Segunda, 28 Setembro 2015 18:46

 

“Cada hora, de cada dia, a gente aprende

uma qualidade nova de medo!”

GUIMARÃES ROSA, Grande Sertão Veredas. 

Confesso que não imaginava que a ideia de radicalização, evocada na assembleia de greve dos docentes da UFMT, realizada no dia 17/09/2015, provocasse tanto temor em alguns colegas, a exemplo do que fora manifestado em Carta publicada no Espaço Aberto, do dia 18/09/2015.

É bem verdade que tempos sombrios parecem querer instaurar-se, outra vez, na vida de muitos de nós, afugentando-nos da luta interminável pela conquista de direitos políticos e sociais em nosso país, distanciando-nos do reconhecimento de nós mesmos como sujeitos da própria ação política.

Creio que a organização social do trabalho na universidade, especialmente nos dias de hoje, oculta a sua relação com o mundo real, com a dinâmica do capital em sua etapa globalizada. A produção e a difusão do conhecimento, já faz tempo, deixou de ser um exercício filosófico artesanal diletante (se um dia o foi), praticado em nome do sacerdócio. Cada vez mais o trabalho docente, nas universidades e fora delas, subsume-se aos ditames do mercado nos moldes do capitalismo avançado, reduzindo a sua autonomia intelectual e científica às técnicas de controle e reprodução da ordem social, segundo os interesses das forças hegemônicas.

Sem que nos apercebêssemos, fomos gradativamente reduzidos à condição de trabalhadores assalariados, regidos pela lógica da produção de mercadorias em sentido lato, submetidos à cadeia de produção de bens e serviços. Querendo ou não, somos todos vendedores de força de trabalho no mercado, somos todos proletários modernos, apesar da distinção que gostamos de evocar em relação ao produto do nosso próprio trabalho.

Sei que o desvelamento de nossa condição proletária consiste em um processo difícil, complexo. Trata-se de uma dimensão relacionada ao exercício da própria prática política, nela residem os limites estruturais impostos pela ordem social vigente, impossibilitando-nos de nos reconhecer como sujeitos historicamente determinados.

Todavia, são nos momentos de crise estrutural, como esta que estamos enfrentando agora, que o capital revela as suas formas mais plenas de produção e reprodução social, expondo de maneira mais aberta a força de trabalho ao processo de mercantilização geral em curso na sociedade.

É, também, nos momentos de crise que os trabalhadores reagem às ofensivas do capital no processo de exploração e precarização de seus direitos e conquistas sociais e políticas. A greve é, nesse contexto, o instrumento mais radical de luta empreendida pelos trabalhadores, inclusive pelos setores classificados como trabalhadores abstratos, produtores de bens imateriais como é o nosso caso.

Diante das considerações acima, creio que podemos pontuar alguns elementos relacionados à noção de “radicalidade”, a partir de pressupostos filosóficos. A radicalidade, nessa perspectiva, pressupõe a capacidade de realizar uma reflexão rigorosa e de conjunto sobre os problemas apresentados em uma dada realidade, mas não problemas quaisquer. Nesse particular, cabe então, recuperar a nossa pauta de greve, a centralidade da nossa LUTA.

Desde a sua fundação, o ANDES-SN defende, incondicionalmente, a Educação como um direito social, pública e socialmente referenciada, cabendo às Universidades, em especial, a produção e difusão do conhecimento gratuitamente a todos os segmentos sociais, na perspectiva de sua universalização.

Na contra face da centralidade exposta acima, o que vem ocorrendo é exatamente o seu contrário. As possibilidades de concretização desse direito distanciam-se do horizonte de seus defensores, mediante as ofensivas, cada vez mais agressivas, de governos e agencias de desenvolvimento, a fim de colocar a Educação a serviço da lógica mercantil. As práticas e os instrumentos aplicados são inúmeros e eficazes. Debates e denúncias sobre essa questão já vêm de longa data, em vários fóruns locais e nacionais.

Concomitante, e como parte do processo de desmonte da Educação Pública em geral, e da Universidade Pública em particular, verifica-se a precarização acelerada das condições de trabalho nessa instituição, reveladas, entre outras, pelo desmonte da carreira docente e pelos baixos salários pagos pelos sucessivos governos. É contra isso que estamos em greve. Radicalizar significa, sobretudo, ser capaz de identificar a raiz dessas questões, por meio do debate coletivo entre professores e estudantes, na interface mais geral com a sociedade.

Não se trata aqui de fechar e/ou quebrar laboratórios, tampouco manchar a imagem de nossa instituição. Definitivo e irrecuperável é deixar, pelo medo ou pela omissão, que o patrimônio público seja reduzido tão somente à sanha do lucro desenfreado de alguns em detrimento da perda de direitos da maioria. A Universidade hoje, diferentemente daquilo que supõe alguns, está carregada de interesses privados, de caráter mercadológico. Perdeu a sua dimensão de instituição social, afastou-se da crítica dos problemas da sociedade em que se insere.

Vejamos a greve como a oportunidade de ação pedagógica e política para além dos horizontes de nossos gabinetes de produção científica. Quanto mais negamos a nossa condição de sujeitos coletivos, as nossas entidades de organização política - os sindicatos, os partidos - e os nossos instrumentos de resistência e luta, a exemplo da greve como forma de mobilização e ação político-social, a opressão e precariedade invadem o nosso cotidiano no trabalho e na vida privada.

