Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Eu já sabia que alguns temas trabalhados em meus artigos provocam fortes reações em muitos leitores. A religião é um deles. A política também, mas não mais do que a religião, que sempre aciona previsíveis moralismos. Agora, acabo de descobrir que falar de nudez também excita muita gente.
Desde o início deste mês, reservado aos festejos de santos católicos, como Antônio, João e Pedro, alguns articulistas têm se dedicado a reflexionar sobre uma das mais absurdas censuras que o espaço artístico cuiabano já sofreu: a mostra de fotografias de Tchélo Figueiredo, que expõe o nu feminino em cenários típicos do cerrado.
Como não poderia ser diferente, os articulistas se dividem entre apoiar ou execrar a exposição. Os leitores também assim se dividem. Como o conjunto de fotos é bonito e poético, os censores – articulistas ou leitores – se escondem no seguinte argumento: o lugar (um shopping) não é adequado para “aquilo”, pois “aquilo” (a nudez) agride nossas criancinhas.
Que bom ver papais e mamães preocupados com suas crias! Agora, que essa preocupação parece mentirinha de adulto, parece. Sem medo de errar, afirmo: assim como eu tenho feito, poucos articulistas deste estado já demonstraram em seus artigos tanta preocupação com o futuro de nossas novas gerações. O tema já foi abordado por mim sob diversas óticas, com prevalência de nossa falida educação, bem como da oferta do que há de pior em termos de bens culturais às crianças, adolescentes e jovens.
Portanto, papais e mamães cheios de pudores, preparem-se. Vou entrar – no plano simbólico, é claro – nas residências santificadas da maioria dos senhores, para os quais toda nudez deve ser castigada em nome de uma moralidade ancestral. Com licença, pois. Entro lembrando de um momento que é só felicidade em todos os lares: as festinhas de aniversários da gurizada.
Delas, relevarei a variedade das decorações. Nem vou ficar falando que, sem pejo, em momentos tais, a maioria dos adultos, sem vergonha ou culpa alguma, se alcooliza na frente dos pequenos. Falarei apenas das músicas que são tocadas nesses momentos ditos “infantis”. Quantos incentivam, p. ex., a audição e a dança de “A Arca de Noé” de Vinícius ou congêneres, como as lindas músicas de Toquinho para as crianças?
Raros, meus caros! Em momento de baixaria suprema de nossa vida cultural, até a Xuxa ficou ultrapassada para nossas inocentes criancinhas! Sem hipocrisias: não há mais nível e nem respeito social às crianças brasileiras; e isso já faz tempo.
Com raríssimas exceções, pergunto: o que se ouve e se dança nessas festinhas de crianças?
Lixos musicais. Como ignoro esses entulhos, tive o trabalho de ir à internet e, dentre tantos, buscar ali apenas um exemplo, que está a quilômetros de ser o pior: “50 reais” é o nome da música que selecionei. Dela, destaquei as seguintes pérolas:
“...E por acaso esse motel// É o mesmo que me trouxe na lua de mel?// É o mesmo que você prometeu o céu?// E agora me tirou o chão// E não precisa se vestir// Eu já vi tudo que eu tinha que ver aqui...// Não sei se dou na cara dela ou bato em você// Mas eu não vim atrapalhar sua noite de prazer// E pra ajudar pagar a dama que lhe satisfaz// Toma aqui uns 50 reais”.
E é dessa porcaria pra pior. Nossas crianças de hoje, acompanhando os adultos, cantam isso com a mesma naturalidade como as de antigamente “atiravam o pau no gato”.
Realmente, precisamos cuidar de nossas crianças. E se cuidarmos sem cinismos, o resultado será melhor.
Vamos nos despir das hipocrisias?
