Sexta, 19 Junho 2015 13:15

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Em tempos da ditadura do consenso, ler um texto corajoso causa êxtase a quem o procura sempre. De antemão, informo: o título acima não saiu de minha mente, infelizmente.

Na leitura que fiz da edição de domingo (14/06) da Folha de São Paulo, vi algumas excelentes reflexões ali.

A primeira encontra-se já no editorial daquela edição. Sob o título “Submissão”, cunhado do “...polêmico livro de Michel Houellebecq...”, o editor da Folha afirma essencialmente que “O legítimo debate entre progressistas e conservadores não combina com o atual ritmo da Câmara Federal (e seguido pelo Senado), movida pela intimidação ideológica”.

A “intimidação ideológica” de que trata o editorial, na verdade, toca o dedo em uma ferida exposta, que já tem tudo para se transformar em câncer social.

Partindo do pressuposto de que, no Brasil, há “Um espírito crescente de fundamentalismo (religioso)...”, o editor afirma que, “como nunca, o Congresso Nacional parece empenhado a refleti-lo, intensificá-lo e instrumentalizá-lo com fins demagógicos e de promoção pessoal”.

Em termos concretos, o editor aponta que tem sido “rotineiro, nos debates do Congresso, que este ou aquele parlamentar invoque razões bíblicas para decisões que cumpre tratar com racionalidade e informação”.

Para além de que tais “razões bíblicas... pouco têm a contribuir para a coexistência entre indivíduos numa sociedade civilizada e plural”, esconde-se o pior de tudo: um ranço conservador de doer na alma, pois esse tipo de conservadorismo é pouco inteligente e muito desumano.

No bojo dessa parca inteligência e dessa farta desumanidade, vemos parlamentares – com o apoio da maioria de nosso povo – defender, dentre outras, a pena de morte e a redução da maioridade penal.

Para o editor da Folha, “Nos tempos de Eduardo Cunha, mais do que nunca a bancada evangélica se associa à bancada da bala para impor um modelo de sociedade mais repressivo, mais intolerante, mais preconceituoso do que tem sido a tradição constitucional brasileira”. Perfeita observação!

Na página seguinte desse editorial, li o belíssimo artigo “Justiça ou vingança?”, assinado pela psicanalista Maria Rita Kehl, que essencialmente se propõe a responder a seguinte questão: “Alguém realmente acredita que reduzir a maioridade penal há de amenizar a violência social de que somos todos, sem exceção, vítimas?”.

No meio de seu artigo, Kehl nos lembra de que os legisladores que defendem a redução da maioridade “...estão pensando em colocar na cadeia... somente ‘os filhos dos outros”.

Nesse sentido, a autora indaga: “Quem acredita que o filho de um deputado, evangélico ou não, homofóbico ou não, será julgado e encarcerado aos 16 anos por ter queimado um índio adormecido, espancado prostitutas ou fugido depois de atropelar e matar um ciclista?”.

A redução da maioridade tem alvo certo: preferencialmente, jovens pobres e/ou negros; ou seja, os filhos da mesma população que há 500 foram se amontoando nos morros e periferias de nossas cidades; que há 500 anos encontram-se excluídos do básico para uma vida digna, acima de tudo, da educação e da cultura de qualidade.

Conhecedores desses cenários de exclusão, esparramados pelo país afora, não podemos permitir, conforme se pede no editorial da Folha, que prevaleça a submissão aos inquisidores da irmandade evangélica e aos demagogos da bala e da tortura, tão atuantes no Congresso.

Por fim, não podemos permitir essa submissão, pois a atuação desses congressistas ditos religiosos, na essência, atira contra a democracia.

Terça, 16 Junho 2015 20:34

2,0% ( dois  por cento) de desconto para abastecimento  (álcool, gasolina ou diesel) para pagamento  à vista em dinheiro ou cheque; 1% ( um por cento) para pagamento com cartão de crédito ou débito. Nas compras de óleos, lubrificantes, aditivos e filtros o percentual de desconto será de 10% (dez por cento).