Como nos ensinam os estudiosos dessa questão, “A proletarização não é apenas proletarização da vida produtiva strictu sensu, mas proletarização da totalidade da vida social [...]”, expressa na perda de direitos, no aumento da exploração da força de trabalho, entre outros.

Vejamos a organização, a mobilização e a pressão coletiva como requisitos para o êxito da ação política. Somente a democratização dos direitos políticos e sociais pode libertar-nos da barbárie em curso, e a socialização do conhecimento como conquista coletiva é imprescindível nesse processo. 

Sirlei Silveira

Professora do Departamento de Sociologia e Ciência Política/ICHS/UFMT

Quarta, 23 Setembro 2015 11:23

Prezadas e prezados colegas, 

Com exceção de alguns itens, apoio o conteúdo da carta enviada pelo Prof. Francisco de Almeida Lobo.

Não foi possível estar presente na Assembleia realizada no dia 17/09, mas fiquei atenta às discussões realizadas e não temo pelo que pode acontecer com a radicalização da greve, mas com a DESMOBILIZAÇÃO  que a greve acarreta entre os professores e a comunidade universitária.

A greve na nossa universidade é um movimento de desmobilização e não de mobilização dos professores. Quantos professores estão, de fato, mobilizados? Quantos professores sabem o que está acontecendo? Quantos alunos sabem os reais motivos da nossa luta? O quanto crescemos e nos fortalecemos, como um grupo coeso, nesta luta?

Penso que tem uma mobilização sendo feita: a de Brasília, dos professores que estão lá, propondo encontros, invadindo, discutindo, pressionando. Esta tem pressionado o governo porque tem visibilidade. Mas, o quanto a nossa paralização, nos campus, tem gerado visibilidade, tem mobilizado nossa comunidade?

Um governo que permite que fiquemos quatro meses em greve, que desmarca reunião, que não tem pauta, está muito pouco preocupado com o que nos ocorre aqui.

Mas, nós deveríamos estar preocupados com o que nos ocorre aqui.

A greve não é a ausência de atividades que afetará o governo. Como disse o prof. Francisco, isso é para greves na produção de carros e sapatos. Nossa greve nos afeta em muito maior grau do que ao governo. Nossa greve envolve a conscientização da comunidade, justamente, porque lidamos com o conhecimento. E como isso tem sido gerado? Alguém disse: essa greve tem caráter político. Greves sempre tem caráter político, principalmente, a nossa, já que estamos numa universidade. É preciso atentar para isso.

Outra coisa, o sindicato. É necessário muito cuidado para que opiniões não se tornem verdades absolutas e impeçam que opiniões divergentes, mas genuínas dos sindicalizados, sejam tidas como ingênuas ou despropositadas, ou pior, que pareçam querer desmobilizar o grupo e a luta. Não é possível que a direção do sindicato permita desqualificar diferentes opiniões.

            Eu confio no meu sindicato. Aprendi muitas coisas indo nas assembleias e vendo  análises da conjuntura que, sozinha, nunca faria. Leio artigos que me fazem refletir sobre a situação do país, da universidade. Ouço professores que dão aulas de política e economia. Mas, é necessário ouvir a todos nas suas angústias.

Ouvir a todos, também, significa ouvir os não sindicalizados, já que são, igualmente, afetados pela greve. Os não sindicalizados não podem votar, mas são obrigados a entrar na greve. Não parece uma contradição? Bem, isso é assunto para outro momento.

Eu quero pensar em outra alternativa para além de uma greve que paralisa as atividades.  Quero pensar numa real mobilização da comunidade universitária diante dos disparates do governo, da desvalorização profissional, da decadência da Educação.

 E se pudéssemos decretar ‘estado de greve’? Tomei este termo emprestado da greve dos professores do Estado e poderíamos avançar na sua proposta. Num estado de greve, poderíamos nos organizar para, toda semana, num dia específico a ser definido, fazermos um ato que envolvesse a todos. Neste ato, poderíamos ter aulas, discussões, música. Um ato político que estendesse as discussões feitas nas assembleias para toda a comunidade. As aulas, atividades, pesquisas, extensão continuariam, nos outros dias. As diferentes faculdades e institutos poderiam se envolver, organizando o ato, uma cada semana. A mídia, que tem estado muito ausente deste processo, poderia ter interesse em cobrir tal mobilização, já que envolve barulho. Meu colega professor, disse: poderíamos, neste dia, parar o trânsito por 15 minutos. Achei a ideia ótima.

Propostas de manifestações, dessa natureza, já foram feitas pela Adufmat, muitas vezes, mas com pouca adesão e, creio que, pela “desmobilização” que a greve causa na comunidade.

Bem, estas são minhas considerações. Esta proposta é ingênua? Incentiva o produtivismo? Foge das intenções da luta? Pode ser que sim, pode ser que não. Mas, sugiro que, sem autoritarismos, possamos ouvir nossos pares e pensar em outras propostas de luta. 

Cuiabá, 21 de setembro de 2015.  