A Diretoria no uso de suas atribuições regimentais convoca todos os sindicalizados para Assembleia Geral a se realizar: |
Somando-se à crise política, econômica e social brasileira, o mosquito aedes aegypti ameaça todos os continentes. No Brasil, avança há mais de um século, compondo hoje a crise no setor estatal da saúde, diante do trágico avanço das doenças transmitidas através deste mosquito. Desde a febre amarela no início do século, este mosquito vem produzindo doenças que desaguaram na Dengue, Chikunguniya e Zika. Infelizmente, todas as sinalizações e alertas estão historicamente demarcados. Indicam que a saúde pública não avançou o necessário, as expensas da morosidade concreta na implementação de Políticas Públicas abrangentes conectadas com o setor saúde. A saúde pública é, “prima-pobre” na relação de prioridades que caminham na mercantilização da saúde no País. É preciso alertar para os sinais que abatem-se sobre a população, na tragédia que chega ao vírus Zica. Sabe-se não muito sobre ele, mas que é capaz até de comprometer futuras gerações, frear este tipo de doença não está no campo das concepções hegemônicas da prática médica. Vítima também da expansão de um mercado chamado: complexo médico/industrial (como o agroindustrial), centrado no lucro e na ampliação da demanda de mercado, na lógica da doença. Assim, a prática médica pode até não significar saúde, em sua concepção densa e ampliada.. Para se ter uma ideia, as residências em Saúde Coletiva multidisciplinares, mesmo em clinica médica (geral) são pouquíssimas, e desvalorizadas pela própria lógica de mercado. Adeus generalistas na medicina, quase todos demandam para a superespecialização, em cada vez menores partes do corpo, em um país onde mais de 80% das doenças são prevenidas e/ou contidas e curadas na atenção básica. Os sanitaristas, profissionais de Saúde Coletiva, são essenciais na mudança necessária que desafia a saúde aqui no Brasil e em Mato Grosso. Lutamos para a criação de graduações na área, também aqui na UFMT, e que já dispõe de profissionais formados em outra lógica ao setor hegemônico da saúde. Forma Sanitaristas, que anteriormente eram egressos de cursos de pós graduação, preparados para a gestão e operacionalização integral do sistema. Pelo visto, os sistemas Estaduais e Municipais de Saúde não estão absorvendo estes profissionais. Uma pena, este tema deveria ser pauta da AMM, do COSEMS e de toda gestão do setor. Suas práticas ancoram-se em determinantes sociais, ambientais, culturais, além do enfoque biológico. Um dos inúmeros exemplos de distorção na rede de serviços é a disfunção das UPAS, tornando-se ao invés de atendimento de urgência e emergência, uma porta de entrada do sistema, além de ameaçar o esvaziamento da atenção básica. Neste rumo, demanda para a hospitalização, grande parte das vezes desnecessárias se ocorresse de fato atendimentos de qualidade nos níveis básicos e intermediários. O alerta é, para onde caminha o SUS? Sem ação intersetorial nas políticas públicas, especialmente sociais e infraestrutura, não é possível avançar, conter a escalada destas doenças. São doenças típicas da pobreza, agora atacando de alguma forma outros grupos sociais neste processo de ocupação rural e urbana desumanizadas. Para entender melhor a saga deste mosquito e destas doenças, não há como, sem entender o papel do Estado nesta tragédia anunciada, imposta pelo Aedes Aegypti. Está no cenário o aumento da epidemia de dengue, com 1,6 milhões de casos e 839 mortes, mais de 500 mil casos de contaminação pelo vírus Zika, com 2975 casos de microcefalia sendo investigados. As projeções apontam cem mil casos em 2016. Falta de saneamento básico e ambiental, desfiguração do meio ambiente, ausência de investimentos e prioridades na atenção à saúde, Vigilância Sanitária, Ambiental e Epidemiológica, Ciência e Tecnologia e descaso histórico do poder público completam a equação desta tragédia. Anunciada!
Waldir Bertúlio
Professor aposentado da UFMT
JUACY DA SILVA*
Costuma-se dizer que se o tempo que os brasileiros perdem em diferentes tipos de filas fosse computado para aposentadoria, muita gente poderia aproveitar vários anos nesses cálculos previdenciários.
A existência de filas, longas e demoradas, representa a falência de qualquer Sistema, a falta de racionalidade, custos econômicos e financeiros, excesso de burocracia e também uma alta dose de incompetência tanto dos setores públicos quanto privados.
