nos rios Cuiabá e Coxipó. Ou ficando nos ajuntamentos de lixo por toda periferia da cidade. O mercado imobiliário faz o que quer, com poucas intervenções e se restringem ao Ministério Público. Criam-se condomínios e núcleos urbanos sem a infraestrutura necessária e adequada, desde o sistema de dejetos e transporte urbano. O problema do lixo urbano é um assunto sério a ser resolvido na dimensão que hoje se apresenta. Reservas ambientais urbanas, raríssimas e ameaçadas. Nenhum incentivo para criação de novas reservas e parques, aliás seria fácil incentivar reservas particulares urbanas. Territórios como o centro velho e outras referências históricas de Cuiabá, esvaziados pela primazia dos “chopins”, bandeira do mercado elitista. A modernidade é componente da necessária diversidade, é preciso sustentar os marcos culturais da cidade, com sua verdadeira revitalização. Revitalizar seria recompor o conteúdo, a estética da cidade para uma vivencia agradável nos variados territórios que demarcam o pertencimento e orgulho do lugar.  A poluição visual e sonora campeiam pela cidade. A falta de uso da inteligência e a morosidade na reorganização da cidade é gritante. Parece que é uma série de “puxadinhos”, gambiarras e um grotesco e anômalo progresso sem imaginário e memória social. Apesar de ocorrerem algumas melhorias na cidade, é de boa noticia a recriação de um órgão de Planejamento Urbano. Sem um órgão desta natureza, politicamente forte e com recursos para sua operacionalização, não chegaremos a nenhum avanço qualitativo. Quais os cenários para o presente e futuro da nossa cidade? Qual a participação decisória real da sociedade? Até os 300 anos é possível demonstrar por onde e como caminhar rumo a cidade que queremos. É preciso superar as gambiarras urbanas da nossa Urbe Querida.

Waldir Bertulio

Professor aposentado da UFMT

Sexta, 08 Maio 2015 11:22

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Conforme preceitos das “Sagradas Escrituras”, o retorno dos humanos ao pó se dá após a conclusão do ciclo de vida, que pode ser longa ou não. Assim, todo ser que do pó veio – em geral depois de ter comido o pão que o diabo amassou – a ele retornará; ou seja, materialmente falando, voltará ao espaço do nada.

Pois bem. Este preâmbulo, sustentado por uma sentença bíblica, serve agora para falar do retorno ao espaço da insignificância política que o Partido dos Trabalhadores (PT) já está trilhando.

Após ter sido uma das legendas mais influentes das últimas décadas – oriundo das camadas populares em parceria com a nata da “intelligentsia” brasileira, e ladeado por sujeitos progressistas da Igreja Católica – o PT começou, há alguns meses, a descer a ladeira do Senhor do Bonfim. Desgovernado, o Partido se parece com aquela vaca da campanha eleitoral, mas atolada na lama.

Pergunta elementar: como é possível saber quando um partido político tão importante como o PT entra nos momentos finais de sua existência, ou de sua importância política?

Simples: quando sua voz não é mais ouvida. Pior: quando sua voz sequer é suportada pela maioria das pessoas. Eis o caso.

E para quem ainda tinha alguma dúvida da agonia política do PT, em cinco dias, dois episódios puderam ajudar na revelação desse estágio de coma em que o partido está imerso.

O primeiro dos episódios, na verdade, foi a falta de verbo, essência para qualquer atividade de poder, que, muitas das vezes se sustenta apenas pela mera exposição de discursos.

Explicando: no dia 01 de maio, internacionalmente comemorado como o dia do trabalhador, o Partido dos Trabalhadores não pode fazer o tradicional discurso para marcar a data.

A presidente da República – que é uma das principais estrelas daquela constelação de decadentes – foi obrigada a quebrar uma tradição de longa data. Ficou muda. Perdeu a fala. Cortaram a língua da rainha do Alvorada.

Motivo: a presidente não discursou porque qualquer fala sua teria sido abafada pelo barulho de panelas, buzinas, cornetas etc. Raro seria o brasileiro – até mesmo entre os mais pobres e os dependentes do FIES – que pararia para ouvir seu blá-blá-blá.     

O segundo dos episódios que revelam a agonia do PT foi exatamente o uso do verbo.

Como assim?

Na tentativa de quebrar o silêncio da presidente do dia 01 de maio, o PT, no dia 05, usou a cadeia de rádio e TV para sua propaganda política, na qual a presidente aparece apenas em imagens; de novo, a mulher não falou.