Jane Teresinha Domingues Cotrin

Professora do Departamento de Psicologia/ Instituto de Educação

UFMT/ Cuiabá

Quarta, 23 Setembro 2015 11:21

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

No início de minha carreira, ainda em Goiás, vivenciei minha primeira greve. Infelizmente, não foi a última. Outras tiveram de vir, pois o desrespeito de diferentes governos a essa indispensável profissão é constante e cruel; às vezes, a crueldade vem acompanhada da humilhação social.

Já na deflagração daquela primeira greve, uma colega indagou se eu não tinha amor pela profissão; se eu não pensava no prejuízo dos alunos.

Respondi que – como eu não considerava o magistério um sacerdócio, mas uma das profissões existentes, quiçá a mais importante – eu havia me preparado para exercer a profissão com muito respeito para ser digno de servir à classe trabalhadora de minha sociedade.

Disse mais: que os trabalhadores – incluindo os alunos – também não precisavam ser amados pelos governantes; o respeito bastava. Todavia, como sistematicamente nossos governantes não nos respeitam, temos de fazer greve.

Por isso, sempre que voto pela greve, voto pelo respeito à profissão, pois almejo salário digno e melhores condições de trabalho; por consequência, voto pela própria classe trabalhadora de meu país que algum dia poderá usufruir das condições adequadas para o exercício da vida acadêmica.

Mas fazer greve sempre foi dureza, pois além do embate com os governantes, lidamos com colegas que não compreendem que sem as greves, as universidades públicas, p. ex., já nem existiriam como tais.

Alguns professores ainda acreditam que há outras formas melhores do que a greve para resolver impasses com os governos. Não há. Simples assim. Se houvesse, elas já teriam sido apresentadas por algum gênio e usadas por todos nós, é claro. Quaisquer atividades existentes, e há várias, como fechar rodovias, passeatas, promover shows culturais, elaborar faixas, outdoors, boletins informativos, palestras de formação, ocupação de prédios públicos etc., são atividades complementares de uma greve; portanto, nenhum governo dialoga se não for efetivamente exposto e forçado a isso. Essas atividades ajudam a mostrar a real situação do momento, mas têm de ser feitas em greve. Fora da greve o efeito é mínimo, quando há.     

Por conta dessa incompreensão de alguns, ao longo do tempo, já ouvi coisas absurdas. Mas nada supera o que disse um colega em nossa última assembleia (17/09), que, aliás, confirmou a necessidade da greve, pois o pacote do governo, de 14/09, retirou ainda mais nossas conquistas e direitos. O governo Dilma/PT foi longe demais em sua opção pelas elites.

Mas afinal o que disse o colega?

Coisas impensáveis, quando vindas de um professor universitário!

Antes, é preciso lembrar que, mesmo diante de tantas subtrações de direitos e conquistas, um pequeno grupo de professores – alguns ligados a partidos governistas, como o PCdoB e PT, para facilitar a vida do governo – propôs o final da greve por meio de um “manifesto” que pressupunha apelar “à razão”. Obviamente, o texto, apesar de sua boa redação, é irracional. 

Nesse contexto, o colega referido, mesmo sendo um doutor de disciplinas que estudam a dinâmica social, portanto, amalgamadas às questões políticas, afirmou que não estava ali para discutir sobre o governo e nem falar de política; que queria discutir apenas a greve, propondo seu final.

Na sequência, como um lunático, babou seu ódio contra a classe trabalhadora, da qual pertence sem nela se reconhecer. Babou seu ódio contra sua própria categoria profissional, demonstrando ira contra os docentes que compõem o Comando Local de Greve.

Diante de sua intervenção, algumas perguntas: como é possível falar de greves nas federais sem falar das políticas do governo, que assaltam a autonomia, que precarizam, terceirizando os serviços nas universidades, que destroem nossa carreira, que suspendem concursos públicos? Como não falr de um governo que se nega ao diálogo eficaz, deixando nossa categoria em greve já perto de completar quatro meses? Que congela nossos salários?

Como é impossível descolar as greves das opções políticas do governo, considero que um docente desse tipo não faz falta à universidade pública. Ele está no lugar errado. Sua mente é formatada pela lógica do mercado, onde predomina a dinâmica do pagou, levou. Esse colega deixou sua leitura mercadológica evidente; por isso, é incapaz de compreender uma universidade federal como espaço público e socialmente referenciado. É um ser deslocado que perambula em nosso meio; que nos constrange academicamente. Pior: sua fragilidade teórica é tão perceptível quanto o sol de Cuiabá.

Enfim, tenho pena de seus estudantes. Jamais aprenderão com essa criatura o que vem a ser um profissional e um cidadão com o olhar voltado para sua própria classe.

PS.: quem considera o magistério como um sacerdócio deveria dispensar todos os investimentos, incluindo os salários, que o Estado lhe  fornece, e recorrer às paróquias, cúrias metropolitanas e até à Santa Sé para a manutenção de sua sobrevivência. Professor é profissão; portanto, é um trabalhador que precisa ser respeitado, tanto quanto os que fabricam sapatos, carros etc.

Quinta, 17 Setembro 2015 14:12

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT

Há muito tempo que integrantes da elite brasileira aprenderam como se apossar de discursos elaborados por membros das classes trabalhadoras. Não bastasse a exploração a que submetem os trabalhadores, vários agentes do status quo têm praticado a vampiragem de discursos dos oponentes às imposições neoliberais, cruéis na essência. 