Segunda, 15 Junho 2015 14:32

 

JUACY DA SILVA* 

No ultimo  dia 08  deste  mês  de junho foi comemorado  em todos os países o DIA MUNDIAL  DO MEIO AMBIENTE, instituído pela ONU durante a primeira conferência do meio  ambiente  realizada em  Estocolmo na Suécia, em 1972.  Portanto, lá se vão 43  anos desde que o mundo acordou para este  desafio que é cuidar melhor do meio ambiente e preservar  a vida  no planeta.

O tema  deste ano para comemorar o DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE é: “ Sete bilhões de sonhos, um planeta: consuma  com cuidado”. Este  tema chama  a atenção  para os limites de crescimento, de um lado o aumento populacional mundial, hoje somos sete bilhões  e dentro em  breve seremos nove bilhões de pessoas e de outro  os  riscos da degradação ambiental.  O problema não  está apenas em relação `a  pressão que a população exerce sobre os ecossistemas em termos de produção de alimentos, de energia, de matérias primas, de água e do solo, mas principalmente o que isto significa para o futuro da humanidade.

Para efeito de reflexão e das ações que devem ser realizadas pelos  governos de todos os países  e em  todos os níveis de poder em cada país e  também pela população, mas  também  na questão do desperdício que o consumismo esta estimulando. O tema é desdobrado em  quatro dimensões: água,  energia, uso do solo e o consumo acelerado de bens e serviços que acabam representando uma pressão muito grande sobre o meio ambiente.  Para alimentar  uma  população de bilhões de pessoas os sistemas econômicos gastam água, solo e  energia, que são  fatores  escassos  e acabam também sendo degradados  com a erosão, o assoreamento dos rios  e lagos, o  desmatamento continua acelerado em vários países e essa dinâmica econômica, em busca de um lucro a qualquer preço deixa  um rastro de destruição ou o que é modernamente chamado de passivo ambiental.

Pior em tudo isto é perceber de um lado o consumismo que leva a um desperdício de alimentos, cujo custo mundial é superior a 750 bilhões de dólares por ano.  . Mas o desperdício de alimentos também representa o  desperdício de água, de solo  e de energia que foram usados para a sua produção.

Estamos  em pleno período da realização das conferências  municipais de saúde, quando a população de todos os municípios do Brasil está discutindo a situação e os rumos da saúde pública em nosso país. Qual o tamanho do CAOS  em que se encontra a saúde e quais os rumos que devem ser tomados para que este direito constitucional possa  deixar de ser letra morta em nossa Carta Magna  para se transformar  em uma realidade concreta do dia-a-dia das pessoas?

Boa parte das doenças que  a população enfrenta têm suas origens na  degradação ambiental.  As queimadas urbanas e rurais,  os sistemas de produção agrícola assentado sobre o uso exagerado de agrotóxicos, onde o Brasil é o segundo maior consumidor mundial,  a  falta  de saneamento básico, os lixões, os esgotos escorrendo a céu aberto, tudo isso  afeta a saúde da população, principalmente  das camadas mais empobrecidas do país.

O SUS gasta anualmente  mais de 400 milhões de reais  para  tratrar  pessoas que são internadas em decorrência de diarreias, além de muitos outros milhões com doenças respiratórias e outras mais decorrentes da falta de cuidado com o meio ambiente.  Costuma-se  dizer que para cada real investido em saneamento e cuidados  ambientais poderiam ser economizados quatro reais no tratamento de doenças. Saneamento, neste sentido, também  é saúde.

Mais  de 61% da população  brasileira, ou seja, 124  milhões de habitantes não  tem   tratamento de esgoto.  Na  região norte esta é a  realidade  de 83,4%  da população; no Nordeste 76%; no Sudeste 61,;  na região Sul 68%e no Centro Oeste 55,1%.  Ou seja, milhões de brasileiros  convivem  com valões, córregos, rios e oceanos estão morrendo devido `a falta de saneamento.  Na  verdade  são  grandes esgotos a céu aberto, onde animais, lixo e toda  sorte de dejetos produzem mal cheiro e riscos para a saúde da população.