Todavia, de nada adiantou sua mudez. Mal começou a propaganda política do PT e as pessoas, Brasil afora, começaram a protestar usando panelas, cornetas, buzinas etc.

Com isso, uma constatação significativa: o problema não é necessariamente com a chefona do Alvorada; é com todos e com tudo que possa estar identificado com o PT.

Por que isso?

Por vários motivos.

Um deles: essa sigla não consegue mais se desvencilhar de denúncias de corrupção. Há uma equivalência de base: falar de corrupção é falar de alguém do PT, que invariavelmente tem se justiçado da seguinte forma: “eles também são corruptos”.

Outro motivo: o estelionato eleitoral empreendido na cara dura pela moradora do Alvorada. Tudo o que ex-candidata disse que não faria contra os mais pobres da sociedade, fez, faz e fará na condição de reeleita.

Por tudo isso, ela não pode mais falar. Dificilmente se recuperará da mudez.

Para piorar o que já é ruim, o PT está nas teias do PMDB; ou seja, é asfixia política. Dessa enroscada, será bem difícil sair com vida.

Quinta, 07 Maio 2015 12:39

 

JUACY DA SILVA*


Desde os escritos  de Malthus, principalmente com a publicação intitulada “Ensaios sobre o crescimento populacional”  em 1.798, existe um debate entre  a capacidade de produção de alimentos e matérias primas no planeta e o crescimento demográfico.

Observando o crescimento populacional, a produção de alimentos e a melhoria dos níveis de bem estar nos quatro séculos que antecederam  suas pesquisas, Malthus  resumiu sua teoria afirmando que enquanto a capacidade de produção de alimentos e matérias primas crescia em uma progressão aritmética, o crescimento populacional seguia um projeção geométrica. Se nada fosse feito, com certeza a fome e a mortalidade acabariam se encarregando de restaurar um equilíbrio entre  estes dois vetores.

Em 1800, dois anos após a publicação da obra de Malthus, a população mundial era de aproximadamente UM BILHÃO de habitantes. Cinco décadas  depois, em 1.850,  a população mundial havia atingido  o patamar de 1.265  bilhões, ou seja, foram necessários 50 anos para que o mundo tivesse  este aumento populacional.

Em 2000 a população mundial atingiu 6.090  bilhões  de pessoas e no dia 01 de julho próximo (2015)  seremos 7.325 bilhões  de habitantes no planeta terra. Em apenas 15 anos a população mundial cresceu em 1.163  bilhões de habitantes, ou seja,  4,4  vezes o crescimento de cinco décadas no período após a publicação dos estudos de Malthus.

As previsões  de Malthus não se concretizaram de forma tão catastróficas como ele imaginava, principalmente pelo avanço da ciência e da tecnologia que permitiram uma verdadeira  revolução na produção agrícola, pecuária e de diversas matérias primas animais, vegetais  e minerais.  A fome, mesmo muito presente  em diversas partes do mundo, que  afeta mais de dois bilhões de pessoas, ocorre muito mais pelos desníveis socioeconômicos e exclusão dessas pessoas  do que propriamente pela falta de produção.

Todavia, desde a publicação  da obra “Os limites do crescimento” pelo Clube de Roma  em 1972, além da primeira  conferência do meio ambiente  realizada pela ONU em junho de  1972, em Estocolmo na Dinamarca até a próxima conferência sobre mudanças climáticas, a ser  realizada  entre 30 de novembro e 11 de dezembro deste ano (2015), tanto a ONU quanto diversos organismos internacionais , universidades e instituições de pesquisas governamentais e não governamentais  tem batido na tecla dos limites e hiato entre um  crescimento acelerado da população e como consequência imediata o aumento rápido do consumo, seja decorrente do aumento demográfico em si, seja pelo aumento do poder aquisitivo de grandes massas até então alijadas do Mercado e também pelo enorme desperdício que ocorre em todos os países.

A ampliação da produção e oferta de alimentos e matérias primas  de forma  rápida tem ocorrido em total desrespeito ao meio ambiente, razão pela qual a ONU  tem enfatizado ao longo dos últimos 43  anos a importância  de serem incluídas a ideia  e  as práticas de sustentabilidade, ou seja, o  crescimento econômico tem um prêco ambiental. Não é justo e nem ético que as atuais gerações  deixem  esta fatura para as próximas gerações.  A  maior parte dos recursos naturais  são finitos e a sua exploração sem critérios de sustentabilidade e  respeito ambiental vai aumentar os problemas em todos os países. Recursos como água, solo, subsolo, fontes energéticas  e mesmo o ar, devem ser tratados com parcimônia e respeito pelas  gerações atuais, principalmente  o setor produtivo e os consumidores.