Segundo alguns especialistas, só as filas no SUS, por exemplo, podem representar um custo desnecessário, enfim, prejuízo para o setor público e também para as pessoas que perdem tanto tempo, algo em torno de 0,2% do PIB, ou seja, R$10,6 bilhões por ano. Se forem consideradas as filas em todos os setores públicos e privados no Brasil, este custo pode chegar até 1,5% do PIB, isto seria algo como R$79,7 bilhões de reais, quantia superior ao que o governo federal destina a maioria dos ministérios e muito maior do que o orçamento de muitos estados e municípios.
Com a persistência da ação do mosquito aedes aegypit, que transmite dengue, zika, febre chicungunha e também a febre amarela, parece que o nosso Sistema público de saúde entrou em colapso total, exigindo da Presidente Dilma, na qualidade de Comandante em Chefe das Forças Armadas, a declarar Guerra a este mosquito , quando deveria mesmo era declarar Guerra à incompetência e a corrupção que está destruindo seu governo e as instituições nacionais.
Enquanto chefes de Estado, também na qualidade de comandantes em chefe das forças armadas, treinam suas tropas para uma Guerra de verdade contra terroristas e outras ameaças à soberania ,segurança nacional e independência de seus países , nossas forças armadas são convocadas para distribuição de panfletos de orientação a população e a retirada de lixo e entulhos de quintais e terrenos desocupados.
Há poucos meses o Brasil concluiu negociação com a Suécia para a aquisição de 36 jatos de Guerra Gripen, a um custo total de USS$4,5 bilhões de dólares ou seja, custo de cada jato US$125 milhões de dólares. Transformados em reais de fevereiro deste ano, cada jato custou 512,5 milhões de reais e o total desta aquisição é de R$18,45 bilhões de reais. Será que a comandante em chefe de nossas forças armadas vai usar esses modernos aviões no combate ao este mosquito que, segundo o ministro da saúde, está vencendo esta Guerra?
Enquanto isso faltam recursos para o saneamento básico ou até mesmo parcos recursos para adquirir produtos para o fumacê , repelentes ou outros produtos para combater esta e várias outras endemias que ainda estão presentes em nosso país. Pior, conforme noticiado nesses últimos dias estão faltando vacinas para imunizar recém nascidos, crianças, idosos, enfim, a população está correndo risco de vida devido a incúria de nossas autoridades, incluindo da área de saúde.
De forma semelhante, enquanto a presidente alegremente distribui panfletos em favelas cortadas por valões e esgoto a céu aberto e ostenta camiseta com a foto deste mosquito que é o símbolo da incompetência e do descaso em que vive nossa saúde pública, milhões de brasileiros aguardam tanto nas filas de hospitais e unidades de saúde por um atendimento corriqueiro ou de urgência e outros milhões chegam a aguardar anos para conseguirem uma consulta com um medico especialista ou para cirurgias.
As filas, tanto as que podemos ver quanto essas invisíveis, que ficam apenas registradas em computadores e telefonemas, demonstram o sofrimento do povo e o descaso de governantes insensíveis e incompetentes, além de muitos outros corruptos que mesmo em meio a tamanho sofrimento das camadas mais pobres, teimam em roubar recursos públicos e usarem o tempo para arquitetarem planos e esquemas criminosos.
O cinismo oficial e tão grande que o ministro da saúde chegou a dizer que estaria torcendo para que as mulheres pudessem contrair zika antes de ficarem grávidas pois assim estariam imunizadas caso desejassem se engravidar.
Sorte desses governantes é que o povo brasileiro é muito paciente, alienado e aceita todas essas formas de desrespeito, de forma passiva, quando muito agridem porteiros e servidores de unidades de saúde! Mas um dia este povo pode acordar e ai a situação vai ficar bem complicada. Este filme já foi visto várias vezes em diferentes países e poderá acontecer também em nosso país.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
JUACY DA SILVA*
O Brasil nos últimos anos não tem sido bem avaliado pelos organismos internacionais, incluindo as empresas que realizam o que é chamada de classificação de risco. Essas empresas orientam e são consultadas pelos grandes investidores internacionais quando decidem investir ou deixar de investir em outros países, principalmente os chamados “mercados emergentes”, onde nosso país está incluído.