Em  nosso maior  aglomerado urbano de Mato Grosso, por exemplo, Cuiabá  tem  apenas 39,9%  de esgotos tratados e Várzea Grande 21%  e  a média no restante do Estado é de menos de 20%.  Neste  aglomerado que tem pouco mais de 820 mil habitantes 66% da população não é servida por tratamento de esgoto, são aproximadamente  540 mil habitantes, convivendo com uma das formas de degradação ambiental.

A pergunta  que se faz, isto é correto,  é digno? Qual a qualidade de vida dessas pessoas? Qual a saúde que tem? Qual o futuro que nos  espera? Com a palavra  nossos  representantes eleitos, nossos gestores públicos, enfim,  nossos governantes que continuam  insensíveis a  este drama que afeta  dezenas de milhões de brasileiros/as.

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT,  mestre  em sociologia, articulista  de A Gazeta. 

E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Quarta, 10 Junho 2015 18:53

 

Notícia ruim é o que não falta quando o assunto é saúde pública.
Foi inaugurado em nossa capital o prédio reformado do velho Hospital Neurológico Egas Muniz, no bairro do Quilombo. 
A hotelaria ficou chique, digno de hotel cinco estrelas. 
O ruim é que logo após a sua inauguração o nosocômio foi fechado, para reabrir somente quando o governo federal decidir repassar recursos permanentes para o seu custeio. 
Sabemos que essa liberação poderá demorar meses, e a garantia de um apoio permanente é uma aposta. 
O único hospital público federal e de ensino aqui existente está sucateado, exatamente por falta de investimentos financeiros. 
Em inauguração de hospital a má notícia é que não existe ainda formado, treinado e contratado o corpo clínico e administrativo. 
A referência do hospital são seus profissionais, e não, a hotelaria. 
A dificuldade do governo é tão grande para captar bons profissionais, que a única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) inaugurada há dois anos até hoje não funcionou na sua plenitude. 
Não é atrativo, profissionalmente, trabalhar em prédio ‘novo’ e bonito, mas sem as mínimas condições de trabalho, e honorários sempre abaixo do mercado de trabalho.
O paciente quando procura um serviço de saúde prioriza a qualificação dos seus profissionais. 
A hotelaria de luxo é dispensável. Torna-se obsoleta em curto prazo de tempo, e necessita de permanente manutenção e reposição dos equipamentos. 
Não é isso que acontece nos órgãos públicos. 
Sem robustos financiamentos públicos para a alta complexidade, o ‘jeitinho’ são as liminares judiciais. 
Mesmo hospitais internacionalmente reconhecidos cientificamente pela excelência do seu atendimento, como o Sírio Libanês e Albert Einstein em São Paulo, para citar os preferidos pelos políticos, precisam de incentivos oficiais (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e de particulares para sobreviverem com qualidade. 
Vamos torcer para que o nosso São Benedito consiga transpor essa barreira de incompreensão do poder público com a saúde para oferecer serviços médicos de ‘gente rica para uma população pobre’.

Gabriel Novis Neves
24-05-2015

Segunda, 08 Junho 2015 17:52

Benedito Pedro Dorileo 

De quando em quando é aberto o álbum de memória mato-grossense e, de maneira evocativa, buscamos a doçura suave da recordação de personalidades que plasmaram as suas vidas na história e nas letras, sendo agora reverdecidas. Se em julho fecha-se a memoração do centenário de Rubens de Mendonça, outras pétalas vão-se abrindo para Gervásio Leite e Luís-Philippe Pereira Leite.

Aprendemos na segunda metade do século XX, para compor a equipe de implantação da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, com apoio da família universitária, que nenhum conhecimento pode encerrar em si mesmo; que a sua produção deve imediatamente ser compartilhada: pesquisar, ensinar e estender. A extensão vai muito além do processo educativo, cultural e científico, pois une o ensino e a pesquisa, e viabiliza a transformação da comunidade e da sociedade. Transferir conhecimento – eis a questão.