Entre  1972  e os dias atuais vários alertas já foram dados na forma de  estudos, conclusões e recomendações de inúmeros  eventos, principalmente sob os auspícios da ONU, valendo destacar: A Eco-92, conferência sobre meio ambiente realizada em nosso país; o Simpósio sobre  desenvolvimento sustentável realizado em Johanesburgo, África do Sul  em dezembro de 2002;  o Protocolo de Kyoto, sobre o Clima, a conferência da ONU  sobre mudanças climáticas realizada em dezembro de 2009, em Copenhagen, Dinamarca; a Rio + 20,  sobre desenvolvimento sustentável, realizada novamente no Brasil em 2012  e no ano de 2014, os  simpósios  e pré-conferência sobre  as mudanças climáticas em New York e Lima, como preparação do que poderá  ser a grande conferência de Parias no final deste ano.

Percebe-se que o desenvolvimento mundial e de cada país, cada estado/província  e municípios  tem que estar  articulado com uma grande agenda verde, onde as questões ambientais diretas  ou indiretas precisam estar no âmago das diversas políticas públicas, sob pena dos problemas que enfrentamos hoje tornarem-se mais graves e de difícil solução.

A pergunta que não quer se calar:  Será que nossos  governantes, empresários, universidades, ONGs, enfim , a população em geral, tem consciência das catástrofes que poderão afetar bilhões de pessoas, o nosso futuro planetário e também nosso futuro imediato como pessoas?

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta.  Email  O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

Terça, 05 Maio 2015 08:26

 

Precisamos de um Planejamento Urbano para nossas cidades, tendo clareza de que o mesmo não pode se constituir em uma panaceia. Não há varinha mágica para resolver os estrangulamentos, os enormes problemas e desafios para estabelecer os rumos pertinentes para chegarmos a ser uma cidade saudável. O Planejamento Urbano é um instrumento para conhecer e estabelecer ordenamento nas formas adequadas e compatíveis com as demandas e necessidades de uma ou mais cidades. Tem enorme contribuição e validade para estabelecer parâmetros e critérios para a ocupação urbana em busca da melhor qualidade de vida da população. Se Cuiabá já tem desafios difíceis de transpor, pelo legado extenso de verdadeiras gambiarras urbanas, imaginem em Várzea Grande. Cidade há longo tempo abandonada a sua própria sorte. Ou azar, se considerarmos as chances que teve para ter uma boa infraestrutura e aparelhamentos socioculturais. Simplesmente, teve dois governadores, mandatos de deputado estadual, federal e senadores. A cidade nunca foi pensada com mínima seriedade em sua organização espacial, senão como mercado de expansão mercadológica, imobiliária e de interesses financeiros, que raramente retornaram para construir o conforto urbano nesta cidade. Teve tanto tempo como segundo orçamento municipal em Mato Grosso, e proporcionalmente deficitária nos investimentos estruturais e sociais para a cidade. Posou por tempos como uma “cidade industrial” sem   que se pudesse ver o retorno de investimentos em benefício da cidade. Onde ficou o interesse e a visibilidade de gestores e políticos para que se tornasse de fato uma cidade confortável para viver? Impostos não serviram para melhoria da cidade?  Governanças, via de regra, atabalhoadas e de interesses deslocados dos investimentos necessários na malha urbana.  Voltados para interesses de pequenos grupos e chefes políticos locupletando-se do poder e da coisa pública. A gambiarra política e de gestão é sempre fazer de conta que fazem, iludindo a população em práticas absolutamente clientelistas e patrimonialistas. Enredados no conservadorismos e atraso, sob os auspícios e legado do regime de exceção. Devemos esperar que com a modificação da composição populacional, esta estrutura de poder político pode perder sua hegemonia (como já vem acontecendo). Para tal, é necessário uma verdadeira varredura nas lideranças antigas e até recentes, que insistem nos descaminhos que trouxeram Várzea Grande a um patamar de ser das piores cidades em conforto para se viver em Mato Grosso. Se trabalharmos indicadores em políticas sociais como saúde, educação, infraestrutura, comparando com sua renda histórica, seu desempenho cai a níveis bastante inferiores a cidades muito menos desenvolvidas. Nem se fala em reurbanização, em planos diretores elaborados com o rigor e diagnostico necessário. Raríssimas praças, áreas de lazer, sem ruas e calçadas arejadas, sem centros culturais e de lazer, pouco para esportes. Sem ciclovias, nem mesmo na própria Avenida da FEB. Sistemas de dejetos líquidos e sólidos praticamente ausentes, ainda se falando hoje no superado e proibido “lixão”. Poluição hídrica, sonora, visual e aniquilamento da perspectiva e necessidade de amplos aparelhos sociais. Transporte coletivo uma lastima. A cidade segue ao “léu”, como se fosse realmente uma cidade dormitório, distanciando abissalmente da sua memória social. A imobilidade e o atraso são impostos por maioria de gestões públicas e Legislativos distantes de honrar a representação concedida pelos eleitores (as). Como nestas condições falar em atrair projetos de renda e emprego? Várzea Grande ainda pode ser salva, se pelo menos acompanhar os ventos de mudança contra o patrimonialismo operados até agora pelo novo governo instalado no Palácio Paiaguás, operando uma ética de gestão na contramão de maior parte da cultura institucional desviante e intransparente acumulada em MT. É necessário drástica mudança política. Vamos esperar até quando?