No ultimo ano duas dessas empresas rebaixaram o nível do Brasil, colocando nosso país na categoria de mercados especulativos e de alto risco e com isso diversos grandes fundos americanos e europeus, inclusive poderosos fundos de pensão começaram a avaliar a possibilidade de deixar de investir no Brasil ou até mesmo a transferir investimentos aqui realizados.
Na avaliação que essas empresas fazem elas levam em conta a situação geral da economia do país avaliado, incluindo índices de crescimento do PIB nos últimos anos; taxas de inflação, taxas de investimentos internos, públicos e privados, equilíbrio e controle das contas públicas, índices de corrupção relacionados com a economia e a gestão pública, carga tributária, estabilidade nas regras contratuais, enfim, se a economia do país está estável , em crescimento ou em recessão e qual a capacidade do governo central em gerenciar uma crise existente.
Em todos esses quesitos o Brasil foi redondamente reprovado e todas as medidas tomadas pelo governo, inclusive o chamado “pacote fiscal” não tem conseguido ser corretamente definido e tudo leva a crer que o Congresso não tem sido convencido pelo Governo Dilma quanto `a propriedade e efetividade das medidas. Muitos setores, inclusive parte da bancada de apoio de Dilma no Congresso Nacional são contrários ao aumento da carga tributária, a volta da CPMF e a questão da dívida pública, que tem aumentado muito nos últimos anos e é o ponto central do estrangulamento das contas públicas e da crise econômica, fiscal e financeira que a cada dia está mais complexa e difícil de ser equacionada.
Há quase 20 anos praticamente metade do OGU – Orçamento Geral da União, variando de 42% a 49%, tem sido destinados para o pagamento de juros, encargos , rolagem e uma pequena parte para amortização. Mesmo assim o crescimento da dívida bruta e líquida, tanto em relação ao PIB quanto no total tem aumentado de forma acelerada. As razões básicas deste problema são: a) desvalorização cambial; b) aumento absurdo da taxa básica de juros e c) subsídios a diversos setores da economia e, finalmente, o volume de renúncia fiscal que o governo tem feito em favor de grandes grupos e setores da economia.
Em 2006, por exemplo, o total da dívida pública era de 1,34 trilhões de reais e representava 55% do PIB; em 2016 deverá atingir 3,64 trilhões de reais e vai representar 71,5% do PIB. No orçamento da União de 2016 a rubrica da dívida pública tem uma dotação de R$ 304,1 bilhões só para pagamento de juros e nada menos do que 1.044,8 trilhões de reais para rolagem e amortização, totalizando R$1,348,9 trilhões de reais. Como o Governo não consegue fazer “superavit” nem para pagar os juros, terá que refinanciar R$855bilhões, na forma de novas dívidas que entra no orçamento como receita. Como o orçamento líquido da União para2016 é de R$ 2,1 trilhões, com este aporte o orçamento geral passa para três trilhões. Desta forma, o peso da dívida sobre o orçamento líquido da união é de 64,3% e de 44,96% da LOA para 2016. Como a taxa básica de juros pode subir em 2016, ao lado da recessão que deverá ser praticamente a mesma de 2015 e a desvalorização cambial que também deverá continuar, o cenário para este ano é muito complicado, incluindo redução das atividades econômicas, queda acentuada na arrecadação e dificuldades para honrar os compromissos do governo com seus credores, que são implacáveis, como os agiotas costumam ser.