Se hoje, a pesquisa translacional, científica por excelência, contribui para descobertas a partir da ciência básica – útil para o bem-estar imediato da vida humana – focada na solução de problemas que acometem a população brasileira; da mesma forma, a extensão complementa insumos imediatos e dosados para a alimentação intelectual ou prática do povo. Nem universidades, centros ou faculdades, bem como instituições de cultura podem guardar intramuros os conhecimentos auferidos ao longo do tempo. O povo tem direito de saber, bem como o de receber informações pedagogicamente organizadas. Assim também fazem as instituições culturais: da história, das letras, da geografia, da antropologia etc.

Pensamos que a ancianidade não fecunde em ranço os nossos conhecimentos, pois rejuvenescer é essencial como obra do espírito. Que o râncido e a veteranice estiolem-se em favor do pubescer dos novos tempos. Nada implica esteja a face enrugada ou nevados os cabelos a murcharem a beleza, ou haja apoio em cajado, importa que a mente se recrie e se renove.

Augusto Rodin, o escultor da idade do bronze, no século XIX, em L’Art, prelecionou: respeito à tradiçãosaber distinguir o que ela contém de eterno e fecundo: o amor à natureza e à sinceridade – estas são árduas e fortes paixões dos gênios. É bom atentar que a civilização mais facilmente está preocupada em apurar os vícios do que aperfeiçoar as virtudes.

Sem atrelamento a ideologias, mas no cultivo axiológico é fundamental lembrar os numes tutelares que exornam o caráter da nossa cultura. Dessa forma, vêm a lume nestes anos de 2015 e 2016 os nomes de Gervásio Leite e de Luís-Philippe Pereira Leite para  realce dos seus centenários de nascimento.

Gervásio, jurista e historiador, poeta e jornalista, magistrado e do magistério – foi associado do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, e ainda presidente da Academia Mato-Grossense de Letras e do Tribunal de Justiça do Estado. Luís-Philippe, jurista e historiador, foi Procurador-Geral de Justiça. Ambos foram políticos como deputados constituintes do Estado, em 1947. Foi Luís-Philippe presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e associado da Academia Mato-Grossense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Foram escritores. Nasceram os dois eminentes cuiabanos no mesmo ano de 1916. O primeiro, em 19 de junho e o segundo, em 12 de dezembro. Gervásio rendeu o seu espírito ao Pai em 10 de abril de 1990, no Rio de Janeiro; e Luís-Philippe descansou no Senhor em 4 de fevereiro de 1999, em Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.

A Casa Barão de Melgaço, cumprindo a tarefa da extensão cultural, no próximo dia 19 deste mês de junho, inicia a celebração do centenário de Gervásio Leite, e o de Luís-Philippe no decorrer do próximo ano de 2016, quando as solenidades se enlaçarão.

Assim segue a vida, do verdor dos anos e plenitude da mocidade até o desflorescer das idades e o crepúsculo da existência. Jubilados do viver passam a evocados na memória dos seus conterrâneos como flamas da nossa cultura. Cada corola na relva, cada pétala desprendida compõem o florilégio da nossa saudade, em infinita fruição das nossas vidas. 

                                                                             Benedito Pedro Dorileo é

                                                                             advogado e foi reitor da UFMT

Segunda, 01 Junho 2015 13:14

 

Olá, Pessoal!