O exemplo mais recente desse tipo de prática pode ser lido no artigo “A luta continua” (In: “Tendências/Debates”; Folha de São Paulo: 11/09/2015).

Mesmo com as dicas já lançadas, desafio os leitores – que obviamente não puderam ler na fonte o artigo citado – a adivinharem o autor da pérola em pauta.

Acertou quem apostou em Paulo Skaf.

Quem é Skaf?

Claro que não é um novo líder sindical. Trata-se do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP). Skaf – erigido da mesma linhagem de Mário Amato et alii – é um dos mais importantes símbolos/representantes humanos do capitalismo nacional. Poder-se-ia dizer tratar-se de uma das principais encarnações do capital no Brasil.

Sendo assim, quando Skaf diz que “A luta continua” – que, na origem, é a segunda parte do jargão “O povo na rua...” –, ele está demarcando a continuidade dos planos e/ou projetos da elite perante o governo federal, e não da luta, como faz crer no enunciado.

Quem precisa da luta é quem labuta; ou seja, é o trabalhador, e não o empresário/presidente da FIESP, que inclusive ajuda a dar o tom ideológico às outras federações país afora.

Isso é tão verdadeiro que, logo após o anúncio do pacote de horrores (recheado de cortes orçamentários e novos impostos) feito pelo governo Dilma/PT, no último dia 14, Skaf disse em bom tom, no Jornal Nacional, que agora agirá dentro do Congresso.

Agirá mesmo; e entrará como convidado de honra daqueles seres que dependem do empresariado para suas eleições, reeleições, novas eleições, perpétuas eleições...

Em contrapartida, se um trabalhador vinculado à verdadeira luta sindical – não estou falando dos pelegos do PT e congêneres – tentar entrar no Congresso, munido de suas armas típicas (bandeiras e faixas), o mínimo que lhe espera é o gás de pimenta nos olhos. Eis a diferença entre os que verdadeiramente podem dizer e os que não podem dizer “a luta continua”.

Agora que retomo o jargão ao campo correto das lutas sociais, afirmo que, em diversos serviços públicos do país, a luta/greve – que já ultrapassou o centésimo dia – continua; e continua porque o governo fez uma opção política para tentar governar a nau à deriva. Optou por se curvar perante a variação de humor dos investidores no mercado.

Ao optar por esse segmento tão invisível quanto insensível, o governo reafirma seu ódio à classe trabalhadora. A dicotomia nunca esteve tão evidente. O governo materializa seu ódio quando aponta que os trabalhadores terão de pagar mais impostos do que os que já pagam; quando anuncia cortes nos serviços e nas políticas sociais, precarizando ainda mais os serviços das repartições, como o INSS, e das instituições públicas, como as universidades e os institutos federais de ensino.

Logo, seu ódio maior, que em geral conta com apoio da grande mídia, está voltado exatamente aos trabalhadores que fazem funcionar a máquina do Estado.

O anúncio do pacote referido é a materialização mais recente desse ódio de classe. Por conta dessa declaração, os servidores públicos federais continuam em greve...  

 PS: em meu último artigo, onde se lê “Pedro II”, leia-se apenas “Pedro”. Grato.

Quarta, 16 Setembro 2015 12:56

 

JUACY DA SILVA* 

Um dos motivos da Inconfidência Mineira, que acabou levando Tiradentes à forca , mas que solidificou o sentimento libertário dos habitantes do Brasil, então colônia de Portugal, foi a chamada “derrama”,  ou seja, o  aumento exagerado  da carga tributária que era imposta ao povo brasileiro.

Ao longo das últimas sete décadas,  desde o início dos anos quarenta,  os sucessivos governos foram e continuam aumentando uma abusiva carga tributária sobre todos os setores  econômicos  e diferentes camadas sociais.  Uma  constante em todos os governos tem sido a implementação de um  sistema tributário regressivo, ou seja, as camadas mais humildes e os consumidores pagam proporcionalmente  um montante mais pesado de impostos.

O sistema  tributário brasileiro além  de extremamente injusto, recai muito mais sobre o consumo,  enquanto diversos outros países tributam menos o consumo e mais a renda,  a riqueza  e a propriedade de forma progressiva.  Além  deste aspecto, o nosso sistema tributário cria  uma série de  mecanismos que abre brechas para que grandes  empresas e camadas de alta renda, os milionários e ultimamente  os bilionários,  acabem sendo ajudados pelo Estado no processo de acumulação de capital. O Estado  brasileiro é um “Robin wood”  as  avessas, tira dos pobres  para ajudar os ricos e isto é a maior contradição no atual  governo Dilma/Lula, que tem uma retórica trabalhista e socialista, apenas de fachada.

Diversos incentivos fiscais,  a  título de alavancar investimentos para   o desenvolvimento de algumas regiões  ou setores econômicos, acabam gerando enormes distorções no sistema tributário, principalmente pela  falta de transparência e falta de fiscalização pelas  estruturas governamentais. Exemplos típicos, bilhões de cruzeiros  ou ultimamente  reais, que foram desviados sob o manto dos incentivos fiscais concedidos pela SUDAM, SUDENE e outros setores.