A única solução é a realização de uma auditoria independente , a chamada Auditoria cidadã da divida pública e uma lei , à semelhança da Lei de Reforma de Responsabilidade Fiscal, que estabeleça um teto máximo no OGU para fazer face ao pagamento de juros, encargos, rolagem e amortização da dívida, antes que a mesma estrangule de vez a economia e a vida do país, inviabilizando todas as políticas públicas por falta de recursos orçamentários e financeiros.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
A crise brasileira é tida como uma das dez maiores ao nível internacional em 2016. Em 2015 foram recolhidos mais de 2 trilhões de impostos da população. Frente a isto, a solução apresentada pelo Governo é cobrar mais impostos como uma das saídas para um “tapa-buracos”. As desonerações tributárias passam de 280 bilhões saídos dos cofres da união em 2015. Tentam arrecadar cerca de 32 bilhões com a CPMF, ao lado de cortes como os 10 bilhões do Bolsa Família (53%). Gastos tributários cresceram nos últimos seis anos. Em 2008, equivalente a 3,33% das riquezas produzidas, em 2015 a 4,93% do PIB (10 vezes o Bolsa Família). No início da década passada, era menos de 2% do PIB. Em todas projeções a diminuição na desoneração e a renúncia fiscal diminui no máximo 6%. As renúncias, como bem conhecemos aqui em Mato Grosso, estimulam também a sonegação e a evasão fiscal, sustentando também empresas pouco produtivas. Quem paga é a sociedade. Pode ocorrer ainda, o aumento da carga tributária em outros setores para compensação. A renúncia fiscal em 2015 foi no valor de 0,15% do PIB, equivalente a 10,3 vezes o Bolsa Família. Hoje, com a taxa de inflação em dois dígitos no acumulado de 12 meses, a taxa de juros seria o instrumento da política econômica para controlar a escalada dos preços. A última reunião do COPOM recuou e decidiu mantê-la em 14,25%. Como aumentar a taxa de juros, se isto leva de imediato a uma retração do consumo, de bens duráveis e dos investimentos, aprofundando mais a crise e taxas como do desemprego, especialmente o formal. Isto sem falar nos efeitos devastadores sobre as finanças públicas. A ameaça da elevação de juros está ligada ao aumento da inflação, efeito de medidas que apenas adiaram sua subida, refletindo no que assistimos hoje. Há uma expectativa de aumento de inflação nos próximos doze meses, alimentadas pela depreciação do real. Há incerteza se os juros tem hoje eficiência no controle da inflação, talvez muito pelo grande fosso criado na política fiscal. Enquanto isso, cortes e contenções afetam drasticamente a crise. Como na Saúde Pública, com a ameaça terrível do avanço do mosquito Aedes Aegypti e sua carga de doenças que assolam a população. Muitos agravos, vidas ceifadas e gerações futuras comprometidas inexoravelmente pelo vírus Zika, voltando a um quadro de horror conhecido desde o século passado. Cortes e contenções são verificados, confirmados nos cortes e repasses para as Vigilâncias Sanitária e Epidemiológica dos Estados e municípios. É um abismo cada vez maior no desvio das concepções do SUS. Nesta refrega, foram adiadas recente, até entrega de kits aos Estados para detecção da dengue, visitas domiciliares e ações de combate ao mosquito. Pior, as condições para investimentos estruturantes nesta questão sanitária como saneamento básico e ambiental em déficit crescente, somado ao modelo destrutivo de expansão na ocupação humana/rural e urbana, tendo a destrutividade ambiental como elemento importante nesta tragédia anunciada que se avoluma. Desde 1903, com Oswaldo Cruz (RJ), Adolfo Lutz em SP (1901), sabemos que não há mágica. É preciso que o Governo tenha poder decisório voltado para priorizar gastos neste setor. Aqui no Brasil e em MT, não faltam equipes e profissionais competentes a esta tarefa, sempre adiada na agenda da saúde. Sanitaristas bem sabem, atuar só no fim do processo com a prática de clínica médica é limitado. Neste modelo hegemônico das práticas de saúde, não dá conta de intervenções eficazes para resolução do problema. Cuiabá, Rondonópolis e Várzea Grande podem entrar em situação de calamidade pública se não ocorrer intervenção estrutural sobre a expansão dos vetores, seus condicionantes e suas doenças, cada vez mais agressivas. Este é o exemplo do cotidiano feroz que vivemos. Assistimos o Governo preparando o maior processo de privatizações no âmbito Federal, desde o sistema Telebrás há 20 anos atrás. O rombo das contas públicas ainda é uma zona cinza em seus limites. Além do que, o momento não é nada propício a esta sanha na busca de recursos a qualquer custo, vendendo empresas estatais e ativos, quanto mais, a preço de lixo. Como disse Jacques Wagner, o Ministro que sumiu do pedaço: “...a prioridade não é a economia, é manter o mandato da Presidente”. Infelizmente o PT está nas “cordas”, apesar de ocupar os mais altos cargos da República, junto com seus aliados. Estamos à mercê da sorte?