Waldir Bertulio

Professor aposentado da UFMT

Sexta, 01 Maio 2015 09:56

 

 

Em 1957 foi inaugurada em Cuiabá uma ala do futuro hospital psiquiátrico - único no Estado não dividido, no distrito do Coxipó da Ponte, com o nome de Hospital Colônia de Alienados. 
Houve parcos recursos federais para o início da obra, ficando o custeio e a gestão por conta do pobre Estado de mais de um milhão de quilômetros quadrados. 
Em 1966 o hospital era um imenso depósito de doentes mentais, muitos acorrentados, isolados em celas fortes, vivendo como todos os demais internos em condições sub-humanas. 
Faltava tudo para o funcionamento do manicômio: equipe especializada de saúde, medicamentos, leitos, alimentação e segurança. 
A promiscuidade entre homens, mulheres e crianças, maltratava a sensibilidade dos médicos, especialmente os mais jovens, e afastava a sociedade daquele hospital mal assombrado pelo terror. 
Com o apoio decisivo e incondicional do jovem governador da época, Pedro Pedrossian, e do seu Secretário de Saúde Clóvis Pitaluga de Moura, recursos e autonomia foram ofertados para a recuperação da chamada vergonha mato-grossense. 
Naquela ocasião Pedrossian sancionou uma lei estadual dando o nome de Hospital Adauto Botelho à casa desumanizada. 
O velho depósito de pacientes irá fechar por força de lei federal e seus infelizes pacientes jogados nas ruas, já que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) não funcionam na prática. 
Falar que esses pacientes irão para hospitais da rede pública é uma falácia, pois não há hospital público para atender a demanda atual, e novos estabelecimentos ainda estão nas pranchetas de municípios sem recursos. 
A própria coordenadora de saúde mental do município, reconhece que “não foi feito nenhum planejamento na época do fechamento do Pronto Atendimento do Adauto junto ao Estado para lidar com a questão”. 
Hoje a gestão é do falido município, mas, o Estado e o governo federal têm responsabilidades no funcionamento desse importante setor especializado, tão carente de equipe multidisciplinar para suas atividades. 
A situação do doente mental em nosso estado é gravíssima! 
Seria possível o surgimento de um contemporâneo Pinel por estas bandas?

Gabriel Novis Neves
09-04-2015 

Segunda, 27 Abril 2015 13:59

 

JUACY DA SILVA*
 

Durante décadas a Petrobrás foi um símbolo da soberania e sonho do povo brasileiro, um verdadeiro orgulho nacional. Desde  a memorável  campanha de O PETRÓLEO É NOSSO, nos anos cinquenta, ate o descobrimento do pré-sal, a história da estatal  tinha sido de glória e eficiência.

Todavia,  este círculo virtuoso de crescimento, eficiência e posicionamento entre  as 10  maiores companhias petrolíferas no mundo, foi quebrado de forma vergonhosa  com a chegada do PT ao poder e o aparelhamento  das estatais, fundos de pensão e administração direta, que passou a fazer parte de seu projeto de poder. Para tanto, o Presidente Lula nomeou alguns diretores corruptos, que acabaram formando verdadeiras quadrilhas  que  assaltaram e dilapidaram bilhões de dólares da Petrobrás.