Agora mesmo,  em Mato Grosso, uma CPI  instalada na Assembleia Legislativa do Estado  está retirando um verdadeiro véu que ao longo dos últimos  20  anos encobria  uma política opaca de incentivos fiscais que a cada ano subtraia  bilhões de reais  que seriam melhor empregados  na saúde, na  educação, na  segurança, no saneamento, na infraestrutura urbana e rodoviária, do que para beneficiar  uma minoria privilegiada que tem acesso a tais recursos graças  `a sua  aproximação com o poder  e ao tráfico  de influência.

Outra distorção que afeta o sistema tributário brasileiro é a prática da renúncia fiscal  adotada pela União, pelos Estados e Municípios, quando o poder público , deliberadamente, abre mão de uma parcela da arrecadação a que  faz jus.  Só o Governo Federal a cada  ano abre mão de  arrecadar  mais de 250 bilhões  de reais, afetando não apenas o OGU –Orçamento Geral  da União, mas  também os Estados e municípios, através da redução dos recursos a serem transferidos  constitucionalmente através do FPE e FPM,  respectivamente, Fundo de Participação dos Estados e Fundo de Participação dos Municípios.

Outra  sangria nas receitas  públicas tem sido a enorme parcela  de tributos que são sonegados, graças  à incompetência no processo de arrecadação e de recebimento de impostos sonegados, além da corrupção que acaba criando mais uma distorção no sistema. A  cada ano só a União perde mais de 350 bilhões com a sonegação. O montante acumulado de tributos federais sonegados até julho ultimo, já ultrapassava  R$ 1,1 trilhões, sendo que723,3  bilhões (65,7%) deste valor são de  grandes  sonegadores, que representam apenas 1% do universo das empresas sonegadoras.

Finalmente, para completar  o quadro dessa  distorção do  sistema tributário/fiscal são os subsídios que acabam sendo pagos pelo tesouro nacional, onerando de uma forma generalizada os contribuintes. Os  empréstimos do BNDES, por exemplo, são captados pelo Tesouro pagando juros pela taxa Selic, que no momento está acima  de 14%  ao ano e aquele Banco empresta a outros organismos públicos como estados e municípios e principalmente a grandes grupos econômicos a juros que mal  chegam a metade dessas taxas.

Diante dessas distorções chegamos a conclusão de que não é preciso nenhum aumento da carga tributária para buscar-se  o equilíbrio orçamentário e fiscal como deseja o Governo Dilma, que está praticando um verdadeiro terrorismo sobre os contribuintes. Basta ter  mais   eficiência na arrecadação,  acabar com os favores que  o  governo concede, seletivamente, a grupos influentes e poderosos, reduzir a corrupção e melhorar a qualidade da gestão pública, combatendo a incompetência generalizada da administração pública.

O povo não  aguenta mais tantos impostos e em troca serviços públicos de baixíssima qualidade  e uma corrupção enorme. Está  na  hora de um basta  nesta extorsão institucionalizada. Voltarei a  este tema oportunamente!

*JUACY DA SILVA,  professor  universitário, titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Terça, 08 Setembro 2015 16:45

 

 

JUACY DA SILVA*

A Guatemala é o terceiro maior país  da América Central,   com 108.9 mil km2, pouco maior do que o Estado de Pernambuco que tem 98.300 km2,  com uma população de 15,5 milhões de  habitantes, sendo que  na  área metropolitana  da cidade de Guatemala, a capital, estão concentrados aproximadamente 4,8 milhões de habitantes, 31%  do total da população, que em sua grande maioria ,  mais de 80% são  descendentes dos  Maias.
Apesar  de ser um país  subdesenvolvido, como tantos outros da América Central, Caribe e do Sul, tem uma das mais fortes economias da região, o PIB deste ano está previsto em 90,0  bilhões de dólares ou aproximadamente 340  bilhões de reais, pouco menos do que o PIB de Minas Gerais ou quase cinco  vezes  o PIB de Mato Grosso.

Este é  um país marcado  por revoluções, golpes de estado  e que viveu em Guerra civil entre 1960 e 1996, tendo de um lado grupos que recebiam apoio dos EUA  e de outro grupos  de esquerda. Durante  este período mais de cem mil  pessoas  foram mortas, incluindo alguns massacres contra indígenas  e quase  um  milhão  deixaram o país,  fugindo da Guerra civil, a maioria com  destino aos EUA.

Em 1990, como integrante do Inter-American Defense College, tive a oportunidade de visitar a Guatemala  e a Costa  Rica por duas semanas em viagem de estudos. Apesar do clima de violência e medo decorrente da Guerra civil, como observadores podíamos ver que a esperança de um futuro sem violência, com desenvolvimento e democracia  era a energia que movia aquele povo humilde  e sofrido da Guatemala.
Todavia, os  atuais governantes traíram  as esperanças do povo ao transformarem a corrupção em instrumento de gestão pública, podendo lançar novamente o país  em um novo  período de conflito e instabilidade econômica, política, institucional e social.

O atual governo que teve inicio em 2012 e tudo levava a crer que a Guatemala  iria  passar  por um período de estabilidade democrática. Todavia, aos poucos vários integrantes do governo passaram a ser acusados de corrupção, muitos dos quais acabaram  renunciando, até  que há  poucas semanas a vice-presidente da República foi afastada  do cargo e presa, por  envolvimento com a corrupção, conforme organismos vinculados a ONU que combatem  a corrupção constataram que tais práticas  estavam alastradas pelas diversas  instâncias do Governo.