Bom dia. Segue, em anexo, para todos refletirem, um bom artigo sobre a greve nas universidades públicas, de autoria do Prof. Marcelo Badaró (UFF/História). Acrescento que na última longa greve das IFES, por aqui, na UFRJ, a pós-graduação também parou. Sou testemunha do fato por estar cursando doutorado no IPPUR/UFRJ.Os alunos da graduação e da pós-graduação também se mantiveram em greve. Houve alteração do calendário no período duas vezes, porque logo depois os técnico-administrativos iniciaram uma nova greve. Os prejuízos aconteceram, mas também o aprendizado que levou a modificações nas relações com a CAPES que, com a conivência de vários coordenadores de cursos, insiste em desrespeitar a autonomia constitucional das IFES.É bom lembrar que em 2005 a CAPES era presidida pelo atual Ministro da Educação que, segundo relatos da época que chegaram ao então Comando Nacional de Greve/Andes-SN, teria procurado apoio, inclusive entre seus alunos, para que a greve fosse minada.
Boa reflexão para todos, independentemente das posições que defendam, afinal, monocultura não ajuda nada.
Abraços.
 
Prof. José Domingues de Godoi Filho

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Quarta, 27 Maio 2015 07:54

 

Em 2012, quando fui cursar 1 ano da graduação em Serviço Social na Universidad de Deusto, em Bilbao, Espanha. Tive o privilégio de cursar a disciplina de " Sociologia da Marginalização e da Exclusão Social " com o professor Alain Touraine. Inúmeras vezes o professor Touraine elucidou em suas aulas que o socialismo estava morto, havia sido superado pela sociedade pós - industrial, que já havia se tornado sociedade globalizada. O professor argumentava e defendia a tese de que hoje as lutas dos movimentos sociais já não se centra mais nas lutas de classes, tanto, que há desentendimento no interior dos movimentos sociais. O professor Alain Touraine é um sociólogo francês conhecido por sua obra dedicada à sociologia do trabalho e dos movimentos sociais. Tornou-se conhecido por ter sido o pai da expressão "sociedade pós-industrial". Seu trabalho é baseado na "sociologia de acção" e seu principal ponto de interesse tem sido o estudo dos movimentos sociais. Touraine acredita que a sociedade molda o seu futuro através de mecanismos estruturais e das suas próprias lutas sociais. Tem estudado e escrito acerca dos movimentos de trabalhadores em todo o mundo, particularmente na América Latina. Em seus escritos, Touraine aponta para as transformações pelas quais a sociedade moderna e industrial vem passando. Trava diálogos com os autores clássicos da sociologia como Durkheim e Marx - com este último, sobre as novas formas de conflitos sociais. Touraine faz parte de uma linha teórica denominada pós-moderna, ainda que critique a mesma em alguns pontos e de fato não assuma todas as teses dessa vertente, como algumas asserções a respeito do fim da história, fim dos conflitos e principalmente da inviabilidade da compreensão racional dos mecanismo sociais. Para Touraine, a sociedade pós-industrial, longe de acabar com os Em “A sociedade pós-industrial", afirma que a sociologia não é fruto da revolução industrial, mas somente se consolidou a partir da segunda metade do século XIX, quando a sociedade passa a ter um maior controle dos mecanismos econômicos surgidos com as revoluções industriais, os quais, no momento de seu surgimento, levaram às construções teóricas do início do século XIX que identificavam um desenvolvimento econômico intervindo na organização social. Com a retomada do controle social das mudanças econômicas é que, portanto, a sociologia pode se constituir numa ciência que não mais fetichizava o social, tal como o indivíduo da filosofia. Passa-se da identificação de uma natureza social para o reconhecimento da historicidade, ou seja, da ação social e da capacidade desta em direcionar o desenvolvimento do conjunto da sociedade. conflitos, generaliza-os. É sob estas premissas que Touraine fala da sociologia de uma sociedade pós-industrial. Com os primórdios do desenvolvimento industrial, a empresa capitalista e o proletariado eram de fato os elementos centrais na transformação social e política. Porém na sociedade pós-industrial, segundo o autor, esta centralidade da indústria - e, portanto, do fator econômico produtivo - se perde. Nesta nova sociedade, o conhecimento e a informação passam a constituir elementos chaves na produção. Os conflitos sociais, da mesma maneira, não se concentram mais no elemento econômico. Apesar dos conflitos de classe não desaparecerem (a indústria não desaparece), a relação trabalhador-patronato não detém mais a proeminência de outrora. Isto, principalmente, pelo fato destes conflitos de classes terem, de uma forma geral, se institucionalizado, abrindo espaço para outras reivindicações sociais, agora não mais econômicas, mas destacadamente culturais: surgem os movimentos feministas, de homossexuais, estudantil, etc. Os laços que unem estes novos movimentos são mais comunitários e localizados, apesar de uma abrangência socialmente ampla. Se permanecerem reivindicações localizadas e restritas não se constituem, segundo Touraine, em movimentos sociais propriamente ditos. Para tanto devem adquirir um destaque mais amplo e nacional. A direção para a qual devem caminhar tais movimentos são as instituições e, portanto, o âmbito das decisões políticas. A sociedade, segundo Touraine, deve lutar para democratizar o acesso aos mecanismos decisórios da política. Daí a importância que este autor dá ao tema da alienação - esta, pautada pela participação dependente, ou seja, a integração dos indivíduos no jogo dos aparelhos dominantes que visam impor um modelo de desenvolvimento econômico sob um aspecto impessoal, de forma a aparecer como única alternativa possível e no interesse de toda a sociedade. Os termos de que Touraine se utiliza para descrever esta alienação são a integração, a manipulação e a sedução. 
 