Dilma que participou com ministra das Minas e Energia e posteriormente como Ministra-Chefe da Casa Civil, e, nesta  condição, Presidente do Conselho de Administração da maior companhia brasileira, e ultimamente como Presidente da República , mesmo tendo ao seu dispor uma série de organismos  de controle interno e externo, da mesma forma que Lula, nunca soube de nada, nunca viu nada, nunca ouviu nada. A corrupção correu solto durante doze anos e envolvia gente importante do Governo e empresários de peso, que também tinham livre acesso aos gabinetes  ministeriais e ao Palácio do Planalto   e participavam dos banquetes do poder, vários dos quais deixaram seus  gabinetes de luxo e mordomias  e hoje estão no xilindró em Curitiba, graças as decisões do juiz federal Moro.

Coube a este Juiz que até o momento tem conseguido manter sua espinha vertebral ereta  e não tem se curvado às ameaças  e encantos do poder, com a colaboração do Ministério Público Federal  e da  Polícia  Federal, bem como dados e informações levantados e trazidos a público pelos meios de comunicação de massa, TCU  e uma  vaga contribuição do Congresso Nacional, que na maioria das investigações através de CPIS  tem  se comportado como um anexo ou   puxadinho do Palácio do Planalto, graças a uma maioria parlamentar composta pelos partidos da base de apoio ao Governo, extremamente subserviente aos interesses dos donos do poder, desvendar  o que até agora tem sido considerado o maior escândalo de corrupção do Brasil e do mundo, talvez em breve possa ser ultrapassado pelo que uma próxima CPI do BNDES.

Nesta   última quarta  feira, 22 de Abril, deve  passar para  história brasileira como a data da vergonha nacional, quando   a PETROBRÁS,  depois de muitas relutâncias  divulgou seu balanço  anual de 2014 e, de forma clara e cristalina informou que teve um prejuízo de R$ 21,6 bilhões de reais, dos quais nada menos do que R$6,2 bilhões de reais, ou seja, 3% do faturamento bruto da estatal , foi devido a corrupção. Todavia, todos sabem que a corrupção em alguns casos chega até a 10%  dos contratos,  e se for aplicado  o  percentual de 5%, ao invés de 3%,  o rombo provocado pela corrupção chega a R$10,3  bilhões e as “perdas” totais podem chegar a R$25,7 bilhões em 2014.

Como a roubalheira das quadrilhas comandadas pelos diretores que até o momento já foram identificados,  agia abertamente há doze anos e não apenas em 2014, quando o escândalo ganhou  os meios de comunicação de massa, o montante  das perdas da PETROBRÁS  pode  chegar  a mais de R$150  bilhões de reais.  Estudos  do Grupo de economia e soluções ambientais  da Fundação Getúlio Vargas avaliou que as perdas da PETROBÁS  chegaria a R$87  bilhões de reais, e que o patrimônio  da empresa perdeu 80% de seu valor em doze anos, além de que seu endividamento poderá chegar a R$300  bilhões  no final de 2015.

Os impactos da queda de investimentos, o mais baixo nível em 20 anos, em 2014 representou  20%  a menos do que a média histórica, ou seja, a Estatal por problemas da corrupção, falta de caixa e rompimento de contratos, reduziu  seus investimentos em R$ 27,5  bilhões de reais.  No momento existe  uma pressão muito grande para que a estatal corte custos, inclusive os decorrentes  da   ineficiência e da corrupção,  caso isto não  ocorra a mesma  terá que se desfazer de parte de seu patrimônio  e com baixa capacidade de investimentos, agravada pela queda do preço internacional do petróleo, existe uma grande probabilidade de que o pré-sal  tenha que revisar  suas metas e calendário.

Por ultimo, a divulgação do balanço da PETROBRÁS  e a confissão pública da existência da corrupção e o montante da roubalheira, ganharam as manchetes dos principais jornais de vários países europeus, Estados Unidos, Canadá e América Latina e do Brasil. Além disso, o maior fundo de pensão Suécia que é um investidor da PETROBRÁS  está  entrando na Justiça internacional, da mesma forma que nos EUA, devem representar mais uma pedra  no sapato da estatal  e uma mancha indelével  na imagem da empresa, do país e , principalmente, do governo petista, já considerado um dos governos mais corruptos na história brasileira.

A novela  corrupção na PETROBRÁS  , no  governo Dilma  e o envolvimento de partidos e políticos  da base  aliada, tendem  a se  agravar nos próximos meses à medida que os políticos constantes  da Lista do Procurador Geral do MPF, Janot comecem  a  ser investigados e denunciados  vai ser mais gasolina na fogueira e uma  pressão muito grande para o impeachment  ou renúncia de Dilma. Os gritos FORA DILMAFORA PT, FORA CORRUPTOS vão ecoar  com mais vigor nas  próximas manifestações  populares.