Inconformada com a situação, há meses, bem  mais de um ano, a população da Guatemala está  saindo às ruas em protestos  contra a corrupção no Governo.  Atendendo aos reclamos populares, o Congresso há poucas semanas  cassou a imunidade do Presidente e iniciou um processo de investigação quanto ao envolvimento  do mesmo em casos de corrupção e por considerar que o Presidente  sabia e na verdade comandava um grande esquema de corrupção, responsável por verdadeiras quadrilhas que dilapidavam  os cofres públicos e faziam  tráfico de influência.

Como  as pressões  populares aumentaram não  restou ao Presidente  Otto Molina, agora ex-presidente, outra alternativa a não ser a renúncia, na esperança de que seu ato pudesse  trazer a tão sonhada paz social e política e estancar as acusações de corrupção contra o seu governo, as  vésperas das eleições  gerais, incluindo para Presidente da República.

O que o Presidente não  imaginava é que tão logo deixasse o cargo seria preso e iria ter que prestar contas à justiça  e ao povo guatemalteco e poderá  ser condenado  a décadas na cadeia, local de residência de todos os corruptos  tanto naquele país  quanto em outros abaixo  ou acima do linha do equador.

Qualquer semelhança da situação da Guatemala e  o que tem sido revelado no MENSALÃO, no PETROLÃO/LAVA JATO e em outros setores  da Administração  brasileira, pode não ser  mera coincidência, já que a corrupção é  uma verdadeira epidemia que  está muito presente em todos os países, principalmente na América Latina.

Oxalá  também no Brasil,  como  está acontecendo na Guatemala, os corruptos possam pagar pelos seus crimes  e ver o sol nascer quadrado por vários anos e que isto possa  servir  de exemplo para  que outros ladrões de colarinho branco ou outras vestimentas  também sejam  demovidos de roubar o dinheiro público!

*JUACY DA SILVA, professor universitário,  titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Quinta, 03 Setembro 2015 16:51

 

JUACY DA SILVA* 

Parece que nossas autoridades, governantes em todos os níveis e poderes, não conseguem encontrar  um rumo para que o Brasil possa sair de uma das  mais graves crises  em que se encontra atualmente. Não  bastassem as crises econômica, social, moral, financeira, orçamentária que estão  destruindo a economia e as esperanças do povo brasileiro, aos poucos também está vindo à tona  uma crise institucional que pode lançar o país em um caos maior do que imaginamos, com sérios riscos para a estabilidade institucional e a democracia.

A inflação acumulada de janeiro a agosto já chegou a 7,35%  e ainda temos mais sete meses pela frente, tudo leva a crer que a inflação em 2015  deva superar os 10%, sendo que nos últimos doze meses já chegou a  9,04%. Como normalmente a inflação penaliza  mais as camadas mais pobres  e a classe média baixa, além de aposentados, cujos ganhos estão abaixo  de dois salários mínimos, isto  deverá fomentar mais insatisfação não apenas nessas camadas, mas também e principalmente junto aos servidores públicos, cujos salários estão muito defasados em relação à inflação acumulada nos  últimos dez anos, próximo de 45%  e isto é sentido por todas as categoriais de trabalhadores, que recorrem às greves não por aumento salarial mas sim pela recomposição das perdas inflacionárias, ocorridas nos governos Lula e Dilma.

Em um cenários como este não é difícil prever  que o Brasil irá enfrentar uma das  maiores fases  de greves e manifestações populares, cuja origem da insatisfação é a perda do poder aquisitivo, a queda da renda dos trabalhadores e aposentados  a que se somarão mais de 12 milhões de desempregados e o dobro de subempregados por este Brasil afora. São mais de 90 milhões de  pessoas insatisfeitas com o atual governo e nossas instituições que  estão aquém das necessidades e das aspirações do povo.

Neste  contexto  começam também a surgir rusgas entre autoridades como integrantes do STF, TSE, Procurador de Justiça,  Tribunal de Contas  da União, Senadores, Deputados Federais, Governadores  e a Presidência da República.
O que está acontecendo no Rio Grande do Sul pode ser uma amostra do que poderá vir a acontecer em diversos estados e municípios. Lá o atual governo eleito há  pouco mais de seis meses, herdou um estado   falido, com  um nível de endividamento acima do que  se consegue administrar. Esta é a herança deixada pelo   governo do PT que o antecedeu.

Sem recursos para pagar salários o atual  governo só encontrou duas alternativas, deixar de pagar parcelas da dívida com  a União e, ainda mesmo assim, ter que parcelar em duas ou até quatro vezes os salários dos servidores, gerando mais greves e o caos, agravado ainda mais pelo bloqueio que o Governo Federal fez em relação aos repasses para o Estado.  Se o atual governo, que não se alinha com o gestão Dilma ,  fosse do PT  com certeza o governo federal seria mais “compreensivo”, como tem sido com vários grandes  grupos econômicos que continuam mamando nas tetas dos bancos oficiais.