Dirceu Grasel

Quinta, 21 Maio 2015 08:38

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Na condição de professor de literatura, tento mostrar a meus estudantes, a partir dos textos literários, a importância das leituras honestas que devemos fazer da própria vida. Por isso, antes das incursões no texto literário, é sempre importante investigar – e compreender – as condições de produção desse material artístico.

Dentre as condições de produção de uma obra, inteirar-se dos principais elementos contextuais do momento de sua concepção é indispensável. Fora disso, só resta a divagação mental pela divagação mental; e ademais, saber da força contextual presente em um texto literário só contribui para sua fruição.

Ex.: ter ciência do significado das explosões das bombas atômicas lançadas pelos EUA sobre duas cidades japonesas durante a II Guerra Mundial só aumenta a capacidade de enxergarmos a beleza poética de “A rosa de Hiroshima”, poema de Vinícius de Moraes sobre a tragédia mencionada. Descontextualizado, esse poema pode levar leitores distraídos a interpretações bizarras. 

Nesse sentido, até o momento, em apenas uma ocasião de minha carreira deparei-me com uma bizarrice de leitura exposta por um de meus acadêmicos: em um determinado poema, alguém viu em um vestido insinuante de uma mulher provocante uma batina sacerdotal.

Pronto. Cheguei onde queria: falar da bizarrice da leitura que um colega do meu local de trabalho (o Instituto de Linguagens/UFMT) fez publicar na Folha do Estado (de MT) no dia 14/05/2015, pretendendo ali tratar de “entulhos da ditadura”. Há muito eu não via uma distorção tão grosseira de leitura do real.

Contextualizando: o referido instituto realizou há algumas semanas uma consulta eleitoral com os três segmentos (professores, estudantes e técnicos) para a escolha de sua nova direção.

Assim como nos anteriores processos, democraticamente, a consulta em pauta respeitou o voto paritário entre os segmentos. Após concluído o processo de consulta (inscrições, campanha/debates, eleição e apuração dos votos), a Congregação do Instituto, para se adequar à lei 9.192/95, reuniu-se e compôs a lista tríplice e a enviou à reitoria. Na cabeça da lista, é óbvio, referendou-se o nome da candidata vencedora.

De sua parte, a colega derrotada resolveu virar a mesa e impugnar a escolha, refutando a paridade e apelando à proporcionalidade dos votos, o que poderia inverter o resultado.

Detalhe: essa colega e quaisquer outros poderiam ter questionado tudo durante as discussões e deliberações sobre o formato do processo de consulta. Ninguém o fez.

Mas pior do que as trapaças dos oportunistas nas universidades está o desconhecimento de seus seguidores.