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia,  articulista de A Gazeta.  E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com  Twitter@profjuacy

Segunda, 20 Abril 2015 16:15

 

É pauta obrigatória para os veículos de comunicação de massa uma ampla cobertura sobre o aniversário de Cuiabá, que completou no dia 8 de abril duzentos e noventa e seis anos.
As indagações são as mais oportunas e interessantes. De um modo geral, todos os jornalistas procuram os mais idosos para saber suas opiniões sobre o progresso da aniversariante.
Temos de ter cuidado com as respostas para não cairmos no pessimismo patológico nem na euforia inconsequente.
Considerando a população do ano que nasci, há oitenta anos, a população da cidade pelo senso do IBGE de 2013 aumentou, aproximadamente, trinta vezes.
Surgiram os arranha céus, avenidas duplas com canteiros centrais, trincheiras, viadutos, pontes sobre o Rio Cuiabá e até uma Arena que sediou jogos da Copa dos 7X1.
O número de veículos e motos aumentou assustadoramente, inviabilizando o trânsito em muitos setores da cidade.
O ensino superior é uma realidade. Hospedamos duas universidades, uma federal e outra particular, além de inúmeros cursos superiores em centros universitários e escolas isoladas.
É evidente que Cuiabá não é mais aquela de conversas pelas calçadas, encontros sociais nas praças e jardins, nascimentos, casamentos, morte e velório em casa.
Tenho saudades daquela pequena aldeia em que despreocupadamente vivíamos.
Cuiabá absorveu tudo de ruim que uma cidade grande tem, sendo que o pior foi o aumento da violência.
A expectativa de vida aumentou entre seus habitantes, mas perderam em qualidade.
A cumplicidade entre seus habitantes e a solidariedade são peças raras hoje em dia.
O medo tomou conta dos moradores e até carros blindados temos - exatamente como em outros grandes centros.
A segurança pessoal foi incorporada aos mais visados na escala social.
A corrupção acampou por aqui com a sua inseparável impunidade produzindo verdadeiras devastações nos nossos sonhos de cidade com oportunidade para todos.
Novos ricos assumiram o poder e os valores adquiridos pela educação caseira antiga estão sendo exterminados.
É o preço alto que pagamos pelo progresso não planejado.
Esperamos que Cuiabá procure a estrada do desenvolvimento social e volte a ser uma cidade mais justa e humana.

Gabriel Novis Neves

Quinta, 16 Abril 2015 08:42

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Há algumas semanas, na mesma linha do artigo “Lixo acadêmico, causas e prevenções”, publicado pelo professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite, no dia 06/03/15, na Folha de São Paulo, escrevi um artigo intitulado “Porcarias das Universidades”. Nele, tratei do ambiente corrupto patrocinado pela maioria dos colegas que atuam nas pós-graduações brasileiras.

Hoje, enveredo por trilhas opostas dessas porcarias que abundam no meio acadêmico como as pragas do Egito. Assim, mesmo tendo uma pauta política forte e tensa, como, p. ex., o necessário debate e a luta contra a aprovação do PL 4330, que surge para “regulamentar” as terceirizações no país, bem como o momento de plena consciência de que o Brasil foi mesmo vítima de um estelionato eleitoral, falarei um pouco da importância da arte que é feita nas universidades.

Antes de tudo, registro que, para mim, a arte, mesmo aquelas aparentemente mais fugidias do real concreto, serve como tonificante necessário para o enfrentamento dos problemas sociais, que não são poucos e tampouco suaves. Na verdade, muito do universo artístico é verdadeira arma para tantos enfrentamentos diários.

Mas por que estou fazendo esse recorte hoje?

Porque no final da semana que se foi, tive a oportunidade de apreciar na UFMT a apresentação de nossa Orquestra Sinfônica. Com o Teatro Universitário lotado por pessoas de diferentes idades, acompanhando-a esteve o músico Flávio Venturini, um dos mais fecundos participantes do movimento Clube da Esquina de Minas Gerais.

Da bela apresentação, destaco três momentos marcantes. O primeiro foi a execução da música “Fantasia barroca”. Apenas instrumentalizada, a peça nos possibilitou regressar a tantos acontecimentos do período colonial, ou seja, um tempo em que profundas tensões sociais se faziam presentes no cotidiano de nossas ancestrais, destacadamente os vivenciados no século 17.

O outro momento marcante ficou por conta do coro que se formou junto com os artistas quando foi cantada a música “Linda juventude”: “Zabelê, zumbi, besouro, vespa fabricando mel// Guardo teu tesouro, joia marrom, raça como nossa cor// Nossa linda juventude, página de um livro bom// Canta que te quero cais e calor,// Claro como o sol raiou...”