Outro dado ilustrativo da gravidade da atual crise é o fato de que o Governo Dilma, pela primeira vez na história recente, em mais de 50 anos,  apresentou ao Congresso um orçamento deficitário  para o ano seguinte (LOA para 2016), em mais de 30  bilhões, mas que para muitos analistas este déficit pode ser muito maior, atingindo a casa dos 70 ou 80  bilhões de  reais. O mesmo foi feito pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, LOA para 2016  com mais de 15 bilhões de déficit.

Se ao longo de décadas o Governo Federal apresentava “superavit primário”  para poder pagar parte dos juros e encargos da dívida pública, que mesmo assim, durante os governos Lula e Dilma passou de  586 bilhões de dólares para algo em torno de 2,4 trilhões em dezembro vindouro, podemos imaginar o impacto que este caos orçamentário e financeiro terá sobre a dívida pública, que já consome quase  50% do OGU – Orçamento Geral da  União, apesar do aumento descomunal da  carga tributária brasileira, que já beira 40%, uma das maiores do mundo e serviços públicos semelhantes aos países mais pobres da África, Ásia e América Latina e Caribe.

Em um cenário como este não é difícil prognosticar que os protestos, movimentos de massa e a pressão para que a presidente Dilma  renuncie ou sofra  o impeachment vai ficar cada vez mais forte. O FORA  DILMA, FORA PT, FORA LULA  vão estar ecoando com mais vigor pelos próximos meses  e no ano que vem quando serão realizadas eleições municipais.

 

*JUACY  DA SILVA,  professor  universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta.  Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog  www.profeessorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Segunda, 31 Agosto 2015 12:34

 

Nessa terceira monstruosa mobilização do povo na rua, não houve um foco de reivindicação para tamanha indignação e, muito menos, um líder. 

O que fazer com essa massa de descontentes com a situação atual de crise econômico-financeira, moral e ética que atinge todo o território nacional? 
O staff político do Planalto está de plantão permanente com a sua elite (?) de entendidos sociais para decifrar o que fazer para desarmar esta bomba de efeito retardado que poderá destruir ou retardar o crescimento da nossa nação. 
Preocupações da desvalida classe média são totalmente sem importância para o jogo do poder. 
Os manifestantes sem líder querem apenas mais ética na política, com os ladrões dos cofres públicos na cadeia, o fortalecimento do trabalho do Juiz Sérgio Moro e colaboradores do Ministério Público e Polícia Federal e um país mais digno e justo para se viver. 
Estamos falando desses representantes que aparecem nas manifestações de rua. 
Enquanto o povão não se fizer representar por livre e espontânea vontade, nada acontecerá. Somente as massas têm algum poder de mudança. 
Tudo parece um grande sonho, pois os órgãos superiores responsáveis por esta nação dão sinais de um gigantesco acordo para que tudo continue como dantes. 
Inflação fora do controle, ajuste fiscal remendado, aumento do desemprego e subemprego, greves nos setores básicos ao nosso desenvolvimento, queda da arrecadação, aumento de impostos e maior número de brasileiros sem condições de se manterem em suas mínimas necessidades – tudo continuará assim. 
Enquanto isso, a economia americana nem se recorda mais da bolha imobiliária de 2008, e os preços estão caindo, como no caso da gasolina e dos impostos. 
Até a Grécia apresenta sinais de recuperação na sua economia! A Europa ressuscitou da sua má fase. Não vejo a hora em que seremos ultrapassados por Cuba.  
Ficaremos em companhia da Venezuela, Haiti, Nicarágua e Bolívia. 
E a nossa gente, mais esclarecida, indignada, permanece em casa, pois não temos líderes. 
Assim como importamos médicos para resolver o problema da nossa saúde pública, chegou o momento de importamos líderes. 
É o que enxergamos no horizonte conturbado do nosso futuro.

Gabriel Novis Neves
18-08-2015

Quarta, 26 Agosto 2015 13:50

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Neste artigo, trato de algumas caras siglas político-ideológicas que aos poucos, infelizmente, vão virando pó: MST, PT, CUT, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Exceto a última legenda, que nasceu em 1916, e a penúltima, que surgiu em 48, as demais foram gestadas durante a ditadura de 64. O compromisso social sempre foi algo caro a essas siglas.

O MST – “herdeiro ideológico dos movimentos de base social camponesa ocorridos desde a chegada dos portugueses ao Brasil” –surgiu, no final dos anos 70, opondo-se ao modelo de reforma agrária dos milicos. O Movimento buscava a redistribuição das terras improdutivas. Consolidou-se na década dos 80.

Por sua vez, o PT nasceu exatamente em 80, pelas mãos de dirigentes sindicais, intelectuais de esquerda (muitos da USP) e católicos da Teologia da Libertação, que punham em prática ensinamentos cristãos no excludente cotidiano de nosso povo.

Logo depois, o PT – “rejeitando tanto as tradicionais lideranças do sindicalismo oficial, como procurando colocar em prática nova forma de socialismo democrático” – tornou-se o berço da CUT, nascida em 83.

A origem da CUT, bem como as siglas anteriores, foi nobilíssima. A entidade surgiu pregando a autonomia sindical; opunha-se aos sindicatos atrelados ao Estado, monstros criados por Getúlio.