Ao afirmar isso, volto ao artigo acima referido. Nele, o colega diz o contrário do que registra a história do país, afirmando que “...o processo de (nossa) consulta é podre, à revelia da lei e baseado em métodos golpistas. Remonta aos tempos da ditadura...”

Na verdade, é a lei 9.192/95 que é o resquício dos tempos ditatoriais, e não o processo de consulta, que mais de trinta federais, seguindo o modelo da UFMT, já realizam. Por isso, num primeiro momento, democraticamente, buscamos a legitimidade de nossas escolhas, inclusive dos nossos reitores, depois nos adequamos à legalidade.

Por que fazemos assim?

Porque nenhum governo civil foi capaz de se desfazer das abomináveis listas tríplices: essas, sim, resquícios de tempos ferozes.

Conclusão: um professor quando distorce a realidade faz um desserviço social; dificulta o crescimento humano de seus estudantes.

Isso, sim, é um tipo de golpe.

Segunda, 18 Maio 2015 12:20

 

“Cai a tarde feito um viaduto/E um bêbado travando luto/Me lembrou Carlitos/A lua tal qual a dona do bordel/Pedia a cada estrela fria/Um brilho de aluguel/E nuvens, lá no mata borrão do céu/Chupava manchas torturadas, que sufoco/Louco, o bêbado com chapéu coco/Fazia reverencias mil/Pra noite do Brasil, meu Brasil/Que sonha com a volta do irmão do Henfil/Com tanta gente que partiu/Num rabo de foguete/Chora nossa pátria mãe gentil/Choram Marias e Clarices/Num solo do Brasil/Mas sei que uma dor assim pungente/ não há de ser inutilmente a esperança/ Dança na corda bamba de sombrinha/Em cada passo dessa linha/pode se machucar/Azar, a esperança equilibrista/Sabe que o show de todo artista/Tem que continuar.”.

Este poema de João Bosco e Aldir Blanc, “O Bêbado e o Equilibrista” remarca a fimbria de brasilidade, resistência, indignação, nas condições mais desfavoráveis. O grito de esperança, e uma melodia que expressa a vontade de mudança verdadeira.

Hoje fazem 51 anos do golpe civil-militar de 1964. Exílio, cassações, torturas, assassinatos, perseguição de todos que enfrentassem e lutassem pela redemocratização do país. Estou em Porto Alegre, como membro da Comissão da Verdade dos docentes das Universidades (ANDES-SN) e da Comissão Nacional da Verdade da Reforma Sanitária. Muitas representações densas e significativas, agora já com a rede da Comissão da Verdade das Universidades. Aqui, terra de João Goulart, derrubado e cassado como o foram Leonel Brizola, Celso Furtado, Miguel Arraes, Luis Carlos Prestes, Jânio Quadros e tantos outros. A junta militar assume, em 15 de abril, Castelo Branco formaliza a trajetória da institucionalização da violência. Tanques, baionetas, militarização do enfrentamento a tudo que se movia contra a ditadura. Aqui, correm longos depoimentos impressionantes e candentes, por instituições da maior integridade e relevância social. Saúdam a todos que lutaram contra o estado de exceção. É muito pesado e amplo o legado da ditadura em nosso país. Exemplo, o ovo da serpente no conduio das empreiteiras, o financiamento privado com recursos público, muitas são as mesmas hoje, em promiscuidade do setor público com o privado e uma imensidão de condições desviantes, como a concentração da mídia no Brasil. O legado da violência policial vem de lá. A violência ambiental e genocídio de populações indígenas, autóctones e de periferias. Segundo o ex-presidente Médici, tido como o mais sanguinário ditador do regime civil-militar, “índios são soldados natos, e a aldeia é um quartel”. Deste lá, tratados como população transitória, que deve acabar. É incrível a semelhança e coincidências com hoje. De lá vem as bases da corrupção, impunidade e violência urbana e rural. Os estrategistas da ditadura não tinham certeza que os governos de 2002 até agora surgissem para tocar seus projetos. Hoje, a corrupção está naturalizada. Médici, dizia que “o homem não foi feito para a democracia”. – quando proibiu falar sobre racismo, índios, esquadrão da morte e temas proibidos para o regime. Tenho vergonha da estátua do Médici na saída de Cuiabá para São Paulo, e no colégio na beira da Avenida MT. Temos que lutar pela punição dos que cometeram crimes durante a ditadura civil-militar. O caminho da verdade é muito longo. É preciso rever a lei de anistia. Passar rigorosamente a limpo o passado é promessa de presente e futuro.