Waldir Bertúlio
Professor aposentado da UFMT
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Hoje, tratarei da capa da Revista Veja (RV) que circulou na semana do carnaval (10/02/16). Mas preciso lembrar que pouco antes, Chico Buarque – ícone da MBP – viu-se envolvido num “barraco” daqueles. Motivo: Chico defende publicamente o PT.
O episódio se deu no Rio. O artista foi hostilizado por um grupo de rapazes, cujas biografias carecem de louros. Mas não quero entrar nesses meandros. A mim não importa quem xingou primeiro alguém de “merda”, se Chico – como afirma o jornalista Reinaldo Azevedo, em seu Blog de 24/12/15 – ou se um dos rapazes, filho de um empresário que pouco deveria à honestidade.
Daquele bate-boca, por conta do “troco” que certamente viria, o que me interessa foi uma fala de Chico aos sujeitos que lhe abordaram: “Com base na revista Veja, não dá pra se informar”.
Pode até ser. E já foi pior se informar por Veja, cuja centralidade é defender o sistema. Política e economicamente falando, a RV é um veículo neoliberal por excelência. Logo, deveria ser o veículo predileto de petistas, afinal, o PT – contrariando suas origens – tem prestado relevantes serviços aos neoliberais. Em sentido oposto, Veja também deveria ver em petistas bons aliados.
Paradoxalmente isso não ocorre. Num processo de reciprocidade, Veja parece não suportar petista. Motivos: além da corrupção que tomou conta dos governos petistas, estes governos – e apenas pelo motivo acima exposto – não conseguiram fazer todas as lições que os neoliberais desejavam. “Falha” imperdoável.
Como parece ter sido imperdoável a “ofensa” que Chico cometeu contra a RV. Durante o barraco mencionado, para se defender, tentando desqualificar seus opositores políticos, o artista ridiculariza os leitores de Veja, que seriam limitados no que tange à qualidade da informação.
Mas aquele enunciado custou caro ao petista famoso. O troco veio por meio de uma capa; e veio no meio do carnaval; e veio brincando com referências musicais. Com isso, a RV, de fora do barraco, mas nele envolvido por tabela, usa luvas de pelica e esbofeteia um grande artista.
Explico: a capa de Veja, no plano icônico (tudo em caricatura), sob a escolta do “Japonês da PF”, apresenta um bloco carnavalesco com Lula e supostos amigos seus, todos presos ou investigados. No plano verbal, o título é “Vai passar...”. O subtítulo, que tem extensão de lead, é: “O sonho de rei, de pirata e de impunidade durou até demais, mas a justiça brasileira, ao contrário do carnaval, não acaba na quarta-feira”.
E o que o título e o subtítulo têm a ver com Chico?
Tudo.
“Vai Passar” é também título de uma de suas músicas (um samba-enredo) mais famosas contra a ditadura militar. Naquele samba (1984), previa-se que os sombrios tempos dos ditadores passariam, e tudo seria uma festa. A analogia que Veja estabelece com tempos deploráveis dos governos petistas é irrefutável.
Já o subtítulo começa dialogando com “Sonho de um carnaval”, outra música de Chico, em que é dito: “...E brinquei e gritei e fui vestido de rei//Quarta-feira sempre desce o pano”. O diálogo continua em “Ela desatinou, viu chegar quarta-feira// Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando...”.
Não contende, Veja ainda foi buscar em “A felicidade”, de Vinícius e Tom, parceiros musicais de Chico, outros interdiscursos para carimbar seu troco: “...A gente trabalha o ano inteiro// Por um momento de sonho// Pra fazer a fantasia// De rei ou de pirata ou jardineira// Pra tudo se acabar na quarta-feira”.
Ainda que todos tenham direito, defender publicamente o indefensável tem preço; e é caro.