Essa saudação a nossa juventude se faz cada vez mais necessária, pois temos um futuro difícil pela frente. E só mesmo uma juventude, de muita raça, superando “fados e sinas”, poderá fazer valer esse porvir; poderá escrever as páginas de um livro bom, insistentemente rasgadas por agentes políticos despreocupados com a vigência da ética e do próprio futuro de nosso país.

O terceiro momento impactante da apresentação foi ouvir “Caçador de mim”, canção imortalizada por Milton Nascimento. Solenemente posto como um tenor à frente da Orquestra, Venturini emocionou a plateia já nos primeiros versos do texto: “Por tanta emoção// A vida me fez assim// Doce ou atroz// Manso ou feroz// Eu, caçador de mim”.

Dessa música, absolutamente forte no processo de descoberto do próprio “eu” de cada um de nós, surge uma lição, quiçá uma das mais significativas: “Nada a temer senão o correr da luta// Nada a fazer senão esquecer o medo// Abrir o peito a força, numa procura// Fugir às armadilhas da mata escura”.

E assim, um pouco da arte musical, sustentada por canções que são verdadeiros poemas que nos chamam à atuação constante na vida, nos reanima nessa “caminhadura”, nessa verdadeira “cama de tatame”, isso para lembrar agora o poema “Drão” de Gilberto Gil.

Terça, 07 Abril 2015 13:05

 

JUACY DA SILVA*

A  cada ano morrem mais  de dois milhões de  pessoas, principalmente  crianças  e idosas, em decorrência de doenças relacionadas com o consumo de alimentos contaminados por agrotóxicos, herbicidas, fungicidas, antibióticos  ou em estado de conservação impróprios ao consumo humano por conterem bactérias, vírus, parasitas ou outros  vetores patogênicos.

Em  sua edição de março último  a Revista National  Geographic, destacou em uma matéria que mais  de dois milhões de pessoas nos EUA ficam doentes  a cada ano por consumirem alimentos de origem  animal (principalmente bovinos, suínos e aves)  impróprios, os quais  contém altas doses de antibióticos, tornando  as  bactérias  altamente resistentes. Em 2014  ocorreram 23 mil  mortes devido a doenças vinculadas  ao consumo de alimentos que não  estavam de acordo com os padrões e normas,  internacionais e dos EUA. O custo dessas doenças para  o Sistema  de saúde nos EUA   foi  entre 21  e 34  bilhões de dólares. Informa  também a reportagem  que 80%  de todos os antibióticos consumidos/comercializados no país  são utilizados na  criação  de animais voltados à produção alimentar.

Em 1948, na primeira Assembleia da OMS (Organização Mundial de Saúde), organismo  especializado da ONU para  esta área, foi aprovada uma  Resolução instituindo o DIA MUNDIAL  DA SAÚDE, a  ser “comemorado” em 07  de Abril  de cada ano.  O primeiro DIA MUNDIAL  DA SAÚDE  foi em 1950 e  desde então, nesses 65  anos, a OMS  tem estimulado a  reflexão, análise e debates sobre  temas fundamentais para  a saúde.

O tema do DIA MUNDIAL DA SAÚDE  em  2015 é “Segurança  dos alimentos”, e envolve  a discussão desde a produção,  `a industrialização, o armazenamento, o transporte, a distribuição ou comercialização e o consumo. Mais  de 200 tipos de doenças  são  causadas por alimentos que são produzidos ou comercializados  e consumidos fora  dos padrões  estabelecidos pela “Codex  Alimentarius” uma  instância  da OMS  em parceria  com a FAO  e participação da União Europeia, mais 49 organizações  intergovernamentais, 16 organismos  especializados da ONU, 150 ONGs  de vários países. Em  2015 nada menos que 186 países  haviam aderido a CODEX ALIMENTARIUS  e   a  mesma  desde 2012  tem o reconhecimento da Organização Mundial do Comércio  com instância para dirimir conflitos entre países em relação as questões de alimentos e  também  o poder  de estabelecer normas  e padrões internacionais que todos os países  devem seguir para resguardar  a saúde  dos consumidores.

No momento em que o Brasil experimenta uma  verdadeira explosão na produção de “commodities”, sem que, todavia, muitas dessas normas sejam respeitadas, principalmente quanto ao uso de agrotóxicos, herbicidas, fungicidas, antibióticos e outros produtos nocivos à  saúde humana, é mais do que oportuno que possamos discutir este tema.