Waldir Bertúlio

Professor aposentado da UFMT

Quinta, 14 Maio 2015 17:18

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

O artigo de hoje é dedicado a quem têm dito que só contesto ações do governo petista, sempre perverso contra os trabalhadores; que tenho poupado de críticas os partidos de oposição.

Antes de tudo, um registro: não vejo oposição político-ideológica no quadro dos partidos brasileiros do momento. Com pontualidades expressadas pelo PSOL, os demais partidos com representação no Congresso Nacional são farinhas do mesmo saco; todos compactuam com o programa neoliberal.

Isso posto, vamos ao cerne: as lastimáveis lições que a PM do Paraná – sob tutela do governador Beto Richa/PSDB – expôs a todos no último dia 29 de abril.

Mas antes de comentar o significado pontual desse ocorrido, uma lembrança de âmbito geral: os governantes do PSDB, com exceções, também são famosos por não respeitarem a educação; logo, por desrespeitarem, de forma direta, os professores e os estudantes de nosso país, e de forma indireta, a sociedade em geral.

Exemplifico a afirmação, registrando que pelo menos mais três estados governados pelo PSDB estão vendo os professores em greve há mais de meses: Goiás e São Paulo. A truculência das PMs nesses locais, a mando dos governadores, também já nos é conhecida.

Todavia, nada superou, em termos de força policial, o que ocorreu no Paraná. As imagens chocaram nosso país, pois tudo aquilo parecia uma cena de guerra. Por si, elas já disseram bem mais do que qualquer conjunto de palavras ainda possa acrescentar.

Contudo, implicitamente, as imagens “ensinaram”, principalmente aos jovens, lições lastimáveis, se olharmos para a dinâmica do futuro. Dentre elas, que ser professor no Brasil é optar por mais uma profissão de altíssimo risco.

E esse ensinamento não é pouca coisa. Até o dia 29 de abril, o alto risco ficava por conta da violência urbana, liderada, principalmente, por ações de narcotraficantes nas imediações das escolas. É raro a semana que não vemos episódio de violência em alguma unidade escolar brasileira, colocando professores e estudantes sob condição de risco de morte.

Somando a isso e, agora, a truculência policial contra professores em legítimas greves, temos outras ações de violência, mas no campo do simbólico, contra a categoria docente. Do conjunto dessas outras ações, destaco a judicialização presente no cotidiano. Qualquer ação de um professor que venha desagradar um estudante ou a família de um estudante pode se transformar em um processo judicial.

Nesse sentido, ficou emblemático o apelo aos tribunais de um aluno que teve o celular tomado por seu professor.

Para aquele caso, e para a felicidade do colega e da própria educação nacional, o juiz de Direito Eliezer Siqueira de Sousa Junior, da 1ª vara Cível e Criminal de Tobias Barreto/SE, julgou improcedente a ação do aluno.

De qualquer forma, em casos tais, a violência simbólica já estava concretizada, pois o desgaste emocional de um professor para enfrentar tribunais da justiça já se consolidara. No caso pontuado, houve apenas uma reparação de dano.

Enfim, para além do quadro da degradação salarial, do excesso de trabalho de todos os profissionais dessa categoria, da falta de condições materiais na maioria dos espaços da educação formal do país, da judiciliazação da relação professor-aluno, da violência urbana, soma-se agora questão da violência policial contra professores em greve.

Diante desse quadro, fica cada vez mais difícil convencer um jovem a optar por ser professor, uma profissão tão digna quanto indispensável. Fica mais difícil acreditar numa “pátria educadora”.