Tributo histórico feito, resta-nos ver os rumos que essas siglas tomaram após a chegada do PT à presidência.

Em minha opinião, todas afrouxaram princípios; amordaçaram-se diante da proximidade com o poder. A autonomia em relação ao Estado e ao governo ficou comprometida.

E o que dizer especificamente sobre a SBPC, que surgiu querendo unir o pensamento científico brasileiro, motivado pela chegada de cientistas europeus, trazidos ao país para ajudarem na implementação de nossas universidades, em particular a USP, criada em 34?

Antes de tudo, é mister saber que a SPBC nasceu exigindo dos governos investimentos na ciência e na cultura. Também se colocou em defesa dos profissionais que eram afastados das universidades por perseguições políticas. Logo, sua origem foi nobre.

No entanto, a SBPC também parece ter feito opção político-ideológica em prol do governo petista, que se igualou às siglas de direita até mesmo na corrupção. Exemplo recente: a SBPC acabou de quebrar o silêncio diante da greve das federais. Junto com a ABC, assinou desastroso manifesto intitulado “Em defesa das Universidades Públicas”.

No tal documento, só o título e uma ou outra frase solta é que se salvam. As duas entidades chegam ao cúmulo de solicitarem que o governo não atenda às principais demandas de nossa pauta de greve, com ênfase à carreira docente.

Como se fossem entidades detentoras de suprema sapiência, as signatárias do manifesto apresentam uma absurda lista de sugestão daquilo que o governo deveria fazer.

Em dado momento, chegam à esparrela da leitura política, imputando aos docentes das federais a responsabilidade “pelo sucesso ou fracasso da instituição” em que trabalham. Mais: apostam na universidade colada aos interesses do mercado; logo, colocam em plano inferior o caráter socialmente referenciado das instituições federais.

O referido “manifesto” parece coisa encomendada. A sociedade não merecia isso.

Diante de tudo, mais do que nunca, precisamos reforçar a luta pela universidade pública, gratuita, laica e socialmente referenciada. Se as siglas acima referidas vierem conosco, ótimo. Se não, que paguem o preço que a história deverá lhes cobrar.

Quinta, 20 Agosto 2015 18:17

 

Renúncia - uma palavra enaltecida pelos poetas e escritores como um ato de grandeza e de amor. 

Na vida real, nem sempre o discurso e a prática caminham na mesma direção. 
Cresce no país as correntes que sinalizam que o grave momento de crise econômico-financeira que vivemos seria resolvido apenas com a renúncia da nossa presidente da República. 
A figura em questão foi uma militante de movimentos revolucionários lá dos idos anos 60, 64, mas nunca foi um ser político. 
Naquela época ela ocupava o cargo de guarda livros do movimento, ou seja, meramente burocrático. 
Nunca foi questionado o seu aspecto de liderança.
Líder, o movimento sempre teve na figura do sindicalista de maior visibilidade do país. 
Sabemos que mandar é totalmente diferente de liderar. 
Temos na presidência alguém que manda pesado, mas sem habilidade política para liderar. 
Aí reside o grande sangramento do partido do poder que, desmascarado nas figuras de seus maiores líderes pela operação “Lava Jato”, vinculados a suspeições de irregularidades financeiras, já não consegue fazer as alianças necessárias para um mínimo de governabilidade.  
Alguns mais intelectualizados do poder, leitores contumazes da teoria marxista, acreditaram que organizando um plano através da distribuição de cargos de chefia por todo o Estado, teriam a tranquilidade necessária para fazer as mudanças sociais apregoadas como salvadoras. 
Eles esqueceram que o ser humano, na sua sede de poder, enlouquece diante das mordomias e dos prazeres mundanos. 
O enriquecimento pessoal vira a meta prioritária, e logo fica estabelecido o “salve-se quem puder”. 
A história nos mostra que isso já aconteceu em outros países, em outras épocas. 
O perfil psicológico da nossa gestora não combina com a possibilidade de uma renúncia ao cargo para o qual foi democraticamente eleita, ainda que isso se apresentasse como uma saída honrosa para o país. 
Não vemos em nenhuma das correntes de poder alguém que, no momento, possa, realmente, representar os anseios populares.  
O quadro geral é de pessoas totalmente desvinculadas das funções para as quais foram eleitas, numa busca insana de benesses pessoais como absoluta prioridade. 
O mais grave, a meu ver, é que o partido mais forte que apoia a presidente, e que detém a vice-presidência, vem se encantando muito rapidamente com o rumo caótico dos acontecimentos e, quem sabe, vislumbrando possibilidades próximas de uma nova liderança. 
Todos os grandes cientistas políticos aventam para a gravidade extrema da situação. 
Nessa oportunidade, seria configurada uma renúncia, não como ato de grandeza, mas simplesmente por absoluta falta de governabilidade. 
Num regime democrático impõe-se absoluta harmonia entre os três poderes, e isto não vem acontecendo. 
Essa é a grande gravidade da situação política brasileira! A população, atônita, assiste inerte ao desmoronamento de um dos países mais ricos do mundo. 
Resta-nos torcer para que os que detêm o poder abdiquem das suas vaidades e passem a agir com um pouco mais de patriotismo, evitando uma ainda mais grave crise institucional.

Gabriel Novis Neves
10-08-2015