Outro aspecto  também importante nesta discussão é o papel da agricultura  orgânica ou agricultura sustentável ou agroecologia,  incluindo também pecuária  e os hortifruti,  como alternativa ao Sistema mercantilista de produção.

Este é um grande desafio que todos os governos e também entidades não governamentais, incluindo as que representam  a agricultura familiar, a  economia solidária e também dos consumidores  devem  enfrentar. Os custos  para  os sistemas de saúde  e também para a qualidade de vida da  população estão diretamente relacionados com a qualidade e segurança dos alimentos, cabendo aos organismos públicos, nas três  esferas de governo, fiscalizarem para que os alimentos consumidos  pela população atendam  a  essas normas estabelecidas pela OMS e objeto deste DIA MUNDIAL DA SAÚDE.

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Quarta, 01 Abril 2015 13:33

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Engana-se quem pensa que há paixão sem preço. A cada paixão, um custo, seja ele objetivo ou subjetivo. Logo, quanto mais paixão, mais gastos. E o preço de uma paixão pode atingir cifras inimagináveis.

Agora, sem mais delongas, vamos ao ponto central deste artigo, que sai publicado um dia antes da Paixão de Cristo, relembrada a cada sexta-feira santa, conforme os preceitos do catolicismo.

Dias atrás, li que o governo de MT – assim como governos de outros estados da Federação e o do Distrito Federal – não realizará o Auto da Paixão de Cristo este ano.

Em matéria jornalística, expedida pela assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas), é dito que “a decisão fundamenta-se na necessidade de contenção de gastos com vistas ao saneamento das finanças públicas, priorizando os setores essenciais”.

Antes de falar dos detalhes mais importantes daquele texto, uma dúvida: por que a captação de recursos para a encenação da Paixão de Cristo, em MT, tem sido feita pela secretaria acima mencionada (Trabalho e Assistência Social), e não pelas de Cultura/Turismo, como poderia parecer mais óbvio?

Claro que minha pergunta não pressupõe que eu esteja defendendo a realização desse evento; ao contrário.

Agora, volto ao corpo da matéria jornalística. Ali, a assessoria da Setas teve a responsabilidade social de mostrar os gastos com esse evento nos últimos quatro anos. De 2011 a 2014 saíram dos cofres públicos R$ 11.249.391,51 para a Paixão.

Sim, caro leitor. Estamos falando de “milhões”. É grana com força!

Em 2011, conforme levantamento feito no setor de aquisições, a Paixão de Cristo – personagem bíblica que optou pelos pobres – custou aos cofres públicos a fortuna de R$ 3.224.733,00. Em 2012, mais R$ 2.355.532,00. Em 2013, outros R$ 2.024.275,00. Por fim, em 2014, arrebentaram a boca do balão: R$ 3.644.851,51.

Que paixão dolorida!

Diante desses números, várias dúvidas. Sintetizo-as em duas perguntas: 1ª) por que em 2014 foram gastos 1.620,546,51 a mais em relação ao ano anterior?; 2ª) só a inflação do período explicaria isso? 

A essa altura do artigo, já deve ter leitor bem irado comigo, prejulgando-me, obviamente. Os mais enfurecidos, quiçá, desejando-me o fogo do inferno.

Calma! Como diz uma amiga minha, “sem ódio no coração”.

Pense comigo: Cristo nasceu numa manjedoura e morreu numa cruz. Logo, poderia ficar escandalizado e com olhos ofuscados com tantos telões de led e atores globais por perto; não acha isso tudo bem desnecessário, leitor? Ou por trás dessa Paixão há outras paixões mundanas em jogo?

Outra pergunta: cristãmente falando, não é mais importante que o Estado invista, de fato, recursos na “expansão do Sine no interior, na promoção da inclusão produtiva por meio da qualificação profissional e ampliação de vagas aos trabalhadores em condição de vulnerabilidade (pessoas com deficiência, egressos do trabalho escravo e mulheres) e também na assistência ao jovem no processo de transição escola-trabalho?”

Ademais, não seria mais pertinente e respeitoso que a Paixão de Cristo fosse celebrada apenas dentro dos templos afins? Por que o Estado, que somos todos nós, inclusive os ateus, tem de pagar por eventos assim?

Logo, meus cumprimentos aos agentes do Estado responsáveis por esse corte, ou por essa chicotada no lombo de alguns vendilhões dos templos contemporâneos. Só lamento que tais agentes não tenham dito a coragem devida de dizer mais uma verdade: que o Estado é laico, e que, por isso, não deve pagar por esse tipo de conta.