Habita outro plano, Gegé de Oyá. Você, figura proeminente em nossa sociedade, que sonhou com uma família, achando força na espiritualidade e na contenda com os reflexos da escravidão e na sua ancestralidade. Esta que foi tão dura aqui na baixada cuiabana, e que levou negros a serem jogados tal qual buchas de canhões ao morticínio da Guerra do Paraguai, com a promessa de libertação. Você, que condoía com o sofrimento da escravidão negra nas minas do Sutil. Como primeiro colunista social da nossa cidade, saudado e bajulado pelas elites da terra na fotogenia narcísica dos demandantes no desfile das colunas sociais. Mais do que isto, guia espiritual até de curas, de reencontros, de amores clandestinos guardados a chaves possíveis nas intempéries das falsas e reais relações amorosas, que levou tantos para terreiros, a conhecer um pouco da crença na religiosidade afro. Que construiu em terreno fértil a poética da resistência, do enfrentamento ostensivo das diferenças, do conservadorismo e da intolerância. Enfrentou de peito aberto, nunca recuando no orgulho à dignidade e na conquista dos seus desejos. Menino que nasceu na síndrome da fome, no velho sertão de Rosário Oeste. Acolhido e apoiado em pequeno, pela família Cuiabano. Que foi estudar Artes e Ofícios desde o primário no Colégio São Gonçalo, já encantado com a arte da costura, que continuou na antiga Escola Artífice. Gegé sempre se postou como um príncipe negro, incorporando como marca em seu talento, criatividade, a estética e o vestuário afro. Estudou, pesquisou, desde os trabalhos como alfaiate (dizia costureiro), até a de colunista social badalado nas hostes ditas “chiques”. Nunca deixou de lado as referências das famílias pobres e tradicionais em seus textos. Sobretudo, sarcástico com as incoerências das superficialidades que marcam um tipo de colunismo servil, mercantil e vazio. Tinha uma visão crítica sensata e 'finória' da alta sociedade, sabendo que acumulou poder e força através deste ofício, vendo isto como um instrumento de resistência em sua ligação sincrética com o catolicismo e a religiosidade afro. Foi amigo desde Dom Aquino, outras referências católicas em Cuiabá, até os núcleos de Candomblé, Umbanda e Espiritismo. Referências como Dandi, Pai Edésio, Joãozinho do Axé, Jojô, Robson e Seo Arlindo. Certa feita, em Brasília (levado por Isabel Campos, amizade forte), foi recepcionado com honras de Chefe de Estado, confundido com o Rei da Nigéria, que ainda não tinha chegado. Sua indumentária afro era componente da sua arte e estética. Carnavalesco, sua presença era marcante, o povo aplaudia em delírios, as crianças adoravam suas performances nos velhos carnavais e batalhas de rua. Assinava ponto nas madrugadas em bares e espaços como Choppão e Sayonara, passando por clubes como Operário, o Dandi, Náutico, Grêmio Antonio João, além dos clubes Feminino e Dom Bosco. Sua entrada foi vetada no Dom Bosco em uma comitiva dirigida pelo saudoso Mestre Batista, que culminou com contendas e o encerramento da festa naquela noite. Quando podia, “dava bananas” ao racismo e machismo da cidade, com o desprezo e elegância de sempre, ele, que enfrentou centenas de hostilidades desta natureza. Também produziu na rádio Difusora o programa denominado “ Uma Rosa para uma Dama Triste”. Gegé de Oyá foi fortemente identitário, pioneiro e verdadeiro no seu pertencimento cultural, racial, no gênero e na orientação sexual. Em tempos dificílimos. Sempre ancorado na religiosidade e no sincretismo. Gegé de Oyá é história, memória e orgulho da nossa terra!
Waldir Bertúlio
Professor aposentado da UFMT
Circular nº 022/2016
Brasília, 15 de fevereiro de 2016
Às seções sindicais, secretarias regionais e aos diretores do ANDES-SN
Companheiros,Em complementação à Circular nº 016/2016, de 4 de fevereiro/16, estamos encaminhando o cartaz sobre a Reunião ampliada dos SPF que ocorrerá nos dias 27 e 28 de fevereiro, no Hotel Brasília Imperial (SHS, Quadra 3, Bloco H – Brasília/DF) e um boletim manifestando a posição do Fórum sobre a nova reforma da previdência.
Sem mais para o momento, renovamos nossas cordiais saudações sindicais e universitárias.
Prof. Alexandre Galvão
3º Secretário
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Prezado(a) Professor(a),
Para conhecimento, segue Circular nº 013/16 - Envia Regimento Eleitoral e Ato que institui a CEC/2016, em anexo.
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